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Pequenos Deuses

"Só porque você consegue explicar não significa que não seja um milagre."
Religião é um assunto controverso em Discworld. Todo mundo tem sua própria opinião e até seus próprios deuses, que podem ser de todas as formas e tamanhos. Nesse ambiente tão competitivo, as divindades precisam marcar presença. E a melhor maneira de fazer isso certamente não é assumindo a forma de uma tartaruga. Nessas situações, você precisa, e rápido, de um assistente. De preferência alguém que não faça muitas perguntas...
"Esta sátira sobre a religião institucionalizada e corrompida sugere, com um humor ágil e intrigante, que o poder dos deuses talvez seja proporcional à crença de seus seguidores." - The Independent
"A inventividade espetacular de Terry Pratchett faz da série Discworld um prazer incessante na ficção moderna." - Mail on Sunday
Título: Pequenos Deuses
Série: Discworld - Livro 13
Autora: Terry Pratchett
Editora: Bertrand Brasil 
Número de Páginas: 308


Os deuses de Discworld mantém seu status de divindade graças a força da crença dos seus fiéis mortais. Assim, quanto mais fiéis fornecendo o combustível da crença mais força e poder este deus terá. Neste cenário, em que cada ovelha conta e que tudo depende da crença, existe uma verdadeira disputa entre estes deuses, sobretudo nos mais baixos escalões divinos. Não é incomum que deuses poderosos caiam no ostracismo por perderem seus fiéis e nem que deuses menores ascendam ao topo da hierarquia divina por ganhar notoriedade rapidamente.
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Pequenos Deuses é focado nestes aspectos religiosos de Discworld e trata justamente de uma destas súbitas mudanças. Om, o grande deus amplamente cultuado na metrópole de Omnia, ao tentar se materializar no Disco (já explico!) com a imponente forma de um touro, acaba surgindo como uma mísera lenta e vesga tartaruga e imediatamente se vê em apuros: tartarugas são alvos fáceis para as águias. Om escapa da morte (deuses podem morrer?) e acaba se encontrando com um de seus fiéis, Brutha, um noviço com uma carreira pouco promissora na Igreja de Omnia.
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Om agora precisa descobrir porque apenas Brutha é capaz de ouvi-lo, porque não consegue manisfestar seus poderes e resolver a sua atípica situação. Brutha não lhe parece muito inteligente à princípio e nem muito capaz, mas sem alternativas se convence de que vai precisar da ajuda dele. Juntos os dois ainda vão se envolver numa conspiração da alta cúpula da Igreja encabeçada pelo temível exquisidor Vorbis, chefe absoluto da Quisição, o que poderá levar toda a Omnia a uma guerra santa contra a cidade de Efebo...
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Ansiava por conhecer melhor o universo de Discworld desde que li sobre ele e a criatividade genial de seu autor nas páginas de antigas revistas de RPGs. Trata-se de um mundo de fantasia disposto num círculo plano, como um disco, sustentado por quatro grandes elefantes. Estes por sua vez ficam sob o casco de uma enorme tartaruga tal qual no antigo mito hindu. Discoworld é o cenário palco de mais de 40 livros escritos por Terry Pratchett ao longo de mais de trinta anos. Quando soube deste lançamento pela Bertrand Brasil pouco depois da morte do autor, resolvi que já era hora de me aventurar por lá. Pequenos Deuses é o 13º livro da série mas pode ser lido tranquilamente de forma independente dos demais. E já lhes adianto que a aventura vale a pena!
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O grande trunfo de Terry Pratchett é o tom satírico da sua narrativa. Nada escapa da crítica e da sátira inteligente do autor e neste aspecto ele me lembrou muito Douglas Adams. Já deve ter ficado evidente que a religião institucionalizada, na forma da igreja e da hierarquia, são os alvos principais, mas o autor vai além e esta lista também inclui as práticas religiosas cotidianas, o ateísmo, o comportamento de fiéis e deuses e até mesmo algumas correntes filosóficas.
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Lado a lado com esta crítica temos uma empolgante história nos melhores moldes aventurescos repleta de lugares e personagens fantásticos tendo no seu cerne o bom humor o que torna a leitura agradável e divertida.
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As dinâmicas e diálogos entre os personagens são muito bem explorados e apesar deles serem um pouco caricatos e estereotipados, são bem construídos e possuem motivações fortes. O protagonista Brutha é o que mais evolui durante toda a leitura. Sua fé cega e memória sobre humana são contrabalançadas pela sua ingenuidade e simplicidade e ele nos conquista de imediato. Vorbis, o superior encarregado da Quisição é inteligentemente perverso. Ele justifica sua obsessão em punir e controlar distorcendo a fé alheia e abusando de sua autoridade. É o típico antagonista desprezível e odiável. Om, o agora pequeno deus em forma de tartaruga, não se ressente de manipular Brutha para reacender como grande Deus mas na situação em que se encontra é obrigado a engolir a própria arrogância e muito do que consegue é nos arrancar algumas boas risadas. E ainda temos Nhumrod, Lu Tze, Didátilos e os demais filósofos de Efebo, o ateu Simony e tantos outros coadjuvantes igualmente interessantes. 
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A trama se alterna entre os diversos núcleos de personagens e, apesar de não ser dividida em capítulos, não perde o ritmo, mantendo-se interessante e divertida, prendendo a atenção do leitor até a conclusão.
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Preciso falar também do apelo visual da edição da Bertrand Brasil. A capa com letras douradas metálicas em alto relevo e com um destaque maior para a ilustração quando comparada aos outros títulos da série anteriormente publicados no Brasil pela editora Conrad ficou muito bonita e atrativa.
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Enfim, Pequenos Deuses é um livro estonteantemente divertido e gostoso de ler, com ingredientes certos para quem gosta de aventura, fantasia ou até mesmo uma ‘sutil’ crítica social. Uma ida a Discworld é altamente recomendada a todos, mas aconselho que se o fizer evite voar com as águias, ainda mais se você surgir por lá no casco de uma simples tartaruga.