James é um jovem de 17 anos que acredita ser um psicopata, matando regularmente animais como um hobby, mas ficou entediado com isso. Depois de se familiarizar com Alyssa, uma colega rebelde de 17 anos de idade, ele decide matá-la enquanto ambos fogem em uma viagem, mas acaba se apaixonando por ela.Título: The End of the F***ing World
Título Original: The End of the F***ing World
Lançamento/Duração: 24 de Outubro de 2017- 22 minutos/episódio
Número de Episódios: 8
Gênero: Dramédia / Humor Negro / Comédia Dramática
Classificação: 16 Anos
Direção: Jonathan Entwistle, Lucy Tcherniak
Roteiro: Charlie Covell
Elenco: Alex Lawther, Jessica Barden, Gemma Whelan, Wunmi Mosaku, Steve Oram, Christine Bottomley Navin Chowdhry, Barry Ward
The End of the F***ing World despertou minha atenção pelos elogios que a sua trilha sonora vêm recebendo em redes sociais, principalmente por aqueles feitos por pessoas que não são necessariamente o público-alvo da mesma. Com apenas oito episódios de vinte minutos cada, a série baseada na graphic novel homônima de Charles S. Forsman foi originalmente exibida pelo o Channel 4 e All 4 no Reino Unido em outubro de 2017 e foi lançada mundialmente e com exclusividade pela Netflix em janeiro de 2018.
A referida trilha sonora contempla 32 faixas quase obscuras, essencialmente dos gêneros rockabilly e country dos anos 1950 e 1960, numa seleção impecável feita pelo guitarrista Grahan Coxon, da banda Blur para os produtores da série. Artistas e bandas como Fleetwood Mac, Mazzy Star, Shuggie Otis e Françoise Hardy podem parecer escolhas equivocadas para uma série teen moderna, mas casam perfeitamente com a premissa da mesma pela semelhança entre as letras de suas canções e o enredo que fala sobre fugir da própria realidade e embrenhar-se numa roadtrip psicopata de auto-descoberta.
A série estrela Alex Lawther e Jessica Barden, respectivamente como James e Alyssa, dois adolescentes de 17 anos com problemas típicos para idade, principalmente o conflito com os pais e a dificuldade de se encaixar entre os colegas de classe e a sociedade por se acharem diferentes demais. Ele é reservado, hesitante e vê a si mesmo como um psicopata insensível, já tendo matado diversos animais pequenos com sua faca de caça e agora começa a pensar que já é hora de matar algo maior, uma garota por exemplo. Ela é carente de atenção e se blinda com uma personalidade ousada, grosseira e rebelde, de tendências maníaco-depressivas e alérgica à autoridade, encontra em James uma chance de escapar de sua vida completamente desassistida das presenças da mãe e do pai.
É a princípio movidos por puro interesse que ambos vão se aproximar e iniciar um namoro de fachada, constituindo um casal ao mesmo tempo desafinado e irresistível. Posteriormente eles resolvem dar um basta em tudo, roubam o carro do pai de James e fogem de suas casas para viver a vida sendo eles mesmos. Obviamente que com essa decisão impulsiva e impensada, tudo dá ainda mais errado e eles vão criar e se enfiar em diversos outros problemas, incluindo um assassinato enquanto aprendem a conviver melhor como uma dupla. E é claro que, dum jeito torto, mas sincero, eles inevitavelmente vão acabar se apaixonando em algum momento.
A série soa como um clichê teen típico, temperado com sexo, morte e sangue, mas a diferença está na forma com tudo é conduzido ao longo dos episódios curtos e enxutos, sem tempo para desgrudar da tela ou se cansar dos eventos nonsense e de humor negro sucessivos que temperam toda a trama, além dum notável desenvolvimento de personagens em meio às agruras da própria irresponsabilidade.
Os protagonistas também são os narradores de seus próprios pensamentos sobrepondo-se a si mesmos como personagens em cena. Este é um recurso excelente para compararmos os seus pontos de vista, o que cada um estava sentindo num mesmo momento e as diferenças gritantes entre eles quando as coisas começam a se acertar. Terrivelmente niilista em muitos momentos e hilária em outros, com uma linguagem rápida, crua e fragmentada, que parece conversar muito bem com seu público alvo, a série parece dizer que a vida é uma piada de mau gosto da qual devemos rir até morrer.
As atuações de Lawther e Barden merecem ser destacadas. Seus personagens em dados momentos são absolutamente detestáveis, nem eles mesmos parecem gostar deles mesmos, mas por fim eles acabam nos cativando pelo que se tornam um pelo outro e pelo desenrolar da trama. Como adolescentes desajustados e indesejados coube um ao outro servir de apoio para que ambos não desmoronassem, a química e a amizade que se desenvolve a partir disto me soou autêntica, me cativando tão logo tive um vislumbre de quem eles realmente eram e não daquilo que imaginavam ser. James e Alyssa tem problemas com todo mundo, mas foram mais corajosos e loucos do que a maioria ao resolverem dar um "foda-se" muito tentador em tudo.
Tecnicamente sou só elogios para a série. O cuidado com enquadramentos, fotografia e montagem é impecável. Os tons sóbrios e a iluminação de algumas cenas conferem a ela uma atmosfera indie evocada pela melancolia dos subúrbios britânicos. A já elogiada trilha sonora ajuda a contar boa parte da história com as letras e sonoridade bem escolhidas para os momentos certos. Os cortes e flashbacks bem encaixados para potencializar o efeito cômico do enredo, bem como as mudanças no argumento próximos aos episódios finais também me agradaram bastante.
Com o sucesso que a série vêm alcançando já especula-se uma segunda temporada, mas não vejo necessidade e fiquei satisfeito com o que ela entregou e com o final aberto e um tanto incerto sobre o destino dos protagonistas. Recomendo The End of the F***ing World para quem aprecia um boa dose de humor negro e para quem busca opções de entretenimento rápido, enxuto e de qualidade. Uma dica que pode ajudar o telespectador a não criar expectativas falsas e a aproveitar melhor a série é baixar a guarda e suspender a descrença. Embora trate de assuntos sérios e perturbadores, The End of the F***ing World não é uma série para se levar tão à sério como 13 Reasons Why e sim pra rir do humor extravagante e da surrealidade tragicômica das vidas de James e Alyssa e porque não, também das nossas vidas?