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As Mentiras de Locke Lamora

Espinho é uma figura lendária: um espadachim imbatível, um especialista em roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da excêntrica cidade de Camorr acredita que ele seja um defensor dos pobres, enquanto o restante o considera apenas uma invencionice ridícula.
Franzino, azarado no amor e sem nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem por trás do fabuloso Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada. Ele de fato rouba dos ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os pobres não veem nem a cor do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo para os bolsos de Locke e de seus comparsas: os Nobres Vigaristas.
O único lar do astuto grupo é o submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser assolado por um misterioso assassino com poder de superar até mesmo o Espinho. Matando líderes de gangues, ele instaura uma guerra clandestina e ameaça mergulhar a cidade em um banho de sangue. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.
Título: As Mentiras de Locke Lamora
Série: Nobres Vigaristas
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 464

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Quem ousar dizer que inteligência não é atrativa será um(a) grande mentiroso(a)! Sim, sagacidade e astúcia, são encantadoras - principalmente quando usadas em conjunto com charme e elegância - e é por isso que golpistas, canalhas e vigaristas dentro e fora da ficção conseguem seus objetivos, sejam eles quais forem. E com Locke Lamora e seus Nobre Vigaristas não é diferente: é praticamente impossível não se afeiçoar a esse grupo abençoado pelo Guardião Torto.
Desde muito pequeno Locke Lamora foi um ladrão muito esperto. Sua esperteza levou ao Aliciador, "dono" de uma gangue de órfãos ladrões do Morro das Sombras. Neste local os meninos recebiam treinamento para ser simples larápios, fazendo coisas leves, como roubar algumas moedas ou apenas comida, mas Locke com apenas seis para sete anos, era talentoso demais para aquele local, um pequeno gênio do crime, e deixou o Aliciador tão maluco com suas peripécias, que este homem foi obrigado a vender Locke para o Padre Correntes, alegando que o pequeno “roubava demais”.
Seu novo tutor, Padre Correntes era sacerdote da Casa de Perelandro, que em devoção a seu deus arrancou os próprios olhos e se prendeu com correntes ao templo, e desde então passa o dia pedindo esmolas e pregando em nome do deus da misericórdia. Porém, Lamora logo descobre que Correntes não é cego e tampouco precisa ficar preso o dia todo. Sacerdote do Treze Sem Nome, deus das Pessoas Certas (cof cof bandidos e golpistas cof cof), ele é na verdade  líder dos Nobres Vigaristas, uma gangue de ladrões que tem como objetivo executar golpes utilizando a inteligência em vez agir com força e truculência. E a partir deste dia Lamora será também um Nobre Vigarista, treinado de modo a ser capaz de assumir qualquer tipo de disfarce para aplicar golpes nos nobres de Camorr.
Os anos passam, Lamora e os demais garotos se tornaram homens e estão prestes a aplicar mais um de seus engenhosos golpes, desta vez tendo como vítima o nobre Dom Salvara. Porém, em meio à execução de mais esse golpe, coisas estranhas começam a acontecer. Garristas - líderes de gangues - começam a ser assassinados, e fala-se em um misterioso Rei Cinza, que parece oferecer perigo tanto para os ladrões quanto para os nobres. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.
Utilizando de interlúdios para intercalar passado e presente, Scott Lynch nos apresenta a Locke Lamora e seus Nobres Vigaristas, através de uma agradável e fluida narrativa em terceira pessoa. O ritmo imposto pelo autor é ágil apesar da grande quantidade de informações que passa a cada página, tornando a leitura agradável. A linguagem mais simples - aí não sei dizer se da obra original ou por escolhas da tradução - também contribui bastante para esse bom andamento da leitura.
Aliado a isso Lynch aproveita para surpreender o leitor com seus plots, tramas e sub-tramas, e cada informação dada no avançar das páginas pode ser útil para compreensão dos fatos. O autor também trabalha muito bem os personagens e fica difícil na cada novo capítulo não torcer pelos vigaristas e ficar apreensivos com a possibilidade do desastre em seus planos. A inteligência e certa inocência de Locke, a lealdade e força de Jean, a malícia de Calo e Galdo Sanza, e a determinação do animado Pulga, acaba te conquistando em algum momento e duvido que não seja logo nas primeiras páginas.
Tal qual acontece com os personagens, o cenário rico e desenvolvido é misterioso, envolvente e vivo; não é só repleto de informação para dar grandeza, é repleto de informação para que os detalhes lhe convençam que por mais diferente que aquela realidade lhe pareça, ainda sim seja plenamente palpável. Das vestes a cultura popular com suas datas, festejos e cultos, das bebidas aos pratos que meu paladar não é capaz nem de ao menos supor ser bons ou ruins, tudo te encaminha para uma imersão profunda e encantadora. Principalmente a cidade de Cammor, ambiente principal da trama, que muito me remeteu a uma Itália renascentista fantástica com seus canais como Veneza e as famílias máfia, além de nomenclaturas e termos tão próximos ao da língua da terra da pizza. Ex: Capa (como é chamado o líder da máfia no livro) e Capo ou Capo di tutti capi (expressão utilizada para designar "o chefe de todos os chefes" da máfia siciliana).
Talvez a inicial falta de ação e o foco no desenvolvimento de uma trama mental, voltada para o treinamento do jovem e seus golpes elaborados (sempre baseados na enganação e trapaça) acabem por desagradar alguns tipos de leitor. Não é que a trama seja seja parada, muito pelo contrário, mas quem não tem paciência certamente terá problemas. Além disso, a composição com letras pequenas e a diagramação com margens menores em alguns momentos corroboram para essa falsa impressão de lentidão. Sabendo disso pense que talvez o livro fosse ter mais páginas e portanto, seria mais caro.
Não preciso dizer que a riqueza de detalhes da obra me ganhou completamente, muito menos dizer que acompanhar o desenvolvimento do protagonista é algo extremamente prazeroso. A verdade é que toda a história do sagaz Locke Lamora é tão boa que mesmo se tratando de uma história extensa a vemos passar rápido enquanto mergulhamos nos detalhes imersivos daquele universo. Mas o melhor é saber que a história continua e que mais respostas dadas nas sequências. Concordo plenamente com as palavras de George R.R. Martin ao dizer que As Mentiras de Locke Lamora é uma história original, vigorosa e arrebatadora de uma brilhante e nova voz da ficção fantástica. Scott Lynch está de parabéns pelo excepcional romance de estreia.

PS.: A capa original - a utilizada na edição nacional pela Arqueiro - já é bonita, mas durante a pesquisa outras três me chamaram bastante atenção e gostaria de compartilhar com vocês. São elas: a Francesa, a Japonesa e a Taiwanesa.