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#DesafioDos12: Leituras que marcaram 2019



Nada melhor que o primeiro dia do para retomar as postagens e resenhas via texto aqui no Multiverso X. Um novo início, mas ainda sim um feriado, então vamos começar respondendo um desafio. Quem acompanha o Multiverso X nas redes sociais já deve ter visto as respostas, mas aqui vou entrar com um pouco mais de detalhes em cada resposta.
O #DesafioDos12, ideia saída do grupo de parceiros da AVEC Editora, tem como sugestão principal falar sobre as suas doze melhores leituras do ano - não precisa ter uma ordem ou obedecer mês de leitura - ou que marcaram seu ano de leituras de alguma forma. Em 2019 alcancei minha meta a muito custo (terminei a ultima leitura pouco antes das 23h do dia 31), mas foi um ano que li bastante coisa diferente do meu habitual e me joguei mais em desafios com os amigos.
Minha lista ficou variada, mas para ser sincero, trapaceei, coloquei treze porquê não consigo separar dois dos títulos selecionados. São doze* leituras que mais me pegaram no ano, sem ordem de grandeza ou juízo de valor, e misturam livros, álbuns de quadrinhos e graphic novels.
Vamos às escolhas!

Uma das primeiras leituras do ano passado. Rápida, gostosa e pra lá de especial pra mim como nordestino, viajar por uma versão do sertão brasileiro com um tempero sobrenatural com toques cômicos como esse criado pela Paola. Mesmo sendo de uma capital, é impossível não se identificar com muitos dos pontos ali presentes e que fazem parte da sua vida, seja por experiência própria ou histórias de seus avós e parentes mais velhos.
Um livro que até pouco tempo atrás não estaria entre as minhas leituras. Nunca fui um leitor de romances, muito menos romances voltados ao público adolescente, mas que grata surpresa não foi quando a obra me pegou de um jeito que me fez ler a série inteira em uma tacada só. Essa foi uma leitura que ajudou a abrir meus horizontes, com toda certeza.
Chegou de mansinho, no final do ano, um livro que tive o prazer de conhecer o início como leitor beta, mas não sabia onde aquela história iria terminar. Quando recebi o livro, sentei, comecei a folhear e quando me dei conta já havia lido por completo e mal podia conter o meu sorriso quando terminei. Fico na torcida para o sucesso do Pedro e que venham mais em breve.
Já havia me apaixonado por aquele universo, personagens e pela escrita do Ian no volume anterior, Araruama: O Livro das Sementes e não sabia que era possível me apaixonar ainda mais. Espero que em 2020 consiga adiantar e publicar não apenas a terceira parte os demais restantes dessa saga magnifica.
Um retorno a Tormenta pelas mãos do Caldela é sempre algo potente. Gostando ou não dos rumos tomados na obra e cenário, é inegável a qualidade textual e a constante evolução do autor. Um dos melhores do ano!
Uma obra clássica que há muito me devia (por mim e pela grande amiga que me presentou). Uma obra forte, impactante e extremamente necessária. 
Tem como alguém que usa a mesma premissa - uma tripulação diversificada que viaja universos em uma nave - não curtir essa história? A Becky explora tanta coisa bacana e importante nessa jornada. Só leiam!
Outra grande história real em forma de Graphic Novel que precisa ser lida e conhecida por todos. Uma obra sobre luta contra segregação racial, sobre luta por direitos e sobre se posicionar.
Uma obra de arte profunda, com camadas e mais camadas, que me deixou embasbacado desde os textos de apresentação. Ao terminar, não tinha palavras, apenas pensava em compartilhar aquela história com as pessoas.
O ano das graphics de impacto não estaria completo sem ela (Alô Companhia das Letras, traga logo a parte dois). É incrível como a Emil conseguiu trabalhar uma enorme quantidade de temas, mantendo peso, em uma única obra.
Uma jornada incrível sobre a formação de um indivíduo. Sobre encontrar quem se é, mesmo quando tudo, até a sua genética e memórias dizem que você deveria ser outra pessoa.
Uma obra deliciosa criada por pai e filha que fazem qualquer um se identificar com uma pequena nerd jurássica.

E vocês, quais foram as leituras que marcaram o seu ano? Conta aí pra gente!

Multiverso X.:49 | Minha Coisa Favorita é Indicar Leituras


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Quase quebrados, mas ainda funcionando! A tripulação da Interlúdio - AceAirechu Hall-e  - recebe o Samuel Muca e Patrícia Souza do Boteco dos Versados para mais um episódio de indicações.
Ouça e saiba se androides sonham com ovelhas elétricas e o que novembro tem a ver com essa história; entre em um papo fantástico sobre diáspora, negritude, identificação e as mazelas do racismo; viaje no tempo, questione aquilo que vê e observe a fragilidade de um globo de neve; acompanhe uma garota que queria ser um monstro do cinema investigar a morte de sua vizinha e entenda porque o ser humano é o pior dos monstros.
Acompanhe-nos, estimado explorador de universos!

DURAÇÃO: 1 hora 20 Minutos 01 Segundos

ABORDADOS NO CAST:

Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, Philip K. Dick (Autor), Ronaldo Bressane (Tradutor) - COMPRE - SKOOB
O Caminho de Casa, Yaa Gyasi (Autor), Waldéa Barcellos (Tradutor) - COMPRE - SKOOB

Snowglobe, Fábio M. Barreto (Autor) - COMPRE - SKOOB
Minha Coisa Favorita é Monstro, Emil Ferris (Autor), Érico Assis (Tradutor) - COMPRE - SKOOB

Os NOSSOS CONVIDADOS:

Samuel Muca - Boteco dos Versados - @botecoversados - @samuelmuca_ - Skoob
Patrícia Souza - @Patysama2

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Multiverso X.:45 | Ócio Criativo, Caos e Indicações da Bad #Literatura


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Uma pausa nem sempre significa descanso, as vezes o puro caos do ócio dá origens a  processos produtivos pra lá de interessantes. Esse pode (ou não) ter sido o nosso caso, mas a Interlúdio volta a singrar universos em busca de boas histórias. A tripulação da Interlúdio - Ace, Airechu, Camila Loricchio e Hall-e  - recebe o Samuel Muca do Boteco dos Versados para mais um episódio de indicações.
Ouça e saiba como um viajante do tempo e alienígenas se relacionam com o bombardeio verídico de uma cidade alemã durante a IIª Guerra Mundial; entenda como o Brasil se tornou referência no futebol e a pesquisa profunda feita pelo PVC; viaje no humor e nos relatos tristes das páginas de Marjane Satrapi e entenda o que são os bordados das mulheres iranianas; acompanhe um difícil relato de um judeu sobrevivente do holocausto e entenda porque Maus é um dos mais importantes quadrinhos da história.
Acompanhe-nos, estimado explorador de universos!

DURAÇÃO: 1 hora 06 Minutos 54 Segundos

ABORDADOS NO CAST:

Matadouro Cinco, de Kurt Vonnegut: Skoob - Compre na Amazon
Escola Brasileira de de Futebol, de Paulo Vinicius Coelho: Skoob - Compre na Amazon
Bordados, de Marjane Satrapi: Skoob - Compre na Amazon
Maus, de Art Spielgman: Skoob - Compre na Amazon

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Samuel Muca (Boteco dos Versados) - Boteco dos Versados - @botecoversados - @samuelmuca_

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Garota-Ranho


Do mesmo criador do fenômeno Scott Pilgrim, Garotaranho é uma das séries mais ousadas, engraçadas e espertas dos quadrinhos atuais. Lottie Person é uma blogueira de moda que vive uma vida absolutamente incrível — ou pelo menos é o que ela quer que você acredite. A verdade é que sua alergia está fora de controle, seu nariz não para de escorrer, o namorado a trocou por uma garota mais nova e é possível que ele tenha cometido um homicídio. Este é o primeiro volume do sensacional Garotaranho, de Bryan Lee O'Malley, criador de Scott Pilgrim, e da desenhista Leslie Hung.

Título: Garota-Ranho
Título Original: Snotgirl Vol.1: Green Hair Don’t Care
Autores: Bryan Lee O’Malley, Leslie Hung, Mickey Quinn
Tradução: Érico Assis
Ilustrações: Leslie Hung, Mickey Quinn
Editora: Companhia das Letras / Quadrinhos na Cia
Ano: 2018 / Páginas: 136


Lottie Person é uma garota perfeita! Dona de uma beleza estonteante, de um bom gosto p/ moda e de um estilo impecável ela é uma blogueira famosa, influente e bastante popular na internet. Como uma digital influencer ela vive de divulgar produtos e serviços diversos p/ seu público de sabe-se lá quantos milhões de visitantes únicos mensais. Mas, assim como muitas pessoas, essa boa vida que ela ostenta na rede é uma fachada, apenas o lado positivo cheio de filtros e maquiagem do todo. Tudo em nome dos likes e dos views!
Na realidade Lottie é uma pessoa comum, que enfrenta problemas que prefere esconder de todos, alguns graves e outros nem tanto, mas que servem p/ colocá-la em diversas encrencas pelo fato dela ser uma figura pública. Um deles é a alergia severa que faz com que seu nariz escorra sem parar, outros envolvem todas as complicações duma rotina normal de uma jovem adulta, tais como os relacionamentos com o namorado e as amigas e a agenda lotada de compromissos profissionais. Este é o mote principal de Garota-Ranho, uma série em quadrinhos publicada mensalmente nos EUA, criação de Bryan Lee O’Malley, conhecido pela franquia Scott Pilgrim, e da desenhista Leslie Hung.
Lottie Person atravessa um período complicado da vida. Terminou um longo relacionamento e seu ex-namorado agora está saindo com Charlene, a sua primeira estagiária no blog de moda. Sua médica alergista de costume tirou férias repentinas e desapareceu, deixando todos os pacientes sob responsabilidade do Dr. Rick (Dick? wtf!), um médico pra dizer o mínimo muito suspeito. Ela toma medicação, mas nem sempre ela é suficiente p/ conter o nariz e isto é algo que ela ñ quer ver exposto na internet de jeito nenhum. Lottie se sente só, suas amigas parecem distantes e alheias aos seus problemas, mas ela sabe que isto tbm é um pouco por culpa dela, afinal uma celebridade da moda ñ pode se dar ao luxo de descer do salto né? Uma perspectiva de mudança surge quando ela conhece a misteriosa Caroline, outra blogueira de moda tão popular e bonita quanto ela, e que propõe que elas sejam amigas e passem a sair juntas.
Merece destaque o núcleo de coadjuvantes, essencialmente as amigas de Lottie, cada uma a priori um estereótipo reforçado ainda mais pela mania da blogueira de dar apelidos a todos. Aos poucos vamos percebendo nuances individuais e as verdadeiras pessoas por trás daquela distorcida primeira impressão. Temos a Cuttiegirl que é toda meiguice e fofura, a Normgirl, a garota mais comum de todas e que infelizmente está se metendo num relacionamento com um boy lixo daqueles. Charlene a ex-estagiária de Lottie e atual namorada do ex dela e que tem tudo para ser a arquirrival mais maligna de todas, mas será mesmo? Ainda temos um Delegato, ou melhor, o detetive John Cho do L.A.P.D., com um curioso background que o levou a carreira policial, mas que é fã da alta costura e tbm da nossa protagonista celebridade. Além da própria Caroline, a Coolgirl, cuja presença deixa todo ambiente a sua volta desconcertado… a tal ponto de Lottie ñ saber se ela está morta ou viva, mas se culpar de certa fatalidade desde o dia em que resolveu sair p/ tomar uns drinks a mais com ela. Para complicar ainda mais as coisas, Caroline sabe do problema de Lottie com a alergia e a apelidou de Garota-Ranho. Dá pra imaginar o estrago se isso vaza!?
A vaidade e o culto a beleza nos níveis aristocráticos de Dorian Gray e a vida de fama e glamour como uma fachada tal como a da top model Lilico de Helter Skelter ñ são uma novidade na literatura e nem nos quadrinhos, mas em Garota-Ranho essa crítica adquire um tom menos mordaz e fatalista e mais palatável e bem humorado. Quer queiramos ou ñ, nossa sociedade cultua, se interessa e é influenciada pelas celebridades e obras do tipo são importantes para nos lembrar de que acima de tudo estamos diante de pessoas que sentem, se ressentem e muitas vezes sofrem com a sua própria condição. Com as facilidades da tecnologia e com a sedutora promessa da fama a um clique de distância nas redes sociais ñ é exagero nenhum dizer que é fácil encontrar identificação com Lottie e a blogosfera que a cerca. Estabelecer um diálogo franco acerca disto, sobretudo com um público mais jovem, é talvez um dos maiores méritos deste quadrinho.
A edição nacional tem tradução de Érico Assis e foi publicada pela Companhia das Letras através de seu selo de quadrinhos, Quadrinhos na Cia em maio de 2018 com acabamento em brochura simples, capa em cartão e miolo em papel off-set de alta alvura. Ela reúne as 5 primeiras HQs mensais originais. Um segundo volume com a continuação da história ñ deve tardar já que a publicação em inglês se encontra atualmente em sua décima edição. Como extras este primeiro volume traz esboços diversos dos personagens e uma galeria com as artes de capa alternativas de cada uma das edições originais.
Garota-Ranho foi uma gratificante surpresa! Com um título inusitado e talvez até repulsivo, ela surpreende pelo tom leve, descontraído e nem um pouco asqueroso. A leitura é fluida, divertida e instigante, com todos os seus inúmeros mistérios ñ respondidos e um frescor jovial, seja pela temática pop, pelas referências a cultura digital ou no uso bem feito das gírias de internet. O traço de Leslie Hung, mistura harmoniosa de mangá com cartoon nas cores vibrantes e ousadas de Mickey Quinn é muito agradável de ler e tem uma estética bem própria com bastante personalidade. Recomendo p/ quem consome conteúdo de influencers na internet, ñ apenas de moda, já que boa parte do marketing viral é feito de forma similar, mas tbm p/ quem procura uma boa opção de entretenimento e altas doses de risadas e mistérios! Vc vai ler, se divertir e pedir mais!
Ps: as abreviações usadas nessa resenha foram intencionais, mas não sei falar em internetês tão bem quanto os xóvens descolados! :P

Como Falar com Garotas em Festas

Enn é um garoto de quinze anos que nunca se deu bem com as garotas, enquanto seu amigo Vic tem todas a seus pés. Na Londres dos anos 1970, auge do punk rock, os dois estão prestes a viver a aventura mais espetacular das suas vidas. Ao serem convidados para uma festa, conhecem as belas Stella, Triolet e Wain e descobrem mais segredos do que jamais poderiam supor. Do premiado Neil Gaiman, autor de Deuses americanos e Sandman, e adaptado e ilustrado de maneira extraordinária pelos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, Como Falar com Garotas em Festas é uma graphic novel eletrizante, uma jornada sobre as descobertas do amor, das diferenças e dos mistérios que cercam o amadurecimento.
Título: Como Falar com Garotas em Festas
Título Original: How To Talk With Girls At Parties
Autores: Neil Gaiman, Fábio Moon e Gabriel Bá
Tradução: Fábio Moon e Gabriel Bá
Ilustrações: Fábio Moon e Gabriel Bá
Editora: Companhia das Letras / Quadrinhos na Cia
Ano: 2017 / Páginas: 80

Um garoto tímido e seu amigo extrovertido, Enn e Vic, em busca de diversão numa festa cheia de belas garotas. Essa é a premissa básica de Como Falar com Garotas em Festas, história contada contada pelo próprio Enn que relembra como foi ir na festa mais estranha da sua vida, bem como o começo tímido da sua vida afetiva, quando ainda era um adolescente de quinze anos.
Meu primeiro contato com esta história foi através do conto, presente no primeiro volume da edição brasileira da coletânea Coisas Frágeis publicada pela Editora Conrad. Lembro-me de na época ter ficado fascinado com os rumos tomados por uma história aparentemente simples e pela sua mistura de real e fantástico dando cor e vivacidade à experiência narrada pelo seu protagonista.
O conto foi escrito por Gaiman após duas tentativas fracassadas de compor uma história que era para ser sobre um passeio turístico inusitado. Após perder o prazo de entrega do mesmo para uma antologia para a qual fora convidado por ter se enrolado com os elementos desconexos na trama que não conseguia fechar de jeito nenhum, Gaiman ficou mordido e acabou transformando a história em outra coisa completamente diferente. Na época do lançamento de O Oceano no Fim do Caminho, o conto chegou a ser disponibilizado gratuitamente em ebook como brinde por um curto período de tempo pela Intrínseca. Ele também deu origem a uma adaptação em longa metragem com estreia prevista para 2018, dirigida por John Cameron Mitchell, estrelando Elle Fanning, Alex Sharp, Nicole Kidman, Ruth Wilson, e Matt Lucas.
Mas falemos especificamente da adaptação para quadrinhos. Os irmãos Bá e Moon, quadrinistas brasileiros aclamados internacionalmente pela excelente graphic novel Daytripper, ainda estavam envoltos na produção da adaptação de Dois Irmãos de Milton Hatoun quando receberam o convite de Diana Schutz, editora da Dark Horse, para adaptar este conto de Gaiman. Eles aceitaram prontamente se puseram a trabalhar no material, concluindo o trabalho cerca de dois anos depois.
Em entrevistas, Bá e Moon contam que além da oportunidade irrecusável de trabalhar num material original de um autor cujo trabalho muito admiram, pesou também nesta decisão a identificação de ambos com a história. Fora os elementos fantásticos, eles contam que não eram o tipo de garotos que se davam bem nas festas, e que tal como Enn, eram acanhados e atrapalhados e estavam longe de ser populares entre elas. Contar essa história através dos quadrinhos, além de lhes permitir contar uma história sensível como as que gostam de trabalhar, seria também uma oportunidade de falar deles mesmos ali, tanto que o design final do protagonista se parece um pouco com os irmãos ainda que Gaiman também tenha enviado algumas fotos suas de adolescente para servirem de inspiração.
Na HQ a história mantém-se bem fiel ao conto, mesclando elementos de fantasia e ficção científica em sua trama. Enn e Vic a princípio não sabem onde é a festa em que estão indo e acabam indo parar por engano numa outra muito diferente da que esperavam. Enquanto Vic é bonito, charmoso e tem as garotas aos seus pés, Enn mal sabe como se aproximar delas pela timidez e ao contar ao amigo sobre seus temores recebe o conselho simples de que precisa apenas conversar com elas, afinal elas não são de outro planeta. Após chegarem a esta festa e se enturmar com algumas das garotas mais belas que já viram na vida, eles vão descobrir que talvez estivessem um pouco equivocados quanto a isto.
Meus trechos favoritos e os que considero os mais impressionantes são os diálogos das garotas, fico me perguntando como eu reagiria se estivesse na pele de Enn ouvindo o que elas têm a dizer sobre si mesmas e o lugar de onde vieram. Eles são e beiram a poesia, nos causam estranhamento como acordes musicais vibrando em frequências incomuns, nos encantam como versos e estrofes e nos levam a uma viagem cósmica surreal para além do que a imaginação é capaz de criar. A dificuldade de Enn para se aproximar das garotas e falar com elas é posta a prova dum modo que dizer que elas não são deste planeta não seria nenhum exagero ainda que eu desgoste ligeiramente deste tipo de afirmação. É possível notar também que algumas delas estão tão perdidas ali quanto Enn ainda que de uma maneira diferente, não sabendo como lidar com seus corpos, suas emoções e todo aquele ambiente. Para elas, “falar” com garotos também é uma novidade.
Estas primeiras tentativas dum adolescente buscando se relacionar com o outro são mostradas de forma positiva, convenhamos, nunca é tão fácil estabelecer contato, é preciso se aproximar, ter afinidades, se deixar envolver pelo outro e envolvê-lo mutuamente até, na melhor das hipóteses, se entregar definitivamente. Para Enn isso tudo se complica não apenas pela falta de experiência e timidez, não havia como ele saber com quem ou o quê estava lidando, Wain, Triolet e as demais garotas da festa não são garotas comuns, e ele em sua inocência e ingenuidade cegado pelos hormônios em ebulição não percebe isso até quase ser tarde demais...
A arte dos irmãos brasileiros tem um quê de cartunesco com seus personagens estilizados em formas esguias e belas, com forte predominância de uma paleta de cores mais quentes em aquarela. A quadrinização é simples, proporcionando uma experiência de leitura suave e sem alterações bruscas. Os cenários são simples e algumas vezes meramente sugeridos nos quadros dando maior destaque para as expressões faciais dos personagens nas cenas.
Ainda destaco a música e a poesia como elementos marcantes na narrativa, ambas embalam a festa e os diálogos dos personagens criando uma atmosfera que por si só já nos conta uma história a parte. Vale ouvir algumas das bandas citadas enquanto lê para entrar no clima da Londres dos anos 1970 vivendo o auge da popularidade do punk rock sobretudo entre os jovens e comparar com as bandas e músicas que faziam sucesso na mesma época entre os adultos. Sex Pistols, The Clash, Bowie, Kraftwerk e até Paul Young são citados diretamente por Enn ao descrever o ambiente em que acabou indo parar.
A edição nacional da graphic novel foi publicada pela Companhia das Letras através de seu selo de quadrinhos, Quadrinhos na Cia em agosto de 2017 com acabamento em brochura simples, capa em cartão e miolo em papel couche brilhante. Como extras a edição traz um Caderno de Rascunhos com esboços e ilustrações variadas do processo de produção: do esboço a lápis à colorização em aquarela.
Como Falar com Garotas em Festas vale muito a leitura mesmo para quem já a conhece através do conto. A adaptação para quadrinhos não peca em momento algum nem pela ausência e nem pelo excesso em relação ao original e funciona maravilhosamente bem também de forma independente. Bá e Moon conseguiram transpor para ela através da sua arte a mesma fluidez e encanto, o mesmo ritmo e cadência de palavras, além de todos os elementos visuais e etéreos tão charmosos e marcantes do conto surreal de Gaiman. De leitura fácil e rápida, ela talvez deixe passar ao leitor mais desatento algumas camadas mais profundas de significados e subjetividade, vale ler e reler, vale falar mais de uma vez com as garotas da festa em busca das metáforas e da poesia. Como Falar com Garotas em Festas é um pouco sobre encontrar-se e perder-se no outro, é um pouco sobre abrir-se ao desconhecido e se deixar modificar pela experiência, é sobre permitir-se viver, experimentar e ir além, é sobre tudo o que significa amadurecer e amar e para tanto, basta falar com elas. Recomendo!