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O Maravilhoso Mágico de Oz






Quando a menina fazendeira Dorothy voa para longe até o Mundo Mágico de Oz, ela tem um encontro com uma Bruxa Má, liberta um Espantalho vivo e é saudada pelos Munchkins como uma poderosa feiticeira… Mas tudo o que ela deseja saber é: como voltar para casa?
Vencedora do Prêmio Eisner de Melhor Série Limitada e Melhor Publicação para Crianças, o encadernado reúne as edições #1 a 8 da minissérie The Wonderful Wizard of Oz.


Título: O Maravilhoso Mágico de Oz
Editora: Marvel/ Panini Comics
Autor: L. Frank Baum, Erick Shanower e Skottie Young
Número de páginas: 216


Publicado pela primeira vez em agosto de 1900, O Mágico de Oz se tornou um sucesso imediato, conquistando leitores de todas as faixas etárias. A obra de Lyman Frank Baum é considerada a mais famosa história infantil da literatura americana, tendo sua importância e influência equiparadas nos Estados Unidos àquela que Alice No País das Maravilhas de Lewis Carroll teve na Inglaterra. A obra já foi inúmeras vezes adaptada para o teatro e o cinema, cantada, citada, traduzida para os mais diversos idiomas e sua trama aparentemente simples ainda hoje continua surpreendendo os mais diversos públicos e leitores.
L. Frank Baum, disse ainda na Introdução da sua primeira edição de O Mágico de Oz ter procurado escrever um conto de fadas moderno, comprometido com a admiração e a diversão das crianças por meio de uma jornada de aventura num mundo encantado, em que os sofrimentos e pesadelos de cunho moral, altamente presentes na literatura infantil até então, fossem deixados de fora. Ele queria contar uma história fascinante e criativa, em que coisas aconteciam o tempo todo e que mantivesse presa a atenção dos seus pequenos leitores. É com este mesmo espírito que Erick Shanower e Skottie Young, mais de um século depois, concebem esta adaptação para quadrinhos do clássico livro de Baum encomendada pela Marvel Comics. O Maravilhoso Mágico de Oz da Marvel foi publicado como minissérie em oito edições, posteriormente reunidas e lançadas em volume único.
Nossa história começa em mais um dia normal na vida da pequena Dorothy, em uma região rural do Kansas nos Estados Unidos, onde ela morava com os seus tios Henry e Em, até que, em meio à confusão de um tornado e preocupada em recuperar seu cãozinho Totó, ela é transportada com a casa e tudo para um mundo estranho e mágico, habitado por seres fantásticos e dominado por bruxas más a Leste e a Oeste. Ansiando por voltar para casa, a menina recebe dos habitantes do estranho lugar a orientação de que deveria procurar a ajuda do poderoso e misterioso Feiticeiro de Oz na Cidade das Esmeraldas, seguindo a longa estrada de tijolos amarelos, que cortava todo aquele país. Assim, Dorothy parte, com seu fiel cãozinho Totó dando início a uma longa jornada através da terra de Oz. Nesse mundo, a garota fará alguns novos amigos: o Espantalho carismático e muito simpático, o Homem de Lata sensível e amoroso e o Leão Covarde rechonchudo e dócil. Juntos, eles terão que enfrentar diversos perigos e, acima de tudo, encarar os seus próprios medos numa empolgante jornada de autodescoberta.
É bem provável que você se lembre de muitos dos elementos acima, mas o universo criado por Baum é tão vasto e diverso como qualquer outro mundo de fantasia. Há itens mágicos como os Sapatinhos de Prata herdados por Dorothy e o Chapéu de Ouro que controla os Macacos Alados, bruxas e fadas poderosas tanto boas quanto más, uma Rata Rainha dos Ratos Campestres, o grande mago (ou Mágico) de Oz, povos exóticos como os Munchkins e muito mais!
Eric Shanower é o roteirista responsável pela adaptação do romance de Baum para quadrinhos e como fã confesso de Oz buscou deixar a sua versão o mais fiel possível ao livro, resgatando elementos e detalhes perdidos em tantas outras releituras e adaptações já feitas para as mais diversas mídias. Os textos e diálogos tem a mesma aura divertida e encantandora do livro e contam com uma boa fluidez. Aos poucos vamos redescobrindo cada um daqueles personagens e as suas motivações. É interessante notar a forma como as características individuais complementam o grupo enquanto acompanhamos o desenvolvimento das personalidades de cada um durante a longa jornada pela Estrada de Tijolos Amarelos. Prevalece o espírito da cooperação mútua e logo torcemos por eles enquanto tentamos ansiosos adivinhar quais perigos os espreitam logo a frente.
A arte de Skottie Young confere aos personagens e à terra de Oz uma expressividade exótica própria. Eu sou muito movido pelo visual e quando vi a capa com o traço quase cartunesco do ilustrador, soube imediatamente que aquela era uma graphic novel que eu precisava ler! Embora possua um estilo totalmente diferente das ilustrações originais de W. W. Denslow, a versão de Young mantém as características definidas por Baum para seus personagens, recriando-os com um design um pouco mais radical que nos cativa de imediato sendo diferente de tudo já feito anteriormente com relação a Oz. O traço de cartoon altamente estilizado de Skottie Young não deixa de transmitir alegria e vivacidade num rápido primeiro olhar. As linhas soltas e aparentemente despojadas escondem a intencionalidade dos movimentos e iluminação enquanto definem as formas ilustradas. Os quadros possuem bordas bem definidas e as ilustrações não vazam em momento algum por elas, o que confere à obra um tom clássico e funcional.
Acrescente a tudo isso o notório trabalho de colorização de Jean-Francois Beaulieu e temos uma verdadeira obra prima! O colorista usou paletas de cores específicas para cada situação e localidade da história criando um verdadeiro espetáculo visual para deleite do leitor. Os verdes da Cidade Esmeralda, os tons frios e sombrios das terras da Bruxa Má do Oeste e as diferenciações entre os períodos de dias claros e cristalinos, o entardecer laranja e quente e a noite azul cinzenta são um convite para que o nosso olhar se demore mais um pouco contemplando aquelas páginas antes de virá-las. Quem já viu a famosa adaptação cinematográfica de 1939 provavelmente vai se lembrar do uso notável do Technicolor, uma técnica pra colorização de filmes e uma verdadeira revolução para a indústria do cinema na época. No filme, as cenas no Kansas, o mundo comum de Dorothy, eram exibidas em preto-e-branco com tons em marrom, como na maioria dos filmes até então, mas quando chegamos em Oz, a tela simplesmente explodia em imagens vibrantes de cores em Technicolor. Um contraste tão grande assim não ocorre nesta adaptação em quadrinhos, mas é possível imaginar que o colorista tivesse algo semelhante em mente quando trabalhava nela.
Para quem já está acostumado a comprar quadrinhos encadernados da Panini, não há muito o que comentar sobre as características físicas desta graphic novel. Ela possui acabamento de luxo, com capa dura e verniz localizado e o miolo é em papel couche brilhante. Como extras essa edição traz uma Apresentação feita pelo roteirista, uma Galeria de Capas, com as imagens originais das capas da edição de banca norte-americana e um sketchbook com esboços dos personagens, artes conceituais e etapas do processo de criação e produção comentados pelos autores. A tradução ficou a cargo de Paulo França, com letras de Donizeti Amorim e não notei quaisquer erros de revisão durante a leitura.
O Maravilhoso Mágico de Oz da Marvel teve sua qualidade reconhecida ao faturar o Prêmio Eisner nas categorias Melhor Série Limitada e Melhor Publicação Para Crianças em 2010. Com o sucesso, a Marvel encomendou para a mesma equipe criativa, novas adaptações de livros de Baum também ambientados em Oz. As histórias deste mundo fantástico seguiram sendo contadas em The Marvelous Land of Oz, Ozma of Oz, Dorothy and the Wizard in Oz, Road to Oz e The Emerald City of Oz. Contudo estas últimas séries, infelizmente, ainda permanecem inéditas no Brasil.
Adaptações d'O Mágico de Oz existem aos montes, mas poucas como essa da Marvel são capazes de despertar no leitor a mesma sensação de maravilhamento e encanto tanto por ser um trabalho de altíssimo nível e qualidade quanto por capturar com grande êxito a mesma essência de diversão e criatividade idealizada por L. Frank Baum lá no início. Permito-me parafrasear o autor e recomendar essa obra para encantar a todas as crianças de hoje, tanto aquelas que são realmente jovens quanto aquelas que nunca deixaram de existir dentro das crianças crescidas, também chamadas de adultos.