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Terra, Prata & Lua Cheia

Centenas de anos atrás, um embate sangrento entre nativos e invasores brancos armados até os dentes marcou a disputa por uma região no nordeste brasileiro. Para pôr fim à luta impiedosa, o Grande Caipora e a Iara, a senhora das águas, fizeram com que aquele pedaço de terra se descolasse do continente e passasse a vagar pelos rios do país, criando a lendária e mágica ilha flutuante de Anistia. Séculos depois, Anderson Coelho, o herói pré-adolescente da série O Legado Folclórico, descobre não apenas a localização da ilha, mas consegue adentrá-la e participar da grande competição entre organizações secretas que acontece periodicamente. Passa, então, a conhecer os segredos de Anistia, a saber sobre os sonhos que separam os vivos dos mortos, e a perceber a influência que os poderosos exercem sobre o povo. Porém, é tempo de lua cheia e ele terá de lidar com problemas que surgirão com ela e que ele nem suspeitava existirem.
Título: Terra, Prata & Lua Cheia
Série: O Legado Folclórico - Livro 02
Autora: Felipe Castilho
Editora: Gutemberg
Número de Páginas: 272


As marcas da aventura em São Paulo continuam vivas em Anderson Coelho. O garoto da cidade mineira de Rastelinho não consegue deixar de pensar no que passou, nos amigos que ajudou e no inimigo poderoso que fez. Principalmente porque as garras de Wagner Rios estão tão próximas da sua família.
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Mais maduro e mais consciente, o jovem é convidado a participar de uma nova aventura junto com os membros da organização: um fórum em Anistia. Uma competição saudável e regular entre as outras "organizações" que entre outras coisas, premia seus vencedores com aposse temporária de um muiraquitã.
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Antigamente, Anistia era um pedaço de terra no continente, lar de índios e criaturas fantásticas, até os brancos quererem apossar-se das terras começando um embate sangrento com os nativos. Para proteger os moradores e a natureza, o Grande Caipora e a Iara fizeram um trato e separaram esse pedaço de terra do continente, tornando-a uma ilha flutuante, destinada a navegar em qualquer rio do país.
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Anderson e seus amigos achavam que teriam uma disputa agradável, interagiriam com outros membros de outras entidades secretas e se divertiriam pacas, mas não imaginavam que suas vidas cruzariam novamente com o magnata Wagner Rios. E o homem não poupará seus recursos para conseguir o que quer. Lobisomens são apenas uma pequena parcela do que está disposto a usar...
Felipe Castilho volta para nós com sua uma narrativa simples e fluida em terceira pessoa para acompanhar o desenvolvimento da trama e personagens, mas dessa vez trazendo ainda mais ação. Os diálogos, apesar de joviais e contendo bastante referências ao meio Geek e Cultura POP, são bem construídos e não se tornam artificiais ou forçados. Essa naturalidade auxilia a agilidade da trama, além de deixa-lá mais fácil de compreender.
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Com uma trama muito bem trabalhada e que vai além do fator diversão (muita diversão para ser mais preciso), o autor cria uma trama que explora elementos da nossa cultura, normalmente tão renegada, os atualiza e os torna atraente para o público, sem desmerecer as origens. A aventura deixa o espaço urbano e se conecta com o espaço natural através da ilha de Anistia, e com ela o Legado Folclórico se amplia: novos mistérios, novos seres, e personagem são apresentados. Além das lendas, Castilho também aborda temas ecológicos de forma natural, conscientizando os leitores e tecendo críticas a sociedade atual. Nosso protagonista apesar de jovem precisa amadurecer e evoluir a todo instante para lidar com os novos conflitos que lhe são apresentados, e isso acontece física e mentalmente.
Do primeiro volume até aqui já houve um trabalho muito maior em relação ao personagens, tanto no amadurecimento do protagonista quanto na participação dos coadjuvantes (antigos e novos). Castilho reforça, incrementa e evolui seus personagens carismáticos, dando a eles novas características e histórias próprias, novamente destacando seus defeitos e limitações, mostrando que até os poderosos seres fantásticos e milionários gananciosos possuem as suas falhas.
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Tal qual fiz questão de destacar na resenha do primeiro volume, o trabalho gráfico do livro é um show a parte, com decisões acertadas em cada etapa. E mais uma vez temos que dar os louros taos ilustradores Octavio Cariello  pela capa e ao Thiago Cruz pelas ilustrações do miolo que ajudam e muito a entrar no clima da obra, além de revelar um pouco além do que é descrito.
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Para não dizer que achei o livro perfeito, devo dizer que senti falta de uma abordagem mais ampla ao redor dos jogos. Preferia que o desenrolar da história demorasse um pouco mais a acontecer, dando espaço para outros personagens se desenvolvessem e se envolvessem mais antes, das revelações de seus papeis na trama. Algo mais próximo do que acontece em Harry Potter e O Cálice de Fogo em termo de cadência de narrativa, talvez. É claro, isso é apenas uma observação sobre a minha experiência com a leitura, e de forma alguma tem intuito de diminuir o que foi apresentado. O Legado Folclórico é uma série que merece destaque por sua qualidade e conteúdo!
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Volto a repetir: por ultrapassar o fator entretenimento, tratando muito bem de temas sérios e reavivar o trabalho com elementos da nossa cultura popular em uma linguagem mais próxima dos jovens, ouso dizer que a série Legado Folclórico poderia facilmente ser adotada por escolas. Felipe Castilho nos entrega uma obra deliciosa, que valoriza a nossa cultura e nos mostra que o Brasil tem muito a oferecer, tanto no quesito folclórico quanto em autores de qualidade como ele. Se não conhecia a obra e/ou o autor ainda, fica aqui o incentivo para que o faça em breve. Lerei meu Ferro, Água & Escuridão (terceiro volume da série), já aguardando pela conclusão da saga.