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Crítica | Batman

Com diversos filmes e animações sobre o personagem, além de participações e das icônicas histórias em 80 anos de quadrinhos, contar uma nova história do Batman no meio de tantas encarnações é sempre um grande desafio.
Focando sua trama entre a construção de valores do Batman e uma caçada a um perigoso serial killerMatt Reeves flerta com o noir e o suspense para apresentar uma das melhores versões do personagem no cinema. 
Na trama, temos um Batman (Robert Pattinson) em seu segundo ano de atividades, trabalhando ao lado de um ainda tenente James Gordon (Jeffrey Wright), e construindo a sua fama para causar temor em uma Gotham cada vez mais envolta em crime. Enquanto se questiona sobre os possíveis reflexos de suas ações, o homem morcego é confrontado com uma onda de crimes em série que atinge os figurões da cidade, realizadas pelo Charada (Paul Dano) às vésperas da eleição municipal. Em meio a uma busca para localizar e impedir novos assassinatos, o cruzado encapuzado irá encontrar personagens icónicos como a Mulher-Gato (Zoë Kravitz), Pinguim (Colin Farrell), Carmine Falcone (John Turturro), e também com um pouco do passado da família Wayne e seu legado para a cidade.
Para se livrar das repetições, Batman de Matt Reeves, opta por um novo ângulo para contar sua história, trazendo principalmente o caráter detetivesco presente em várias tramas do personagem para o holofote. Por conta disso, o diretor pulveriza elementos já conhecidos do público com a morte dos Wayne e a origem do herói em flashs e comentários para melhor aproveitar suas quase três horas de filme no que realmente interessa.
Embora não se trate de uma adaptação direta, é possível notar que seu roteiro bebe diretamente de O Longo Dia das Bruxas, quadrinho lançado em 1996 e que recebeu adaptação em forma de animação em 2021. Diversos elementos da trama são reconhecíveis, embora alterados, e servem muito bem para entregar ao espectador uma construção mais investigativa, psicológica e até filosófica, já que parte importante da trama consiste no questionamento e entendimento do personagem sobre o que faz, como isso reflete na sociedade e o que mais pode fazer.
Reeves não se esforça para esconder suas referências e influências, sejam vindas nos quadrinhos, obras de suspense aclamadas do cinema ou casos reais de serial killers. Todavia, o roteirista e diretor, foca sua atenção em construir uma obra sóbria e concisa, sem abandonar os elementos fantasiosos comuns ao personagem e aos gênero de ação, que brilha ao trazer uma história bem dosada que cativa seu espectador, embora por vezes duvide de sua capacidade ao trazer de forma detalhada e constante, explicações sobre o que está acontecendo.
Robert Pattinson traz um tom mais fechado e isolacionista para o seu Bruce Wayne, e uma fúria determinada para o seu Batman vingativo. O ator, inclusive, mergulha no papel do morcego sem vaidades e passa a maior parte do filme utilizando sua máscara, atitude que até é reforçada pelo roteiro em determinado momento em um diálogo sobre máscaras e o verdadeiro ser. Pattinson acrescenta muito bem a seu Bruce/Batman uma dose de dor e peso necessários para o drama e tom que o traz o filme.
Porém não é apenas o protagonista que se destaca no filme. Zoë Kravitz consegue entregar uma Selina Kyle bem diferente das vistas até então e cativa tanto em suas ações solo quanto nas interações com o Batman de Pattinson, e tanto o Charada quanto a Mulher-Gato tem papeis fundamentais para a evolução do herói - de maneiras distintas - e trazem arcos de personagens particularmente interessantes e bem desenvolvidos.
Até mesmo personagens periféricos como o Pinguim e Falcone, tem excelentes atuações. Questionado pela maquiagem e escolha para o papel, Colin Farrell encontra o tom correto para entregar um criminoso bonachão e carismático. Mesmo com pouco tempo de tela, Turturro aproveita o tempo para entregar um mafioso ciente de seu poder e influência, que consegue causar tanto medo quando o Batman a qualquer cidadão de Gotham mesmo com sua postura calma.
A sempre chuvosa cidade de Gotham dá os ares da graça quase sempre na escuridão com uma mistura anacrônica de elementos e contrastes que separam as realidades dos mais e menos abastados, e cria um perfeito ambiente para a trama de suspense. A trilha sonora, marcada por sons graves, dão um tom pesado que marcam muito bem os momentos, embora o tema principal se assemelhe a um misto entre uma marcha nupcial e a marcha imperial de Star Wars. 
Por todos esses pontos, e alguns outros que precisam ficar de fora de uma análise sem spoilers, é possível afirmar que a estreia de Matt Reeves e seu Batman trazem algo novo ao personagem nos cinemas e de forma empolgante. As vezes não é preciso reinventar a roda, mas aproveitar as possibilidades abertas e entregar um trabalho bem feito.

Título: Batman
Título Original: The Batman
Lançamento/Duração: 2022 - 2h 55min
Gênero: Ação/Drama/Policial
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves e Peter Craig