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Limbo

O Limbo é para onde todas as almas vão após a morte. Além de humanos, deuses esquecidos e espíritos lendários também vagam pelo plano. Muitas almas sabem exatamente onde estão e por que; a maioria, entretanto, ainda tem a impressão de estar viva. A morte é um hábito difícil de se acostumar.
Um dos espíritos residentes no Limbo acorda sem nenhuma lembrança de sua identidade. Ele descobre que a Terra está prestes a ser destruída pelos próprios humanos e fica encarregado de enviar doze almas heroicas de volta. Elas reencarnarão no plano dos homens e tentarão reverter o quadro apocalíptico.
Contudo, poucas almas encaram o retorno com bons olhos. O espírito deve, então, forçá-las. Armado, de preferência. Assim, resolve visitar um velho amigo: Azazel, anjo ferreiro e primeiro escolhido da lista.
O espírito descobre mais sobre quem realmente é, ouve uma versão completamente diferente sobre a rebelião dos anjos e é presenteado com uma surpresa de péssimo gosto.
LIMBO mistura elementos e referências de videogames, RPGs, HQs, animes, mangás, filmes, séries e livros. De Lovecraft a Final Fantasy, é uma homenagem às influências que marcaram o autor.
Título: Limbo
Autora: Thiago d'Evecque
Editora: Amazon Publishing/ Publicação Independente
Número de Páginas: 165
Sou fascinado por livros que abordam e brincam com mitologias tradicionais. São uma ótima forma de se conhecer traços de culturas diferentes além de enriquecerem a nossa própria bagagem de histórias. Em Limbo, seu livro de estreia, Thiago d'Evecque mostra um incrível potencial para trabalhar com estes elementos, criando um universo de fantasia coerente, variado e bem estruturado numa trama envolvente com a mesma maestria de um Spohr ou Gaiman.
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Limbo conta a jornada de um espírito recém desperto e desmemoriado imbuído da missão de escolher doze entre todas as almas que vagam pelo Limbo e enviá-las de volta à Terra com a finalidade de ensinar as suas mais nobres virtudes ao ser humano que se degradou a um ponto extremo e está a beira de se extinguir num apocalipse eminente.
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O Limbo é uma espécie de dimensão paralela para onde vão os deuses esquecidos, seres mitológicos e almas condenadas. Lar abrangente de criaturas de diferentes culturas e épocas, lá é possível encontrar desde as criaturas dos mitos de Cthulhu, da mitologia judaico-cristã, deuses gregos, nórdicos, hindus, africanos e asiáticos, e até figuras possivelmente históricas como o rei Arthur e a Sherazade das Mil e Uma Noites.
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O maior problema para o protagonista é convencer estas almas heroicas a voltar. Nem todas estão dispostas a isto pelos mais diversos motivos. Uns já estão cansadas da humanidade, outros acham que já cumpriram a sua missão... Assim, após esgotar seus argumentos, inevitavelmente o protagonista terá de recorrer à força para cumprir com êxito a sua missão. Não há escolha.
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Em sua jornada pelo Limbo, o protagonista é acompanhado de uma arma espiritual com personalidade própria apelidada de Cacá (e que personalidade!). A arma na verdade é um receptáculo da alma de um deus antigo e esquecido que em sua megalomania se alimentava do medo e horror humanos em eras remotas mas que agora só pode reclamar da sua atual condição deplorável. Cacá nos proporciona muitos dos melhores momentos de alívio cômico durante a leitura e terminei por me simpatizar com sua "pessoa".
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Thiago d'Evecque não se contentou apenas em usar personagens já conhecidos mas em também imbuí-los de personalidade própria. Entre os 12 escolhidos destaco três que me surpreenderam muito pelo conceito trazido aqui: o primeiro é Azazel, o responsável por forjar Cacá é um anjo desprovido de crenças em uma entidade superior, um anjo ateu! Quem diria! Oxum, nunca antes havia lido uma história com um orixá do candomblé, especificamente da religião iorubá, como personagem e ela também foi uma grata surpresa para mim. Além de ser uma figura interessantíssima e complexa, a representante do amor, da beleza e da feminilidade é quem traz à trama uma virada surpreendente que me tirou o chão e o fôlego literalmente. E por fim temos Arthur, o rei que é sempre representado como um homem imponente e justo, o ideal cavalheiresco perfeito é mostrado em Limbo com uma faceta muito mais humana e falível. Aqui ele remói todas as suas mágoas pelas desgraças da sua trágica história já tão conhecida. Há muitos outros personagens tão interessantes quantos estes que citei e vale a pena conhecê-los mais à fundo. O próprio autor dá dicas de onde buscou inspiração para criá-los e cita obras de referência ao fim do livro. Limbo pode perfeitamente ser encarado como uma porta de entrada, uma breve introdução, para quem quer conhecer mais sobre mitologias diversas justamente por beber de tantas referências e por nos despertar a curiosidade para elas.
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A forma como as missões são estruturadas podem soar um pouco repetitivas e previsíveis ao longo de alguns capítulos. Elas me lembraram as missões de alguns games em estilo RPG com cada entidade representando uma espécie de chefe de fase e basicamente podem ser resumidas em encontro, conversa, luta e desfecho. Mas o autor soube contornar isto criando situações únicas a cada novo encontro. Além das entidades serem totalmente diferentes entre si, o que exige técnicas de argumentação e combates também diferentes, a ambientação de cada encontro também muda. O Limbo funciona de modo a parecer como aquela entidade e a sua sociedade acreditavam que deveria ser o seu pós-vida. No fim o balanço é muito positivo e não raro nos perguntamos de quem o protagonista irá atrás agora? Como será o embate de ideias? E a quais técnicas de luta ele irá recorrer?
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O livro possui um final aberto, sobretudo com relação às almas enviadas para reencarnar na Terra. Seria interessante saber o que aconteceu com elas numa continuação, se foram capazes de redimir mais uma vez a humanidade passando para ela as suas melhores virtudes e principalmente: como? O desfecho é surpreendente! Há pelo menos duas grandes viradas aguardando o leitor ao final, mas antes de chegar lá recomendo apreciar com calma os trechos mais inspirados e poéticos da narrativa que se intercalam muito bem tanto com um fino bom humor de alguns momentos quanto com a ação propiciada pelos encontros e também pelos questionamentos filosóficos e sociais levantados nos diálogos.
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Limbo é uma leitura rápida, agradável, com conteúdo e muito divertida e eu não poderia terminar essa resenha sem deixar de recomendar a todos: leiam!