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Dungeon Crawlers

Lenórienn, a majestosa cidade élfica. Tomada por monstros.
Os elfos, dizimados. Derrotados. Amargos. Loucos.
Um elfo que tenta esquecer tudo.
Uma humana que tenta aprender tudo.
Uma amiga leal.
Eles vão retornar à Cidade dos Elfos para desvendar seus segredos e, talvez, trazer esperança a esse povo.
Eles são rastejantes de masmorras. Dungeon crawlers.
Este álbum reúne todas as edições de Dungeon Crawlers, publicadas originalmente em 2004. Traz a história completa, além de mais de dez páginas de extras originais e exclusivos.                                           
Título: Dungeon Crawlers
Roteiro: Marcelo Cassaro / Arte: Daniel HDR
Editora: Jambô
Páginas: 112



E o Novembro Tormenta, um mês temático e especial no Multiverso X em que abordamos obras relacionadas ao cenário de RPG mais amado do Brasil continua e a minha dica de hoje é mais uma história em quadrinhos.
Dungeon Crawler foi originalmente publicado em banca, mensalmente em 4 edições no formato revista pela editora Mythos ao longo do ano de 2004 em pleno boom dos mangás no mercado brasileiro e tendo Holy Avenger como o grande expoente da produção nacional desta vertente de quadrinhos. Seu título é um jargão rpgista, um “rastejante de masmorra” nada mais é do que um aventureiro que explora túneis e cavernas derrotando monstros e conquistando tesouros.
Falando nisto, nesta mesma época ocorria uma mudança no mercado global de RPG com a recente chegada da 3ª Edição de Dungeons & Dragons e sua famosa Licença Aberta. Entre outras coisas esta edição praticamente abolia todas as restrições quanto a combinações de raças e classes (a carreira) para a criação de novos personagens pelos jogadores. Isso provocou um rompimento com os clichês mais tradicionais da fantasia e a expansão das possibilidades de jogo ao se combinar raças e classes em formatos únicos e até então inéditos: anões magos, elfos bárbaros, halflings monjes, orcs paladinos… A imaginação era o novo limite.
Reflexos desta mudança de postura no mais icônico e popular sistema de jogo inevitavelmente chegariam à Tormenta e viriam a inspirar algumas situações inesperadas vistas em Dungeon Crawlers. Cerca de nove anos depois, em 2013 a editora Jambô compila aquelas quatro edições num encadernado e anuncia o relançamento oficial para o FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos daquele mesmo ano em uma nova e esmerada edição e é dela que falarei agora.
Dungeon Crawlers conta a história de uma expedição ao remoto continente de Lamnor, cuja finalidade é alcançar a lendária e perdida Cidade dos Elfos, Lenórienn. A expedição é financiada pela ordem de clérigos de Tanna-Toh, a Deusa do Conhecimento e é comandada por Aurora uma clériga obstinada e disposta a descobrir tudo o que for possível sobre o antigo lar da raça élfica em Arton. Mas algo sai errado e o grupo de exploradores é atacado e dizimado. De sobreviventes sobram apenas Aurora e Brigandine, a sua amiga e fiel escudeira, embora ela também seja um pouco temerosa de tudo o que a cerca, chegando até a comprar uma armadura completa e um escudo enorme para se defender dos perigos. Elas acabam sendo salvas de outra ameaça enervante por Fren, um ranger elfo local. Elas o convencem a prosseguir com a missão e assim partem os três em busca de Lenórienn...
Boa parte da temática e do humor da história residem no conflito de personalidades experimentado por Fren e Aurora. O casal é o completo oposto um do outro em vários aspectos: seja pelos deuses que escolheram cultuar (Alihanna e Tanna-Toh), pela forma como conduzem suas próprias vidas (ele é displicente e ela sistemática) ou pelo modo como tomam decisões (ele é impulsivo e ela cautelosa) o que acaba propiciando momentos hilários realçadas por gags visuais e super deformed (SD) no melhor estilo dos animes japoneses. Brigandine é o elo de união do trio, mediando e intervindo nas discussões mais acaloradas e constantemente se vendo na obrigação de lembrá-los do perigo e da missão que ainda precisam cumprir.
Juntos, eles precisam aprender a conviver com estas diferenças individuais e a somar esforços para superar os desafios daquele continente selvagem, mantendo a esperança de que possam voltar de lá sãos e salvos. É uma típica história de aventura de fantasia temperada com muito bom humor.
O roteiro de Marcelo Cassaro apresenta uma ótima fluidez e exibe uma boa dose de talento ao trabalhar os conceitos duais dos personagens, não pecando na ambientação e no desenvolvimento da história. Como Dungeon Crawlers foi planejada para ser uma série curta alguns pormenores sobre os personagens terminam sem uma explicação, muitos deles envolvendo o passado deles mas isto não compromete a trama principal.
A arte apresenta um estilo bem próprio, um amálgama entre o comics e o mangá, tendo ficado a cargo de Daniel HDR, que na época já produzia trabalhos para o mercado norte-americano tendo inclusive sido responsável pela arte de uma adaptação em mangá da primeira temporada do anime Digimon. Destaque também para o trabalho de colorização de Ricardo Riamonde que realçou ainda mais a vertente anime da arte.
A edição mais recente da editora Jambô conta com diversos extras que enriquecem muito a experiência do leitor com a história inclusive com uma ótima entrevista com os autores conduzida por Vagner Abreu, redator do Estúdio Dínamo e integrante do podcast Argcast. Somam-se à entrevista esboços originais comentados pelos autores, um making of da nova arte de capa e uma galeria com artes do cenário de Tormenta relacionadas à história, incluindo todas capas originais das edições de banca. Só senti falta das histórias curtas ilustradas pela Erica Awano que vinham nas últimas páginas das edições originais e que mostravam um pouco mais do passado de alguns personagens importantes em Dungeon Crawlers, principalmente a princesa élfica Tanya. Contudo a nova edição supera em muito em qualidade gráfica as antigas, com direito a um formato maior, páginas internas em papel couché de alta qualidade e capa fosca em papel cartão mais firme e resistente.
A HQ não nega suas origens e constantemente faz referências a regras e a situações comumente experimentadas nas mesas de jogo e por isto, acredito que Dungeon Crawlers ganha um toque ainda mais especial para quem além de leitor é também um rpgista (e se este já estiver familiarizado com Arton então, melhor ainda!). Contudo é um quadrinho que pode ser lido mesmo por quem ainda não rolou os dados sem maiores problemas. Há uma excelente introdução sobre o mundo, seus deuses e uma contextualização sobre a ameaça da Aliança Negra e a queda da cidade élfica de Lenórienn. Para quem quer conhecer Arton sem o compromisso de embarcar numa “mega saga” como Holy Avenger, ou a trilogia de romances, Dungeon Crawlers é um ótimo aperitivo. A porta de entrada perfeita para a Arton tanto das HQs quanto a dos RPGs.