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Muitas Águas


É preciso acreditar em certas coisas para poder vê-las!
Sandy e Dennys, os gêmeos da família Murry, sempre foram práticos, realistas e nunca prestaram muita atenção às conversas dos pais cientistas sobre coisas altamente teóricas como tesseratos e farândolas. Mas, após um acidente no laboratório do sr. e da sra. Murry, algo acontece com eles que desafia drasticamente suas capacidades de crer no impossível. Com um desastre à vista, será que os gêmeos conseguirão encontrar uma maneira de voltar à realidade?


Título: Muitas Águas - Uma Dobra No Tempo #4
Título original: Many Waters - Time Quintet #4
Autora: Madeleine L’Engle

Tradução: Érico Assis
Ano: 2018
Editora: Harper Collins
Páginas: 320


As vezes é preciso dar um passo atrás para se conseguir avançar. Após Um Planeta em Seu Giro Veloz, a autora Madeleine L’Engle retorna para mais uma aventura dos Murry, não exatamente trazendo uma sequência cronológica, mas entregando a sua obra mais fluida e madura até então.
Depois de acompanharmos três volumes de aventuras da mais velha e o mais novo dos irmãos MurryMeg Charles Wallace - chegou a vez dos gêmeos Sandy e Dennys viverem a sua. A história acontece alguns anos antes dos eventos narrados no terceiro volume, no fim de um inverno longo e frio. Após voltarem para casa esfomeados de um treino hóquei e encontrarem a casa vazia, os gêmeos adolescentes decidem que não vão esperar até a hora do jantar.
Os irmãos invadem o laboratório cientifico dos pais e apenas ao sair se dão conta que interromperam um experimento em andamento. Como consequência, os gêmeos são lançado em uma viagem até um passado onde Manticoras, Grifos, Serafins, Nefilins, Mamutes, Unicórnios desafiam a racionalidade e o ceticismo. Neste deserto sem fim,  precisam reaprender a acreditar caso queiram sobreviver e voltar para casa.
Se afastando ainda mais dos jargões científicos e da narrativa truncada dos primeiros volumes, Madeleine L’Engle consegue se renovar outra vez e entregar aquele que até o momento conseguiu ser o livro mais palatável da série.
Se em Um Planeta em Seu Giro Veloz a autora apresentou uma trama mais madura sem abandonar a fantasia e espiritualidade comuns a série, dessa vez ela resolveu abraçar de vez esses conceitos para levar o leitor para redescobrir uma história bastante conhecida: a história de Noé. Ter escolhido justamente os mais céticos, e até então, pouco utilizados dos Murry é o que torna a jornada mais interessante.
Apesar do mergulho na fantasia e nos termos bíblicos, a linguagem do texto é simples e clara, e entrega uma narrativa mais ágil e envolvente ainda que a de seus antecessores. As tecnicidades científicas que exigiam do leitor uma maior atenção aos detalhes dão lugar a uma narrativa mais sutil e poética, embora seu véu de mistério continue e algumas falhas se mantenham. Nem tudo é, e nem tem a intenção de ser explicado.
A autora explorada muito bem os gêmeos e demais personagens conseguindo no decorrer da trama abordar o amadurecimento e autodescoberta da individualidade dos protagonistas adolescentes, diferentes relações e até dialogar sobre amor livre de forma breve. Existem no texto diversas questões que continuam atuais e relevantes, e apesar de não se aprofundar nas questões, Madeleine L’Engle sutilmente planta a semente da reflexão no leitor.
É importante frisar mais uma vez que apesar de o quarto volume da série Uma Dobra no Tempo, Muitas Águas se encaixa na linha do tempo antes dos acontecimentos do terceiro volume. Essa informação não interfere em nada no aproveitamento da leitura pois cada aventura é independente, mas caso prefira ler em ordem cronológica saiba como fazer da maneira correta.
Mantendo o costume, vale ressaltar que a edição da Harper Collins Brasil mantém seu padrão de qualidade e beleza, desde a capas e aos mínimos detalhes do acabamento, arte interna das divisões de capítulos e diagramação. A beleza salta aos olhos e praticamente vendem a obra ao primeiro contato.
A clareza e leveza de Muitas Águas trazem para ele uma larga vantagem relação a seus antecessores, conseguindo trazer boas reflexões e uma aventura envolvente sem os entraves menores que permeavam a série. Ao fim da leitura, me vi ansioso pelo fechamento do ciclo e a derradeira aventura dos Murry, e curioso para saber as demais obras da autora desembarcarão também por aqui. 

Um Planeta em Seu Giro Veloz


Um unicórnio, um menino e o vento, juntos em uma só velocidade!
Quando Charles Wallace Murry, agora com quinze anos, grita em desespero a invocação de uma antiga runa para afastar a escuridão, uma criatura radiante aparece. É Gaudior, unicórnio e viajante do tempo. Charles Wallace e Gaudior devem viajar até o passado através dos ventos do tempo e tentar encontrar um Pode-Ter-Sido, um momento do passado em que todos os eventos que se seguiram até o presente podem ser mudados, e o futuro da Terra – esse pequeno planeta em seu giro veloz – pode ser salvo.

Título: Um Planeta em Seu Giro Veloz - Uma Dobra No Tempo #3
Título original: A Swiftly Tilting Planet - Time Quintet #3
Autora: Madeleine L’Engle
Ano: 2018
Editora: Harper Collins
Páginas: 272


Após trabalhar com conceitos de ruptura espacial para longas distâncias e relativizar sobre as dimensões e grandezas do universo, Madeleine L’Engle nos transporta através dos não mais dos Ondes, mas dos Quandos, ao romper abarreira do tempo na nova aventura dos Murry. 
Cerca de 10 anos depois dos eventos de um Um Vento à Porta, voltamos encontrar aqueles personagens que conhecemos, porém obviamente algumas coisas mudaram nesse tempo. Meg Murry já não é mais uma garotinha, a adolescência já a deixou a algum tempo e as dúvidas dessa fase também. Agora é uma mulher segura de si, casada com Calvin O'Keefe e está nas últimas semanas de gestação de sua primeira gravidez. Assim como seus irmãos Sandy e Dennys, agora na faculdade, Meg está de volta ao lar para o jantar de Ação de Graças com a família; como seu marido está em Londres para apresentar um seminário, sua sogra irá ao jantar também.
É durante a reunião que o Sr. Murry recebe um telefonema do presidente dos Estados Unidos avisando-o sobre um possível ataque nuclear e o que era pra ser uma noite tranquila se torna uma noite de apreensão. Haverá um mundo amanhã para a criança de Meg nascer?
No que depender do jovem Charles Wallace Murry, agora com 15 anos, seu sobrinho ou sobrinha irá nascer com saúde em mundo sem problemas. Após receber da Sra. O'Keefe a runa de São Patrício capaz de afastar a escuridão, o garoto encontra o unicórdio Guadior e juntos devem viajar no tempo para mudar os rumos da história ao encontrar o Pode-Ter-Sido.
Como de praxe, uma louca viagem quase sem explicação tem início. Para impedir esse grande mal, será preciso superar suas limitações, reforçar suas conexões e aprender que uma mínima ação é capaz de mudar todo o futuro.
Com um ar renovado e um pouco menos confuso, Um Planeta em Seu Giro Veloz, apresenta uma trama mais madura que seus antecessores, trazendo um clima tenso e sombrio, mas sem abandonar a fantasia e espiritualidade comuns a série.
Por sinal, apesar de trabalhar com a temática de viagens no tempo, Madeleine L’Engle abraça muito mais o seu lado fantástico para conduzir sua narrativa do que o científico, mesmo o principal conflito da obra sendo a possibilidade de um extermínio fruto de um ataque nuclear. Como um padrão, a linguagem do texto se mantém simples e clara, e mais uma vez entrega uma narrativa ágil e envolvente. Porém, apesar de todo avanço técnico da autora, ainda se faz necessário o máximo de atenção aos detalhes para não se perder entre as explicações mirabolantes e também na falta delas. Nem tudo é, e nem tem a intenção de ser explicado. 
A obra se mostra mais madura também no trabalho com ambientação e personagens, acrescentando um pouco mais de detalhes, mesmo que rapidamente, sobre os coadjuvantes. Mesmo distantes, a ligação entre Meg e Charles Wallace é muito bem explorada através de recursos fundamentais para o desenvolvimento da trama, fazendo-os se ora personagens ativos ora passivos acompanhando os diversos passados e seus personagens. A escolha por vezes torna o protagonismo dos Murry um pouco diluído, mais valoriza a trama em sua variedade de pontos de vista e mistérios.
A influência do momento histórico em que vivia a autora, visto de forma mais sutil e indireta nos volumes anteriores, aqui é referenciado de forma mais direta com a situação que gera o conflito principal. É fácil traçar paralelos com o clima de tensão da guerra fria e a crise dos misseis de Cuba, e entender um pouco melhor a importância das mensagens de esperança presentes na obra mesmo frente a tempos nebulosos. 
Para não perder o cortume, vale ressaltar que a edição da Harper Collins Brasil mantém seu padrão de qualidade e beleza, desde a capas e aos mínimos detalhes do acabamento, arte interna das divisões de capítulos e diagramação. A beleza salta aos olhos e praticamente vendem a obra ao primeiro contato.
Um Planeta em Seu Giro Veloz é um salto em relação a seus antecessores, consegue adicionar um pouco mais de peso a aventura mágica dos Murry, sem esquecer do cerne carregado de mensagens relevantes e conceitos extraordinários. Ao fim, é bem provável que assim como eu, o leitor se veja curioso com os novos rumos que as aventuras tomam, e se sinta empolgado a conhecer os outros volumes dessa série. 

Um Vento À Porta

Charles Wallace está em perigo. E o mundo todo também.
Quando a família Murry pensava que os problemas haviam terminado, um novo desafio surge. Charles Wallace agora tem seis anos de idade e na escola o menino se tornou um problema. Sofrendo bullying constante, Meg acha que o novo diretor da escola deveria ser responsável pelo menino, mas Charles Wallace fica terrivelmente doente antes que ela possa ajudá-lo.
Mas há algo estranho acontecendo. Charles Wallace diz a Meg que há dragões no quintal de casa e ela descobre que os dragões na verdade são Proginoskes, querubins feitos de asas, vento e chamas. E mais uma vez este é só o começo de uma nova aventura, onde Meg e seu amigo Calvin precisam correr contra o tempo para salvar seu irmãozinho. E, para fazer isso, eles devem partir em uma viagem para dentro do corpo do menino e lutar para restaurar a brilhante harmonia do universo.
Junte-se a Meg, Calvin e Charles Wallace nesta nova aventura repleta de seres incomuns, mundos novos e muitos heróis que precisam ultrapassar seus medos para salvar o mundo!
Título: Um Vento À Porta - Uma Dobra No Tempo #2
Título original: A Wind in the Door - Time Quintet #2
Autora: Madeleine L’Engle
Ano: 2018
Editora: Harper Collins
Páginas: 224


Os Murry estão de volta em um livro tão confuso, complexo e encantador quanto o anterior. Não há porque começar de outra forma ou tentar negar algo que, ao que tudo indica, é intrínseco a série. Acredite, isso não é nem de longe um problema, principalmente se entendidas todas as questões ligadas a essas obras. Eu explico melhor adiante.
A trama narrada em Um Vento à Porta nos traz para a vida de Margaret Murry um ano após os eventos narrados em Uma Dobra no Tempo. Agora com 13 anos, Meg já não enfrenta todos aqueles problemas para se encaixar e se encontrar, as dificuldades na escola estão menores e agora ela tem a companhia de Calvin O'Keefe lhe dando mais firmeza, porém uma coisa ainda a preocupa: o pequeno Charles Wallace, seu irmão mais novo.
Agora na escola, Charles Wallace anda enfrentando alguns problemas. Ser um garoto de QI elevado no meio de uma pequena escola em uma comunidade rural não o ajuda, ainda mais quando até os professores não entendem bem suas histórias sobre células, mitocôndrias e farandolas. O garoto é alvo constante de bullying e ninguém parece se importar com aquilo tanto quanto Meg, que culpa a direção da escola e sua não intervenção. Além de tudo isso, Charles vem apresentando sinais de cansaço repentinos que vem deixando sua mãe preocupada.
Enquanto tenta provar para a irmã que os dragões que viu no quintal não são fruto de sua imaginação ou doença alguma, Charles, Meg e Calvin se deparam com coisas ainda mais surpreendentes. Em primeiro lugar os dragões são na verdade um Querubim feito de asas e chamas chamado Proginoskes que está aqui para aprender e ajudá-los. Segundo, seres malignos chamados Ectroi estão colocando em risco todo o universo, e deixando Charles Wallace doente. 
E assim, mais uma vez, como uma louca viagem quase sem explicação, a aventura desse destemido trio começa. Para impedir esse grande mal, será preciso superar suas limitações e aprender que a grandeza do universo reside até mesmo das menores partes de uma célula. Mesmo que essa célula esteja dentro de Charles Wallace...
É muito difícil falar sobre Um Vento à Porta sem repetir algumas coisas que foram ditas na resenha de Uma Dobra no Tempo. É evidente um amadurecimento na narrativa da autora e na forma de trabalhar seus conceitos, mas ainda é necessário entender que trata-se de uma obra carregada de fantasia, encantos e um ar infantil - não que isso o torne menos complexo - até mesmo para poder aproveitá-la devidamente. 
Novamente, Madeleine L’Engle trabalha bem conceitos científicos e os mescla com a fantasia e a espiritualidade durante a narrativa para criar uma aventura interessante e trazer mensagens positivas importantes para os jovens. Algo que reforça o ar de fábula moderna à série. A linguagem do texto é simples e clara, e mais uma vez entrega uma narrativa ágil e, apesar de alguns percalços, envolvente. Contudo, por mais evidente que o avanço técnico da autora esteja, algumas descrições permanecem confusas e demandam atenção maior, e a falta de explicações mais aprofundadas de algumas questões ainda incomoda. 
A ambientação ganhe mais atenção, L'engle foge do macro para o micro e acerta ao encarar o mundano e ao reforçar que o fantástico e científico na sua criação de mundo. As personagens principais mostram aqui um pouco mais de desenvolvimento e exploram suas características de forma que evidencie sua evolução sem perder a essência, para bem ou para o mal. E não se assuste se não encontrar alguns dos personagens presentes em Uma Dobra no Tempo. Apesar de comporem uma série e trazerem os Murry como protagonistas, cada história tem a intenção de ser independente com uma aventura fechada em si, apresentado todos seus elementos fundamentais e permitindo inclusive que leitura possa ser feita em qualquer ordem.
Porém acredito que o grande trunfo da obra, bem como da série, não resida na trama e nem mesmo em seus elementos base, mas sim nas mensagens e ensinamentos presentes na narrativa e a forma sensível a qual são trabalhados. Lições sobre o respeito a individualidade alheia, sobre a importância da união para qualquer progresso, sobre o amor ao próximo e o diálogo com resposta primária e não como uma opção destacável frente a qualquer conflito mínimo. Lições que trazer excelentes reflexões sobre o ser humano e mundo em que vivemos.
A edições da Harper Collins Brasil mantém seu padrão de qualidade e beleza desde a capas e aos mínimos detalhes do acabamento, arte interna das divisões de capítulos e diagramação.A beleza salta aos olhos e praticamente vendem a obra ao primeiro contato.
No somar dos pontos, Um Vento à Porta sai com um saldo positivo e executa com sucesso a tarefa de entregar, assim como seu antecessor, uma aventura mágica e despretensiosa, repleta de mensagens relevantes e conceitos extraordinários. Assim, mais uma vez, me vi envolvido e convidado a seguir com leitura da série para acompanhar e entender mais este universo e seus personagens. 

Uma Dobra no Tempo

Era uma noite escura e tempestuosa; a jovem Meg Murry e seu irmão mais novo, Charles Wallace, descem para fazer um lanche tardio quando recebem a visita de uma figura muito peculiar.
“Noites loucas são a minha glória”, diz a estranha misteriosa. “Foi só uma lufada que me pegou de jeito e me tirou da rota. Descansarei um pouco e seguirei meu rumo. Por falar em rumos, meu doce, saiba que o tesserato existe, sim.”
O que seria um tesserato? O pai de Meg bem andava experimentando com a quinta dimensão quando desapareceu misteriosamente... Agora, com a ajuda de três criaturas muito peculiares, chegou o momento de Meg, seu amigo Calvin e Charles Wallace partirem em uma jornada para resgatá-lo. Uma jornada perigosa pelo tempo e o espaço.
Uma dobra no tempo é uma aventura clássica, que serviu de inspiração para os mestres da fantasia e da ficção científica do mundo, agora adaptada para os cinemas pela Disney. Junte-se à família Murray nesta jornada, entre criaturas fantásticas e novos mundos jamais imaginados.
Título: Uma Dobra No Tempo - Uma Dobra No Tempo # 1
Título original: A Wrinkle in Time - Time Quintet #1
Autora: Madeleine L’Engle
Ano: 2017
Editora: Harper Collins
Páginas: 240


Tem gente que pensa que séries literárias são uma moda atual, mas na verdade elas estão aí faz um bom tempo. A série a qual falaremos hoje é um bom exemplo disso. Uma Dobra no Tempo chegou chamando atenção por conta do filme e a beleza das publicações ligadas a ela, para a maioria das pessoas se tratava de algo recente: mas não é! Qual não foi minha surpresa ao descobrir que se trata de algo lançado pela primeira vez 1962, mais de 50 anos atrás?
O livro conta a história de Margaret Murry, uma garota de 12 anos que enfrenta alguns problemas para se encaixar e se encontrar. Meg não se acha bonita como a mãe, embora lide bem com física e matemática de maneira avançada graças aos pais cientistas, tem dificuldades na escola e não consegue evitar confusões como seus irmãos Sandy e Dennys de 10 anos. Apenas o pequeno Charles Wallace, seu irmão mais novo, parece compreendê-la, pois Charles também é de certa forma um tanto quanto estranho. O garoto pequeno consegue compreender sentimentos das pessoas e praticamente antecipar o pensamento delas, além de ter um QI elevado. Ela teme que as coisas fossem ficar ruins para ele também quando começasse a estudar e conviver com outras crianças. Talvez as coisas estivessem melhores se seu pai, cientista a serviço do governo, não tivesse desaparecido.
Em uma noite de tempestade e insônia as coisas começam a mudar. Enquanto Meg, Charles e a mãe, se fazem um lanche na cozinha esperando a calmaria, surge a porta uma senhora no mínimo peculiar com uma estranha conversa. Tão estranho quanto isso é o fato de Charles Wallace a conhecer e parecerem íntimos. E tão misteriosamente quanto chega, a estranha senhora se vai, deixando no ar a confirmação de que o Tesserato, algo ligado a pesquisa de seu pai, é real e que dobras no tempo e espaço são possíveis.
Meg não consegue entender a conversa daquela mulher e muito menos esquecê-la. Na manhã seguinte, ao voltar da escola, a garota encontra o pequeno Charles Wallace esperando-a pois precisam imediatamente conversar com a Senhoras Quequeé, a mulher que conhecera na noite anterior, e suas amigas a Senhora Quem e Senhora Qual, que vivem na velha cabana na floresta. No caminho, os dois encontram Calvin O'Keefe, um garoto mais velho da escola de Meg, que assim como Charles Wallace parece ter habilidades estranhas e sentiu que devia estar ali.
O trio se une, mesmo sem entender muito bem a situação, e são incumbidos pelas estranhas senhoras da missão de viajar pelo universo para resgatar o desaparecido Sr. Murry e deter o avanço da Coisa Escura, um grande mal que corrompe e destrói os mundos que passa. E assim, como uma louca viagem sem explicação é que aventura desse destemido trio começa. Através de planetas, estrelas, tempo e espaço.
Uma Dobra no Tempo é livro que causa na gente um misto de sentimentos, principalmente se trazemos para leitura um olhar enviesado e acostumados com obras atuais. É preciso entender que trata-se de uma obra infanto-juvenil de mais de 50 anos carregada de conceitos fantásticos e encantados, até mesmo para poder aproveitá-la devidamente. O livro se propõe a ser uma grande aventura sobre crianças, para crianças. Isso fica claro no discurso da autora ao ganhar a Medalha Newbery, encontrado nos extras do livro, onde fala sobre a imaginação infantil e o distanciamento dessa inocência que existe nos adultos.
Embora não justifique, coisas como essas ajudam a explicar determinadas situações presentes na obra que podem ser incomodas para alguns leitores, como a falta de explicações mais aprofundada das coisas que são o que são, porque simplesmente são. Confuso? Pois é exatamente assim que muita coisa é em Uma Dobra no Tempo, e de forma alguma significa que a obra é ruim.
Madeleine L’Engle trabalha muito bem conceitos de ficção científica e fantasia para criar uma aventura interessante carregada de mensagens positivas importantes, e faz isso utilizando-se de uma linguagem simples e clara, para entregar uma narrativa ágil, envolvente e divertida em doze capítulos. Contudo algumas descrições podem ser um tanto confusas, e algumas resposta um tanto quanto vagas.
As personagens, embora por vezes até irritantes, aos poucos se desenvolvem, mostrando facetas interessantes e deixando evidentes as características que as diferenciam, apesar de não haver um maior aprofundamento em muitos deles. O que é uma pena, já que muitos personagens fantásticos, curiosos e cativantes são apresentados na trama, tal qual as três senhoras e o próprio Charles Wallace. O mesmo vale para a ambientação.
Em algumas resenhas por aí, a questão da obra ser ou não de cunho cristão é debatido, por isso acho importante entrar nessa questão. No texto anexo da edição da Harper Collins de Uma Dobra no Tempo a própria neta da autora, ao falar sobre uma espécie de perseguição a obra e comparar com o que houve com Harry Potter, cita o caráter cristão presente na série. Essa influência é evidente durante os questionamentos, ensinamentos e elementos utilizados. Nada no texto se porta como doutrinação como cheguei a ler em outras resenhas, e não diminui em nada as características de fantasia e ficção científica aqui presentes. Pelo contrário! Funcionam muito bem juntos, assim como em As Crônicas de Nárnia.
Não que eu acredite que exista algo que precise ser dito sobre as edições da série lançadas pela Harper Collins Brasil, afinal sua qualidade e beleza são visíveis mesmo a distância, mas... Nossa Senhora! É muito difícil não se encantar com o trabalho feito por eles desde as capas e o acabamento, aos detalhes internos das divisões de capítulos e diagramação. Além disso esta edição traz os já citados discurso de agradecimento da autora pela medalha Newbery e um posfácio que narra a trajetória de escrita e publicação da obra, escrito por uma de suas netas. Ambos nos ajudam a compreender e absorver melhor o conteúdo do livro e o enriquecem.
Uma Dobra no Tempo é com certeza uma aventura mágica e despretensiosa, com mensagens relevantes e conceitos extraordinários, daquelas que deixam com o famoso gostinho de quero mais, embora não seja perfeita e agrade a todos os gostos. Além, é claro, de conter um grande valor histórico atrelado a ela e as razões que a tornam um clássico do gênero. 
Não posso negar que ao fim da leitura, me vi envolvido e convidado a seguir com a série para acompanhar e entender mais este universo e seus personagens.