Quanto podemos conhecer do mundo? Será que podemos conhecer tudo? Ou será que existem limites fundamentais para o que a ciência pode explicar? Se estes limites existem, até que ponto podemos compreender a natureza da realidade? Estas perguntas, e suas consequências surpreendentes, são o foco deste livro, um ensaio sobre como compreendemos o Universo e a nós mesmos.
Título: A Ilha do Conhecimento
Editora: Record
Editora: Record
Autor: Marcelo Gleiser
Número de páginas: 364
A Ilha do Conhecimento é o mais recente livro do físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser, publicado em 2014 pela editora Record. Gleiser, ao traçar a constante busca humana por respostas e sentido para questões fundamentais da existência, tanto sobre a nossa origem e o nosso fim quanto sobre a essência de quem somos, chega a provocante conclusão de que a ciência, nossa principal ferramenta para encontrar essas respostas, é fundamentalmente limitada.
O título faz alusão direta a um conceito metafórico presente em todo livro e que ilustra a linha de pensamento adotada pelo autor para expor sua visão. A Ilha do Conhecimento consiste de todo o conhecimento que dispomos e é sobre as areias de suas praias que contemplamos a imensidão do Oceano do Desconhecido. A cada nova descoberta, fazemos crescer a área da superfície da Ilha do Conhecimento, mas com isso, cresce também a superfície em contato com o Desconhecido, surgem novas dúvidas e por mais que aprendamos, nosso conhecimento nunca será completo e está em constante aperfeiçoamento.
O livro divide-se em três grandes partes, compostas por capítulos curtos cujos subtítulos são auto explicativos. A Parte I dedica-se ao cosmo, sua origem, evolução e natureza física e a forma como o compreendemos e o percebemos ao longo de nossa própria história. A Parte II explora a natureza da matéria, e a evolução de como compreendemos a composição da natureza bem como o nosso papel e influência enquanto observadores, abarcando desde os primeiros alquímicos até as mais modernas teorias sobre as propriedades do bizarro mundo quântico. E a Parte III explora o mundo da mente, da matemática e dos computadores, enfatizando como estes fornecem informação para a discussão central dos limites do conhecimento e da natureza da realidade.
O mais interessante é constatar durante a leitura como a ciência é limitada e de que não podemos ser presunçosos a ponto de achar que ela nos dará todas as respostas e tampouco nos permitirá conhecer a realidade última de toda a natureza, seja através do estudo das partículas subatômicas ou da totalidade do nosso Universo. Esta forma de pensamento se opõe diretamente aquela dos físicos que buscam através da ciência uma teoria unificadora ou uma teoria de tudo. Fica claro que existe uma dimensão incognoscível da realidade física, isto é, todo um conjunto de conhecimentos que não podemos acessar por estarmos limitados aos nossos próprios sentidos e instrumentos e a algumas limitações do âmbito da própria Física, tais como a velocidade da luz e o princípio da incerteza. A ciência nada mais é do que uma ferramenta por meio da qual formulamos teorias que tentam explicar os fenômenos observados buscando aprimorar-se constantemente com a confrontação direta destes fenômenos com novos e mais acurados testes e instrumentos. Gleiser argumenta que é ainda mais nobre de nossa parte, humildemente reconhecer as nossas próprias limitações do que ficarmos presos a falsos idealismos e com esperanças vãs que inevitavelmente serão frustradas.
A Ilha do Conhecimento propicia uma visão abrangente e multidisciplinar sobre a construção do saber humano, sobretudo o científico e o filosófico. É um livro delicioso e instigante pela temática e pela discussão que suscita e há de se elogiar também a forma como o autor aborda tais assuntos. Gleiser possui uma prosa elegante, bem articulada e um didatismo invejável capaz de trazer para o público leigo conceitos avançados de física, cosmologia, filosofia e religião de forma clara e objetiva valendo-se de sua experiência como pesquisador, professor e autor.
É assustador e ao mesmo tempo libertador descobrir que o conhecimento que temos do mundo real é apenas uma ínfima parte, é apenas aquela que podemos ter pelos meios que dispomos atualmente, e que nada sabemos daquele todo que permanece incognoscível. É lá, no Oceano do Desconhecido, que reside o mistério, que Einstein dizia ser a emoção fundamental que inspira tanto a arte quanto a ciência. Queremos sempre aprender mais, estendendo assim o território da Ilha, e neste processo o que fazemos e o que buscamos nada mais é do que conhecer a nós mesmos.
Recomendo A Ilha do Conhecimento a todos os que se fazem algumas daquelas perguntas da sinopse do livro e a todos os que se intrigam por temas como a origem do mundo, a infinitude do universo, o espaço-tempo, o multiverso, a capacidade cognitiva do cérebro, a natureza da realidade e os limites e as extensões do conhecimento. Nossa busca por respostas apenas começou.