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Uma Dobra no Tempo

Era uma noite escura e tempestuosa; a jovem Meg Murry e seu irmão mais novo, Charles Wallace, descem para fazer um lanche tardio quando recebem a visita de uma figura muito peculiar.
“Noites loucas são a minha glória”, diz a estranha misteriosa. “Foi só uma lufada que me pegou de jeito e me tirou da rota. Descansarei um pouco e seguirei meu rumo. Por falar em rumos, meu doce, saiba que o tesserato existe, sim.”
O que seria um tesserato? O pai de Meg bem andava experimentando com a quinta dimensão quando desapareceu misteriosamente... Agora, com a ajuda de três criaturas muito peculiares, chegou o momento de Meg, seu amigo Calvin e Charles Wallace partirem em uma jornada para resgatá-lo. Uma jornada perigosa pelo tempo e o espaço.
Uma dobra no tempo é uma aventura clássica, que serviu de inspiração para os mestres da fantasia e da ficção científica do mundo, agora adaptada para os cinemas pela Disney. Junte-se à família Murray nesta jornada, entre criaturas fantásticas e novos mundos jamais imaginados.
Título: Uma Dobra No Tempo - Uma Dobra No Tempo # 1
Título original: A Wrinkle in Time - Time Quintet #1
Autora: Madeleine L’Engle
Ano: 2017
Editora: Harper Collins
Páginas: 240


Tem gente que pensa que séries literárias são uma moda atual, mas na verdade elas estão aí faz um bom tempo. A série a qual falaremos hoje é um bom exemplo disso. Uma Dobra no Tempo chegou chamando atenção por conta do filme e a beleza das publicações ligadas a ela, para a maioria das pessoas se tratava de algo recente: mas não é! Qual não foi minha surpresa ao descobrir que se trata de algo lançado pela primeira vez 1962, mais de 50 anos atrás?
O livro conta a história de Margaret Murry, uma garota de 12 anos que enfrenta alguns problemas para se encaixar e se encontrar. Meg não se acha bonita como a mãe, embora lide bem com física e matemática de maneira avançada graças aos pais cientistas, tem dificuldades na escola e não consegue evitar confusões como seus irmãos Sandy e Dennys de 10 anos. Apenas o pequeno Charles Wallace, seu irmão mais novo, parece compreendê-la, pois Charles também é de certa forma um tanto quanto estranho. O garoto pequeno consegue compreender sentimentos das pessoas e praticamente antecipar o pensamento delas, além de ter um QI elevado. Ela teme que as coisas fossem ficar ruins para ele também quando começasse a estudar e conviver com outras crianças. Talvez as coisas estivessem melhores se seu pai, cientista a serviço do governo, não tivesse desaparecido.
Em uma noite de tempestade e insônia as coisas começam a mudar. Enquanto Meg, Charles e a mãe, se fazem um lanche na cozinha esperando a calmaria, surge a porta uma senhora no mínimo peculiar com uma estranha conversa. Tão estranho quanto isso é o fato de Charles Wallace a conhecer e parecerem íntimos. E tão misteriosamente quanto chega, a estranha senhora se vai, deixando no ar a confirmação de que o Tesserato, algo ligado a pesquisa de seu pai, é real e que dobras no tempo e espaço são possíveis.
Meg não consegue entender a conversa daquela mulher e muito menos esquecê-la. Na manhã seguinte, ao voltar da escola, a garota encontra o pequeno Charles Wallace esperando-a pois precisam imediatamente conversar com a Senhoras Quequeé, a mulher que conhecera na noite anterior, e suas amigas a Senhora Quem e Senhora Qual, que vivem na velha cabana na floresta. No caminho, os dois encontram Calvin O'Keefe, um garoto mais velho da escola de Meg, que assim como Charles Wallace parece ter habilidades estranhas e sentiu que devia estar ali.
O trio se une, mesmo sem entender muito bem a situação, e são incumbidos pelas estranhas senhoras da missão de viajar pelo universo para resgatar o desaparecido Sr. Murry e deter o avanço da Coisa Escura, um grande mal que corrompe e destrói os mundos que passa. E assim, como uma louca viagem sem explicação é que aventura desse destemido trio começa. Através de planetas, estrelas, tempo e espaço.
Uma Dobra no Tempo é livro que causa na gente um misto de sentimentos, principalmente se trazemos para leitura um olhar enviesado e acostumados com obras atuais. É preciso entender que trata-se de uma obra infanto-juvenil de mais de 50 anos carregada de conceitos fantásticos e encantados, até mesmo para poder aproveitá-la devidamente. O livro se propõe a ser uma grande aventura sobre crianças, para crianças. Isso fica claro no discurso da autora ao ganhar a Medalha Newbery, encontrado nos extras do livro, onde fala sobre a imaginação infantil e o distanciamento dessa inocência que existe nos adultos.
Embora não justifique, coisas como essas ajudam a explicar determinadas situações presentes na obra que podem ser incomodas para alguns leitores, como a falta de explicações mais aprofundada das coisas que são o que são, porque simplesmente são. Confuso? Pois é exatamente assim que muita coisa é em Uma Dobra no Tempo, e de forma alguma significa que a obra é ruim.
Madeleine L’Engle trabalha muito bem conceitos de ficção científica e fantasia para criar uma aventura interessante carregada de mensagens positivas importantes, e faz isso utilizando-se de uma linguagem simples e clara, para entregar uma narrativa ágil, envolvente e divertida em doze capítulos. Contudo algumas descrições podem ser um tanto confusas, e algumas resposta um tanto quanto vagas.
As personagens, embora por vezes até irritantes, aos poucos se desenvolvem, mostrando facetas interessantes e deixando evidentes as características que as diferenciam, apesar de não haver um maior aprofundamento em muitos deles. O que é uma pena, já que muitos personagens fantásticos, curiosos e cativantes são apresentados na trama, tal qual as três senhoras e o próprio Charles Wallace. O mesmo vale para a ambientação.
Em algumas resenhas por aí, a questão da obra ser ou não de cunho cristão é debatido, por isso acho importante entrar nessa questão. No texto anexo da edição da Harper Collins de Uma Dobra no Tempo a própria neta da autora, ao falar sobre uma espécie de perseguição a obra e comparar com o que houve com Harry Potter, cita o caráter cristão presente na série. Essa influência é evidente durante os questionamentos, ensinamentos e elementos utilizados. Nada no texto se porta como doutrinação como cheguei a ler em outras resenhas, e não diminui em nada as características de fantasia e ficção científica aqui presentes. Pelo contrário! Funcionam muito bem juntos, assim como em As Crônicas de Nárnia.
Não que eu acredite que exista algo que precise ser dito sobre as edições da série lançadas pela Harper Collins Brasil, afinal sua qualidade e beleza são visíveis mesmo a distância, mas... Nossa Senhora! É muito difícil não se encantar com o trabalho feito por eles desde as capas e o acabamento, aos detalhes internos das divisões de capítulos e diagramação. Além disso esta edição traz os já citados discurso de agradecimento da autora pela medalha Newbery e um posfácio que narra a trajetória de escrita e publicação da obra, escrito por uma de suas netas. Ambos nos ajudam a compreender e absorver melhor o conteúdo do livro e o enriquecem.
Uma Dobra no Tempo é com certeza uma aventura mágica e despretensiosa, com mensagens relevantes e conceitos extraordinários, daquelas que deixam com o famoso gostinho de quero mais, embora não seja perfeita e agrade a todos os gostos. Além, é claro, de conter um grande valor histórico atrelado a ela e as razões que a tornam um clássico do gênero. 
Não posso negar que ao fim da leitura, me vi envolvido e convidado a seguir com a série para acompanhar e entender mais este universo e seus personagens.