Pegue uma jovem educadamente teimosa e cheia de opiniões. Acrescente uma imaginação hiperativa. Agite em meio a uma mistura pesada de guias intrigantes e bizarros. Reduza todas as morais e lições a um grau absurdo e mande tudo isso numa jornada para o nada... Esses são os ingredientes que Lewis Carroll combinou para criar um conto de fadas diferente de todos os outros.
Alice no País das Maravilhas
História Original: Lewis Carroll
Roteiro: Leah Moore, John Mark Reppion
Desenho: Érica Awano - Cores: Pc Siqueira
Desenho: Érica Awano - Cores: Pc Siqueira
Editora: Mythos Books
Acabamento: Cores/Capa DuraPáginas: 186 - Ano de Publicação: 2015
Não faz muito tempo que li Alice e admito que não é livro fácil de terminar, embora seja muito divertido. A narrativa caótica e surreal de Lewis Carroll, com seus personagens peculiares, poemas e tudo o mais, requer um esforço enorme para imaginar as sequências de encontros de Alice e ainda se manter preso à história. É tal como um sonho no qual você é levado pela incerteza a cada virar de página. Talvez seja justamente isto que torne esta obra tão intrigante, famosa e persistente ao longo destes 150 anos de sua publicação original.
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Esta adaptação, roteirizada pelo casal Leah Moore e John Reppion, e magnificamente ilustrada pela brasileira Érica Awano para o selo de quadrinhos norte-americano Dynamite Entertainment, lançada recentemente no Brasil pela Mythos Books, consegue ser mais leve e fácil de entender do que o livro clássico, não pecando em momento algum em fidelidade ao original.
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Exceto pela inserção de um capítulo perdido como extra, a trama, já consagrada em tantas outras adaptações para livros, cinema e teatro, é a mesma. Enquanto descansa com sua irmã, à sombra de uma árvore, Alice vê um Coelho Branco correndo apressado e se queixando de estar atrasado. Curiosa com isso, ela decide segui-lo e adentra por uma toca caindo posteriormente num poço profundo, que parece não ter fim. A partir daqui, iniciam-se suas aventuras pelo País das Maravilhas, onde ela se encontrará com toda a sorte de criaturas inimagináveis e terá de lidar com situações cada vez mais bizarras...
As drásticas mudanças de cenário são bem mais palatáveis em quadrinhos do que em texto, o traço limpo de Érica Awano trás leveza à narrativa cujo lado sombrio e ameaçador, tão comum das fábulas infantis, é realçado pelo trabalho de cores pastéis, mais sóbrias e em aquarela, feitas em sua maior parte por PC Siqueira (sim, aquele do Youtube).
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Todos os personagens estão bem caracterizados, seguindo a identidade visual original, elaborada pelo ilustrador John Tenniel, mas com uma roupagem moderna dada por Awano numa mescla harmoniosa entre mangá e comics. Você não sentirá falta de tomar chá com o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março, nem de conversar com Gato de Cheshire e a Lagarta, nem de ouvir a moral da história com a Duquesa, ou de jogar croqué com a Rainha, isto para citar apenas alguns dos mais divertidos. E não nos esqueçamos da personagem principal: Alice! É por meio dela que nos encantamos e até nos indignamos com o País das Maravilhas e seus habitantes. Movida por sua curiosidade e dona de um temperamento teimoso e opiniões fortes, ela tem seus valores confrontados à todo o instante, dando um norte à trama e se contrapondo perfeitamente ao caos dos outros personagens.
O encadernado é dividido em cinco partes. As duas primeiras trazem a adaptação em quadrinhos de “Alice no País das Maravilhas”, seguidas por duas partes com a sua continuação, “Através do Espelho”. A quinta e última parte trás material extra: incluindo poesias originais do livro de Carroll, a história do resgate e o texto original do capítulo perdido “A Mosca de Peruca”, amostras do processo de criação da HQ, do roteiro ao esboço até a página finalizada e uma entrevista com os roteiristas.
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