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Antologia da Literatura Fantástica

Esta antologia organizada por Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo reúne desde estrelas da literatura fantástica, como Kafka, Julio Cortázar e Guy de Maupassant, até autores pouco conhecidos, como o chinês Tzu Chuang. Fiel à escolha editorial dos organizadores, os 75 contos foram traduzidos para o português direto do espanhol, como na primeira edição espanhola, visando reforçar o conceito da seleção de textos feita pelo trio. A obra conta ainda com textos de apoio do tradutor Walter Carlos Costa e da veterana Ursula le Guin, célebre autora norte-americana de ficção científica.                                                                                                                                                                                                                                            
Título: Antologia da Literatura Fantástica
Editora: Cosac Naify

Autor: Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo
Número de páginas: 448

Fruto da paixão de três expoentes da literatura argentina, A Antologia da Literatura Fantástica reúne uma fascinante coleção de 75 contos, trechos de peças e romances que propiciam ao leitor um vislumbre amplo e abrangente deste gênero literário que segundo o próprio Casares, ainda no Prólogo, antecede a própria escrita: “Antigas como o medo, as ficções fantásticas são anteriores às letras. As assombrações povoam todas as literaturas: estão no Avesta, na Bíblia, em Homero, no Livro das Mil e uma Noites. Talvez os primeiros especialistas no gênero tenham sido os chineses. O admirável Hong Lou Meng (O sonho do aposento vermelho), e também romances eróticos, como Jin Ping Mei (Flor de ameixa no vaso de ouro) e Shui Hu Chuan (Na margem da água), e até mesmo os livros de filosofia são ricos em fantasmas e sonhos.”
A história da origem desta Antologia por si só já é um chamarisco a parte. Certa vez reunidos, os escritores e amigos Adolfo Bioy Casares, Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo discutiam quais os seus contos fantásticos preferidos, até que algum deles teve a ideia de reuni-los numa antologia apenas pelo prazer de conceber, em sua opinião, um bom livro. Eles levaram a ideia adiante, e mesmo que esta não fosse a intenção inicial, publicaram a sua primeira edição em 1940 e desde então a Antologia da Literatura Fantástica se consolidou como um clássico das Letras hispânico, recebendo anos mais tarde novos contos em sua versão definitiva, publicada como uma segunda edição em 1965.
Esta edição brasileira conta com o capricho e esmero que fizeram da editora Cosac Naify um ícone no mercado editorial nacional. O livro é muito bem revisado e acabado, com capa-dura e um projeto gráfico primoroso, conta com margens e fontes em azul-marinho sobre papel pólen nas páginas internas. Cada conto ou trecho é acompanhado de uma pequena biografia e bibliografia resumidas de seu autor e a tradução de Josely Viana Baptista foi feita diretamente do espanhol, tendo como fonte a segunda edição da Antologia, respeitando a poética e a vontade de seus autores.
Grande parte da importância e relevância desta obra é ressaltada nos excelentes Posfácio de Walter Carlos Costa, que discute o impacto da Antologia na academia de Letras e como esta obra serviu de base para estudos acadêmicos de um gênero literário quase sempre relegado a segundo plano, e de Ursula K. Le Guin, que discute o papel da fantasia na literatura, não como mero escapismo da realidade mas como representação precisa dos anseios da própria realidade na qual se inserem autor e sociedade, opinião também partilhada por J. R. R. Tolkien em seu Árvore e Folha.
Dentre os 75 contos e trechos que compõe a Antologia da Literatura Fantástica um número considerável deles foram para mim excepcionais seja pelas suas premissas inusitadas, pelo desenlace final surpreendente ou pela forma magistral como foram aos poucos construídos. Há sim muitos contos medianos nela e em alguns você talvez nem note nada muito especial mas a maioria é capaz de propiciar ao leitor os momentos certos de surpresa e virada em seu desenvolvimento colocando-se entre o muito bom e o ótimo em minha avaliação geral.
Chama a atenção a quantidade de contos orientais e a forte presença de escritores latinos, bem como a ausência de um representante brasileiro e a pequena presença de autores europeus e norte-americanos. Variados também são os formatos dos contos: temos desde pequenos trechos de obras maiores, de peças de teatro, anedotas, e contos de um parágrafo apenas até pequenas epopeias de 40 páginas inteiras. Os contos se diferem bastante também em suas temáticas. Nada do tão popular capa, espada e magia atuais, muitos deles tratam do sobrenatural quase corriqueiro e cotidiano, de fantasmas, sonhos, transformação e metamorfose, até as fábulas de animais e as presenças quase universais de deuses e diabos. É extremamente válida a oportunidade de ler tantos e tão variados contos reunidos numa obra como esta.
Como toda antologia, ela é ótima para te apresentar novos autores e te faz ter contato com histórias que fogem do convencional e te tiram da sua zona de conforto. Foi por meio dela que tive meu primeiro contato com textos de grandes nomes da literatura como Edgar Allan Poe, Franz Kafka, James Joyce e Julio Cortázar. Pude revisitar alguns autores já conhecidos como Júlio Verne, H. G. Wells e Lewis Carroll. E também me foram apresentados alguns novos tais como Rudyard Kipling, Elena Garro, Max Beerbohm, Santiago Dabove e Fernández Macedônio que respectivamente com seus contos “O Conto Mais Belo do Mundo”, “Um Lar Sólido”, “Enoch Soames”, “Ser Pó” e “Tantália” me deixaram ávido por ler mais de suas obras tamanha fascinação e impacto me causaram.
A Antologia da Literatura Fantástica não apenas constitui um excelente amostrado do gênero fantástico, como também contribui para expandir os limites deste gênero cujas possibilidades agora me parecem ser maiores do que nunca. É uma fascinante viagem de conhecimento e prazer absolutamente indispensável para os aficionados por literatura fantástica e porque não, para os amantes da boa literatura.