BEM-VINDO VIAJANTE! O QUE BUSCA NO MULTIVERSO?

Os Sofrimentos do Jovem Werther

Os sofrimentos do jovem Werther foi um dos primeiros best-sellers europeus. Lançou modas de comportamento e mesmo de roupas; é também uma história de amor impossível. Mas este primeiro romance de Goethe (1749-1832), mestre maior da literatura alemã, foi ainda uma obra que marcou uma virada importante nas ideias artísticas, morais e sociais da Europa do final do século XVIII, e se tornou precursora do romantismo. Publicado pela primeira vez em 1774, trata-se de um romance composto de cartas escritas por um jovem burguês hipersensível, Werther. Inclinações artísticas, modos e pensamentos levam o jovem Werther a entrar em conflito com convenções e preconceitos da sociedade aristocrática, na qual acaba esnobado e humilhado.
Além do mais, apaixona-se por Lotte, jovem também sensível, mas já noiva e depois esposa de um homem com senso prático da vida. As frustrações de Werther acabam por levá-lo ao suicídio, atitude que foi imitada por vários de seus leitores e causou grande escândalo na época. - Vinicius Torres Freire, Colunista da Folha.
A Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura traz ao público 28 ilustres autores da literatura mundial cujos clássicos marcaram gerações de leitores. Entre eles estão Machado de Assis, Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Oscar Wilde, Virginia Woolf, Joseph Conrad, Tolstói e outros renomados autores.
Título: Os Sofrimentos do Jovem Werther
Título Original: Die Leiden des Jungen Werther
Coleção: Folha Grandes Nomes da Literatura # 15
Editora: Folha de S. Paulo
Autor: Johann Wolfgang von Goethe
Tradução: Marcelo Backes
Número de páginas: 143

SKOOB - ONDE COMPRAR: LIVRARIA DA FOLHA - SUBMARINO

Quando adquiri a Coleção Folha de Grandes Nomes da Literatura tinha absoluta convicção de que não apenas teria contato com obras máximas de autores renomados e diversos como também que sairia da leitura de alguns destes clássicos extremamente satisfeito pelas experiências únicas que os mesmos me proporcionariam. O mais recente volume lido, Os Sofrimentos do Jovem Werther, é um destes e nem consigo exprimir o quão satisfeito fiquei com a sua leitura e como ela desmistificou algumas más impressões que eu tinha de obras do Romantismo possivelmente causadas por aulas enfadonhas de Literatura na adolescência.
Escrito por Goethe, autor alemão cujas obras influenciaram a literatura de todo o mundo, levando-o a ser considerado como o mais importante escritor de todos os tempos daquele país, Os Sofrimentos do Jovem Werther é um romance epistolar, ou seja, escrito sob a forma de cartas, nas quais Werther, um jovem escritor burguês recém chegado numa localidade bucólica do interior conta ao amigo Guilherme a história de seu amor impossível pela bela Carlota, naquela altura já prometida em casamento para o insosso Alberto. Werther é dotado de um temperamento artístico e duma sensibilidade muito aguçada para todas as formas de arte, principalmente a literatura e a música, mas nada disso o deixa tão extasiado quanto os momentos que desfruta da companhia de sua amada. A impossibilidade de ambos consumarem este amor é o principal ponto de conflito do livro, e aos poucos vemos um Werther feliz e deslumbrado da primeira parte ser despedaçado e consumido pelo próprio amor que cultiva na segunda parte, tornando-se mais sombrio e fatalista.
Há quem ache Werther um personagem exagerado, mas poderia eu recriminá-lo por externar de forma tão bela e apaixonada os seus sentimentos mais sinceros por Carlota? Enquanto lia a vontade era de abraçá-lo e lamentar-me junto ante a sua situação. Werther ama. Ama tanto que dói. Transpor tudo isto de forma tão intensa através destas cartas é o maior trunfo deste romance que em momento algum recai num melodrama simplório. Claro que há o distanciamento histórico e alguns séculos de muitas mudanças nas relações humanas ao longo deles que nos separam do contexto deste jovem apaixonado, mas o livro e as reflexões de Werther continuam universais e atemporais. De fato a sensibilidade aguçada do personagem faz com que ele tenha insights surpreendentes acerca da condição humana e sua perspectiva diante do amor, da vida e da sociedade. É um deleite ler os seus rompantes inspirados tanto de felicidade quanto de melancolia em sua prosa altamente poética e em frases arrebatadoras e comoventes, duma profundidade verdadeiramente inquietante.
Suas cartas são o território onde toda a sua subjetividade aflora, apresentando-se a nós de forma quase onisciente. O tom delas é quase sempre confessional e intimista e de fato, Werther via Guilherme como seu grande amigo. É uma pena não termos acesso as respostas e aos conselhos de Guilherme, ao qual durante a leitura tomamos o lugar e passamos a ser, nós mesmos, os confidentes de Werther. Embora aparente uma certa embriagues romântica, Werther demonstra também uma plena compreensão da sua situação, sendo muito lúcido ao dizer que age de maneira doentia e obsessiva enquanto mima o próprio coração. Para ele o que importa é o que sente e como sente. É esse amor que dá sentido e norteia a sua vida, desde o primeiro momento em que conhece Carlota, até o último.
Por já estar em domínio público há um bom tempo, esta obra é facilmente encontrada em diversas edições e traduções para o português a preços bastante acessíveis. A edição da Folha de S. Paulo possui a mesma tradução feita por Marcelo Backes constante da edição pocket da L&PM de 2001 e traz diversas notas e comentários ao longo de suas páginas, que enriquecem muito a leitura e ajudam a contextualizar o leitor de hoje, bem como destacar momentos e características chave do livro, de Goethe e sua biografia e de seu momento histórico.
O livro é tido como um dos precursores do movimento artístico do Romantismo europeu, inaugurando-o na Alemanha ao passo que rompe com a tradição neoclássica em voga até então. Como tal, apresenta muitas das características que marcariam este movimento, sobretudo pelo seu lirismo, pela expressão máxima da subjetividade, pela representação do eu e das suas emoções em contraponto a razão. Seus temas principais buscam retratar o drama humano, os amores trágicos, os desejos de escapismo e alguns ideais utópicos. Não é o tipo de livro que normalmente busco ler, mas como citei anteriormente, a experiência serviu para quebrar alguns preconceitos e me deixou disposto a encarar mais alguns autores românticos. As vezes nos falta esse diálogo mais intenso e interno com nossas próprias emoções e acredito que livros assim possam abrir esse canal de comunicação.
Goethe criou uma obra totalmente original, com uma carga psicológica atemporal, cheia de sentimentalismo elevada as alturas mais trágicas pelo seu desfecho. Para ler Werther tem que ter amado! Parafraseando este jovem apaixonado, poderei resumir o Paraíso em palavras? Talvez não. Só me cabe recomendá-lo e esperar que você mesmo leia, sinta e aproveite a amizade de Werther tanto quanto eu!