Da mesma forma que outras grandes rivalidades modernas, como Coca-Cola versus Pepsi e Apple versus Microsoft, redefiniram cada competidor e reescreveram a história dessas empresas, o intenso combate entre Sega e Nintendo nos anos 1990 revelou o melhor e o pior de cada uma e mudou para sempre o mundo do entretenimento, fazendo nascer uma indústria mundial de 60 bilhões de dólares.
Na época a Nintendo praticamente monopolizava o mercado de video games, enquanto a Sega era apenas uma empresa instável de fliperamas. Tudo isso iria mudar com a chegada de Tom Kalinske, um ex-executivo da Mattel que podia não saber nada de jogos eletrônicos, mas era expert em travar batalhas impossíveis. Suas táticas arrojadas combinadas às ideias ousadas de seus funcionários transformaram a Sega por completo e a colocaram num patamar ameaçador para a hegemonia da Nintendo.
Tendo como base mais de duzentas entrevistas com antigos funcionários de ambas as empresas, Blake J. Harris revela os guerreiros, as estratégias e os diversos fronts de batalha da grande guerra entre esses colossos do entretenimento eletrônico. Passando por momentos-chave da história dos video games — como a criação do Sonic, os lançamentos dos consoles Mega Drive e Super Nintendo e a chegada do jogo Donkey Kong Country às lojas —, Harris retrata essa indústria de maneira inédita e recria com propriedade a energia e o sentimento de todos os nomes importantes da Sega e da Nintendo. Um verdadeiro thriller que mostra os bastidores de uma batalha épica pelo coração e pelo dinheiro de gamers do mundo inteiro e como tudo isso mudou e marcou definitivamente a cultura pop.
Título: A Guerra Dos Consoles - Sega, Nintendo e A Batalha Que Definiu Uma Geração
Autor (a): Blake J. Harris
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 584
Quando conheci e entendi o poder quase mágico dos pixels na tela de TV pela primeira vez, muitos anos já haviam se passado e o mercado já era bem diferente do período retratado em A Guerra dos Consoles. Contudo as marcas daquela época de disputas acirradas ainda perduram. Não é difícil numa discussão sobre o assunto você ser convocado a escolher um dos lados e tomar partido da Sega ou da Nintendo. Seja na clássica rivalidade entre os mais icônicos personagens destas duas empresas, Sonic e Mario, ou nas consequências secundárias oriundas deste conflito o fato é que o mundo dos games deve muito de suas atuais características aquela época.
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A Guerra dos Consoles é um relato jornalístico romanceado escrito por Blake J. Harris com base em mais de 200 entrevistas com antigos funcionários. Além de pesquisa na documentação interna destas duas empresas, o livro fornece um quadro amplo e detalhado sobre a indústria dos games até meados dos anos 90. Embora não me considere um gamer e nem acompanhe o mercado atual dos jogos eletrônicos com afinco, assim que vi o anúncio de lançamento deste livro no Brasil pela Intrínseca fiquei curioso com a proposta e ávido por conhecer mais do que fora esta verdadeira briga nos moldes Coca-Cola vs. Pepsi dos vídeo games.
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Se é possível definir um personagem principal, este com certeza é encontrado na figura de Tom Kalinske. O homem que anteriormente havia trabalhado como CEO da Mattel, onde participou ativamente de uma reestruturação da boneca Barbie e da criação da linha de personagens do He-Man, além de ter sido sócio da Matchbox, famosa marca de carrinhos colecionáveis e atualmente uma marca da própria Mattel, recebeu de Hayao Nakayama a missão de fazer da filial norte-americana da Sega uma empresa maior e sinônimo de inovação num mercado altamente concentrado e dominado por sua grande concorrente, a Nintendo.
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Fazendo o perfeito papel de antagonista, a Nintendo, anos antes, praticamente havia reinventado o mercado de games nos EUA após este viver um declínio acentuado com títulos de baixa qualidade que levou para o limbo e para o aterro grandes nomes como a Atari até meados da década de 1980. Começamos o livro já sabendo que é Nintendo quem dita as regras de mercado, detendo cerca de 90% dele e adotando práticas protecionistas e restritivas aos seus próprios desenvolvedores e distribuidores em nome de rígidos e lucrativos padrões de qualidade. Este era o adversário e o desafio enorme que Kalinske e os mais cinquenta funcionários da Sega of America tinham pela frente.
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Somam-se então a Kalinske diversos outros personagens reais cujo trabalho conjunto foi capaz de influenciar toda uma geração de gamers, ao expandir o mercado, protagonizando inovações não apenas tecnológicas mas também em suas abordagens de marketing, logística, competitividade e relacionamento com desenvolvedores, o governo e a própria concorrência. Nomes como Shinobu Toyoda, Al Nielsen, Ellen Beth van Buskirk, Diane Fornasier, Jeff Goodby entre outros são recorrentes aqui e não é difícil se afeiçoar a eles.
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O livro possui um ritmo ágil e uma linguagem clara e objetiva. As suas quase 600 páginas voam e parecem ser poucas para dar contar de tantos elementos que compõe esta complexa indústria que abrange tanto os fliperamas, os portáteis e os consoles domésticos quanto os jogos e toda uma infraestrutura de marketing, distribuição, pesquisa e desenvolvimento em hardware e software.
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Como ponto alto temos os bastidores da criação dos personagens Sonic e Tails, as ousadas campanhas de lançamento do Sega Genesis (Mega Drive), o lançamento mundial do Sonic 2, o processo de escolha de uma nova agência de marketing para a Sega e a descrição de iniciativas agressivas como uma forte redução de preços dos consoles e a distribuição gratuita de um título como brinde para o comprador, o aluguel do espaço e a abertura de uma loja em frente a sede do Walmart para convencê-los a comercializar seus consoles e "testes cegos" com o Super Nintendo da concorrente em shoppings por todo o país.
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As iniciativas e o pessoal da Nintendo também estão presentes e rendem muitos outros fantásticos casos de bastidores: a criação da revista especializada Nintendo Power, o garoto propaganda e Game Master Howard Phillips, o lançamento de novos jogos da franquia Super Mario e a ida deste personagem para os cinemas, o sucesso triunfal do Nintendo 64, os estandes "Estrela-da-Morte" da empresa em feiras como a Consumer Electronic Show e a volta por cima com o estrondoso lançamento de Donkey Kong Country.
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Conclui a leitura querendo mais! Queria saber com a mesma riqueza de detalhes como a Sony se sairia com seu recém lançado PlayStation, ler como se deu a entrada da Microsoft e seu Xbox e todas as próximas fases deste enorme jogo empresarial pela atenção do consumidor.
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Senti falta também de mais informações sobre a repercussão da disputa entre Sega e Nintendo no Brasil. Na época os consoles eram licenciados e produzidos aqui por fabricantes nacionais, respectivamente a Tec Toy e a Playtronic (uma joint-venture entre a Gradiente e a Estrela). Outro item que também acrescentaria muito a um livro de não-ficção como este seria a presença de um índice remissivo para consultas e buscas rápidas pela enorme quantidade de assuntos e tópicos que ele aborda. Contudo estas são obervações menores e A Guerra dos Consoles é uma leitura muito válida e a comparo com outras duas obras neste mesmo estilo e que cuja leitura apreciei muito: "Marvel Comics: a História Secreta" e "Tudo Que Um Geek Deve Saber". Conhecer os bastidores e as grandes histórias por trás das gigantes de entretenimento tem se mostrado para mim uma experiência gratificante.
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Recomendo A Guerra dos Consoles não apenas para os fanáticos por games, consoles e seus ricos mundos virtuais, mas também para qualquer um que se interesse por incríveis histórias reais, por marketing e inovação e por cultura organizacional. De fato o livro pode ser encarado como um detalhado estudo de caso da filial norte-americana da Sega e é um prato cheio para quem tem curiosidade sobre negócios, grandes empresas e seus bastidores com enfoque, claro, na indústria dos games. E como a diversão continua, A Guerra dos Consoles tomará também as telas de cinema! Vale citar que estão em processo de produção tanto um longa metragem pela Sony Pictures, com participação do ator Seth Rogen e produção de Scott Rudin, inclusive os autores do prefácio deste livro, quanto um documentário com co-produção de Blake J. Harris.