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Andy Warhol



Em Andy Warhol, Arthur C. Danto nos oferece um breve mas profundo relato das transformações pessoais, artísticas e filosóficas que marcaram a obra do criador da pop art. Professor emérito da Columbia University, Danto parte das conquistas de Warhol para elaborar uma nova interpretação filosófica sobre a revolução artística da primeira metade dos anos 60. Em tom informal e divertido, Danto considera que as experiências de Warhol marcam um passo final na história da arte e explica por que e como o artista se tornou um verdadeiro ícone cultural nos Estados Unidos.


Título: Andy Warhol
Autor: Arthur C. Danto
Tradução: Vera Pereira
Editora: Cosac Naify
Ano: 2012 / Número de Páginas: 208

A Arte, e tudo que esta palavra engloba, é um universo fascinante e cada vez mais tem me despertado o interesse. É possível entender toda uma época histórica e uma sociedade, seus anseios, emoções e formas de ver o mundo e a si própria através da análise da sua produção cultural. De certo modo, isto já é algo que sempre procuro fazer com a literatura, a música e o cinema, mas a ideia agora é buscar mais dessas informações em outras formas de expressão artísticas, sobretudo a pintura e a escultura. Esta resenha é um primeiro passo tímido neste novo universo e antes de prosseguir é preciso dizer que esta é apenas uma primeira impressão de um leigo muito curioso e nada mais.
Um dos movimentos mais curiosos, entre os inúmeros que existem e podem ser estudados individualmente dentro do abrangente escopo da História da Arte, é o da Pop art, surgido na década de 1950 e alcançando plena maturidade na década seguinte. A Pop art rompe com as definições de arte tradicionais através de suas obras fortemente inspiradas na cultura popular cada vez mais massificada  do sistema capitalista, sendo uma precursora do pós-modernismo no ocidente. Para tanto ela se valia do uso de objetos de consumo existentes na época, retrabalhando seus elementos estéticos das mais diversas e criativas formas. As cores eram saturadas, os objetos produzidos em escalas ou muito maiores ou muito menores do que o comum, quadrinhos populares e anúncios publicitários eram retrabalhados para serem expostos em galerias etc. A Pop art buscava o imediato reconhecimento pelos apreciadores através do uso destes elementos comuns ao cotidiano de qualquer pessoa, era um espelho dos anseios de consumo da sociedade e também um tipo de arte amplamente acessível, mas cuja crítica focada justamente nisto não deixava de estar presente. Pode-se afirmar que a Pop art literalmente bebia da cultura pop para compor suas peças.
Uma das figuras centrais deste movimento nos Estados Unidos foi Andy Warhol, que explorou em suas criações alguns dos maiores mitos da cultura popular norte-americana, tanto da música quando do cinema. Nomes como Michael Jackson, Elvis Presley, Elizabeth Taylor, Brigitte Bardot, Marlon Brando e, claro, Marilyn Monroe foram retratados por ele com uma técnica que reproduzia inúmeras imagens repetidas, de forma mecânica tal como numa linha de produção fabril. Com isto, Andy buscava demonstrar o quanto estas personalidades públicas eram figuras impessoais e vazias idealizadas coletivamente pela massa que as consumia. Do mesmo modo, demonstrou a mesma impessoalidade presente também nos objetos produzidos para consumo em massa, são extremamente famosas as suas serigrafias das garrafas de Coca-Cola e as suas latas de sopa Campbell. Enquanto personificava o próprio sonho americano, Andy explorou e criticou a América idealizada, expandindo o significado da arte e acarretando uma revolução artística que o transformaria num dos maiores ícones culturais de sua época.

Neste livro, o filósofo e crítico de arte Arthur C. Danto, um fã confesso de Warhol, que conhecera durante a exposição das famosas caixas de sabão em pó Brillo, em 1964, busca recapitular toda esta trajetória de Warhol com uma análise não tão aprofundada desta sua transformação em mito. O autor foi um dos principais responsáveis pelo crescimento do culto acadêmico em torno do artista nos anos 1970 ao escrever ensaios engenhosos e provocadores identificando nas obras de Warhol sinais de uma mudança de paradigma na História da Arte e dedicara boa parte da sua vida a estudar o fenômeno da arte pop e seu impacto na própria filosofia da arte.
Originalmente produzido para a coleção Icons of America da Yale University Press, dirigida ao leitor comum e portanto com uma linguagem bastante acessível, o livro foi traduzido por Vera Pereira e publicado no Brasil pela Cosac Naify. Ele traz uma capa em papel cartonado revestida com fitas adesivas ao invés da impressão tradicional, no que acredito ser uma referência à fascinação de Warhol pelas caixas de papelão de supermercados. Internamente o corpo do texto é todo em azul e graficamente não há mais o que destacar a não ser um muito bem vindo índice remissivo. Senti falta de imagens e reproduções das obras de Warhol para ilustrar o que estava sendo comentado no texto, mas nada que uma rápida busca na internet não resolva.
Assim, Andy Warhol de Arthur C. Danto oferece uma boa introdução para quem almeja conhecer um pouco mais sobre a Pop art e a sua relação intrínseca com a cultura pop focando obviamente naquele que é um de seus maiores expoentes, com ricas curiosidades biográficas e análises filosóficas acessíveis sobre arte e sociedade num texto leve, informal e divertido. Além disso o autor se debruça sobre as principais peças artísticas de Andy Warhol, desde a vitrine da Bonwit Teller, passando pelas icônicas latas de sopa Campbell, as Brillo Boxes e os retratos de celebridades, até os filmes e a produção cinematográfica underground da Nova York dos anos 1960 e os momentos finais de Andy na Andy Warhol Enterprises, comentando os bastidores de produção, as propostas, a repercussão crítica e o olhar analítico dos dias de hoje sobre a influência e importância das mesmas. Tratados inteiros foram escritos na busca da definição de arte, com Andy eles tiveram que ser revistos e uma nova filosofia da arte fez-se necessária para assimilar suas produções. Merece destaque este trecho de Edmund White:

“Andy pegou uma a uma as definições da palavra arte e as contestou. A arte revela o rastro da mão do artista: Andy recorreu à serigrafia. Uma obra de arte é um objeto único: Andy produziu múltiplos. Um pintor pinta: Andy fez filmes. Arte e trabalho comercial de finalidade utilitária se distinguem: Andy especializou-se em pintar latas de sopa Campbell e notas de dólar. A pintura se contrapõe à fotografia: Andy reciclou fotos instantâneas. Uma obra de arte é o que um pintor assina, prova de sua escolha criativa, de suas intenções: Andy assinava qualquer objeto. A arte é uma expressão da personalidade do artista congruente com seu discurso: Andy mandou um sósia em seu lugar numa turnê de palestras.”
Me fascina muito a forma como Andy Warhol e a sua arte se aproximam do cotidiano e do comum com suas peças tão facilmente reconhecíveis por qualquer pessoa, ao mesmo tempo em que ele expôs de forma até então nunca vista e pensada a nossa própria cultura capitalista massificada e repetitiva. O fato é que nunca mais vou olhar para uma prateleira de supermercados simétrica e ordenada da mesma forma, ainda que, pelo que é discutido no livro, elas não sejam arte em si. Se você se interessa minimamente por estes temas, este livro pode ser, assim como foi para mim, um pequeno passo em busca de mais!