Um guia que conduz o leitor numa jornada irresistível pelo universo shakespeariano e por um dos textos mais importantes e centrais do teatro e da nossa cultura.
O premiado escritor Rodrigo Lacerda faz uma adaptação que não apenas reconta a história do príncipe Hamlet, tal qual Shakespeare a escreveu, mas põe o jovem leitor curioso (e também o adulto preguiçoso) em contato direto com a força de sua poesia dramática.
Muito mais que uma simples adaptação, o que temos é, de fato, um guia para Hamlet. O autor apresenta o original de Shakespeare - informando, comentando e mergulhando em todas as referências sobre cada ato e cena da peça - e o costura com a sua própria narrativa moderna e em linguagem contemporânea da história do príncipe dinamarquês.
Como diz Luis Fernando Verissimo no texto de quarta capa, "o que o Rodrigo fez não foi Shakespeare para os simples, foi ajudar a vencer os obstáculos e ir direto ao inesquecível, o fantástico e o poético. Hamlet depurado, um atalho para o encantamento".
Ao final, o livro traz um apêndice com três breves seções onde Lacerda indica e lista: "Hamlets que li", "Hamlets que vi" e os "Elogios, críticas, paródias e anedotas sobre Hamlet".
Título: Hamlet Ou Amleto? - Shakespeare Para Jovens Curiosos e Adultos Preguiçosos
Editora: Zahar
Autor (a): Rodrigo Lacerda
Número de Páginas: 296
Editora: Zahar
Autor (a): Rodrigo Lacerda
Número de Páginas: 296
Todos nós já ouvimos falar de Shakespeare em algum momento, seja por citações e referências às suas obras mais famosas, seja por adaptações das mesmas que nos chegam nas mais variadas mídias, do teatro, aos quadrinhos, filmes e seriados. A influência do dramaturgo inglês na cultura e sociedade ocidental é de uma unamidade tal, que nunca ter sequer ouvido falar nele é algo inconcebível. Mas convenhamos que ouvir falar é uma coisa e conhecer in loco é outra completamente diferente e é aí que está o problema. Quando soube do lançamento de Hamlet ou Amleto? pela Zahar no começo deste ano fiquei justamente interessado na premissa do livro que é a de apresentar ao leitor iniciante, o universo das peças shakesperianas, preparando-o para enfim ir à fundo nas obras do bardo inglês, ultrapassando as costumeiras barreiras da linguagem e da distância temporal. Devo confessar que esta leitura foi também meu primeiro contato com o texto e uma peça de Shakespeare e que ela não poderia ter vindo em melhor hora!
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Ao usar a segunda pessoa para dialogar diretamente com o leitor, Rodrigo Lacerda, o autor e também fã confesso do dramaturgo e sua obra, encarna um preparador de elenco que por meio desta conversa, repassa toda a peça para um jovem ator estreante que está a poucas horas de subir ao palco para interpretar o famoso príncipe dinamarquês e que no entanto muito pouco sabe sobre ela. Essa abordagem de imediato fisga o leitor por evocar uma proximidade com o autor e o personagem e é um dos grandes trunfos do livro.
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Rodrigo preocupou-se não apenas em reescrever ou adaptar a peça, mas em também colocar o leitor de hoje em contato com a poesia e os versos originais de modo que podemos perceber a sutileza genial da poesia shakesperiana e toda a emoção que o bardo procurava imprimir em sua peça. Parágrafo a parágrafo, enquanto preparador e ator conversam, lemos os versos shakesperianos intercalados com comentários que abordam desde a narrativa, as características dos personagens, as principais adaptações feitas por diretores ao encená-las, dicas de interpretação para atores e até o comportamento esperado da plateia. Você realmente se sente na pele do ator e de Hamlet e a leitura flui como se realmente fosse um bate bapo descontraído.
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A peça se passa na Dinamarca por volta do século XI e fora inspirada num conto folclórico daquele país. Nela, Hamlet, o rei e pai do protagonista, mal esfriou no túmulo e a rainha Gertrudes se casou com seu o ex-cunhado, Claudius. Quem não gostou nada disso foi Hamlet Jr., o príncipe que agora se sente traído pela mãe, tendo que aceitar a autoridade real do seu tio que insiste em chamá-lo de Amleto (e ele o detesta ainda mais por isto!) e que porventura lhe tomou temporariamente o direito de suceder o pai no trono como Rei dinamarquês. Carregando estas frustrações nosso protagonista se depara com uma aparição, o fantasma do seu pai surge no castelo e lhe conta como fora envenenado e traído por Claudius e pede ao filho que vingue a sua morte e ponha a Dinamarca novamente nos trilhos.
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A política e o momento histórico conturbado da Dinamarca é o pano de fundo sobre o qual se desenvolve o drama pessoal vivído pelo protagonista. A busca por vingança fará Hamlet Jr. trilhar caminhos tortuosos dentro e fora da corte. Testemunharemos o seu crescimento e amadurecimento ao confrontar com situações que o colocarão em conflito tanto com os outros personagens quanto com os seus valores e idealismos internalizados.
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Os diálogos e monólogos mais famosos e filosóficos não apenas estão presentas mas recebem uma análise acurada com o intuito de esclarecer metáforas poéticas, a contextualizar e a familiarizar o leitor atual com as realidades históricas, políticas, sociais e culturais tanto da Inglaterra do século XVII quanto da Dinamarca do século XI, períodos nos quais a peça foi concebida e no qual ela procura retratar respectivamente. Dificilmente eu entenderia a totalidade da peça sem este conhecimento prévio.
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Embora aborde o drama e até a tragédia, Hamlet ou Amleto? propicia uma experiência de leitura prazerosa com um tom muito bem humorado, valendo-se de uma linguagem coloquial e próxima, no qual o autor tece comentários sagazes parágrafo a parágrafo sobre as cenas, os personagens e os momentos históricos descritos sem incorrer num pedantismo acadêmico e tampouco numa simplificação desonesta. Seu mérito está em contar um dos maiores clássicos da literatura mundial de forma acessível sem nos privar daquilo que a torna memorável além de despertar a nossa curiosidade e nos preparar para buscar outras peças de Shakespeare.
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Não poderia deixar de mencionar o cuidado da editora com a estética do livro, que além de uma das capas mais bonitas da minha estante também possui uma linda ilustração na folha de guarda que eu associo às flores colhidas e distribuídas por Ofélia, a namorada de Hamlet, na peça. O livro conta ainda com uma lista de referências literárias e filmográficas recomendadas pelo autor, além de algumas notas em que famosos como Murakami, Borges, Nietszche entre outros tecem seus comentários, elogios e críticas variadas a Hamlet.