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Steampunk Ladies: Vingança a Vapor

Em um mundo dominado pela violência de foras da lei com próteses mecânicas, nenhum homem era páreo para eles. Até que duas mulheres movidas a vingança e a vapor resolvem desafiar esses bandidos metade homens, metade máquinas.
Como saquear um locomotiva blindada considerada indestrutível? O que um dos maiores inventores do país tem a ver com isso? Tudo isso é parte do plano diabólico para o maior roubo de trem da história, orquestrado por Lady Delillah! Mas em seu caminho estão Sue e Rabiosa, mulheres que têm em comum destinos trágicos pela mão da criminosa. Para elas, mais difícil do que evitar este assalto é provar que duas damas podem ser as protagonistas de sua própria história no ambiente hostil do velho oeste.
Título: Steampunk Ladies – Vingança a Vapor
Roteiro: Zé Wellington / Arte: Di Amorim e Wilton Santos / Cores: Ellis Carlos
Editora: Draco
Páginas: 72
Formato: 17 x 24 cm, brochura


O futuro de um passado que nunca se concretizou. Essa talvez seja a explicação mais óbvia e simples do que é o gênero steampunk que cada vez mais ganha terreno em produções nacionais. O steampunk ou ficção retro-futurista é considerado um subgênero da ficção científica caracterizado por exibir uma realidade na qual a tecnologia mecânica a vapor teria evoluído até níveis impossíveis mudando os rumos da História e a sociedade como conhecemos. Elementos tecnológicos modernos (aviões, computadores...) ocorrem mais cedo do que na História real e são obtidos por meio da ciência já disponível naquela época, essencialmente o motor a vapor, engrenagens e a máquina diferencial. A Revolução Industrial, a Era Vitoriana e praticamente todo o século XIX da História Ocidental são as maiores influências para o gênero que veio a se consolidar como tal somente entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 em mídias que vão do cinema, aos quadrinhos e à literatura.
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No Brasil o gênero começa a ganhar força um pouco mais tarde, a partir de 2008 temos a criação do Conselho Steampunk que entre outras coisas divulga, promove e organiza eventos relacionados em todo o País. Especificamente na literatura três grandes obras atualmente compõe o escopo do gênero em território nacional: O Baronato de Shoah: A Canção do Silêncio de José Roberto Vieira, considerado o primeiro romance steampunk nacional e mais recentemente Le Chevalier e a Exposição Universal de A.Z. Cordenonsi e a série Brasiliana Steampunk de Enéias Tavares.
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É seguindo essa vertente que chegamos a Steampunk Ladies. Com roteiro de Zé Wellington e ilustrações de Di Amorim e Wilton Santos, a HQ recentemente publicada pela editora Draco troca a tradicional ambientação vitoriana mesclando os elementos do steampunk à ação e a brutalidade do velho oeste americano e enriquece a obra com a presença e uma forte atuação feminina na história.
Tudo começa quando o bando de ladrões conhecidos como os Irmãos Bolton, munidos de equipamentos mecânicos estranhos e até então nunca visto no Velho Oeste, causa o caos às pequenas cidades ao cometer assaltos ousados aos bancos, chegando a levar os cofres inteiros. Nenhuma arma comum é páreo para a tecnologia que eles usam e logo descobrimos que o cérebro por trás destas investidas criminosas é Lady Delillah. Vão somar forças contra ela e seu bando criminoso duas outras mulheres: Rabiosa e Sue. Em comum elas buscam vingança e serão implacáveis.
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Tanto as protagonistas quanto Lady Delillah são personagens bem construídas, com motivações próprias e independentes que contrariam todas as expectativas de uma ambientação tipicamente machista. Os diálogos e as viradas conduzidas por elas são um brinde à queda dos estereótipos das mocinhas indefesas e submissas e não consigo encontrar palavras que não sejam “elas botam para quebrar” para melhor explicar.
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O roteiro de Zé Wellington propicia uma história bem estruturada, com momentos de flashback bem encaixados que enriquecem a trama principal sem diminuir o ritmo até o derradeiro desfecho que se encerra de maneira satisfatória mas deixando algumas pontas soltas, talvez para serem amarradas num próximo e muito bem-vindo segundo volume. É possível extrair da leitura discussões atuais e pertinentes à nossa contemporaneidade sobretudo da questão feminina e o seu papel na sociedade, a violência, a submissão e o próprio conflito causado por tecnologias novas, superiores e desconhecidas.
Sobre a arte, os traços de Di Amorim e Wilton Santos casam perfeitamente com a atmosfera mista de western e steampunk. As engrenagens e maquinários encontram-se harmonizados com cavalos, desfiladeiros e a aridez típica do Velho Oeste. O único elemento dissonante do todo é a opção por um design mais sexualizado do que prático para as três protagonistas o que infelizmente contradiz o discurso feminista. A obra ganha pontos em outros aspectos como a quadrinização que favorece a leitura propiciando dinamismo tanto para as rápidas cenas de ação quanto para a condução da história em si. A opção estética de não atenuar a violência e a brutalidade traz verossimilhança e causa impacto e indignação no leitor. Destaque também para as cores de Ellis Carlos cuja paleta predominantemente de tons laranja e marrons me remeteu instantaneamente à fotografia dos mais icônicos filmes de faroeste. 
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Steampunk Ladies é um quadrinho nacional de alta qualidade e pode ser encarado como uma excelente porta de entrada para novatos no fantástico mundo da ficção retro-futurista e certamente vai agradar uma gama de públicos variada, dos que gostam de ação e tramas sobre vingança aos fãs de faroeste e a quem quer ler mais histórias sobre emponderamento feminino. Steampunk Ladies entrega tudo isso sem dever em roteiro, arte e edição a títulos estrangeiros.