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Review | Cultos Inomináveis

Recorte da ilustração de capa do livro de RPG Cultos Inomináveis traz a cena de um ritual acontecendo. Na imagem, uma mulher branca aparece nua, com o corpo e a face repleto de desenhos e símbolos em tinta vermelha (ou sangue, não sei dizer), ajoelhada segurando um livro na mão direita e um punhal na mão esquerda ao lado de um corpo. Ao redor da mulher várias velas estão posicionadas em um circulo arcano e tentáculos destroem parte da sala. No canto superior direito simbolos mostram que se trata de uma resenha de um livro, enquanto no canto inferior esquerdo o título da obra aparece em letras estilizadas.
As obras de Howard Phillips Lovecraft desde sempre inspiram outros autores, roteiristas, quadrinistas e criadores de todo o mundo. Responsável pelo que posteriormente seroa chamado de Mitos de Cthulhu, o próprio autor incentivava  o uso de suas criaturas e ideias a fim de expandir a mitologia criada por ele, repleta de criaturas ancestrais incompreensíveis, segredos terríveis e a insignificância humana perante o horror cósmico. Dificilmente você terá escapado incólume de uma ou outra referência direta ou indireta na Cultura Pop. E é claro, os jogos não seriam uma exceção.
Em 2019 a Buró Brasil, anunciou a publicação de um dos jogos que mais conquistaram a atenção do público nos últimos tempos: Cultos Inomináveis, da editora espanhola Nosolorol. Neste RPG baseado nas histórias de H.P. Lovecraft, temos uma nova abordagem, trazendo as tramas para a modernidade dos dias atuais e tecnologias, colocando os jogadores em áreas cinzentas, se apropriando do oculto e dos poderes antigos, seja qual for o seu objetivo final. O papel do cultista não mais estará relegado ao antagonista, afinal, quando todos passam a se envolverem com as forças do desconhecido, o cultista se torna o centro da história. Esteja ele tentando impedir um apocalipse ou tentando causá-lo.
Interessante? Bastante! 
Ao colocar os jogadores para trilhar seu caminho em tons de cinza, há uma abertura para os mais interessantes personagens possíveis com suas motivações, moralidade e anseios sempre em teste. A modernização da ambientação também abre espaço para narrativas mais variadas, podendo ir de um culto religioso apocalíptico no interior dos EUA, até uma corporação que mistura genética e magia pra criar mercenários abomináveis pra serem vendidos a quem pagar mais! Os jogadores estarão imersos desde o início em esquemas que acontecem por trás do véu!
Mulher branca e jovem sentada em um sofá de couro de três lugares em frente a uma janela com um notebook no colo. A mulher tem cabelos pretos e curtos, e olha para frente com cara de desafio enquanto faz gestos de mão mágicos que invocam tentáculos espectrais vermelhos que saem da tela do computador. Ser cultista em 2021 é invocar o mal visitando o twitter!
O que podemos esperar de Cultos Inomináveis
O público deve estar preparado um jogo voltado para o público adulto, explorando complexidades nas propostas e temáticas, mas ainda um jogo ideal para iniciantes, conhecedores dos Mitos ou não, e exploradores curiosos. O sistema preza por algo mais simples, com dinamismo nas resoluções e participação ativa do jogador em prol da construção da história, abraçando um dos principais pilares do RPG que é justamente a experiência da construção conjunta de uma narrativa memorável entre amigos.
A forma como a imersão é elaborada, desde a construção de personagem com elementos focados em adicionar pontos a narrativa até a proposta de desafios do próprio sistema, engrandecem e abrem espaço para excelentes experiências. Inclusive destaco também que a própria criação de personagens, além de altamente imersiva, é extremamente divertida! Atribuir Conceitos, Traços, Marcos, Complicações, e pensar de que forma isso influenciará e será utilizado é quase tão empolgante quanto enfrentar seres de outra dimensão!
Cultos Inomináveis traz um pouco de frescor aos jogos ao colocar os jogadores em novos papéis e apresenta muito bem o sistema Hitos, que funciona perfeitamente enquanto sistema genérico de narrativas e agrega em possibilidades ao que já temos publicado em território nacional (espero sinceramente que a Buró traga-o  também). O pessoal do Confraria de Arton produziu um artigo bem completo com detalhes sobre o livro capítulo a capítulo que vale a pena conferir se ficou curioso sobre esses pontos mais a fundo (e eu recomendo que os leia). Ademais, é possível conferir uma amostra, além de fichas editáveis de personagem, na página do sistema no site da editora.
Além do livro básico, a Buró trouxe no financiamento coletivo realizado em 2019, diversos conteúdos para alimentar o sistema e ampliar as possibilidades, incluindo a Divisória do Mestre de Jogo, Postnomicon (um compilado de aventuras) e Oculto em Branco (um suplemento centrado em um dos cultos do cenário), além da campanha Filhos de Nyarlathotep. Esse material se encontra disponível em formato físico com itens exclusivos, incluindo um kit de luxo, na Loja da Editora Buró Brasilou em formato digital no Dungeonist com cada material separado ou em um super bundle.
E então, preparado para mergulhar no horror em busca de seus objetivos?