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Sangue de Dragão

A guerra começou. Seraphina se vê envolvida na luta pelo poder entre os dragões rebeldes e a corte humana. O segredo cuidadosamente guardado de sua verdadeira identidade – meio-dragão, meia-humana – agora é uma vantagem para ela. Só Seraphina pode unir o reino de Goredd e, para isso, lançará mão de todos os seus recursos. Percorre o país em busca dos outros meios-dragões, cujos dons especiais talvez façam a diferença na luta. Mas, quanto mais coisas ela descobre, mais percebe que alguém está prejudicando seu plano. Que esperança haverá de promover a paz entre dragões e humanos se um de seus próprios aliados pretende ver ambos os mundos destruídos?
Título: Sangue de Dragão
Autor (a): Rachel Hartman
Editora: Jangada
Número de páginas: 464

A vida de Seraphina Dombergh não é mais a mesma desde os acontecimentos narrados em Seraphina, primeior volume dessa duologia. Sua natureza verdadeira foi revelada e não é mais segredo para a família real de Goredd e alguns poucos membros da corte; a paz entre homens e dragões está afetada, e uma guerra civil está prestes a estourar entre os dragões devido ao ataque traiçoeiro do Velho Ard. Talvez nada disso se compare a seu próximo desafio: para o bem do reino terá que encontrar todos os seus semelhantes espalhados pelo mundo, pois unidos são capazes de feitos extraordinários. Juntar os ityasaari - os meio-dragões - significa uma chance proteger Goredd da guerra, mas também significa  para a jovem uma chance proteger seus irmãos e irmãs que sofrem por serem quem são. 
Seraphina concorda em sair nessa missão acompanhada por Abdo, seu fiel companheiro dotado do dom de identificar outros como eles apenas olhando, contudo não tem pretensões de encontrar todos eles. Além de acreditar que alguns não aceitariam acompanhá-la, teme encontrar a perigosa Jannoula, que quase a dominou completamente quando criança. Porém a jornada será cheia do obstáculos e reencontros indesejados irã acontecer.
Assim a jornada de Seraphina segue durante todo o livro, atravessando diversas nações em busca daqueles com sangue de dragão, fazendo amigos e inimigos, desbravando outras culturas, revelando segredos antigos e outros nem tanto. Muitos são as questões que aguardam a Garota com Coração de Dragão nessa jornada, e todas parecem estar intimamente conectadas...
Em seu primeiro romance Rachel Hartman nos apresentou um cenário fantástico rico e encantador, recheado de personagens fortes e carismáticos, com uma trama envolvente e prazerosa. Agora, em seu segundo romance, a autora amplia essas questões sem esquecer dos mistérios e intrigas, e jornada de aceitação e evolução pessoal de nossa jovem protagonista. Podemos dizer que essas questões se tornaram até mais profundas a medida em que Seraphina busca respostas maiores do que as anteriores. Não se trata mais de apenas aceitar quem e como é, mas de entender tudo que envolve a sociedade - humana e draconica - e ser um meio-dragão.
A narrativa mostra-se mais uma vez muito bem construída pela autora, e é conduzida em primeira pessoa pela personagem protagonista mantendo-se o nosso vínculo maior com aquela realidade, exceto pelo capítulo introdutório que faz um resumo da obra anterior e reintroduz o leitor na história. A autora faz mais um excelente uso das caraterísticas da personagem para o desenvolvimento da trama. A criação cercada de outras culturas, o contato com o tio dragão, a madrasta de Ninys, o amigo Porfíriano, a vivência em uma sociedade apegada a religião e seus santos, cada detalhe é importante para a história que vem sendo tecida. Há uma complexidade muito maior entorno de tudo que a envolve e mergulhamos bastante no que antes era raso.
No entanto, diferente do volume anterior o ritmo pode desagradar em alguns pontos: em alguns momentos temos muita informação e pouca ação, outros bastante ação e pouca informação, e por fim momentos de bastante informação e ação. Uma leitura desatenta da obra é altamente desaconselhada! Acredite: tudo que é proposto na história é entregue e as perguntas não ficam em aberto.
Porém, talvez fosse ainda melhor se tivéssemos mais espaço para trabalhar de forma mais estendida alguns conceitos e personagens. Phina é claramente a personagem de maior destaque da trama por ser nossa linha guia, mas outras surgem para tomar papeis fundamentais na trama e talvez a principal delas seja Jannoula. Digo isso não apenas pela sua atuação antagônica, mas por todo seu desenvolvimento quanto personagem. Gostaria de ter visto mais da verdadeira face dos Grotescos que habitavam o jardim mental de Seraphina, poucos são os ityasaari com espaço para serem desenvolvidos. O mesmo pode ser dito da participação efetiva de Kiggs e Gliselda, mas suas participações - ainda que curtas - acrescentam bastante em outros elementos da trama, inclusive para encaminhamentos bastante inesperados.
A Editora Jangada fez um trabalho muito bacana tanto na parte gráfica do livro - deixando compatível com a versão re-publicada de Seraphina - quanto na revisão e tradução, escapando pouca coisa (um Old Ard em vez de Velho Ard aqui e ali, talvez). Além disso a edição traz um completo glossário de termos e um "cast" dos personagens para facilitar a vida do leitor.
Naquele mundo fantástico onde a guerra é iminente e existem traição, segredos, intrigas e falsidade, também existe espaço para amor, amizade e lealdade. Sangue de Dragão faz você ansiar por mais daquelas pessoas e daquela realidade com seus santos e dragões, mesmo sabendo que não há planos para isso no momento. Uma leitura mais que recomendada para os amantes de histórias envolventes, independente de que gênero ela pertença!