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Castelo de Cartas (Trilogia das Cartas)

A Trilogia das Cartas é cercada de tensão, mistério e a conclusão da estreia de Camila Loricchio na literatura. Acompanhamos a jornada de Beatrice, uma garota que se viu envolta nos segredos de sua família, e agora toda sua história pode ser comprada em conjunto.

Castelo de Cartas - Valete:
Beatrice não se lembra de nada antes do incêndio que destruiu toda sua casa, mesmo assim, vivendo agora com sua nova família, ela começa a construir seu incerto futuro. Sem saber que aquele passado anterior cobrará seu conhecimento.
Castelo de Cartas - Dama:
Beatrice tenta se desvencilhar do destino que foi selado quatro anos antes, fugindo para a Europa. Lá conhece Nate, os gêmeos Bryan e Ryan e Jack, um garoto que encontram ensaguentado em uma viela. Com seus passos rastreados pelo Conselho, sua fuga parece infrutífera, mas sem saber despertaram o perigoso interesse de alguém que mantém todas as cartas na mão.
Castelo de Cartas - Rei:
Tensão, mistério e o tempo escorrendo como areia em uma ampulheta. Nesse último livro da Trilogia das Cartas começa a última e mais importante caçada da vida das personagens. Beatrice e Jack se encontram separados dos companheiros. Frentes de busca são formadas. O desespero permeia o ambiente enquanto o tempo se esvai e cada passo perdido pode selar um destino infeliz. Em Castelo de Cartas - Rei temos o aguardado desfecho da história; depois de 8 anos de escrita, a trilogia chega ao seu fim, e a jornada de Beatrice também.

Série: Castelo de Cartas: Trilogia das Cartas
Autora: Camila Loricchio
Títulos:
Valete - Skoob / Loja / 2011 / JAC Editora / 182 págs
Dama - Skoob / Loja / 2013 / Publicação Independente / 192 págs
Rei - Skoob / Loja / 2016 / Coletivo Editorial / 152 págs


Fatos estranhos não são incomuns na vida da jovem Beatrice. Quando ainda era uma criança ela se perdeu dos pais num incêndio que destruiu completamente a sua casa, sendo resgatada por Jeref que com sua esposa Dássia passou a criá-la como filha adotiva embora tenham mantido isso em segredo da menina. Beatrice sequer suspeita de que não seja filha biológica do casal Staten e que Griff não seja seu legítimo irmão mais velho. Para quem olha de fora no entanto, aquela não se parece em nada com uma família comum, algo de estranho parece rondar a relação entre pais e filha e o comportamento deles também não parece tão natural quanto o dos outros pais. Para Beatrice, que jamais conheceu outra vida, tudo parece transcorrer na mais perfeita normalidade, ela é criada com afeto e carinho, recebe atenção e cuidado e faz o que toda garota saudável da sua idade também faria. Seu único problema são as pílulas diárias que precisa tomar para não passar mal, algo até bem comum para alguns. Mas com a chegada da adolescência algo parece deixar seus pais ainda mais nervosos, eles se sentem pressionados a abrir o jogo com ela e a contar mais sobre as circunstâncias peculiares que a trouxeram ao seio daquela família. Um julgamento nada convencional foi marcado pelo Conselho e Beatrice é a ré.
A Trilogia das Cartas, série de livros de Camila Loricchio, escritora, designer e blogueira do Castelo de Cartas, conta essencialmente a história desta garota, da infância à juventude e vida adulta enquanto ela descobre que sua vida é muito mais do que jamais imaginou que poderia ser e que muitas pessoas influentes e perigosas se interessam genuinamente por ela. Mas por quê? O que tem ela de tão especial? Há alguma relação entre isto e o incêndio? E como ela vai lidar com tudo isso?
No primeiro livro, Valete, somos apresentados a uma Beatrice ainda criança, crescendo no seio da família Straten, da infância a adolescência, quando sua vida vai virar totalmente de ponta cabeça com uma descoberta acerca de si e de sua família que vai muito além da questão biológica e da descoberta de que é adotada. Logo ela se vê como centro de atenções e disputas de pessoas poderosas e influentes cuja existência para ela a priori era apenas fruto de ficção.
No segundo livro, Dama, encontramos uma Beatrice mais madura e independente lidando sozinha com as consequências da descoberta que fizera no volume anterior. Ela mudou-se para a Europa e com uma extravagante moto azul calcinha presta serviços ao misterioso Conselho, uma organização milenar e secreta que tem ramificações por todo o mundo. Aqui ela fará novos amigos, tão estranhos e misteriosos quanto ela e se colocará numa road trip por diversos países para tentar ajudar Jack, um garoto encontrado seriamente ferido e cuja única lembrança parece ser o nome de Ivan.
No terceiro e último livro, Rei, os diversos aliados, conhecidos e familiares de Beatrice formam diversos grupos de busca e investigação, pois o paradeiro dela é desconhecido. É o volume em que todas as pontas soltas são amarradas e no qual descobrimos tudo sobre todos os misteriosos personagens enredados nesta trama cujo ponto central é nossa curiosa protagonista.
Os livros foram publicados ao longo de cinco anos e começaram a ser escritos ainda na adolescência de Camila. O texto deixa transparecer o amadurecimento da autora neste período, é possível ver que nos últimos ela está mais segura das decisões que moldam a trama e o texto parece fluir com mais desenvoltura e sem amarras, ainda que no todo a trilogia mantenha toda a coerência com os primeiros escritos. Eles são estruturados em capítulos curtos, narrados em terceira pessoa por um narrador onisciente, mas que limita propositalmente sua consciência omitindo fatos do leitor para criar suspense, aumentando ainda mais o mistério sobre os personagens e a trama. O texto é ágil e de leitura fácil, sendo bem dosado em humor e com a presença de diálogos inventivos e críveis com alguns insights curiosos e gags divertidas de ler.
Gostei particularmente da jornada e das cenas de maior ação com um quê mais cinematográfico. O capítulo “Sutileza calibre 38”, no qual Beatrice e Nate se encontram pela primeira vez e que abre o segundo livro, além do título muito criativo me lembrou um pouco algumas cenas icônicas das obras de Quentin Tarantino. Fiquei imaginando como seria se a trama ganhasse contornos subitamente heroicos e as missões de Beatrice na Europa fossem menos burocráticas e mais voltadas para a ação desenfreada. Os julgamentos de Beatrice pelo Conselho tiveram um clima semelhante a Harry Potter, mostrando que por trás do véu da realidade mundana se escondem mundos inteiros organizados de forma totalmente independente, com regras próprias e totalmente além da compreensão das pessoas comuns, meros mortais como você e eu.
O elemento sobrenatural presente no livro é bem justificado e encontra respaldo no texto para ser retratado da forma que é, não chega a ser um tema novo, mas traz algumas nuances de originalidade que me deixaram intrigado e ávido por mais detalhes. Gostaria de ver mais das intrigas e até brigas entre os personagens membros do Conselho, mas acho que isso tiraria totalmente o foco de Beatrice e do elemento humano no livro, que aliás é o prato principal em toda a trilogia (sem trocadilhos, juro!)
Quanto aos personagens eles vão aparecendo de forma espontânea na trama e só aos poucos vamos sabendo mais sobre eles, alguns também escondem segredos, e quase todos têm interesses particulares que vão além do que é apresentado inicialmente. Apreciei demais a interação do grupo formado por Beatrice, Nate, Jack e os gêmeos Bryan e Ryan, que me lembraram muito um típico grupo em busca de aventura numa road trip. Todos se relacionam de alguma forma com o Conselho e ver como o destino pode às vezes juntar pessoas tão diferentes em prol de um objetivo comum é demais! Os pais de Beatrice me pareceram muito estranhos, seu irmão Griff me conquistou aos poucos com sua rebeldia, Amelié e Remy são, cada um a seu modo, perversamente sedutores, os gêmeos Ryan e Bryan são tão parecidos que os diálogos entre ambos podem ser confundidos facilmente com um monólogo e Nate, cujas semelhanças de sua história de vida com a de Beatrice levam ambos a uma aproximação explosivamente divertida de acompanhar!
É difícil falar da trilogia ou mesmo do primeiro livro sem entregar o plot principal e mais ainda aprofundar nos interesses que alguns dos antagonistas têm em Beatrice, mas espero que o pouco que contei aqui já te deixe no mínimo curioso! Minha pouca familiaridade com livros do gênero não permite que eu os avalie de forma melhor, senti um certo incômodo com o suspense criado, mas isso é mais uma dificuldade minha do que um demérito da obra, fico incomodado por não saber, ou por ter certeza de que não peguei algo importante e isto é minha perdição!
Essencialmente a trilogia é uma história sobre uma garota em crescimento tentando entender a si mesma e como se relacionar com o mundo e se já não é nada fácil sendo um mero mortal, imagine-se sendo alvo do interesse diverso de criaturas e organizações milenares que farão questão de ficar em seu encalço o tempo todo. Dentre os temas principais abordados no livro eu destaco a busca por autoconhecimento da protagonista, mas isso não é tudo, a forma como ela busca afirmar sua independência quando tudo já lhe parece definido é um motivador a mais também para nós. Apostas feitas, cartas dadas e a vida dela como prêmio. Convenhamos, é um cenário lamentável, mas Beatrice resolve virar o jogo a seu favor, ainda que desconheça boa parte das regras dele e isto a torna tão fascinante e capaz de conquistar nossa simpatia com tanta facilidade. De sobrevivente indefesa a mulher, eis aí talvez a maior jornada de Beatrice.
A Trilogia das Cartas foi uma leitura divertida e que me deixou intrigado com o mistério proposto e ansiando por mais da autora! É inegável o amadurecimento dela como autora que já demonstra um domínio para arquitetar tramas complexas, e apresentá-las de forma descomplicada enquanto faz um bom uso de temas comuns que nos aproximam fortemente de suas personagens, por quem logo passamos a nos preocupar e torcer! Se você gosta dos pequenos grandes dramas humanos com uma leve pegada de mistério sobrenatural, certamente vai apreciar ver certo castelo de cartas fragilmente erguido desmoronar aqui!