Muitas vezes sucesso de público e bilheteria, as versões live-action de clássicos da Disney constantemente dividem opiniões e levantam questionamentos sobre a necessidade de sua existência além da busca por lucro. Existem aquelas que funcionam muito bem enquanto filme independente, como Aladdin; aquelas que são interessantes, mas sem alma, como O Rei Leão; e outras que são como um verdadeiro atentado e totalmente esquecíveis, como Mulan. Entraria o novo longa no hall de acertos ou nas falhas?
Particularmente, pouquíssimas delas verdadeiramente me agradaram, contudo, havia uma curiosidade real para A Pequena Sereia tanto por sua proposta de mudanças na história, quanto, infelizmente, também por conta das polêmicas desnecessárias e preconceitos devido à escolha da protagonista. Aqui, também infelizmente, é preciso deixar claro que nunca houve nada que justificasse tamanho descontentamento por parte de supostos "fãs" que não puro preconceito racial. Se você tristemente se encaixa nesse grupo, repense seus conceitos e postura, pois escalar Halle Bailey para o papel de Ariel é de longe a MELHOR ESCOLHA do longa.
Apesar de trazer algumas atualizações em relação à obra original, como mudar sua ambientação para o Caribe e retirar pontos definitivamente antiquados, de modo geral a trama de A Pequena Sereia permanece a mesma: a jovem sereia Ariel sonha em conhecer o mundo dos humanos, apesar de qualquer contato com eles ser proibido por seu pai, o rei Tritão. Após salvar a vida do príncipe Eric durante um grande acidente, seu desejo se torna mais intenso e dificulta a relação pai e filha. Proibida de subir à superfície, a jovem recebe uma proposta de tia, a vilã Úrsula, para transformá-la em humana. Porém, para se tornar algo permanente, precisa de um beijo do amor verdadeiro em três dias, senão se tornará escrava da vilã eternamente. Sem sua voz e desorientada, Ariel precisará contar com o apoio de seus amigos animais, como Sebastião, Linguado e Sabidão para ser bem sucedida.
Se a história permanece simples, mesmo que com maior duração e aprofundamento, o trabalho recai sobre as atuações e a parte visual do filme, e aqui as decisões da equipe de Rob Marshall se mostram acertadas. Halle Bailey é de longe o melhor motivo para assistir a versão, mostrando competência do início ao fim, principalmente nas canções. O príncipe Eric de Jonah Hauer-King é mais complexo e vai além da aparência e garante a química com Ariel. Daveed Diggs e Awkwafina seguram bem seus personagens e garantem-se no carisma e interpretação mesmo com a limitação de serem animais digitais. E mesmo Melissa McCarthy, por vezes um pouco além do tom, garante que Úrsula seja um personagem bem interpretado.
Às qualidades do conjunto, soma-se também o trabalho musical. A parceria entre Alan Menken, responsável pelas melodias do filme original, e Lin Manuel Miranda não apenas rende bons frutos como se adéqua bem a mudança de clima e traz novos ares para o clássico.
Visualmente, no entanto, a direção e produção tinha um grande desafio. Criar um mundo encantado e colorido, mas, ao mesmo tempo crível e realista, exige muito da equipe que consegue executar um bom trabalho na maior parte do tempo. Há claro momentos de deslizes, principalmente na cena final onde Ariel e Eric enfrentam Úrsula, mas apesar dos maiores medos, os animais digitais não trazem nenhum problema ao filme. Exceto por Linguado, que realmente perde parte do seu carisma, Sebastião e Sabidão ultrapassam o estranhamento e garantem a conquista do público com desenvoltura e expressividade.
Longe de ser ruim, A Pequena Sereia talvez encontre na nostalgia e na comparação seus maiores inimigos. Por melhor que seja o resultado, é difícil não comparar ambas as versões e sentir que ainda existe uma certa magia ausente. Contudo, os acertos fazem com que o longa não caia na lista de esquecíveis e torne-o ao menos uma excelente versão de apresentação para uma nova geração, mais condizente com a nossa realidade atual.
Lançamento/Duração: 2023 - 2h 15 min
Gênero: Fantasia/Aventura/Família
Direção: Rob Marshall
Roteiro: David Magee e John Musker