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Crítica | O Auto da Compadecida 2

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O Auto da Compadecida, sem a menor sombra de dúvidas, marcou o cinema nacional e o imaginário popular do brasileiro como ferro em brasa. Exibições, re-exibições, presença nas escolas, ou parte meramente de um diálogo solto em uma conversa informal, mantém viva a presença da obra mesmo duas décadas após o seu lançamento. Assim sendo, uma aguardada — porém, temida — sequência teria um desafio a altura enfrentar: seu próprio legado.

Tal qual nossos protagonistas, Chicó e João Grilo, e suas habilidades de dar nó em pingo d'água para sair de situações aperreantes, a produção resolve abraçar o legado e transformá-lo em seu trunfo. Entre erros e acertos, O Auto da Compadecida 2 se destaca ao transformar-se em uma obra ciente de si mesma e fortalecer o lado teatral e o espírito de conto popular, utilizando novas técnicas e tecnologias a seu favor.
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Vinte anos após os eventos narrados no primeiro filme, retornamos à cidade de Taperoá, onde Chicó (Selton Mello) transformou a história da ressurreição de João Grilo (Matheus Nachtergaele) em seu ganha-pão. O amigo, que estava desaparecido em suas andanças pelo Brasil, retorna e encontra a cidadezinha em meio a uma disputa política entre o coronelismo, representado do coronel Ernani (Humberto Martins), e os novos meios de controle de massa, representados por Arlindo (Eduardo Sterblitch), dono da única rádio da cidade. Esperto como só ele, João Grilo enxerga então uma oportunidade e decide que é hora de aproveitar a sua nova fama para conseguir alguns trocados, e quem sabe algo mais, ao lado de seu velho amigo.

Com um roteiro simples, que sente falta da genialidade de Ariano Suassuna, mas competente em amarrar os elementos que fizeram do primeiro filme o sucesso que é, O Auto da Compadecida 2 consegue exito em meio as dificuldades. Mesmo sem a pujança da obra anterior — e sabendo bem disso — o filme se esforça em trazer a novidade através de seu elenco, que parece a todo instante estar se divertindo verdadeiramente em seus papéis, e da teatralidade assumida em torno da obra. 

Sim, é possível que a repetição por vezes formulaica não alcance as expectativas, algo que o próprio filme tem ciência e demonstra isso em cena. As críticas, as construções de personagens, os elementos fantásticos e reais do nordeste, o humor característico, tudo volta a marcar presença, mas é também isso que abre espaço para que a relação entre Grilo e Chicó se destaque e possibilite a dupla brilhar mais uma vez, em especial Nachtergaele.
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Apesar do estranhamento com a falta de locações reais a primeiro momento, a decisão de gravar o filme inteiro em estúdio com uso de novas tecnologias, reforça o ar fantasioso e teatral escolhido para a sequência e fazem do resultado algo único e particular. Tudo isso é visível ao longo do filme através das escolhas de planos e efeitos, mas a ludicidade fica evidentemente destacada durante os causos de Chicó na mistura de técnica e stop-motion.

Em meio a comparações inevitáveis, especialmente em uma época de tantas sequências e prequelas lançadas, O Auto da Compadecida 2 entrega um filme que diverte independente de alcançar ou não o patamar desejado e, que reforça e abraça a força da obra original como uma celebração daquilo que foi. Como esse filme deu certo? Não sei, só sei que foi assim.

Título: O Auto da Compadecida 2
Lançamento/Duração: 2024 - 1h 44min
Gênero: Comédia/Drama/Fantasia
Direção: Guel Arraes e Flávia Lacerda
Roteiro: Guel Arraes, João Falcão e Adriana Falcão

Crítica | O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Warner|Reprodução
Disposta a explorar mais dos anexos do legendário do universo criado por J.R.R.Tolkien a Warner traz aos cinemas sua nova aposta, a animação O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim. Para dar peso ao projeto que traz um recorte específico da história do reino dos cavaleiros, a direção fica por conto do aclamado diretor japonês, Kenji Kamiyama.

Na trama, narrada por Éowyn, voltamos 183 anos antes dos eventos da trilogia original, para contrar sobre o destino da Casa de Helm Mão-de-Martelo, o lendário rei de Rohan, a história da última Donzela do Escudo e o conflito que leva a trágica nomeação de um dos pontos mais famosos da saga. 
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Após ter seu pedido de casamento negado e presenciar a morte de seu pai durante o conselho de Rohan, Wulf,  busca de vingança pela morte de seu pai, força Helm e seu povo a fazerem uma última resistência ousada na antiga fortaleza do Forte da Trombeta - um poderoso forte que mais tarde se tornará conhecido como Abismo de Helm. Encontrando-se em uma situação cada vez mais desesperadora, Héda, filha de Helm, precisa reunir forças para ajudar seu pai a garantir resistência contra um inimigo mortal empenhado em sua aniquilação.

Épico, porem contido, o longa desenvolve muito bem a relação dramática que circula os personagens. Pais superprotetores, donzelas em busca de aprovação, amantes rejeitados em busca de vingança, famílias destruídas em conflitos mal resolvidos, traições e porradaria franca. Há um pouco de tudo aqui! Elementos clichês, mas trazidos de forma interessante que fazem da narrativa algo particular, mas sem fugir do espírito de O Senhor dos Anéis.

Grande parte disso se deve à direção de Kamiyama, que trazendo sua experiência com a narrativa oriental, administra bem a parte contemplativa e de ação do filme. Acrescentando intensidade aos sentimentos características dos animes, para realçar características dos personagens. E como são interessante! Helm Mão-de-Martelo é imponente e poderoso, Héla é determinada e teimosa, Wulf é rancoroso e traiçoeiro, construídos para além do clichê ou representatividade.

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Sonora e visualmente, não há defeitos no longa. A equipe de produção nos leva outra vez para o universo de fantasia, reforçando o épico, acrescentando grandeza e entregando cenas deslumbrantes. O resultado não pedia ser melhor!

Tratando-se de uma adaptação, o longa consegue expandir muito bem o trecho que o originou e entregar um resultado muito agradável de se acompanhar, independente de ser extremamente fiel ou não. O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é um filme impressionante que carrega o legado de O Senhor dos Anéis para frente, sem ficar estagnado em uma pretensa perfeição da obra original e mostra caminhos que a Warner pode explorar sem medo.

Título: O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim
Título original: The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim
Lançamento/Duração: 2024 - 2h 14min
Gênero: Animação/Aventura/Fantasia/Epico
Direção: Kenji Kamiyama
Roteiro: Jeffrey Addiss, Will Matthews, Phoebe Gittins

Crítica | Moana 2

Disney/Reprodução
Sequencias de animações de sucesso sempre vem acompanhadas de dois sentimentos: ansiedade e medo. Divididos entre a curiosidade ansiosa e o medo de não alcançar o antecessor, o público aguardava atento o lançamento, que enfim chegou às telonas.

Lidar com tantas expectativas do público é um grande desafio, e com Moana 2, não seria diferente. O longa chega aos cinemas com uma a sequência é bem competente e divertida, mas será que tem o que é suficiente para agradar?
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Anos se passaram desde sua última grande aventura ao lado do semi-deus Maui. Moana agora é a chefe de Motonui, mas continua a navegar em busca de respostas sobre os povos que habitam os mares. Após receber um chamado de seus ancestrais, Moana parte em uma jornada nos mares distantes, desbravando águas perigosas, rumo a uma aventura diferente de todas as que já viveu. Mas desta vez, além de novas responsabilidades, tem novas companhias.

Inicialmente planejado com uma série e depois alterado para o formado de longa Moana 2, tem muito a apresentar e expandir do universo, mas acaba enfrentado pequenos tropeços. A narrativa da aventura é ágil, divertida e agradável, porém essa agilidade sacrifica aos elementos complementares que poderiam tornar o longa mais interessante, apostando em algo mais simples e palatável. Além disso, falta um pouco mais estofo aos novos personagens que acabam sendo pouco aprofundados. Apesar disso, o espirito de aventura que tanto agradou em seu antecessor está lá!

Após todo o arco de autodescoberta presente em Moana e seu "Saber Quem Sou", a nova aventura leva todos os personagens "Além" e mostra que a busca por nos conhecer e conhecer o outro nunca termina. Ao trazer mais personagens para o centro da trama junto a protagonista e Maui, além de acrescentar diversidade, o roteiro busca enriquecer a missão que os move ao criar conexões, seja com nosso passado, com o ambiente, com aqueles que os cercam e com aliados improváveis.

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Ponto alto em Moana, a trilha não alcança o mesmo destaque em Moana 2. Com novo produtor musical, as músicas caminham para um rumo diferente, mais pop, e um pouco menos tradicional. O resultado está longe de ser ruim, muito pelo contrário, mas não tem a força e o folego das canções que ficavam presas na memória mesmo após a exibição. Apesar disso Any Gabrielly e demais atores mantém seu trabalho em excelência tanto na dublagem quanto nas canções em português.

Se existe algo que não deve ser criticado é o trabalho visual que segue desbundante. As elogiadas texturas, dos movimentos das águas, da pele dos personagens e dos grãos de areia, seguem vibrantes com uma iluminação que privilegia a coloração de cada detalhe da natureza. As cenas noturnas em especial e lado fantástico do mar fazem o espetáculo valer a pena.

Embora não tenha o mesmo brilho e pujança de seu antecessor, Moana 2 consegue divertir e emocionar seu público com uma aventura cativante e envolvente, apesar de apostar numa estrutura segura. Ao fim, vale a pena acompanhar e torcer por novas aventuras. 

Título: Moana 2
Título original: Moana 2
Lançamento/Duração: 2024 - 1h 40min
Gênero: Animação/Aventura/Familia
Direção: David G. Derrick Jr., Jason Hand, Dana Ledoux Miller
Roteiro: Jared Bush, Dana Ledoux Miller, Bek Smith

Crítica | É assim que acaba

Sony Pictures/Reprodução
Aguardado com expectativa pelos fãs apaixonados, a primeira adaptação de um livro da autora Colleen Hoover, chega nos cinemas nesta quinta-feira (8/8). Apesar do temor inicial que envolve adaptações de queridinhos, É Assim que Acaba chega entregando mais do que o necessário para agradar a legião de fãs e gerar comentários positivos.
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Em É assim que acaba, conhecemos a história de Lily Bloom, que ao retorna à sua cidade e obrigada a encarar uma situação de luto e alguns demônios que vem com ele, além da relação de algumas formas estranha entre Lily e sua mãe.

Após mudar de cidade e resolver ter seu próprio negócio — sua tão sonhada floricultura — ela acaba conhecendo Ryle, e após uma conversa cheia de “verdades nuas e cruas” acha que nunca não vai mais encontrá-lo. Até descobrir que sua mais nova melhor amiga e companheira de trabalho — que futuramente será importante para algumas decisões — e ele são mais próximos do que ela sequer imaginava. 

A narrativa traz a questão da violência doméstica no chamado ciclo de violência. E Lily, acaba envolvida naquela teia sem acreditar que está de certa forma revivendo, de outra perspectiva, essa experiência. Após o primeiro episódio de agressão — passada como um acidente — Lily encontra um antigo amigo e primeiro amor, que entende o que ela viveu no passado e teme por seu futuro após observar ela e seu novo companheiro. Mostrando-se a partir dali uma possibilidade de apoio para ela. 

Ao longo do relacionamento com Ryle, Lily passa por situações em que a mesma parece não entender a gravidade da escalada de violência. Algo que no filme é mais sutil do que no livro, talvez pela classificação indicativa, principalmente na primeira cena de violência. Não é que não mostre a violência, mas o livro passou uma maior sensação de medo e angústia. Apesar de uma das últimas cenas ter sido, particularmente, angustiante de ver na tela do cinema. 
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O elenco desempenhou muito bem o seu papel, contrariando as expectativas e queixas sobre o envelhecimento dos personagens em relação à obra original. Inclusive, um dos pontos mais acertados do longa e que me chamou bastante atenção foi a semelhança entre o casting das versões mais jovens e mais velhas dos personagens.

A estreia de Colleen Hoover no cinema deixa a sensação de quero mais e com a confirmação de venda de direitos de outras obras, podemos esperar um caminho extremamente positivo após É assim que acaba. Ao fim, um título curioso para uma jornada que acaba de começar.

POR JADE MIRANDA


Título: É assim que acaba
Título original: It Ends With Us
Lançamento/Duração: 2024 - 2h 10min
Gênero: Drama/Romance
Direção: Justin Baldoni
Roteiro: Colleen Hoover, Christiy Hall

Critica | Planeta dos Macacos: O Reinado

20th Century Studios/Reprodução
Após sete anos a série Planeta dos Macacos retorna aos cinemas com uma nova produção. Planeta dos Macacos: O Reinado dá continuidade ao legado da trilogia dirigida por Matt Reeves, protagonizada pelo líder carismático César (interpretado por Andy Serkis), e chega com a difícil tarefa de fazer jus ao legado deixado em tão alto nível.
Com novos protagonistas, nova equipe criativa, novas tramas, o longa avança no tempo para uma nova etapa de desenvolvimento e traz para dentro do filme o peso do legado que sabe que carrega. E faz isso muito bem!
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Algumas gerações após o final de Planeta dos Macacos: A Guerra, a sociedade símia prosperou e se dividiu em diversos clãs, enquanto os humanos foram reduzidos a uma existência selvagem em decorrência do vírus. Nesse futuro, alguns grupos de macacos nunca ouviram falar de César, enquanto outros distorceram seus ensinamentos para construir impérios em expansão. É nesse cenário em que um líder de macacos, Proximmus Caesar, começa a escravizar outros grupos para encontrar tecnologia humana, enquanto outro macaco, Noa, que viu seu clã ser tomado, embarca em uma jornada para encontrar a liberdade. Uma jovem humana torna-se a chave para a busca desta última, embora tenha planos próprios.

Com roteiro simples e objetivo, o longa traz uma jornada de descoberta e amadurecimento do protagonista, enquanto nos apresenta de maneira orgânica as consequências da passagem de tempo e o legado de César. Os conflitos apresentados se bastam e questionam a todo momento as certezas dos personagens, e voltam a perpassar temas já abordados como poder e confiança, seja entre os macacos ou com seres humanos.

Embora com timidez, o Noa de Owen Teague, garante o seu espaço e não fica na sombra de César ao trilhar um caminho particular, embora os ensinamentos de seu antecessor se tornem presentes graças a Raka (Peter Makon). À Freya Allan, a Ciri de The Witcher, cabe trazer o lado do ser humano na trama com uma personagem que adiciona complexidade a questão dos sobreviventes.

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A condução do filme é muito bem feita, mesmo o básico se torna grandioso e satisfatório, com a combinação do excelente trabalho visual com as atuações que conseguem conquistar o expectador. Contudo, Planeta dos Macacos: O Reinado não é um filme agitado, construindo lentamente a trama que quer contar. O que por si só não é um defeito, mas expectativas devem ser ajustadas para tal.

Se havia dúvidas sobre o futuro da franquia, ao final podemos dizer que o legado de Cesar e Planetas dos Macacos está garantido. O Reinado é um excelente inicio de uma nova jornada e a garantia de que a franquia ainda tem muito a ser explorada.


Título: Planeta dos Macacos: O Reinado
Título original: Kingdom of the Planet of the Apes
Lançamento/Duração: 2024 - 2h 25min
Gênero: Aventura/Ação/Ficção Científica
Direção: Wes Ball
Roteiro: Josh Friedman, Rick Jaffa, Amanda Silver