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Review | Holy Avenger - Edição Definitiva

Enfim! A maior saga dos quadrinhos brasileiros está completa — e na versão luxuosa que sempre mereceu.
Holy Avenger, uma saga épica de fantasia que ultrapassou 800 páginas. Com roteiro de Marcelo Cassaro (Turma da Mônica Jovem) e arte de Erica Awano (World of Warcraft), é um dos maiores quadrinhos brasileiros de todos os tempos. E agora está de volta, em edição definitiva.
Título: Holy Avenger - Edição Definitiva
Roteiro: Marcelo Cassaro / Arte: Erica Awano
Editora: Jambô
Conteúdo: 10 Capítulos/Edições por volume + Extras
Páginas: 240 por Volume


SKOOB: VOL. 1 - VOL. 2VOL. 3VOL. 4
LOJA RECOMENDADA: VOL. 1- VOL. 2VOL. 3VOL. 4 

Antes mesmo de Tormenta vir a ser lançado como cenário, na famosa edição comemorativa de número 50 da revista Dragão Brasil, Holy Avenger e alguns de seus personagens já haviam aparecido nas páginas da revista numa aventura de RPG dividida em três partes e publicada nas edições 44, 45 e 46 no longínquo final de 1998. Mal sabíamos o que ainda estava por vir e alguns meses depois, em Agosto de 1999, chegava as bancas a primeira edição de Holy Avenger. A proposta era ousada: levar mensalmente uma nova edição com cerca de 32 páginas de um quadrinho em estilo mangá totalmente produzido no Brasil com material extra voltado para RPG. Curioso reler a seção de cartas da revista nº1 e deparar com uma visionária citação do filme Matrix: “isso nunca foi tentado antes; é por isso que vai funcionar.” E funcionou!
A história começa com a chegada da druida Lisandra à cidade capital de Valkaria. Ela nasceu e cresceu na remota ilha selvagem de Galrasia e aquela era a primeira vez que saía de lá. Motivada por sonhos estranhos e recorrentes ela partira em busca de Galtran, um famoso ladrão, para que este a ajudasse a obter o Rubi da Virtude, uma gema sagrada muito poderosa. A ingenuidade da garota acaba por colocá-la em apuros na enorme metrópole e ela é salva da prisão por Sandro Galtran, o filho do Galtran que ela procurava e que almeja seguir os passos do seu pai embora ele aparente não ter o mesmo talento para ladinagem. 
Além de Lisandra e Sandro, outros dois personagens vão compor o grupo principal de aventureiros: Niele uma exuberante, carismática e poderosa maga elfa e Tork, um troglodita, (uma espécie de homem-lagarto) mercenário, baixinho, fedido e mal encarado. Estes últimos responsáveis pelas melhores gargalhadas que tive ao ler a história. 

A trama principal cresce muito em complexidade conforme vão se somando vários outros personagens, localidades e subtramas que incluem desde uma conspiração entre os membros do Panteão, como são conhecidos os vinte deuses maiores do mundo de Tormenta, até o desenlace de eventos ocorridos no passado recente de Arton dos quais participaram um outro grupo de aventureiros formado por Leon Galtran, o pai de Sandro e este sim o maior ladrão do Reinado, Lenora, uma guerreira elfa-do-mar, Vladslav Tpish, um erudito mago necromante, Luigi Sortudo, um bardo de talento excepcional, além do Paladino, que veio a se tornar o campeão supremo do bem e da justiça, o maior herói que Arton já vira. 
Entre tantas temáticas abordadas ao longo das mais de oitocentas páginas destacam-se a corrupção e a queda pelo poder, o fatalismo ao se aceitar um destino imposto, o crescimento e a superação pessoal além da descoberta do amor verdadeiro. Os conflitos experimentados por Lisandra em seus sonhos e na missão que ela se vê obrigada a cumprir, além do amadurecimento e das mudanças sofridas pela personagem do início ao fim, são o principal fio condutor da história. Onde isso tudo nos levará? Não sei. (na verdade até sei mas não vou contar... spoilers, oras!) Mas garanto que Holy Avenger é diversão e encanto do início ao fim! 
Holy Avenger foi originalmente publicada no período de 1999 à 2003 e ainda hoje é considerada uma das séries nacionais em quadrinhos mais longevas em banca, sendo ultrapassada apenas pelos quadrinhos da Turma da Mônica e do Judoka. Vale lembrar que este período coincidiu com um boom no mercado brasileiro de mangás, e Holy Avenger competia com títulos orientais de grande apelo tais como Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Samurai X recém chegados pelas editoras especializadas em mangás JBC e Conrad. 
O reconhecimento pela qualidade e sucesso vieram na forma de premiações. Holy Avenger ganhou o Troféu HQ MIX como melhor revista seriada por dois anos consecutivos (em 2001 e 2002) e recebeu a sexta colocação em 2007 na primeira edição do Prêmio Internacional de Mangá organizado pelo governo japonês. 

Após um longo período a série voltou às lojas especializadas e livrarias em 2012 agora em formato definitivo e com acabamento de luxo pela editora Jambô suprindo uma demanda tanto de antigos fãs que ansiavam ver todo o material original compilado quanto de novos que poderiam pela primeira vez colecionar e ler as aventuras de Lisandra, Sandro, Niele e Tork. 
Toda a série foi dividida em quatro volumes, todos em capa-dura, papel offset e formato maior. As ilustrações foram retrabalhadas, recebendo novas retículas feitas por Roberta Pares, Erica Horita e Rafael Françoi. As novas ilustrações das capas ficaram a cargo da própria Erica Awano com cores de Ricardo Riamonde. 
Como extras, as Edições Definitivas trazem em suas páginas finais trechos do especial A Arte de Holy Avenger, um artbook comemorativo lançado em 2003 com algumas ilustrações até então inéditas e depoimentos da equipe original. Além disso estão incluídas as tirinhas The Little Avengers e novos prefácios por Marcelo Cassaro, Erica Awano, J. M. Trevisan e Rogério Saladino. 
Tenho um apreço muito especial por Holy Avenger. Certamente foi uma das primeiras obras em estilo mangá com as quais tive contato. Seus personagens fizeram e ainda fazem parte da minha vida. Não são poucas as vezes em que me lembro das situações e temas vivenciados por eles, algumas boas e divertidas outras mais tensas e dramáticas. Holy Avenger também foi a responsável por me apresentar e me catapultar definitivamente para dentro do universo de Tormenta. A Arton que eu conhecia apenas das descrições nos primeiros suplementos de RPG ganhou vida e dinamicidade em suas páginas. Curiosamente a tempestade rubra que assola e dá nome ao cenário, a Tormenta, não aparece diretamente em Holy Avenger, só tendo sido explorada posteriormente na excelente trilogia de romances de Leonel Caldela. 

O roteiro de Marcelo Cassaro entrega o que promete, divertindo o leitor enquanto o prende num intrincado desenvolvimento até culminar num final, no mínimo, surpreendente. É notável a capacidade do roteirista ao trabalhar com múltiplas camadas da história que ora se alterna entre sonho e realidade, passado e presente, terreno e divino, criadores e criaturas e ainda consegue lidar com os temas universais e adultos citados acima, lado a lado com cenas cômicas divertidíssimas, além de incluir inúmeras referências à animes e mangás consagrados sem pecar em fluidez. 
Os traços leves, limpos e delicados de Erica Awano conferem uma atmosfera de encantamento e romantismo única nos quadros que transbordam beleza e inspiração. É de se admirar que nas entrelinhas do que nos é contado e oculto pela beleza enebriante da arte, escondam-se alguns dos segredos mais perturbadores de Arton. 
Mas não se assuste futuro leitor, Holy Avenger é tudo menos enfadonho de ler! É difícil se apegar a apenas um personagem, a grande maioria é bem explorada e exibe características que vão torná-los únicos inclusive os vilões! A história é bem dosada em velocidade e complexidade costurando boas doses de humor e drama realçados nas ilustrações da Erica Awano, que desenhou de tudo, exceto macacos (ou será que desenhou?)! 

A sinergia entre roteiro e arte vistas em Holy Avenger, fruto da bem sucedida parceria entre Marcelo Cassaro e Erica Awano, e que de forma tão fantástica deu vida e colorido a essa história, seria repetida futuramente em outra HQ: DBride - A Noiva do Dragão. 
Há alguns pequenos problemas na Edição Definitiva como erros de digitação e cortes em alguns balões que pareceram ficar fora da área de sangria da página. Mas estes são erros menores e que não comprometem de modo algum a experiência de leitura. A ausência das páginas iniciais coloridas dos originais também incomodou alguns fãs mais antigos, mas entendo que esta pode ter sido uma escolha de adequação ao estilo mangá. As edições 41 e 42 (extras publicados meses após o derradeiro encerramento ), e os especiais de cada personagem (Lisandra, Sandro, Niele, Tork e Petra), bem como algumas histórias curtas publicadas nas revistas Dragão Brasil, Defensores de Tóquio, Tormenta e Dragon Slayers também ficaram ausentes. Todo este material extra poderia vir a compor um quinto volume e faço coro para que isto aconteça. 
Até poderia, mas não quero evocar o ufanismo, as premiações, os personagens carismáticos, nem vou tecer mais comentários elogiosos à arte, ao roteiro e ao acabamento e nem insistir na importância histórica desta obra no mercado nacional. Então quer dizer que mesmo com tudo isso, você não vai recomendar Holy Avenger, Airechu? É claro que vou! Mas vou recomendar simplesmente porque eu gosto MUITO desta HQ e confio na capacidade dela de encantar novos leitores conquistando-os com tudo o que já enumerei acima e muito mais assim como um dia aconteceu comigo.