Reservar alguns minutos do dia 25 de Março para ler algum trecho das obras de J. R. R. Tolkien já é uma tradição entre os deste autor. A data marca a queda de Sauron e Barad-dûr em Mordor e com isto o Fim da Guerra do Anel como é narrado na trilogia O Senhor dos Anéis sendo um marco histórico dentro da ficção tolkieniana.
O Dia de Ler Tolkien é organizado e promovido pela Tolkien Society desde 2003 e incentiva os fãs a celebrarem a vida e a obra de J. R. R. Tolkien lendo ou relendo algumas de suas passagens favoritas neste dia. A Tolkien Society encoraja ainda que museus, livrarias e escolas realizem os seus próprios eventos de leitura e discussão das obras do Professor por todo o mundo.
Todo ano também é escolhido um tema para ser observado e discutido mais a fundo e o de 2017 é “Poesia e Canções na obra de Tolkien”. O autor escreveu muitos poemas e canções ao longo de sua vida literária e acadêmica, desde a poesia aliterante inspirada na antiga arte de versificação anglo-saxã até os poemas de rimas livres, para serem declamados ou cantados, que pontuam toda a saga da Guerra do Anel. A inserção destes elementos contribui significamente para criar no leitor a sensação de profundidade no texto e confere uma certa consistência interna ao universo criado por Tolkien, são estes pequenos detalhes que dão vida à Terra-média. Tal é a importância da música que a própria criação de Eä (o mundo) se deu com um concerto musical conduzido por Eru Ilúvatar e os Ainur narrado de forma esplendorosa e permeada de símbolos e significados no Ainulindalë, a Música dos Ainur, o primeiro livro d’O Silmarillion.
O tema deste ano é amplo e pode propiciar uma completa redescoberta de um aspecto importante e cerne da constituição de mundo tolkieniana, mas que por vezes passa batido em meio aos acontecimentos grandiosos de sua narrativa. Basta um novo olhar e inúmeras e impressionantes percepções da cultura e personalidade dos povos da Terra-média podem ser encontrados em versos e canções espalhados ao longo dos livros! A poesia élfica da Terceira Era se caracteriza pela nostalgia dos noldor exilados de Valinor, a canção de Béren e Lúthien, uma das mais belas histórias de amor entre um homem e uma princesa élfica também faz referência aos astros, aludindo ao despertar sob as estrelas dos primeiros Eldar. Numa poesia épica humana sobre quando Aragorn conclama os Mortos a acertarem a antiga dívida com a Casa de Elendil sobressai o tema da redenção através do combate. Na poesia dos rohirrim ressoam os feitos heróicos com o tom dos épicos de cavalaria anglo-saxões, enquanto nas canções anãs são exaltados os ofícios com pedras preciosas e metais, ao passo que nos poemas dos hobbits a maior preocupação é com o conforto e a boa comida e bebida em estalagens. E o que dizer da complexa composição encontrada na Balada de Eärendil, da canção do povo da Cidade do Lago sobre o retorno do Rei sob a Montanha ou das cantigas ambíguas e enigmáticas de Tom Bombadil? Isso apenas para citar alguns dos muitos exemplos encontrados nos livros, abra-os e deixe a imaginação voar!
As excelentes trilhas sonoras dos filmes de Peter Jackson e uma imensa quantidade de músicas inspiradas nas obras de Tolkien por bandas de rock e metal tais como Blind Guardian, Megadeth, Led Zeppelin, Black Sabbath e outras também são opções válidas para celebrar a obra de Tolkien dentro do tema proposto pela Tolkien Society para este ano, despertando o interesse e permitindo que o fã se aprofunde ainda mais no fascinante universo de fantasia tolkieniano que há muito já deixou as páginas dos livros expandindo-se para as mais diversas mídias. O Whiplash tem um artigo excelente sobre a influência de Tolkien no rock e heavy metal e o Mapingua Nerd listou outras dez coisas pra fazer neste dia além de ler e tão legais quanto!
A data também é importante para lembrar fatos marcantes relativos a biografia do autor e sua obra. Em 2017 além de comemorarmos os 125 anos de nascimento do autor, também celebramos os 100 anos de início da própria Terra-média com os primeiros manuscritos do The Book of Lost Tales, os 80 anos da primeira publicação de O Hobbit e do início da escrita de O Senhor dos Anéis e os 40 anos da primeira publicação de O Silmarillion.
Há diversos livros de Tolkien disponíveis no Brasil e as opções de leitura são as mais variadas possíveis, desde o trio básico: O Hobbit, O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres, O Retorno do Rei) e O Silmarillion, até os que se aprofundam na cultura e mitologia da Terra-Média: Os Filhos de Húrin, Contos Inacabados, A Última Canção de Bilbo, As Aventuras de Tom Bombadil (altamente recomendado pelo tema deste ano), os livros infanto-juvenis e de contos: Mestre Gil de Ham, Mr. Bliss, Árvore e Folha, Ferreiro de Bosque Grande, Roverandom, As Cartas do Papai Noel, além dos trabalhos acadêmicos do professor e dos que envolvem outras mitologias: A História de Kullervo, A Queda de Artur, Sigurd e Gudrún, Beowulf e das cartas, biografias, atlas e ensaios de críticos sobre as obras do Professor. A data também pode servir de estímulo para uma releitura completa ou marcar o início de uma nova leitura de uma obra de Tolkien que ainda lhe seja inédita. Opções não faltam!
Compartilhe conosco e com o mundo o que você vai estar lendo ou fazendo neste dia, comente sobre os seus trechos favoritos, debata sobre os livros e as histórias com os amigos e ajude a espalhar esta tradição nas suas redes sociais com as hashtags #TolkienReadingDay e #DiaDeLerTolkien. É altamente recomendável acompanhar também as atividades das Tocas do Conselho Branco, do Tolkien Brasil e do Valinor, as maiores referências em Tolkien no Brasil.
Estamos sempre mudando, nunca seremos mais os mesmos hobbits que éramos, mas nunca é tarde para retornar ao lar! E falando em Hobbits vou me permitir citar um trecho de um dos meus poemas favoritos, declamado por Bilbo ao voltar de sua grande aventura e avistar após muito tempo o Condado e a Colina:
(...) Estradas sempre em frente vão
Sob nuvens e estrelas a passar,
Mas os pés que percorrem os caminhos
Um dia para casa vão voltar.
Os olhos que fogo e espada conheceram
E em antros de pedra horror pungente,
Um dia verdes prados recontemplam
E as colinas e as matas de sua gente.