BEM-VINDO VIAJANTE! O QUE BUSCA NO MULTIVERSO?

Novidades Jambô - Abril






Quando a Jambô informou que no inicio do mês que o ano de lançamentos estava a todo o vapor alguns não deram a atenção merecida a aquele detalhe e provavelmente irão se arrepender: o mês mal terminou e mais lançamentos estão chegando e outros estão previstos para destroçar suas finanças como um dragão furioso sobre uma aldeia desprotegida.
Depois dos primeiros lançamentos de março — Tormenta Alpha e Monstronomicon — a Jambô completa o mês com três publicações de livros-jogos: duas reedições e um título inédito. Veja a seguir mais informações sobre eles. Todos estarão disponíveis para venda ainda esta semana e você pode saber mais sobre eles mais abaixo!
Mas antes de conferir mais sobre os novos títulos, aproveita para acompanhar o último boletim do Jambô News com as novidades que a maior editora de RPG do país está trazendo para abril, e especialmente para a Bienal do Livro de Minas Gerais.


Nas cavernas da Montanha de Fogo há um grande tesouro, guardado por um poderoso e maligno Feiticeiro. Ou, pelo menos, é o que dizem os rumores. Muitos aventureiros como você já entraram nas cavernas para recuperá-lo; nenhum jamais retornou. Você ousa tentar?
O primeiro título da série de livros-jogos Fighting Fantasy, O Feiticeiro da Montanha de Fogo é um clássico da literatura infanto-juvenil, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos em 17 países.
Publicado pela Jambô em 2010, O Feiticeiro da Montanha de Fogo estava esgotado há alguns anos, mas agora retorna em uma edição com texto revisado e seguindo o projeto gráfico atual da linha. Ideal para quem quer iniciar no RPG, ou para veteranos que querem revisitar um dos maiores clássicos do jogo!
Convocado à presença do xogum, você descobre que seu reino de Hachiman está em grave perigo. O xogum está perdendo controle — lordes se rebelam e tramam ações traiçoeiras; bandidos vagam livres pelas estradas, e invasores bárbaros atacam dentro das fronteiras. Tudo isso porque a Dai-Katana — a grande espada Morte Cantante — foi roubada do xogum.
VOCÊ é o campeão do xogum, um jovem samurai. Você segue o bushido, o caminho do guerreiro, e é um mestre de kenjutsu, o caminho da espada. Sua missão é recuperar a fabulosa espada das mãos de Ikiru, o Mestre das Sombras, que a mantém escondida em Onikaru, o Poço dos Demônios, sua fortaleza nas montanhas, guardada por seus guerreiros fantasmas.
A Espada do Samurai é o 16º título da série Fighting Fantasy, e apresenta Hachiman, a terra oriental do mundo de Titan. Nesta aventura, você é um samurai, mestre em uma das seguintes técnicas: kyujutsu (arquearia), iaijutsu (saque rápido), karamijutsu (salto heroico) ou nito-kenjutsu (duas espadas). Mais importante que sua técnica é sua honra, e de acordo com suas ações, você pode ganhar ou perder pontos nesta característica. Tome cuidado: para um samurai, é pior perder honra do que sangue!
Embarque em aventuras eletrizantes onde tesouros fantásticos e criaturas horripilantes aguardam por você! Parte história, parte jogo, Viver ou Morrer é um tipo diferente de livro — aqui, VOCÊ é o herói!
Você será capaz de concluir a Viagem Maldita, cruzar o Caldeirão ou sobreviver às Ruínas da Perdição? Quem sabe encontrar o caminho em meio ao Perigo em Ravenshire, restaurar a Cidade dos Condenados ou frustrar os Mestres da Escuridão? Ou, ainda, lutar bravamente Por um Fio, explorar a região dos Selvagens de Khaldum, escapar do Sono da Morte ou derrotar os Rasga-Magos?
O desafio está lançado. Veremos se você vai Viver ou Morrer!
Viver ou Morrer é uma antologia com 10 histórias de fantasia nas quais você é o herói! De uma viagem em navio amaldiçoado a uma aventura dentro do mundo dos sonhos, passando pela caçada ao fantasma de um cavaleiro desonrado, Viver ou Morrer traz uma leitura instigante — além de inspiração para seus jogos de RPG!


Pelos Vinte Deuses e as Santas Armas de meus ancestrais, é muita coisa! Quero ver é ter dinheiro pra todos T_T. Vou começar mirando os canhões da Interlúdio em Minas Gerais e enviado o Airechu como representante de aquisições e garantir pelo menos um exemplar do Volume 1 de Rat Queens. Difícil será ficar somente nisso...
E você, já tem um alvo na mira? Se não conhece na da desse mundo, aproveita a oportunidade e confere nossas postagens. Não vai se arrepender.



Cada frase conta uma história


Ser o Mestre em uma partida de RPG tem suas vantagens, várias na verdade: possuir todo controle das regras, do cenário, das vidas, do universo e tudo mais. Mas cobra-se um preço pra isso.
A segunda parte mais custosa dessa tarefa é construir uma história de forma coesa, interessante e que acolha e supere as expectativas das pessoas que estão ali presentes ao redor da mesa, inclusive do próprio mestre. Já o ápice laborioso desse trabalho ainda é, sem dúvidas, criar os nomes dos NPCs de quarto escalão. De surpresa. Sempre um horror.
Para desenvolver a história, porém, conseguimos observar alguns atalhos que com o tempo vão sendo revelados dentro dos textos que lemos.
Pessoalmente nunca fui fã das aventuras prontas, geralmente me sentia mais amarrado do que solto dentro delas, um desvio para fora do roteiro, algo natural ao jogar com jogadores criativos, e tudo iria para o ralo. E somente com a improvisação salvaria aquela partida.
Unindo improvisação, atalhos escondidos e a recusa das aventuras prontas, boas histórias e longas campanhas estão ali disponíveis dentro de todos os materiais do cenário. De cada um deles.

Frases e ganchos


Considerando que material do cenário de campanha seja absolutamente tudo que foi lançado sobre ele - de livros básicos a HQs -temos aí uma fonte basicamente inesgotável de aventuras para todos os níveis, dos mais baixos aos épicos.
Iniciando com o já conhecido e bem explorado, Tormenta
Minha ultima campanha, que durou quase três anos levando os jogadores do 4º ao 17º nível, teve toda sua história criada tendo como base a leitura de uma única frase tirada do primeiro livro do Leonel Caldela, O Inimigo do Mundo (resenha aqui), que foi a seguinte: "Se algo surgiu deste encontro, ninguém sabe."
Quem leu o livro, possivelmente, sabe bem à que cena a frase se refere, quem não leu ainda, faça o favor de ler. Enfim, a partir de sete palavras, colocadas ali justamente para criar esse tipo de gancho de ouro e fisgar a criatividade dos mestres, uma longa campanha foi construída.
Mesmo que no material oficial a conclusão do evento que gerou essa frase tenha sido diferente, ou tenha dado a entender isso, o universo por de trás do escudo me pertence. E gerou uma campanha que, devido a falta do bendito tempo (coisinha que deveria ser vendida em farmácia), sou cobrado até hoje para terminar. E vontade não falta.
Ressalto aqui que a ideia principal, aquela que foi gerada após a leitura desse trecho, era apenas uma linha muito fina, a campanha de verdade foi desenvolvida aplicando camadas sobre camadas sobre essa linha. NPCs envolventes, motivações e alianças precisaram ser aplicadas, mas o básico já estava lá.
Não é a toa que, ainda em Tormenta, o livro básico que abrange todo o aspecto narrativo e de construção do cenário, chamado O Reinado, possui a frase: "Acredite, existe aqui aventura suficiente para toda uma vida!". E não é exagero.

Outros cenários e contextos


Dentro de outros cenários de campanha tanto para Dungeons and Dragons, quanto para outras temáticas além da fantasia medieval como cyberpunk, supers, terror, anime e entre outros, em cada página descritiva podemos caçar pontos para compor a campanha.
Podemos tomar Ravenloft - cenário de terror gótico para D&D, que de acordo com a construção da sua mitologia, onde graças às suas brumas e seus Lordes, podem ser inseridas em qualquer campanha ou cenário – para um perfeito exemplo.
Uma frase que poderíamos usar como estrutura de um início de uma história dentro desse cenário pode ser a descrição de um dos seus monstros, o Náufrago Faceiro (uma graça de tradução, não é mesmo?), onde no original trata-se do próprio Jolly Roger, que é o nome dado à típica bandeira pirata, com a caveira branca e os dois ossos cruzados sobre um fundo preto.
Enfim, de acordo com a descrição do monstro, refere-se a um zumbi que comanda um navio fantasma. 
Imaginando uma aventura onde os personagens dos jogadores, após uma tranquila missão de resgate de qualquer coisa, precisam voltar para a ilha particular de um mago que os contratou, porém as brumas de Ravenloft chegam a noite, engolfam o pequeno barco e daí em diante, o navio pirata do Náufrago Faceiro (pfff) aponta no horizonte e os jogadores já estão presos dentro do cenário e sair dele pode - na verdade, deve - se tornar a campanha mais assustadora e penosa que já passaram. 
Preencher essa linha com encontros com nativos do local, após a sofrida luta no navio, onde, por exemplo, nenhum dos habitantes conhece a língua Comum, veem o elfo bardo do grupo como uma aberração, prendendo-o e jogando-o na fogueira ou o paladino humano como o enviado sagrado para acabar com os Lordes do lugar (o que pode até ser mesmo). Enfim, tudo isso, devido a uma única descrição: "...um tipo zumbi que comanda um navio fantasma".

Misturando tudo


A melhor parte nisso tudo, da leitura de um trecho que desencadeia a ideia até um ápice bacana, é jogar o histórico dos jogadores dentro desse caldeirão. Jogar RPG é uma tarefa em conjunto, se não houver uma história contada pelo jogador para o mestre de como, quando e porquê o herói faz isso ou aquilo, o player está apenas com números numa folha, rolando dados e fazendo contas. Quase depressivo isso.
O histórico dos jogadores é o material que dará liga à campanha que o mestre criou com tanto trabalho e plágios bem escondidos, essa é a melhor forma de mostrar aos jogadores que sua contribuição ao jogo não se trata apenas de acertar tal golpe ou decifrar algum enigma. Ela será crucial na hora do (bom) mestre criar uma aventura. Dando importância pra cada jogador separadamente dentro da história.
Um bom histórico também serve perfeitamente de fonte no momento do mestre criar a própria campanha, principalmente nos sistemas como os da White Wolf ou Daemon, onde alguns de seus atributos são utilizados conjuntamente como elementos narrativos.
Finalizando, o mestre que esteja no processo de criação de uma campanha, ao pegar o hábito de ler uma boa frase e vislumbrar as nuances que cada palavra consegue revelar, dificilmente ficará sem material com o que trabalhar na hora de pensar em uma história. Independente da ambientação que esteja, da quantidade de personagens na mesa ou de quanto tempo tenha para desenvolver.


Netflix: Demolidor - Temporada 2

Justo quando Matt acredita que ele está trazendo ordem para a cidade, novas forças emergem na Cozinha do Inferno. Agora o Homem sem Medo deve enfrentar um novo adversário, Frank Castle, e encarar uma antiga paixão – Elektra Natchios.
Problemas maiores surgem quando Frank Castle, um homem em busca de vingança, renasce como O Justiceiro, um homem que toma a justiça em suas mãos na vizinhança de Matt. Enquanto isso, Matt deve balancear seu dever com sua comunidade como advogado e sua vida perigosa como o Diabo de Hell’s Kitchen, enfrentando uma decisão que mudará sua vida e o forçará a entender o que realmente é ser um herói.                                                                                                                               
Título: Demolidor
Título Original: Daredevil
Lançamento/Duração: 2016 - 50 minutos/episódio
Temporada: 13 Episódios - Gênero: Ação/Thiller
Classificação: 18 - Não recomendado para menores de 18 anos
Elenco: Charlie Cox, Deborah Ann Woll, Elden Henson, Vincent D'Onofrio, Rosario Dawson, Elodie Yung, Jon Bernthal


Está aqui uma coisa que nunca fizemos: retornar a uma série e tecer comentários sobre uma segunda/terceira/quarta/whatever temporada. Nunca achamos necessário entrar na questão de separar por etapa, mas dessa vez não consegui manter dessa forma. Pode chamar isso de empolgação, efeito Marvel, mas a verdade é que a Temporada 2 funciona  como uma série totalmente nova e interessante por si só, e - com exceção de alguns detalhes - bastante independente!
Lá no ano passado falei por aqui da série do Homem Sem Medo produzida pela Netflix em parceria com a Marvel. Daredevil/Demolidor foi sucesso de crítica e entre o público fazendo com que o planejamento da Netflix mudasse e encaixasse uma segunda temporada antes da conclusão das demais séries planejadas e sua união. Para quem não sabe as empresas se uniram para criar séries um pouco mais adultas utilizando de personagens urbanos e menos conhecidos, que enfrentam problemas em escala menor que seus companheiros do cinema. A primeira delas foi Demolidor (1ª Temporada) e depois veio Jessica Jones (1ª Temporada), as outras duas ainda estão por vir e são: Luke Cage, Punho de Ferro (todas com 13 episódios cada) e finalizará em uma outra com 8 capítulos que reunirá os quatro heróis formando a equipe Os Defensores.
Para Mattew Murdock suas ações como vigilante mascarado e advogado estão fazendo a diferença na dura realidade de Hell's Kitchen, bairro onde nasceu e cresceu em Nova York. Wilson Fisk está longe das ruas, as gangues estão cada vez mais perdendo forças, mas tudo está prestes a desandar com o aparecimento de um novo vigilante e o retorno de um conturbado relacionamento do passado.
A presença de Frank Castle e Elektra afeta a vida de Matt nos dois âmbitos: o Justiceiro logo acaba envolvido com os casos do escritório de advocacia Nelson & Murdock, enquanto como Demolidor nosso herói fará de tudo para detê-lo; a ninja assassina Elektra chega para afetar sua vida profissional e pessoal, desviando sua atenção para uma nova e perigosa questão.
Matt tem que se esforçar a cada momento para balancear seu dever com sua comunidade como advogado e sua vida perigosa como o Diabo de Hell’s Kitchen, enfrentando uma decisão que mudará sua vida e o forçará a entender o que realmente é ser um herói. Tão difíceis quantos seus embates são as decisões que o aguardam e suas consequências...

Mantendo a qualidade e o zelo apresentados na temporada anterior, a série continua a preservar a fidelidade ao material fonte e não tem medo de ser forte, intensa, e levar a sério a trajetória de seus personagens. As questões filosóficas, conflitos psicológicos e ideológicos, que tanto marcaram a estreia da série se mantém firmes e são fundamentais para o desenvolvimento dos personagens, principalmente o trio Demolidor, Justiceiro e Elektra, e também da Karen Page (uia!).
Os atores escalados fazem um excelente trabalho ao dar vida e personalidade aos personagens, mesmo os coadjuvantes. Apesar de o herói ser o ponto central do seriado (e há controversias quanto a isso), é difícil gostar apenas dele quando temos uma leva de personagens intrigantes e cativantes como Foggy Nelson, Karen Page, Claire Temples e Elektra. Nem preciso falar do Justiceiro/The Punisher, né? A participação de Frank Castle é tão grande que faz com que até duvidemos se não estamos vendo uma série sobre o personagem. E graças ao sucesso do personagem não acho difícil que isso aconteça em breve...
Novamente os roteiros densos e sóbrios, puxam o clima da série para o lado mais sombrio e adulto dos personagens vindos de histórias em quadrinhos, algo extremamente positivo nas séries produzidas pela Netflix. A fotografia escura e a trilha também contribuem para que esse clima se evidencie e esteja presente em todos momentos da trama. Outro ponto que merece destaque são as cenas de ação muito bem coreografadas e executadas que te fazem perder o fôlego. Tudo isso sem deixar de transmitir um pouco realismo e manter o espectador crente em ver um herói em formação, com suas vantagens e dificuldades. E não sei como conseguiram fazer com que ficassem ainda melhores!!
Como assisti a série com calma pude me permitir analisar a série em diversos ângulos e detalhes, e assisti-la no idioma original e dublada. E preciso dizer que seja qual for a sua escolha ela será acertada. O trabalho de dublagem não deixa nada a dever para o original, e são pouquíssimas as famosas perdas por tradução. Boa parte dos termos e nomes próprios de locais foram mantidos fielmente como a própria Hell's Kitchen, que não foi chamada de Cozinha do Inferno como é nos quadrinhos, mas na versão dublada alguns termos sofrem com uma inconstância como Mão /Tentáculo e Demolidor/Daredevil.
Demolidor Temporada 2 conseguiu, na minha opinião, superar a temporada de estreia e se reforçar como a melhor série de herói feita até o momento. A equipe conseguiu estruturar uma adaptação que une fidelidade aos quadrinhos do personagem, um clima sombrio e maduro, um arco de histórias fechado e coeso que percorre todos os episódios, e se manter dentro do Universo Marvel já consolidado no cinema sem que isso perdesse o sentido. A série é mais que recomendada para os amantes de quadrinhos, mas com certeza irá agradar todo aquele que gosta de bons thillers soturnos também. Aproveita que a netflix já lançou todos os episódios e confere você também, quem sabe não rola até maratona!?




Ferreiro de Bosque Grande

A cada vinte e quatro anos, na aldeia de Bosque Grande, comemorava-se o Banquete das Boas Crianças. Era uma ocasião muito especial, e para celebrá-la era preparado um Grande Bolo, para alimentar as vinte e quatro crianças convidadas. O bolo era bem doce e saboroso, totalmente coberto de glacê de açúcar. Mas lá dentro havia alguns ingredientes muito estranhos, e quem engolisse algum deles obteria o dom de entrar na Terra-Fada...
Está história fascinante de um andarilho que encontra o caminho para o perigoso reino da Terra-Fada está sendo publicada pela primeira vez no Brasil. Esta edição inclui um manuscrito do primitivo rascunho de Tolkien para a história, as ilustrações originais de Pauline Baynes, notas sobre a gênese, a cronologia e o final alternativo da história, e um longo ensaio sobre a natureza da Terra-Fada, tudo inédito até agora.
Estão contidas em Ferreiro de Bosque Grande muitas ligações interessantes com o mundo da Terra-média e também com os demais contos de Tolkien, e nesta “edição ampliada” o leitor finalmente descobrirá a história completa por trás desta importante peça de ficção breve.
Título: Ferreiro de Bosque Grande
Editora: WMF Martins Fontes

Autor: J.R.R. Tolkien
Número de páginas: 178

Hoje é Dia de Ler Tolkien e nada melhor do que aproveitar a data para indicar aqui uma de suas obras. Ferreiro de Bosque Grande foi o último conto publicado pelo autor ainda em vida, em 1967 e teve uma gênese no mínimo curiosa. Enquanto escrevia uma apresentação para uma nova edição do conto de fadas The Golden Key de George Mac Donald, ele percebeu que o exemplo que usava para ilustrar um de seus argumentos havia ganhado vida própria. Tolkien então decidiu deixar que a coisa crescesse, trabalhando no que viria a se tornar este conto por cerca de três anos até finalmente vir a publicá-lo.
O conto se passa em Bosque Grande, um pequeno e pacato vilarejo medieval reconhecido pela capacidade e talento de seus moradores, sendo boa parte deles artificies. Um deles tinha papel de suma importância no cotidiano de Bosque Grande, o Mestre-Cuca. A ele recaia a responsabilidade de preparar a comida para todos os eventos sociais ali organizados sendo um destes o aguardado Banquete das Boas Crianças que só era realizado a cada 24 anos. Para marcar uma ocasião tão rara e especial um Grande Bolo deveria ser preparado pelo Mestre-Cuca e ser servido a 24 crianças da vila. O Grande Bolo deveria ser a prova definitiva e o desafio máximo para o Mestre-Cuca, a sua obra prima culinária a ser lembrada por todos pelos próximos anos até um novo Festival.
Noques, o atual Mestre-Cuca de Bosque Grande, não era um dos mais talentosos e tampouco um dos mais bem dispostos a ocupar o cargo. Boa parte do serviço era desempenhado na verdade pelo seu Aprendiz, mas com a iminente chegada do Festival eles começam a trabalhar nos preparativos para o Grande Bolo. Noques era orgulhoso e tinha um trunfo guardado na manga. No recheio do bolo colocou um ingrediente secreto, recém-descoberto na dispensa da cozinha. E aí chegamos ao Ferreiro referenciado no título do livro, que começa a sua história como uma das 24 crianças participantes do Banquete daquele ano. Ao provar o pedaço do Grande Bolo com o ingrediente secreto ele é agraciado com uma espécie de autorização para adentrar a Terra-Fada. A história então vai se construindo ao longo de alguns anos e de uma forma tão bem arquitetada que se eu não me deter por aqui vou acabar por recontá-la de maneira simplista.
O conto é entremeado de belas ilustrações de Pauline Baynes que me remeteram instantaneamente às iluminuras medievais casando muito bem com toda a ambientação da história. A artista foi amiga pessoal de Tolkien e também é conhecida por ter produzido as ilustrações e mapas originais da série As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis. A edição nacional de Ferreiro de Bosque Grande tem por base a versão extendida organizada pela pesquisadora Verelyn Flieger publicada em 2005 na Inglaterra, e chegou as livrarias em dezembro de 2015 pela WMF Martins Fontes, seguindo o padrão de qualidade das outras obras de Tolkien publicadas pela casa. Exceto pela tipografia, a capa quase minimalista, com uma das ilustrações de Pauline sobre fundo preto, é idêntica a da primeira edição britânica de 1967 e a tradução ficou a cargo do especialista Ronald Eduard Kyrmse, responsável também pelas traduções de quase toda a bibliografia de Tolkien disponível em língua portuguesa.
Apesar de partir de premissas simples o conto abre possibilidades interpretativas imensas e muitos dos tópicos são discutidos no excelente conteúdo extra presente no livro. Particularmente destaco o tema da renúncia experimentado por Ferreiro. Assim como ele, todos nós em algum momento somos impelidos a abdicar dos nossos Paraísos, ou Terras-Fada, cedendo nosso lugar e privilégios para que outros também possam usufruir deles. Aceitar e seguir adiante requer maturidade e pode ser mais difícil do que parece a primeira vista. A incapacidade de se deixar encantar de Noques é outro aspecto fundamental da trama e o vejo sempre que ligamos nosso “piloto automático”, deixando que a vida passe sem darmos atenção a coisas simples mas que a tornariam muito mais saborosa, tal qual as miudezas escondidas no tradicional bolo de Bosque Grande. Há ainda a organização social medieval daquela pequena comunidade, pautada basicamente pelas funções que os indivíduos desempenham nela. Uns são Ferreiros, outros Artífices, outros Tecelões e há a figura do Confeiteiro, que é de suma importância para a coesão e unidade daquele vilarejo. Todos estes papéis são amplamente debatidos por Tolkien posteriormente e é fascinante vê-lo argumentando sobre cada aspecto da vida em Bosque Grande.
O conto em si ocupa apenas uma pequena parte, cerca de um terço, de todo o livro que é então complementado por extras que enriquecem muito a experiencia de leitura. Há desde um posfácio de Verelyn Flieger em que ela compara e relaciona este conto às outras obras de Tolkien, citando fatos e materiais originais além de discorrer sobre as críticas feitas na época de sua primeira publicação, bem como um ensaio do próprio Tolkien no qual ele analisa o seu conto sob um viés acadêmico realçando as características literárias e estilísticas dos contos de fadas, o papel da alegoria, e a sua correlação em sociedades medievais históricas. Há também um esboço sobre os personagens e uma grande linha temporal, algo semelhante às Árvores Genealógicas e ao Conto dos Anos presentes nos Apêndices de O Senhor dos Anéis. Cópias reproduzidas dos esboços datilografados e manuscritos originais bem como a sua transcrição também estão presentes e evidenciam o hábito da revisão constante do autor em suas obras. Isso sem falar na Apresentação feita por Tolkien para o Livro The Golden Key, que o fez ter a ideia para contar essa história, e várias Notas da organizadora ao final explicando pontos importante que de outra maneira poderiam passar batido pelo leitor comum. Mais completo impossível!
Dizer que J. R. R. Tolkien era dono de uma capacidade imaginativa impar é repetir o óbvio. Ferreiro de Bosque Grande fora escrito muito tempo depois de suas principais obras ficcionais e se vale mais de reflexão, maturidade e experiência do que da imaginação que o tornara tão famoso e o faz ser cultuado até hoje. Contudo é impossível não vê-lo como uma homenagem ao mundo de fantasia e imaginação que tanto o inspirou e fascinou em sua juventude. Em Ferreiro de Bosque Grande, Tolkien nos convida a experimentar o que propôs em Árvore e Folha como sendo o que os contos de fadas deveriam ser: histórias sobre aventuras de humanos na terra das fadas. E isso ele sabe fazer valer a pena como poucos.




Financiamento Coletivo: Os Reinos de Drunagor


Eras atrás, um poderoso dragão chamado Drunagor se declarou rei de tudo o que existia e iniciou seus planos de conquista. Fogo, magia e sangue forjaram um continente de escravos presos as correntes do medo e da desesperança. Nada parecia detê-lo até que um dia o grande dragão morreu naturalmente, lançando uma última maldição sobre os reinos de Drunagor: toda a magia ancestral contida em seu colossal corpanzil se espalhou pelo mundo dando origem a incontáveis monstros hediondos bem como a poderosos artefatos.
Os recém-libertados reinos enviaram seus mais capacitados comandantes a um conselho para decidir o futuro de seus povos, mas a ambição e cobiça de cada um fez com que ninguém chegasse a um acordo sobre como dividiriam o lendário tesouro de Drunagor e os vastos territórios por ele conquistados. Naquele momento, os elfos foram os primeiros a declarar guerra aos demais reinos, mas quem deu o primeiro golpe foram os humanos que mataram o comandante Orc em pleno conselho. Desde aquele dia, uma longa guerra entre Os Reinos de Drunagor se estabeleceu e seu vencedor irá ditar o destino de todos...
Titulo: Os Reinos de Drunagor
Produtora: Histeria Games & Taberna do Dragão
Criação: Daniel Alves e Eduardo Cavalcante.
Tipo: Board Game - Table Top (Estilo Eurogame)


O mais novo jogo de autoria do Game Designer Daniel Alves - dessa vez em parceria com Eduardo Cavalcante - e da produtora Histeria Games em parceria com a Taberna do Dragão promete ser mais um grande sucesso. Quem acompanha o mercado nacional de Boardgames sabe que esses nomes estão intimamente ligados a bons jogos, campanhas de grande arrecadação e qualidade no produto final!
Para quem não conhece, o primeiro projeto de Daniel Alves, Masmorra de Dados, foi lançado em financiamento coletivo no ano de 2014, alcançando a marca de mais de 1.000 apoiadores, tendo o jogo financiado nos primeiros 2 dias, contando com 54 metas extras de apoio batidas e arrecadados pouco mais de R$ 240 mil ao longo dos 60 dias disponíveis na campanha. Caçadores da Galáxia - projeto lançado em 2015 - conseguiu arrecadar a meta de  R$ 25 mil em MENOS DE 30 MINUTOS de financiamento, e por fim chegou a marca de mais de 1.000 apoiadores e  pouco mais de R$ 215 mil arrecadados. Eu fui um dos que apoiou ambos os projetos e não me arrependo. :)
Esses números corroboram para um atestado de confiabilidade e qualidade da marca, o que dá mais segurança para apoiadores de primeira viagem poderem apostar sem medo. Você deve estar se perguntando: mas e o jogo novo será que vale a pena? Só vamos saber conhecendo-o.



Os Reinos de Drunagor é um jogo de tabuleiro para 2 a 4 jogadores de construção de sua civilização através das cartas de cada reino e se fortificar para melhor enfrentar os perigos do mundo e também seus oponentes. Com seleção de ações turno a turno durante 6 rodadas completas, os jogadores deverão tomar as melhores decisões para conseguir juntar a maior quantidade de pontos de vitória. Cada reino possui um baralho singular e único, tornando o jogo único quando cada jogador escolhe uma raça diferente. Uma partida de 4 jogadores possui uma duração de 60 minutos aproximadamente.
Cada jogador deve escolher dentre os bravos comandantes de seus reinos e se prepararem para as rodadas a seguir de muitas batalhas e movimentos estratégicos em um tabuleiro modular aonde cada partida lhe proporcionará recursos diferentes para serem coletados para sua civilização.
Cada terreno possui tipos de recurso que poderão ser coletados até se exaurirem deixando cada vez o mapa menor, forçando o conflito entre os reinos.
Cada jogador no início da partida recebe um baralho com as suas possíveis construções. Basta coletar os recursos necessários e gastar uma ação de construção para ativá-las em sua área de jogo e ganhar o benefício de cada carta, que pode ser instantâneo, durar a partida toda ou dar pontos de vitória adicionais ao fim do jogo.


O projeto do jogo Os Reinos de Drunagor entra em financiamento coletivo pelo Kickante (http://www.kickante.com.br/campanhas/os-reinos-de-drunagor), para arrecadar através dos apoios dos gamers e entusiastas, a meta de 50 mil reais. A campanha será do tipo 'tudo ou nada', ou seja, se durante os 2 meses de campanha o valor total for atingido (algo que duvido muito devido ao retrospecto dos produtores), o jogo irá para a produção e todos os apoiadores receberão suas recompensas. Caso a meta não seja atingida, todos recebem de volta o valor investido.
A campanha vai disponibilizar tipos diferentes de apoios, com valores diferenciados, para atender a jogadores e logistas. Ainda serão disponibilizados conteúdos extras, com valores à parte como expansão e novos reinos, ou melhorias no conteúdo mediante o alcance de metas estendidas. Para facilitar o controle do envio dos jogos para cada apoiador, foi criada uma nova campanha para o frete, agilizando assim toda a conferência e status dos envios. TODOS os apoiadores deverão efetuar além do seu apoio nessa campanha, o apoio na campanha de frete separada entrando no link abaixo que levará você para uma para o pagamento de frete de acordo com o seu estado.
Você pode conferir o vídeo abaixo feito pelo pessoal do Bafo do Dragão e ver com o jogo funciona na prática. Não esqueça de conferir a página do projeto para descobrir mais informações sobre o jogo: quais exatamente são as recompensas, detalhes sobre como jogar, quais são os extras, os recursos adicionais, etc.
Apoie, divulgue e construa seu Reino da maneira mais efetiva para que você possa melhor combater seus rivais nas terras ermas dos Reinos de Drunagor!




25 de Março! Dia de Ler Tolkien - #TolkienReadingDay



Já é tradição entre os fãs de J. R. R. Tolkien, reservar alguns minutos do dia 25 de Março para ler algum trecho das obras deste autor. A data marca a Queda de Sauron e o Fim da Guerra do Anel como visto na trilogia O Senhor dos Anéis.
O Dia de Ler Tolkien é organizado pela Tolkien Society desde 2003 e incentiva os fãs a celebrarem e promoverem a vida e a obra de J. R. R. Tolkien lendo algumas de suas passagens favoritas. A Tolkien Society encoraja ainda que museus, livrarias e escolas realizem os seus próprios eventos de leitura e discussão das obras do Professor por todo o mundo.

“Ser apanhado na juventude por 1914 não foi uma experiência menos terrível do que ficar envolvido com 1939 e os anos seguintes. Em 1918, todos os meus amigos íntimos, com a exceção de um, estavam mortos. — J.R.R. Tolkien, no Prefácio de O Senhor dos Anéis.
Todo ano também é escolhido um tema para ser observado e discutido mais a fundo e o de 2016 é “Vida, Morte, e Imortalidade”. Este ano marca o centésimo aniversário da Batalha do Somme, ainda durante a Primeira Guerra Mundial, na qual Tolkien lutou e sobreviveu servindo o Exército Britânico. Contudo durante essa batalha ele perdeu um de seus grandes amigos, Rob Gilson. Posteriormente a guerra também levaria G. B. Smith. Ambos eram integrantes da primeira sociedade literária da qual Tolkien fizera parte, a Tea Club Barrowian Society (T.C.B.S.). Estes fatos, sem dúvidas, contribuíram significativamente para dar forma as perspectivas de Tolkien sobre a vida e a morte, a mortalidade e a imortalidade como largamente pode ser visto em todo o legendarium da Terra-Média.
O tema é amplo e pode fornecer ricos debates com as mais variadas respostas seja pelas inumeráveis raças que povoam a Terra-Média (humanos, hobbits, elfos, anões, ents, valar, orcs...), o próprio tempo e o espaço (idade, região...), a suposta longevidade, que muitas vezes pode ser frustrada por vários motivos inclusive partir numa aventura com um mago que bate a sua porta. Deixe a imaginação voar!
Jogos de RPG, tanto de mesa quanto online e os filmes de Peter Jackson também são opções válidas para celebrar a obra de Tolkien, que há muito deixou as páginas dos livros para ganhar vida em outras mídias, e podem funcionar igualmente para despertar o interesse e permitir que se aprofunde ainda mais no fascinante universo de fantasia tolkieniano.
Há diversos livros de Tolkien disponíveis no Brasil e as opções de leitura são as mais variadas possíveis, desde o trio básico: O Hobbit, O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres, O Retorno do Rei) e O Silmarillion, até os que se aprofundam na mitologia da Terra-Média: Os Filhos de Húrin, Contos Inacabados, A Última Canção de Bilbo, As Aventuras de Tom Bombadil, os livros infanto-juvenis e de contos: Mestre Gil de Ham, Mr. Bliss, Árvore e Folha, Ferreiro de Bosque Grande, Roverandom, As Cartas do Papai Noel, além dos trabalhos acadêmicos: A Queda de Artur, Sigurd e Gudrún, Beowulf e das cartas, biografias, atlas e ensaios de críticos sobre as obras do Professor. A data também pode servir de estimulo para uma releitura completa ou marcar o início da leitura de uma obra que ainda lhe seja inédita.
Compartilhe conosco e com o mundo o que você vai estar lendo neste dia, comente sobre os seus trechos favoritos, debata sobre os livros e as histórias com os amigos e ajude a espalhar a tradição no Twitter, Instagram, Facebook e demais redes sociais com as hashtags #TolkienReadingDay e #DiaDeLerTolkien. É altamente recomendável acompanhar também as atividades das Tocas do Conselho Branco, do Tolkien Brasil e do Valinor, as maiores referências em Tolkien no Brasil.
Nestes tempos conturbados, é sempre bom relembrar:
Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte. — Gandalf, o Cinzento em A Sociedade do Anel de J.R.R. Tolkien.



Antologia da Literatura Fantástica

Esta antologia organizada por Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo reúne desde estrelas da literatura fantástica, como Kafka, Julio Cortázar e Guy de Maupassant, até autores pouco conhecidos, como o chinês Tzu Chuang. Fiel à escolha editorial dos organizadores, os 75 contos foram traduzidos para o português direto do espanhol, como na primeira edição espanhola, visando reforçar o conceito da seleção de textos feita pelo trio. A obra conta ainda com textos de apoio do tradutor Walter Carlos Costa e da veterana Ursula le Guin, célebre autora norte-americana de ficção científica.                                                                                                                                                                                                                                            
Título: Antologia da Literatura Fantástica
Editora: Cosac Naify

Autor: Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo
Número de páginas: 448

Fruto da paixão de três expoentes da literatura argentina, A Antologia da Literatura Fantástica reúne uma fascinante coleção de 75 contos, trechos de peças e romances que propiciam ao leitor um vislumbre amplo e abrangente deste gênero literário que segundo o próprio Casares, ainda no Prólogo, antecede a própria escrita: “Antigas como o medo, as ficções fantásticas são anteriores às letras. As assombrações povoam todas as literaturas: estão no Avesta, na Bíblia, em Homero, no Livro das Mil e uma Noites. Talvez os primeiros especialistas no gênero tenham sido os chineses. O admirável Hong Lou Meng (O sonho do aposento vermelho), e também romances eróticos, como Jin Ping Mei (Flor de ameixa no vaso de ouro) e Shui Hu Chuan (Na margem da água), e até mesmo os livros de filosofia são ricos em fantasmas e sonhos.”
A história da origem desta Antologia por si só já é um chamarisco a parte. Certa vez reunidos, os escritores e amigos Adolfo Bioy Casares, Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo discutiam quais os seus contos fantásticos preferidos, até que algum deles teve a ideia de reuni-los numa antologia apenas pelo prazer de conceber, em sua opinião, um bom livro. Eles levaram a ideia adiante, e mesmo que esta não fosse a intenção inicial, publicaram a sua primeira edição em 1940 e desde então a Antologia da Literatura Fantástica se consolidou como um clássico das Letras hispânico, recebendo anos mais tarde novos contos em sua versão definitiva, publicada como uma segunda edição em 1965.
Esta edição brasileira conta com o capricho e esmero que fizeram da editora Cosac Naify um ícone no mercado editorial nacional. O livro é muito bem revisado e acabado, com capa-dura e um projeto gráfico primoroso, conta com margens e fontes em azul-marinho sobre papel pólen nas páginas internas. Cada conto ou trecho é acompanhado de uma pequena biografia e bibliografia resumidas de seu autor e a tradução de Josely Viana Baptista foi feita diretamente do espanhol, tendo como fonte a segunda edição da Antologia, respeitando a poética e a vontade de seus autores.
Grande parte da importância e relevância desta obra é ressaltada nos excelentes Posfácio de Walter Carlos Costa, que discute o impacto da Antologia na academia de Letras e como esta obra serviu de base para estudos acadêmicos de um gênero literário quase sempre relegado a segundo plano, e de Ursula K. Le Guin, que discute o papel da fantasia na literatura, não como mero escapismo da realidade mas como representação precisa dos anseios da própria realidade na qual se inserem autor e sociedade, opinião também partilhada por J. R. R. Tolkien em seu Árvore e Folha.
Dentre os 75 contos e trechos que compõe a Antologia da Literatura Fantástica um número considerável deles foram para mim excepcionais seja pelas suas premissas inusitadas, pelo desenlace final surpreendente ou pela forma magistral como foram aos poucos construídos. Há sim muitos contos medianos nela e em alguns você talvez nem note nada muito especial mas a maioria é capaz de propiciar ao leitor os momentos certos de surpresa e virada em seu desenvolvimento colocando-se entre o muito bom e o ótimo em minha avaliação geral.
Chama a atenção a quantidade de contos orientais e a forte presença de escritores latinos, bem como a ausência de um representante brasileiro e a pequena presença de autores europeus e norte-americanos. Variados também são os formatos dos contos: temos desde pequenos trechos de obras maiores, de peças de teatro, anedotas, e contos de um parágrafo apenas até pequenas epopeias de 40 páginas inteiras. Os contos se diferem bastante também em suas temáticas. Nada do tão popular capa, espada e magia atuais, muitos deles tratam do sobrenatural quase corriqueiro e cotidiano, de fantasmas, sonhos, transformação e metamorfose, até as fábulas de animais e as presenças quase universais de deuses e diabos. É extremamente válida a oportunidade de ler tantos e tão variados contos reunidos numa obra como esta.
Como toda antologia, ela é ótima para te apresentar novos autores e te faz ter contato com histórias que fogem do convencional e te tiram da sua zona de conforto. Foi por meio dela que tive meu primeiro contato com textos de grandes nomes da literatura como Edgar Allan Poe, Franz Kafka, James Joyce e Julio Cortázar. Pude revisitar alguns autores já conhecidos como Júlio Verne, H. G. Wells e Lewis Carroll. E também me foram apresentados alguns novos tais como Rudyard Kipling, Elena Garro, Max Beerbohm, Santiago Dabove e Fernández Macedônio que respectivamente com seus contos “O Conto Mais Belo do Mundo”, “Um Lar Sólido”, “Enoch Soames”, “Ser Pó” e “Tantália” me deixaram ávido por ler mais de suas obras tamanha fascinação e impacto me causaram.
A Antologia da Literatura Fantástica não apenas constitui um excelente amostrado do gênero fantástico, como também contribui para expandir os limites deste gênero cujas possibilidades agora me parecem ser maiores do que nunca. É uma fascinante viagem de conhecimento e prazer absolutamente indispensável para os aficionados por literatura fantástica e porque não, para os amantes da boa literatura.


Audioverso: Pentatonix

Essa não é uma sessão que dá muito as caras aqui no blog, mas não se assuste se vez ou outra encontrar uma postagem como essa. Já utilizamos esse espaço em outras oportunidades para falarmos de podcasts, mas Universo da música e produções audiofônicas é tão apaixonante quanto o da literatura, do audiovisual e das artes ilustradas, e portanto merece também o seu espaço no Multiverso X.
Tal qual na sessão Ilustraverso o artista e sua arte tem vez e reconhecimento aqui na Audioverso. O artista é na verdade um quinteto vocal que ganhou muita popularidade ao vencer um programa na TV americana. Conheçam o trabalho do Pentatonix!

Pentatonix é um grupo estadunidense a cappella composto por cinco vocalistas: Scott Hoying, Kirstin "Kirstie" Maldonado, Mitchell "Mitch" Grassi, Avriel "Avi" Kaplan e Kevin "KO" Olusola, formado na cidade de Arlington, Texas. O grupo venceu a terceira temporada do programa The Sing-Off, da rede de televisão norte-americana NBC em 2011, cantando um arranjo a cappella da canção "Eye of the Tiger", originalmente gravada pela banda de rock Survivor como sua canção da vitória. O Pentatonix ganhou US$200.000 e um contrato de gravação com a Sony. Seu EP de estréia saiu em 2012, PTX Vol. 1, alcançou o 14º lugar na Billboard 200, e sua versão de 2013, PTX Vol. 2, estreou em 10º lugar na Billboard 200. Eles já venderam mais de 500.000 cópias.
O trabalho do grupo já lhes rendeu diversas indicações e vitórias em premiações de importância internacional, sendo talvez o principal o Grammy de Melhor Arranjo Instrumental ou A Cappella em 2015 e 2016.
A popularidade do grupo é tamanha que alguns críticos afirmam que o Pentatonix ajudou a empurrar o estilo A Cappella ainda mais para o pop e para os holofotes. O canal do no Youtube já tem mais de 10 milhões de inscritos e quase 1 bilhão e meio de visualizações. Pouca coisa, né?
Você pode conferir uma amostra do trabalho do grupo aí embaixo e mais no Youtube e também no Spotfy.


As Mentiras de Locke Lamora

Espinho é uma figura lendária: um espadachim imbatível, um especialista em roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da excêntrica cidade de Camorr acredita que ele seja um defensor dos pobres, enquanto o restante o considera apenas uma invencionice ridícula.
Franzino, azarado no amor e sem nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem por trás do fabuloso Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada. Ele de fato rouba dos ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os pobres não veem nem a cor do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo para os bolsos de Locke e de seus comparsas: os Nobres Vigaristas.
O único lar do astuto grupo é o submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser assolado por um misterioso assassino com poder de superar até mesmo o Espinho. Matando líderes de gangues, ele instaura uma guerra clandestina e ameaça mergulhar a cidade em um banho de sangue. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.
Título: As Mentiras de Locke Lamora
Série: Nobres Vigaristas
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 464

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Quem ousar dizer que inteligência não é atrativa será um(a) grande mentiroso(a)! Sim, sagacidade e astúcia, são encantadoras - principalmente quando usadas em conjunto com charme e elegância - e é por isso que golpistas, canalhas e vigaristas dentro e fora da ficção conseguem seus objetivos, sejam eles quais forem. E com Locke Lamora e seus Nobre Vigaristas não é diferente: é praticamente impossível não se afeiçoar a esse grupo abençoado pelo Guardião Torto.
Desde muito pequeno Locke Lamora foi um ladrão muito esperto. Sua esperteza levou ao Aliciador, "dono" de uma gangue de órfãos ladrões do Morro das Sombras. Neste local os meninos recebiam treinamento para ser simples larápios, fazendo coisas leves, como roubar algumas moedas ou apenas comida, mas Locke com apenas seis para sete anos, era talentoso demais para aquele local, um pequeno gênio do crime, e deixou o Aliciador tão maluco com suas peripécias, que este homem foi obrigado a vender Locke para o Padre Correntes, alegando que o pequeno “roubava demais”.
Seu novo tutor, Padre Correntes era sacerdote da Casa de Perelandro, que em devoção a seu deus arrancou os próprios olhos e se prendeu com correntes ao templo, e desde então passa o dia pedindo esmolas e pregando em nome do deus da misericórdia. Porém, Lamora logo descobre que Correntes não é cego e tampouco precisa ficar preso o dia todo. Sacerdote do Treze Sem Nome, deus das Pessoas Certas (cof cof bandidos e golpistas cof cof), ele é na verdade  líder dos Nobres Vigaristas, uma gangue de ladrões que tem como objetivo executar golpes utilizando a inteligência em vez agir com força e truculência. E a partir deste dia Lamora será também um Nobre Vigarista, treinado de modo a ser capaz de assumir qualquer tipo de disfarce para aplicar golpes nos nobres de Camorr.
Os anos passam, Lamora e os demais garotos se tornaram homens e estão prestes a aplicar mais um de seus engenhosos golpes, desta vez tendo como vítima o nobre Dom Salvara. Porém, em meio à execução de mais esse golpe, coisas estranhas começam a acontecer. Garristas - líderes de gangues - começam a ser assassinados, e fala-se em um misterioso Rei Cinza, que parece oferecer perigo tanto para os ladrões quanto para os nobres. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.
Utilizando de interlúdios para intercalar passado e presente, Scott Lynch nos apresenta a Locke Lamora e seus Nobres Vigaristas, através de uma agradável e fluida narrativa em terceira pessoa. O ritmo imposto pelo autor é ágil apesar da grande quantidade de informações que passa a cada página, tornando a leitura agradável. A linguagem mais simples - aí não sei dizer se da obra original ou por escolhas da tradução - também contribui bastante para esse bom andamento da leitura.
Aliado a isso Lynch aproveita para surpreender o leitor com seus plots, tramas e sub-tramas, e cada informação dada no avançar das páginas pode ser útil para compreensão dos fatos. O autor também trabalha muito bem os personagens e fica difícil na cada novo capítulo não torcer pelos vigaristas e ficar apreensivos com a possibilidade do desastre em seus planos. A inteligência e certa inocência de Locke, a lealdade e força de Jean, a malícia de Calo e Galdo Sanza, e a determinação do animado Pulga, acaba te conquistando em algum momento e duvido que não seja logo nas primeiras páginas.
Tal qual acontece com os personagens, o cenário rico e desenvolvido é misterioso, envolvente e vivo; não é só repleto de informação para dar grandeza, é repleto de informação para que os detalhes lhe convençam que por mais diferente que aquela realidade lhe pareça, ainda sim seja plenamente palpável. Das vestes a cultura popular com suas datas, festejos e cultos, das bebidas aos pratos que meu paladar não é capaz nem de ao menos supor ser bons ou ruins, tudo te encaminha para uma imersão profunda e encantadora. Principalmente a cidade de Cammor, ambiente principal da trama, que muito me remeteu a uma Itália renascentista fantástica com seus canais como Veneza e as famílias máfia, além de nomenclaturas e termos tão próximos ao da língua da terra da pizza. Ex: Capa (como é chamado o líder da máfia no livro) e Capo ou Capo di tutti capi (expressão utilizada para designar "o chefe de todos os chefes" da máfia siciliana).
Talvez a inicial falta de ação e o foco no desenvolvimento de uma trama mental, voltada para o treinamento do jovem e seus golpes elaborados (sempre baseados na enganação e trapaça) acabem por desagradar alguns tipos de leitor. Não é que a trama seja seja parada, muito pelo contrário, mas quem não tem paciência certamente terá problemas. Além disso, a composição com letras pequenas e a diagramação com margens menores em alguns momentos corroboram para essa falsa impressão de lentidão. Sabendo disso pense que talvez o livro fosse ter mais páginas e portanto, seria mais caro.
Não preciso dizer que a riqueza de detalhes da obra me ganhou completamente, muito menos dizer que acompanhar o desenvolvimento do protagonista é algo extremamente prazeroso. A verdade é que toda a história do sagaz Locke Lamora é tão boa que mesmo se tratando de uma história extensa a vemos passar rápido enquanto mergulhamos nos detalhes imersivos daquele universo. Mas o melhor é saber que a história continua e que mais respostas dadas nas sequências. Concordo plenamente com as palavras de George R.R. Martin ao dizer que As Mentiras de Locke Lamora é uma história original, vigorosa e arrebatadora de uma brilhante e nova voz da ficção fantástica. Scott Lynch está de parabéns pelo excepcional romance de estreia.

PS.: A capa original - a utilizada na edição nacional pela Arqueiro - já é bonita, mas durante a pesquisa outras três me chamaram bastante atenção e gostaria de compartilhar com vocês. São elas: a Francesa, a Japonesa e a Taiwanesa.