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25 de Março! Dia de Ler Tolkien - #TolkienReadingDay 2018

Dia 25 de Março é um dia histórico na ficção de J. R. R. Tolkien. Trata-se do dia da queda do temível Sauron e de sua fortaleza Barad-dûr em Mordor, dando assim um fim à Guerra do Anel e à Terceira Era da Terra-média tal como é narrado na trilogia O Senhor dos Anéis.
Entre os fãs e admiradores da obra de Tolkien convencionou-se que este é um dia propício para relembrar e celebrar toda a sua vasta criação. Todos os anos, desde 2003, a Tolkien Society vem organizando e promovendo o Tolkien Reading Day (Dia de Ler Tolkien) em todo o mundo através de seus vários fã-clubes e afiliados. Ela incentiva que os fãs leiam ou releiam algumas de suas passagens favoritas dos livros de Tolkien neste dia, além de encorajar museus, livrarias e escolas a realizarem os seus próprios eventos de leitura e discussão das obras do Professor. O Dia de Ler Tolkien se assemelha ao Bloomsday, dia destinado a celebração do romance Ulysses de James Joyce e que acabou se tornando um feriado nacional na Irlanda, terra natal do escritor.
Todo ano também é sugerido um tema pela Tolkien Society para ser observado e discutido mais a fundo e o de 2018 é “As Muitas Formas de Ser um Hobbit”. De todas as coisas criadas por Tolkien talvez a mais marcante seja a sua raça de pequeninos, os hobbits, um povo diminuto, humilde e sociável, que vive em tocas confortáveis e que gosta de boa comida, boa música, de tabaco e fogos de artifício. Além, é claro, das festas de aniversário, de genealogia e jardinagem e demais coisas simples do cotidiano, ou seja, de aproveitar ao máximo e com calma o melhor da vida. É de se surpreender que seres tão pouco desinteressados de feitos heróicos, poderes mágicos e guerras fantásticas desempenhem um papel tão fundamental em eventos que colocam a liberdade de todas as outras raças e povos da Terra-média em risco e mais ainda de sabermos que com uma fibra e determinação incomuns e que não aparentam, eles vão em frente e cumprem com a missão que lhes é dada suportando um fardo terrível durante uma das jornadas mais desafiadoras já testemunhadas naquele mundo.
Impossível não se encantar por eles, mas quais, dentre as muitas formas de ser um hobbit, você mais aprecia? Um morador típico do Condado que preza e valoriza cada um dos pequenos prazeres de um cotidiano pacato? Alguém que coloca a amizade acima da própria vida como Sam? Alguém que enfrenta o destino que lhe é imposto assumindo um fardo muito maior do que si como Frodo? Alguém festeiro, brincalhão e travesso tal como a inseparável dupla Merry e Pippin? Ou alguém que não queira de jeito algum abandonar a toca para viver uma grande aventura, mas que acaba se saindo como um dos mais habilidosos aventureiros de todos os tempos como Bilbo? Exemplos não faltam e todos eles são coloridos, divertidos e cativantes! Não admira que as pequenas criaturas de Tolkien sejam tão populares e deem tanta vida a seu mundo fantástico!
Dado o tema, O Hobbit, A Sociedade do Anel e A Sabedoria do Condado são as melhores indicações de leitura para a data! Abra-os e deixe a imaginação voar! É altamente recomendável acompanhar também as atividades das Tocas do Conselho Branco, do Tolkien Brasil, do TolkienTalk e do Valinor, as maiores referências em Tolkien no Brasil. Em São Paulo a Harper Collins Brasil, a nova casa editorial do autor no país, promoverá na data um bate-papo com os editores e tradutores e uma palestra com o tema “O valor literário da obra de J.R.R. Tolkien” na Reserva Cultural (Avenida Paulista, 900). A Toca do Rio de Janeiro já anunciou uma roda de leitura coletiva em Copacabana (Rua Pompeu Loreiro, próximo ao metrô Cantagalo).
Mas há ainda muitas coisas tão legais quanto e que você pode fazer neste dia para aproveitar e celebrar a data. Sempre recomendo a lista de sugestões do Mapingua Nerd. O Dia de Ler Tolkien também é importante para lembrar fatos marcantes relativos a biografia do autor e sua obra. Em 2018 comemoramos o 126º ano de nascimento do autor, e o 101º ano de início da própria Terra-média com os primeiros manuscritos do The Book of Lost Tales, o 81º da primeira publicação de O Hobbit e do início da escrita de O Senhor dos Anéis e os 41º ano da primeira publicação de O Silmarillion.
A data também pode servir de estímulo para uma releitura completa ou marcar o início de uma nova leitura de uma obra de Tolkien que ainda lhe seja inédita. Há diversos livros de Tolkien disponíveis no Brasil e as opções de leitura são as mais variadas possíveis, desde o trio básico: O Hobbit, O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres, O Retorno do Rei) e O Silmarillion, até os que se aprofundam na cultura e mitologia da Terra-Média: Os Filhos de Húrin, Contos Inacabados, A Última Canção de Bilbo, As Aventuras de Tom Bombadil, os livros infanto-juvenis e de contos: Mestre Gil de Ham, Mr. Bliss, Árvore e Folha, Ferreiro de Bosque Grande, Roverandom, As Cartas do Papai Noel, além dos trabalhos acadêmicos do professor e dos que envolvem outras mitologias: A História de Kullervo, A Queda de Artur, Sigurd e Gudrún, Beowulf e das cartas, biografias, atlas e ensaios de críticos sobre as obras do Professor. Opções não faltam!
Compartilhe conosco e com o mundo o que você vai estar lendo ou fazendo neste dia, comente sobre os seus trechos favoritos, debata sobre os livros e as histórias com os amigos e ajude a espalhar esta tradição nas suas redes sociais com as hashtags #TolkienReadingDay e #DiaDeLerTolkien. Vou me permitir citar alguns dos meus trechos favoritos relacionados aos hobbits:
“É um negócio perigoso, Frodo, sair de sua porta. Você dá um passo para a estrada e se você não manter seus pés, não há como saber onde você pode parar.” – Bilbo Bolseiro
“Há mais coisas boas em você do que você sabe, filho do gentil Oeste. Alguma coragem e alguma sabedoria, misturadas na medida certa. Se mais de nós déssemos mais valor a comida, bebida e música do que a tesouros, o mundo seria mais alegre.” – Thorin Escudo de Carvalho
“As aventuras nunca acabam? Acho que não. Outra pessoa sempre tem de continuar a história.” – Bilbo Bolseiro
“Mesmo a menor das criaturas pode mudar o curso da história.” – Lady Galadriel
“Vitória, afinal das contas, acho eu. Bem, me parece uma coisa muito melancólica.” – Bilbo Bolseiro
“Mas no final é só uma coisa passageira, essa sombra. Mesmo a escuridão deve passar.” – Samwise Gamgee
“Nem tudo que é ouro brilha, nem todos os que vagueiam estão perdidos” – Bilbo Bolseiro
“É inútil retribuir vingança com mais vingança: não vai curar nada.” – Frodo Bolseiro

25 de Março! Dia de Ler Tolkien - #TolkienReadingDay 2017

Reservar alguns minutos do dia 25 de Março para ler algum trecho das obras de J. R. R. Tolkien já é uma tradição entre os deste autor. A data marca a queda de Sauron e Barad-dûr em Mordor e com isto o Fim da Guerra do Anel como é narrado na trilogia O Senhor dos Anéis sendo um marco histórico dentro da ficção tolkieniana.
O Dia de Ler Tolkien é organizado e promovido pela Tolkien Society desde 2003 e incentiva os fãs a celebrarem a vida e a obra de J. R. R. Tolkien lendo ou relendo algumas de suas passagens favoritas neste dia. A Tolkien Society encoraja ainda que museus, livrarias e escolas realizem os seus próprios eventos de leitura e discussão das obras do Professor por todo o mundo.
Todo ano também é escolhido um tema para ser observado e discutido mais a fundo e o de 2017 é “Poesia e Canções na obra de Tolkien”. O autor escreveu muitos poemas e canções ao longo de sua vida literária e acadêmica, desde a poesia aliterante inspirada na antiga arte de versificação anglo-saxã até os poemas de rimas livres, para serem declamados ou cantados, que pontuam toda a saga da Guerra do Anel. A inserção destes elementos contribui significamente para criar no leitor a sensação de profundidade no texto e confere uma certa consistência interna ao universo criado por Tolkien, são estes pequenos detalhes que dão vida à Terra-média. Tal é a importância da música que a própria criação de Eä (o mundo) se deu com um concerto musical conduzido por Eru Ilúvatar e os Ainur narrado de forma esplendorosa e permeada de símbolos e significados no Ainulindalë, a Música dos Ainur, o primeiro livro d’O Silmarillion.

O tema deste ano é amplo e pode propiciar uma completa redescoberta de um aspecto importante e cerne da constituição de mundo tolkieniana, mas que por vezes passa batido em meio aos acontecimentos grandiosos de sua narrativa. Basta um novo olhar e inúmeras e impressionantes percepções da cultura e personalidade dos povos da Terra-média podem ser encontrados em versos e canções espalhados ao longo dos livros! A poesia élfica da Terceira Era se caracteriza pela nostalgia dos noldor exilados de Valinor, a canção de Béren e Lúthien, uma das mais belas histórias de amor entre um homem e uma princesa élfica também faz referência aos astros, aludindo ao despertar sob as estrelas dos primeiros Eldar. Numa poesia épica humana sobre quando Aragorn conclama os Mortos a acertarem a antiga dívida com a Casa de Elendil sobressai o tema da redenção através do combate. Na poesia dos rohirrim ressoam os feitos heróicos com o tom dos épicos de cavalaria anglo-saxões, enquanto nas canções anãs são exaltados os ofícios com pedras preciosas e metais, ao passo que nos poemas dos hobbits a maior preocupação é com o conforto e a boa comida e bebida em estalagens. E o que dizer da complexa composição encontrada na Balada de Eärendil, da canção do povo da Cidade do Lago sobre o retorno do Rei sob a Montanha ou das cantigas ambíguas e enigmáticas de Tom Bombadil? Isso apenas para citar alguns dos muitos exemplos encontrados nos livros, abra-os e deixe a imaginação voar!
As excelentes trilhas sonoras dos filmes de Peter Jackson e uma imensa quantidade de músicas inspiradas nas obras de Tolkien por bandas de rock e metal tais como Blind Guardian, Megadeth, Led Zeppelin, Black Sabbath e outras também são opções válidas para celebrar a obra de Tolkien dentro do tema proposto pela Tolkien Society para este ano, despertando o interesse e permitindo que o fã se aprofunde ainda mais no fascinante universo de fantasia tolkieniano que há muito já deixou as páginas dos livros expandindo-se para as mais diversas mídias. O Whiplash tem um artigo excelente sobre a influência de Tolkien no rock e heavy metal e o Mapingua Nerd listou outras dez coisas pra fazer neste dia além de ler e tão legais quanto!
A data também é importante para lembrar fatos marcantes relativos a biografia do autor e sua obra. Em 2017 além de comemorarmos os 125 anos de nascimento do autor, também celebramos os 100 anos de início da própria Terra-média com os primeiros manuscritos do The Book of Lost Tales, os 80 anos da primeira publicação de O Hobbit e do início da escrita de O Senhor dos Anéis e os 40 anos da primeira publicação de O Silmarillion.
Há diversos livros de Tolkien disponíveis no Brasil e as opções de leitura são as mais variadas possíveis, desde o trio básico: O Hobbit, O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres, O Retorno do Rei) e O Silmarillion, até os que se aprofundam na cultura e mitologia da Terra-Média: Os Filhos de Húrin, Contos Inacabados, A Última Canção de Bilbo, As Aventuras de Tom Bombadil (altamente recomendado pelo tema deste ano), os livros infanto-juvenis e de contos: Mestre Gil de Ham, Mr. Bliss, Árvore e Folha, Ferreiro de Bosque Grande, Roverandom, As Cartas do Papai Noel, além dos trabalhos acadêmicos do professor e dos que envolvem outras mitologias: A História de Kullervo, A Queda de Artur, Sigurd e Gudrún, Beowulf e das cartas, biografias, atlas e ensaios de críticos sobre as obras do Professor. A data também pode servir de estímulo para uma releitura completa ou marcar o início de uma nova leitura de uma obra de Tolkien que ainda lhe seja inédita. Opções não faltam!
Compartilhe conosco e com o mundo o que você vai estar lendo ou fazendo neste dia, comente sobre os seus trechos favoritos, debata sobre os livros e as histórias com os amigos e ajude a espalhar esta tradição nas suas redes sociais com as hashtags #TolkienReadingDay e #DiaDeLerTolkien. É altamente recomendável acompanhar também as atividades das Tocas do Conselho Branco, do Tolkien Brasil e do Valinor, as maiores referências em Tolkien no Brasil.
Estamos sempre mudando, nunca seremos mais os mesmos hobbits que éramos, mas nunca é tarde para retornar ao lar! E falando em Hobbits vou me permitir citar um trecho de um dos meus poemas favoritos, declamado por Bilbo ao voltar de sua grande aventura e avistar após muito tempo o Condado e a Colina:

(...) Estradas sempre em frente vão
Sob nuvens e estrelas a passar,
Mas os pés que percorrem os caminhos
Um dia para casa vão voltar.
Os olhos que fogo e espada conheceram
E em antros de pedra horror pungente,
Um dia verdes prados recontemplam
E as colinas e as matas de sua gente.



Ferreiro de Bosque Grande

A cada vinte e quatro anos, na aldeia de Bosque Grande, comemorava-se o Banquete das Boas Crianças. Era uma ocasião muito especial, e para celebrá-la era preparado um Grande Bolo, para alimentar as vinte e quatro crianças convidadas. O bolo era bem doce e saboroso, totalmente coberto de glacê de açúcar. Mas lá dentro havia alguns ingredientes muito estranhos, e quem engolisse algum deles obteria o dom de entrar na Terra-Fada...
Está história fascinante de um andarilho que encontra o caminho para o perigoso reino da Terra-Fada está sendo publicada pela primeira vez no Brasil. Esta edição inclui um manuscrito do primitivo rascunho de Tolkien para a história, as ilustrações originais de Pauline Baynes, notas sobre a gênese, a cronologia e o final alternativo da história, e um longo ensaio sobre a natureza da Terra-Fada, tudo inédito até agora.
Estão contidas em Ferreiro de Bosque Grande muitas ligações interessantes com o mundo da Terra-média e também com os demais contos de Tolkien, e nesta “edição ampliada” o leitor finalmente descobrirá a história completa por trás desta importante peça de ficção breve.
Título: Ferreiro de Bosque Grande
Editora: WMF Martins Fontes

Autor: J.R.R. Tolkien
Número de páginas: 178

Hoje é Dia de Ler Tolkien e nada melhor do que aproveitar a data para indicar aqui uma de suas obras. Ferreiro de Bosque Grande foi o último conto publicado pelo autor ainda em vida, em 1967 e teve uma gênese no mínimo curiosa. Enquanto escrevia uma apresentação para uma nova edição do conto de fadas The Golden Key de George Mac Donald, ele percebeu que o exemplo que usava para ilustrar um de seus argumentos havia ganhado vida própria. Tolkien então decidiu deixar que a coisa crescesse, trabalhando no que viria a se tornar este conto por cerca de três anos até finalmente vir a publicá-lo.
O conto se passa em Bosque Grande, um pequeno e pacato vilarejo medieval reconhecido pela capacidade e talento de seus moradores, sendo boa parte deles artificies. Um deles tinha papel de suma importância no cotidiano de Bosque Grande, o Mestre-Cuca. A ele recaia a responsabilidade de preparar a comida para todos os eventos sociais ali organizados sendo um destes o aguardado Banquete das Boas Crianças que só era realizado a cada 24 anos. Para marcar uma ocasião tão rara e especial um Grande Bolo deveria ser preparado pelo Mestre-Cuca e ser servido a 24 crianças da vila. O Grande Bolo deveria ser a prova definitiva e o desafio máximo para o Mestre-Cuca, a sua obra prima culinária a ser lembrada por todos pelos próximos anos até um novo Festival.
Noques, o atual Mestre-Cuca de Bosque Grande, não era um dos mais talentosos e tampouco um dos mais bem dispostos a ocupar o cargo. Boa parte do serviço era desempenhado na verdade pelo seu Aprendiz, mas com a iminente chegada do Festival eles começam a trabalhar nos preparativos para o Grande Bolo. Noques era orgulhoso e tinha um trunfo guardado na manga. No recheio do bolo colocou um ingrediente secreto, recém-descoberto na dispensa da cozinha. E aí chegamos ao Ferreiro referenciado no título do livro, que começa a sua história como uma das 24 crianças participantes do Banquete daquele ano. Ao provar o pedaço do Grande Bolo com o ingrediente secreto ele é agraciado com uma espécie de autorização para adentrar a Terra-Fada. A história então vai se construindo ao longo de alguns anos e de uma forma tão bem arquitetada que se eu não me deter por aqui vou acabar por recontá-la de maneira simplista.
O conto é entremeado de belas ilustrações de Pauline Baynes que me remeteram instantaneamente às iluminuras medievais casando muito bem com toda a ambientação da história. A artista foi amiga pessoal de Tolkien e também é conhecida por ter produzido as ilustrações e mapas originais da série As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis. A edição nacional de Ferreiro de Bosque Grande tem por base a versão extendida organizada pela pesquisadora Verelyn Flieger publicada em 2005 na Inglaterra, e chegou as livrarias em dezembro de 2015 pela WMF Martins Fontes, seguindo o padrão de qualidade das outras obras de Tolkien publicadas pela casa. Exceto pela tipografia, a capa quase minimalista, com uma das ilustrações de Pauline sobre fundo preto, é idêntica a da primeira edição britânica de 1967 e a tradução ficou a cargo do especialista Ronald Eduard Kyrmse, responsável também pelas traduções de quase toda a bibliografia de Tolkien disponível em língua portuguesa.
Apesar de partir de premissas simples o conto abre possibilidades interpretativas imensas e muitos dos tópicos são discutidos no excelente conteúdo extra presente no livro. Particularmente destaco o tema da renúncia experimentado por Ferreiro. Assim como ele, todos nós em algum momento somos impelidos a abdicar dos nossos Paraísos, ou Terras-Fada, cedendo nosso lugar e privilégios para que outros também possam usufruir deles. Aceitar e seguir adiante requer maturidade e pode ser mais difícil do que parece a primeira vista. A incapacidade de se deixar encantar de Noques é outro aspecto fundamental da trama e o vejo sempre que ligamos nosso “piloto automático”, deixando que a vida passe sem darmos atenção a coisas simples mas que a tornariam muito mais saborosa, tal qual as miudezas escondidas no tradicional bolo de Bosque Grande. Há ainda a organização social medieval daquela pequena comunidade, pautada basicamente pelas funções que os indivíduos desempenham nela. Uns são Ferreiros, outros Artífices, outros Tecelões e há a figura do Confeiteiro, que é de suma importância para a coesão e unidade daquele vilarejo. Todos estes papéis são amplamente debatidos por Tolkien posteriormente e é fascinante vê-lo argumentando sobre cada aspecto da vida em Bosque Grande.
O conto em si ocupa apenas uma pequena parte, cerca de um terço, de todo o livro que é então complementado por extras que enriquecem muito a experiencia de leitura. Há desde um posfácio de Verelyn Flieger em que ela compara e relaciona este conto às outras obras de Tolkien, citando fatos e materiais originais além de discorrer sobre as críticas feitas na época de sua primeira publicação, bem como um ensaio do próprio Tolkien no qual ele analisa o seu conto sob um viés acadêmico realçando as características literárias e estilísticas dos contos de fadas, o papel da alegoria, e a sua correlação em sociedades medievais históricas. Há também um esboço sobre os personagens e uma grande linha temporal, algo semelhante às Árvores Genealógicas e ao Conto dos Anos presentes nos Apêndices de O Senhor dos Anéis. Cópias reproduzidas dos esboços datilografados e manuscritos originais bem como a sua transcrição também estão presentes e evidenciam o hábito da revisão constante do autor em suas obras. Isso sem falar na Apresentação feita por Tolkien para o Livro The Golden Key, que o fez ter a ideia para contar essa história, e várias Notas da organizadora ao final explicando pontos importante que de outra maneira poderiam passar batido pelo leitor comum. Mais completo impossível!
Dizer que J. R. R. Tolkien era dono de uma capacidade imaginativa impar é repetir o óbvio. Ferreiro de Bosque Grande fora escrito muito tempo depois de suas principais obras ficcionais e se vale mais de reflexão, maturidade e experiência do que da imaginação que o tornara tão famoso e o faz ser cultuado até hoje. Contudo é impossível não vê-lo como uma homenagem ao mundo de fantasia e imaginação que tanto o inspirou e fascinou em sua juventude. Em Ferreiro de Bosque Grande, Tolkien nos convida a experimentar o que propôs em Árvore e Folha como sendo o que os contos de fadas deveriam ser: histórias sobre aventuras de humanos na terra das fadas. E isso ele sabe fazer valer a pena como poucos.




25 de Março! Dia de Ler Tolkien - #TolkienReadingDay



Já é tradição entre os fãs de J. R. R. Tolkien, reservar alguns minutos do dia 25 de Março para ler algum trecho das obras deste autor. A data marca a Queda de Sauron e o Fim da Guerra do Anel como visto na trilogia O Senhor dos Anéis.
O Dia de Ler Tolkien é organizado pela Tolkien Society desde 2003 e incentiva os fãs a celebrarem e promoverem a vida e a obra de J. R. R. Tolkien lendo algumas de suas passagens favoritas. A Tolkien Society encoraja ainda que museus, livrarias e escolas realizem os seus próprios eventos de leitura e discussão das obras do Professor por todo o mundo.

“Ser apanhado na juventude por 1914 não foi uma experiência menos terrível do que ficar envolvido com 1939 e os anos seguintes. Em 1918, todos os meus amigos íntimos, com a exceção de um, estavam mortos. — J.R.R. Tolkien, no Prefácio de O Senhor dos Anéis.
Todo ano também é escolhido um tema para ser observado e discutido mais a fundo e o de 2016 é “Vida, Morte, e Imortalidade”. Este ano marca o centésimo aniversário da Batalha do Somme, ainda durante a Primeira Guerra Mundial, na qual Tolkien lutou e sobreviveu servindo o Exército Britânico. Contudo durante essa batalha ele perdeu um de seus grandes amigos, Rob Gilson. Posteriormente a guerra também levaria G. B. Smith. Ambos eram integrantes da primeira sociedade literária da qual Tolkien fizera parte, a Tea Club Barrowian Society (T.C.B.S.). Estes fatos, sem dúvidas, contribuíram significativamente para dar forma as perspectivas de Tolkien sobre a vida e a morte, a mortalidade e a imortalidade como largamente pode ser visto em todo o legendarium da Terra-Média.
O tema é amplo e pode fornecer ricos debates com as mais variadas respostas seja pelas inumeráveis raças que povoam a Terra-Média (humanos, hobbits, elfos, anões, ents, valar, orcs...), o próprio tempo e o espaço (idade, região...), a suposta longevidade, que muitas vezes pode ser frustrada por vários motivos inclusive partir numa aventura com um mago que bate a sua porta. Deixe a imaginação voar!
Jogos de RPG, tanto de mesa quanto online e os filmes de Peter Jackson também são opções válidas para celebrar a obra de Tolkien, que há muito deixou as páginas dos livros para ganhar vida em outras mídias, e podem funcionar igualmente para despertar o interesse e permitir que se aprofunde ainda mais no fascinante universo de fantasia tolkieniano.
Há diversos livros de Tolkien disponíveis no Brasil e as opções de leitura são as mais variadas possíveis, desde o trio básico: O Hobbit, O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres, O Retorno do Rei) e O Silmarillion, até os que se aprofundam na mitologia da Terra-Média: Os Filhos de Húrin, Contos Inacabados, A Última Canção de Bilbo, As Aventuras de Tom Bombadil, os livros infanto-juvenis e de contos: Mestre Gil de Ham, Mr. Bliss, Árvore e Folha, Ferreiro de Bosque Grande, Roverandom, As Cartas do Papai Noel, além dos trabalhos acadêmicos: A Queda de Artur, Sigurd e Gudrún, Beowulf e das cartas, biografias, atlas e ensaios de críticos sobre as obras do Professor. A data também pode servir de estimulo para uma releitura completa ou marcar o início da leitura de uma obra que ainda lhe seja inédita.
Compartilhe conosco e com o mundo o que você vai estar lendo neste dia, comente sobre os seus trechos favoritos, debata sobre os livros e as histórias com os amigos e ajude a espalhar a tradição no Twitter, Instagram, Facebook e demais redes sociais com as hashtags #TolkienReadingDay e #DiaDeLerTolkien. É altamente recomendável acompanhar também as atividades das Tocas do Conselho Branco, do Tolkien Brasil e do Valinor, as maiores referências em Tolkien no Brasil.
Nestes tempos conturbados, é sempre bom relembrar:
Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte. — Gandalf, o Cinzento em A Sociedade do Anel de J.R.R. Tolkien.