BEM-VINDO VIAJANTE! O QUE BUSCA NO MULTIVERSO?

Crítica | Veja por Mim

Imagem do filme. Mostra a protagonista, Sophie, uma mulher de pele branca, loira, pequena, andando com um celular com a laterna ligada por um corredor mal iluminado, com portas à esquerda dela.

Uma cat sitter cega. Um aplicativo de celular chamado Veja por Mim. Uma mansão isolada. Um grupo de bandidos em busca de um cofre. Uma mistura que te deixa um pouco confuso, acompanhada de um trailer que te faz ter dúvida sobre o que filme vai te entregar (e se o fará bem).
Na trama, acompanhamos a história de Sophie (Skyler Davenport), uma esquiadora que ficou cega após um acidente e carrega alguns rancores em relação ao modo com que a tratam desde então. Ela trabalha como cat sitter, e o filme começa com sua chegada em uma mansão isolada. Seu trabalho é simples, cuidar do felino, passar o dia, e ir embora. Mas durante a noite acaba se envolvendo com um plano de um grupo de assaltantes que quer o conteúdo de um cofre na mansão. Em seu auxílio, um aplicativo chamado Veja por Mim, que conecta pessoas que tem algum tipo de deficiência visual a voluntários que ajudam a resolver alguma situação. Kelly (Jessica Parker Kennedy) é essa voluntária, uma veterana do exército que tem por hábito jogar jogos de tiro em primeira pessoa.
Eu fiquei bastante intrigada quando li a sinopse e vi o trailer. Ambos não me chamaram tanto a atenção, mas quando fui atrás de resenhas sobre o filme, resenhas bastante positivas (era um mix bem 8 ou 80, ou eram positivas ou eram terríveis, o que adicionou tempero ao quebra-cabeças que era Veja por Mim), fiquei refletindo sobre o que esse filme teria para oferecer que não me convenceu antes. Ele tem cara de filme B. Então comecei a assistir a obra com esse mistério a resolver: seria um filme B de Bom ou B de Bem mais ou menos?
Cena do filme em que vemos Kelly, uma mulher de pele de cor bege claro, cabelos lisos escuros, ela está olhando preocupada para alguma coisa fora do cenário. Está num ambiente escuro iluminado por leds e com um headset com microfone encaixado em sua cabeça.
O filme começa bem silencioso, vemos a rotina de Sophie, ela arrumando suas malas, uma competição de esqui na tv, uma relação conturbada dela com a mãe, e sua partida para o trabalho. E aí que começa um detalhe muito interessante: nossa protagonista não é exatamente legal. Nem boazinha. Somos apresentados a uma personagem que tem uma construção complexa, que tem questões a resolver consigo e com os outros. Que odeia profundamente ser encarada como incapaz. E que tem uma moral extremamente cinza. É essa personagem que terá de lidar com assaltantes bem canastrões e uma veterana do exército que, por sua vez, também tem uma moral tão cinza quanto ela.
Somos apresentados a como ela lida com suas relações sociais e seu dilema de aceitar ajuda. O modo como ela encara um antigo parceiro de esporte. E como ela lida com seu trabalho (o que é um ponto ali nessa bússola moral que desanda para o lado... complicado). O filme te lança vários pontos que serão trabalhados e te entrega uma resolução boa de vários deles. Várias arminhas de Tchekhov, todas engatilhadas, e a gente só aguarda o som dos tiros.
Algo que funciona muito bem, e que poderia dar errado, é a nossa relação com personagens que não são muito gostáveis à primeira vista. É sempre arriscado posicionar personagens com dualidades morais tão grandes, e eu particularmente gosto bastante quando isso é bem executado. Além de uma química incrível trabalhada apenas com uma cena entre Kelly, a voluntária, e Sophie. Em uma troca de diálogo, em uma única ajuda, acreditamos na relação entre as duas e numa cumplicidade superimportante para seguir acreditando na trama do filme.
Sendo um thriller de ação, esperamos sim que tenham alguns clichês, mas tudo corre de maneira que entretém, não tem nada muito inovador, mas tem um filme que te entrega o que promete, te fornece um desenvolvimento de personagem pé no chão, personagens que conseguem te conquistar (apenas um dos bandidos tem uma atuação que me deixou aflita, mas abençoadamente dura pouco), e a direção de Randall Okita que te deixa tenso, na expectativa, e satisfeito.
Nessa imagem do filme, Sophie, segura um celular num ambiente bem iluminado, cheio de janelas de vidro grandes ao fundo. Ela está sorrindo de leve enquanto segura o celular na altura do rosto, como se mostrando o cenário com a câmera para alguém.

Uma questão bem interessante de ressaltar é o fato de termos uma protagonista cega, que é retratada com camadas, rotinas, também interpretada por uma pessoa atriz cega. Skyler Davenport tem uma extensa carreira com dublagem, e entrega uma atuação impecável, que te faz acreditar nas escolhas da personagem (e evita aqueles momentos em que você grita com a tela quando alguém faz uma escolha absurda em filmes de terror ou suspense). 
Analisando depois de assistir, fica a sensação de que algumas propostas não foram bem recebidas por algumas pessoas, daí também essa mistura de resenhas positivas e negativas. Ele merece sim uma audiência maior pelo que conseguiu entregar em uma hora e meia de história.
Veja por Mim foi uma surpresa agradável! Um filme que vale assistir com a expectativa ajustada para um thriller que envolve invasão de casas, sobreviver à noite e te entrega personagens verossímeis, tensão, redondinho para o que propõe e que me entreteve do início a fim. Um filme B de Bom!

Texto escrito por Camila Loricchio
a convite do Multiverso X


Título: Veja Por Mim
Título Original: See for Me
Lançamento/Duração: 2022 - 1h33min
Gênero: Suspense/Thriller
Direção: Randall Okita
Roteiro: Adam Yorke, Tommy Gushue

IMDB - FILMOW


Crítica | Lightyear

Em Toy Story– Um Mundo de Aventuras (1995) Andy se vê encantando com um novo brinquedo que recebeu de presente. Era Buzz Lightyear, o Patrulheiro Estelar, personagem de um filme então fictício que havia encantado o garoto e se tornado seu filme favorito. Vinte e sete anos depois, chegou a vez de nós encararmos o filme por nós mesmos.
Lightyear (2022) chega aos cinemas com uma árdua tarefa agregada: expandir o universo ao redor da franquia Toy Story, fazer jus a carga que — intencionalmente ou não — carrega, e provar que funciona por si só enquanto filme. Obviamente, por todo o retrospecto, confiar no trabalho realizado pela Disney e Pixar não é assim tão difícil, mas será que Lightyear encantará o público tanto quando conquistou o garoto Andy?
Na trama, uma nave de exploração do Comando Estelar acaba presa em um planeta hostil, sem perspectiva de retorno ao espaço após um grave dano em sua principal célula de combustível para a viagem em dobra espacial. O capitão Buzz Lightyear se culpa por prender todas aquelas pessoas naquele terrível lugar cheio de insetos gigantes e cipós vorazes e está disposto a tudo para o reparar e salvar sua tripulação. 
Essa determinação leva Buzz a se tornar piloto de testes do novo combustível e em uma dessas viagens acaba avançando para um futuro onde uma estranha nave ameça a sua colônia, e apenas um grupo de desajustados pode ajudá-lo a resolver a situação para, enfim, poder voltar para casa. Mas para isso, Buzz precisa aprender a lidar e superar suas falhas, aceitar suas limitações e confiar nas pessoas, pois nem mesmo ele consegue resolver os problemas do mundo sozinho.
Lightyear entrega uma obra com boas doses de drama, reflexões e desbundes visuais, que  apesar de suavizadas questões físicas para atingir todos os públicos, a animação não fica devendo a outras grandes obras do gênero. A animação traz uma boa ficção científica, a explorando em um ritmo mais lento, embora com doses de ação, e é difícil não lembrar de Star Trek ou Interstellar em alguns momentos.
Como uma boa obra do gênero, a ficção científica, é apenas um meio para se falar sobre o ser humano e tecer críticas e questionamentos. A determinação de Buzz em reparar sua falha o torna alheio ao mundo ao seu redor a ponto de perder a oportunidade de viver e aproveitar aqueles que o cercam. O astronauta, solitário em sua culpa, confiante apenas si e até arrogante, precisa reaprender a dividir não apenas o peso da responsabilidade e as tarefas, mas também os bons momentos com os que o cercam. Zurg, o grande vilão, acrescenta em sua grande revelação doses ainda maiores para o aprendizado do herói em sua jornada.
Tão importantes quanto o protagonista nessa história são suas relações que acrescentam diversas camadas ao filme. Os coadjuvantes têm suas próprias jornadas e características que vão além da tarefa de ajudar Buzz a cumprir sua missão. Os maiores destaques ficam certamente para Alisha Hawthorne, melhor amiga e comandante de Lightyear, e sua neta, Izzy, cujas relações e papéis se tornam peça fundamental para que a trama funcione, e para o gato-robô Sox, que rouba a cena cada vez que aparece e deixa parte do público desejoso por brinquedos e spin-offs do personagem.


No Brasil, o longa também chamou atenção e dividiu opiniões por outro motivo: a escolha de Marcos Mion como star talent convidado para dublar Buzz Lightyear. A mudança de voz já era esperada, visto ser um movimento que aconteceu também na versão original em inglês no intuito de afastar o boneco Buzz do astronauta Buzz, e também trazer um novo público.
Para além de toda a questão que atinge o emocional de algumas gerações que cresceram e se identificaram com o Buzz de Guilherme Briggs, muitos questionaram o fato do trailer e materiais promocionais iniciais trazerem a voz de Duda Espinoza como intérprete do protagonista, uma correlação direta por o dublador emprestar sua voz para outros personas interpretados por Chris Evans, a voz original do Buzz neste longa. Então estaria Mion preparado para o desafio, não apenas tendo comparações com a voz americana, mas também com nomes de peso da dublagem brasileira? 
O filme traz então uma resposta positiva para a pergunta. Superando o estranhamento inicial causado nos trailers, o resultado mostra que Mion se empenhou em se encaixar às necessidades do personagem, sem vaidades, e a performance do apresentador certamente calará a boca de muitos dos críticos. 
Lightyear não tem o mesmo brilho característico de seus antecessores, mas certamente possui alma e entrega particularidades que o tornam bastante divertido e cativante, principalmente enquanto obra de entrada no mundo da ficção científica. Com boas referências e reflexões — como um bom filme da Pixar deve ter — Lightyear nos mostra a importância de aproveitar o hoje, nos desprendermos do passado, e aprender com nossos erros para, enfim, irmos ao infinito e além.

Título: Lightyear
Título Original: Lightyear
Lançamento/Duração: 2022 - 1h 40min
Gênero: Aventura/Ação/Ficção Científica/Animação
Direção: 
Angus MacLane
Roteiro: 
Angus MacLane e Jason Headley

IMDB - FILMOW


#ClubedoMultiverso.:29 | É assim que se perde a Guerra do Tempo

Imagem retangular de divulgação do episódio traz do lado esquerdo uma cena ilustrada de um pequeno astronauta flutuando na ponte de comando de uma nave espacial, onde é possível ver livros flutuando ao redor e em meio a máquinas, onde da parte superior à frente  um estranho computador anexo a uma mangueira retrátil debate com ele a leitura. Na cena é possível ver ao fundo uma ampla janela de vidro que mostra o espaço e um planeta distante, e um pequeno etê acenando entre os computadores.
Sobreposta a essa imagem, no canto superior esquerdo a logo identifica esta como uma produção do Multiverso X, enquanto um grande retângulo azulado na parte inferior indica se tratar do episódio 29 do Clube de Leitura do Multiverso sobre É assim que se perde a Guerra do Tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone.
Na parte direita da imagem, sobre uma meia circunferência branca, uma imagem da capa do livro aparece para reforçar o tema do conteúdo.

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Está no ar mais um #ClubedoMultiverso. Aqui, junto com nossos leitores e ouvintes, entregamos o resultado dos debates sobre a leitura conjunta de uma determinada obra, realizada em nossa comunidade no Discord no mês anterior. Em nossa leitura coletiva de Maio de 2022, acompanhamos a disputa entre duas agentes atrás vez do tempo e do espaço para garantir o futuro ideal de suas agências e a descoberta de um amor em meio a guerra, pois É assim que se perde a Guerra do Tempo! Nesse episódio, junto do Capitão Ace Barros, estão Airechu e Camila Loricchio.
Ouça e descubra o que achamos dessa leitura; entenda porque a ajustar a expectativa é o melhor caminho para aproveitar a leitura; acompanhe o vai e vem nas linhas do tempo e as mais criativas formas de comunicação; permita-se envolver pelos sentimentos maiores que a guerra, se apaixone, e viaje conosco.
Acompanhe-nos, estimados Exploradores de Universos!

DURAÇÃO: 54 Minutos 48 Segundos

COMENTADOS NO PODCAST:

Livro | É assim que se perde a Guerra do Tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone - Skoob - Amazon
Livro de Junho | Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo, de Benjamin Alire Saenz - Skoob - Amazon
Discord | Faça parte do nosso grupo do Discord e participe do #ClubedoMultiverso


CRÉDITOS:

Arte da capa | Elementos em vetor criados por @upklyak disponibilizados em freepik.com 
Identidade visual e composição | Ace Barros 
Edição e Mixagem | Ace Barros (de novo)

SUGESTÕES, CRÍTICAS E DÚVIDAS:
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Crítica | Jurassic World: Domínio

Desde o lançamento e sucesso estrondoso de Jurassic Park em 1993, Hollywood tenta replicar o encanto causado pela obra a cada nova sequência. Jurassic World: Domínio, capítulo final da trilogia iniciada por Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros, encara o desafio unindo o elenco clássico com o novo em uma corrida contra o tempo para salvar o equilíbrio do mundo.
Uma aposta na ação e na nostalgia que teria tudo para ser a tão sonhada sequência perfeita. Isso é claro, se estivéssemos falando de um roteiro mais coeso e um pouco mais inteligente.
Quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, em Jurassic World: Reino Ameaçado, e dando sequência aos acontecimentos do longa, os dinossauros agora vivem ao lado de humanos em todo o mundo. Essa convivência nem sempre é harmoniosa, trazendo problemas graves e levantando questões sobre os limites dessa relação e como ela afetará o futuro das espécies em nosso planeta. Em especial, a humanidade.
Contudo, para além da sinopse oficial, o maior conflito de um filme sobre dinossauros não envolve diretamente os dinossauros. Uma nuvem de gafanhotos geneticamente modificados coloca em perigo a produção agrícola de todo o mundo e todos os indícios apontam para uma empresa que se apresenta para o mundo com uma fonte de soluções e dona de um local perfeito para a questão dos dinossauros. Essa questão leva Ellie Sattler (Laura Dern), Allan Grant (Sam Neill) e Ian Malcolm (Jeff Goldblum) a se unir novamente para investigar o caso. Em paralelo, Claire (Bryce Dallas Howard) e Owen (Chris Pratt) se envolvem em uma trama particular de resgate quando sua filha Maise (Isabella Sermon)e de um bebê raptor, surpreendentemente sequestrados pela mesma empresa.
Em um vai e vem de espionagem, buscas por verdade e por filhos, sequências de ação bem executadas, referências e brincadeiras, e apelo a nostalgia, o roteiro de Jurassic World: Domínio acaba por se perder ao trazer um excesso de conflitos e questões, deixando de lado muitas vezes os seus principais astros: os dinossauros. Não seria implicância ou exagero afirmar que toda a questão dos dinossauros em convívio com seres humanos tem a profundidade de um pires e é apresentada de forma secundária. Há um exotismo, uma exploração e venda ilegal, e só.

Embora dito tudo isso, ainda é possível se divertir com o filme e aproveitar os reencontros, desde que a expectativa esteja regulada. Sim, o vilão CEO de uma empresa com desejos maquiavélicos é genérico e esquecível, mas o retorno e entrosamento do elenco original com o novo compensam a questão. É genuinamente delicioso ver Dern, Neill e Goldblum juntos novamente em tela, novos personagens secundários acrescentam bastante nas partes de ação elaboradas e repletas de set pieces, e o design de novos dinossauros, principalmente os com penas, também é bacana.
Mesmo sendo superior a seus antecessores, trazendo certo frescor, e tendo pontos positivos, Jurassic World: Domínio tristemente conclui sua jornada com uma sensação último suspiro para franquia que merece um bom descanso para livrá-la de uma possível extinção por desgaste. O longa é com certeza um filme divertido que vale o show que se propõe, mas com roteiro pouco inspirado e sem alma, o que é sempre uma pena se tratando de uma franquia tão amada.

Título: Jurassic World: Domínio
Título Original: Jurassic World Dominion
Lançamento/Duração: 2022 - 2h 26min
Gênero: Aventura/Ação/Ficção Científica
Direção: 
Colin Trevorrow
Roteiro: Emily Carmichael, Colin Trevorrow, Derek Connolly

IMDB - FILMOW