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Mad Max na estrada da injustiça

O tempo é um juiz implacável. Aonde ele coloca suas mãos pesadas, nenhuma firula ou perfumaria é capaz de passar desapercebida ou ser ignorada. E esse texto tem como objetivo expor uma injustiça feita, da qual o tempo absolveu.
A trilogia Mad Max envelheceu mal. Dos três, o segundo ainda é insuperável. O primeiro filme, paradoxalmente inovador e datado devido sua narrativa, é capaz de ligar-se bem à sua sequência. Já o terceiro, tirando sua meia hora inicial – com a clássica cúpula do trovão, dois homens entram, um homem sai, Tina Turner no auge e Mel Gibson distribuindo tiros de espingarda de cano serrado – termina com Max rodeado de crianças aventureiras e dando pancadas na cabeça dos inimigos com uma frigideira. Para Didi Mocó aparecer com um extintor, assoprando pó branco em todo mundo, era um quase.
Terminar assim seria realmente muito triste, mas, em 2015, George Miller nos abençoou com Mad Max: FuryRoad. Um filme do qual Max é mero coadjuvante. Afinal, a estrada é da Furiosa. E no hype disso tudo, no mesmo ano, veio um jogo chamado Mad Max, apenas. É ele o injustiçado.

MUITO JOGO PRA POUCO TEMPO


Analisar um jogo, escrever e publicar um texto sobre nem sempre é uma tarefa simples. E quando se trata de um game de mundo aberto, o processo toma um rumo ainda mais corrido. O deadline mordendo os calcanhares e na frente do redator um game longo que passa-se em um mundo árido e vazio. Onde a sociedade conhecida não passa de uma lembrança e o que restou delaestá entregue à selvageria. 
Todos os elementos que tornaram Mad Max um ícone da cultura pop estão no jogo. Ele utiliza a estética do último filme de George Miller, considerado um dos melhores filmes de ação já feitos. O gameplay pega emprestado o consagrado sistema de combate da série Batman: Arkham. E misturando tudo isso, as perseguições e combates de carros no deserto são tão empolgantes quanto em Fury Road.

Um jogo com todos esses pontos relegado ao esquecimento dos jogos medianos é algo que é confuso de entender. Por mais que o prazo acaba ditando tudo no final, não ter a chance de jogar Mad Max com calma, aproveitando cada aspecto do mundinho que ele proporciona, acabou prejudicando o game desenvolvido pela Avalanche Studios.
A triforce gráficos, gameplay e história está muito bem alinhada, de forma bem semelhante aos melhores jogos do gênero. No entanto, o lançamento junto ao aguardado Metal Gear Solid V: The PhantomPain foi um rival grande demais para encarar. Embora Mad Max tenha muitas qualidades, vencer Kojima é impossível.
Vale ressaltar, no entanto, que algumas críticas que o jogo sofreu não são infundadas, como a repetição, por exemplo. Mesmo que esse elemento esteja naturalmente presente no gênero de jogos de mundo aberto, jogar horas seguidas de Mad Max pode cansar.
E é justamente nesse ponto que se atola na areia movediça do backlog. A pressa em terminar um bom jogo é o pior vilão dele. Dessa maneira, qualquer jogo se torna insuportavelmente longo.Como o próprio MGS V: The PhantomPain, que sofreu com a mesma crítica, mas brilha com 93 no Metacritic. Vai entender.

UMA HISTÓRIA AO SOM DO V8


Mad Max foi lançado naquela época infeliz onde as desenvolvedoras queriam atender aos donos dos consoles da nova geração mas ainda abraçar à grande base instalada da geração passada. Nisso, um lado acaba sofrendo e no fim os donos de PlayStation 3 e Xbox 360, acabaram sem uma versão do jogo. 
Manter o mesmo nível de qualidade seria impossível, tanto nos gráficos quanto na narrativa, no qual, toda animação é feita com cenas in-game. Ainda assim, um ponto onde houve uma dose nociva de má vontade nos reviews do jogo é sobre a sua história. Mesmo tratando-se de um prelúdio donovo filme de George Miller e seguindo os mesmos estilos narrativos e estéticos – a abertura do jogo é idêntica a do filme –, o enredo, porém, foi considerado ruim ou fraco.
É justamente o contrário. Compramos as razões do Max e dos NPCs e de como as histórias vão se entrelaçando. Não é forçado, nem gratuito, um líder local ajudar um andarilho desesperado. Acordos são feitos e a história se desenrola.Algo que se destaca bastante e ajuda a construir esses laços são os detalhes que montam o background do cenário. Cartas, fotos e ruínas – a maioria com comentários do próprio Max – remontam o mundo anterior e descrevem o início do caos.
Corpos mutilados, empalados e carbonizados estão espalhados pelos cantos da Wasteland. Contêineres que servem tanto de casa como de cemitério e/ou despensa são encontrados com alguma facilidade. A morte explícita é lugar comum no jogo, bem como nos dois primeiros filmes. Isso me faz pensar naquele clima maluco PG-13 do terceiro filme.
Quanto a trilha sonorado game, propositalmente, fica a cargo do rugido dos motores dos carros, do estampido da espingarda e do choque do aço se batendo numa perseguição. A imersão que esses detalhes entregam é bem gratificante. O combate também empolga, o que não é difícil com o estilo empregado. 
Entretanto, Mad Max possui alguns problemas.

NÃO PRECISAMOS DE OUTRO NÍVEL


Mad Max não é um jogo difícil, e se o jogador fizer as missões secundárias e gostar de explorar o cenário, possivelmente, na metade do jogo já estará no nível máximo. O que não significa que o jogador não deverá tomar cuidado, principalmente durante os combates, mas nada que tire a paciência ou acabe frustrando.
Quedas de framerate ocorrem nas cenas de maior intensidade, principalmente durante as tempestades, porém não atrapalham o jogo. A atualização resolveu boa parte desse problema.
Com o apertar de um botão, Max dispara a espingarda. Isso pode ser incomodo no início do jogo, onde tudo passa a impressão de escassez, tanto de munição quanto dos recursos essenciais para seguir adiante, como gasolina e água. Mas todos esses itens são simples de se encontrar pelo cenário e quando retorna-se aos fortes aliados – caso esses produzem esse recurso – o cantil e o cinto de balas são reabastecidos.

Se bem que nos filmes, e até mesmo em Fury Road, não falta gasolina explodindo e tiros sendo disparados. O filme e jogo de ação não seriam os mesmos se as armas fossem apenas porretes – apesar de constarem aos montes no game.
Longe de lançar Mad Max em um poço de piche como algo sem serventia, esses defeitos podem incomodar, mas, de certa forma, reforça a ideia de que aguardar não seja uma má ideia, no fim. Atualmente, o game está em promoção na PSN BR e por pouco mais que uma pizza família com Coca-cola, é possível desbravar as Wastelands, sendo guiado pela força de um motor V8, jogando e se divertindo com uma boa história. Vale muito a pena.