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Review | O Oitavo Mago


Desde que eu descobri a existência desse mundo criado por Terry Pratchett venho querendo conhecer cada vez mais de seus absurdos, contradições, humor nonsense, personagens peculiares e é claro as divertidas aventuras épicas que o autor relata. Essa foi minha terceira viagem pelo Discworld, portanto foi fácil embarcar e comprar as ideias que o autor foi incluído sobre o funcionamento dessa que é a única terra plana possível.
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Logo no inicio somos introduzidos ao preceito de que todo o oitavo filho de um oitavo filho é sempre um mago e ainda que o oitavo filho de um oitavo filho de um oitavo filho é sempre um “fonticeiro”: alguém com poderes incomparáveis que não apenas poderia acabar com o mundo mas também com a própria realidade.
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Munidos dessa informação, somos apresentados ao grande “fonticeiro” Coin que chega inesperadamente à Universidade Invisível (Local que o autor utiliza para satirizar e criticar, de forma bem humorada, tanto a academia quanto a instituição da igreja) e choca todos os magos ao desafiar o arqui-reitor para um duelo mágico. Em um primeiro momento todos duvidam de Coin, a final de contas ele é apenas um garoto, cujo pai, o mago Ipslore, tinha sido expulso da Universidade Invisível por ter se apaixonado. Magos não deveriam se apaixonar e nem ter filhos, todas as suas energias deveriam estar concentradas na magia e não em constituir uma família, e - claramente - isso não tem nenhuma relação com o fato de que se magos tiverem filhos aumentam as chances de nascer um “fonticeiro”.
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Ipslore, o pai de Coin, se ressentia de ter sido expulso da Universidade Invisível, então no momento de sua morte, (Aqui faço um parênteses para destacar um dos melhores personagens de série: o Morte. E para explicar que sempre que um mago morre o Morte tem que ir pessoalmente buscá-lo.) Ipslore faz uma profecia e consegue fugir do Morte prendendo sua consciência ao seu bastão de octirona (material essencialmente mágico) que seria herdado por seu filho para efetuar sua vingança no devido tempo.
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Além de acompanharmos a jornada de Coin, temos de volta aquele que é o melhor pior mago do Discworld: Rincewind. O mago, que protagonizou as duas aventuras anteriores que eu li, se junta a uma equipe improvável composta por: O chapéu do Arqui-reitor (que me lembrou muito do chapéu seletor de Hogwarts); Nijel, o Destruidor, um adolescente desajeitado e aspirante a herói bárbaro; Conina, a cabeleireira que você não gostaria que cortasse seus cabelos; a boa e velha bagagem -que está em meio a uma crise existencial- e Creosoto, claramente uma parodia do rei Salomão. Juntos pelo acaso eles tentam, uns mais e outros menos, deter Coin e salvar o dia do ameaçador e caótico apocalipse.
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Muitos dos elementos dessa historia chamam a atenção por lembrarem o relato do livro Belas Maldições, que foi lançado no ano seguinte e escrito em parceria com Neil Gaiman. Qualquer um que conheça a historia escrita a quatro mãos, seja pelo livro ou pela incrível adaptação da Amazon Prime, vai perceber como algumas ideias e acontecimentos apresentados em O Oitavo Mago parecem se repetir: os quatro cavaleiros do apocalipse, um garotinho que tem o poder de causar o fim do mundo e até mesmo a forma como as coisas se resolvem no fim (sem spoilers por aqui), todos esses elementos parecem ser um ensaio para o que estava por vir no ano seguinte.
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Apesar de ter gostado bastante da historia e ter tido uma leitura muito agradável, confesso que não desbancou minhas duas leituras anteriores do Sr. Pratchett. Sendo assim não é a minha primeira opção de indicação para um aventureiro iniciante embarcar nessa jornada pelo Discworld. Acredito que começar pelo primeiro livro da série, A Cor da Magia, seja uma melhor opção. No entanto, é um fato que os livros são bastante independentes entre si e podem ser lidos tranquilamente fora da ordem cronológica de publicação (com exceção de A Luz Fantástica, que deveria ser lido após A Cor da Magia). Então finalizo esse texto contradizendo o que acabo de dizer: se tiver O Oitavo Mago dando sopa por aí não perca a oportunidade de conhecer essa historia, dar umas risadas e se encantar com a escrita do autor.

Resenha escrita por Simone Souza . Siga no twitter: @sih_souz


Título: O Oitavo Mago 
Título Original: Sourcery
Autor: Terry Pratchett
Editora: Conrad
Ano: 2003 | Gênero: Fantasia


Deuses Americanos

Deuses Americanos, o melhor e mais ambicioso romance de Neil Gaiman, é uma viagem assustadora, estranha e alucinógena que envolve um profundo exame do espírito americano. Gaiman ataca desde a violenta investida da era da informação até o significado da morte, mantendo seu estilo picante de enredo e a narrativa perspicaz adotados desde Sandman.
Neil Gaiman oferece uma perspectiva de fora para dentro - e, ao mesmo tempo, de dentro para fora - da alma e espiritualidade dos Estados Unidos e do povo americano: suas obsessões por dinheiro e poder, a miscigenada herança religiosa e suas consequências sociais, e as decisões milenares que eles enfrentam sobre o que é real e o que não é.
Título: Deuses Americanos
Título Original: American Gods
Editora: Conrad
Autor: Neil Gaiman
Tradução: Ana Ban
Número de páginas: 448 / Ano: 2011 (3ª edição)

Apesar de ter sido um dos primeiros livros do Neil Gaiman que comprei, pouco após entrar em contato com algumas de suas outras obras, Deuses Americanos sempre me soou um tanto intimidador e esperei muito para finalmente lê-lo. Frequentemente citado como obra prima do autor e descrito como uma profusão de referencias mitológicas, sempre achei que seria um livro ligeiramente desafiador, adulto e denso. Ele é um pouco disto tudo sim, mas confesso que esperava bem mais dele.
Deuses Americanos é o quarto romance de Neil Gaiman e mistura fantasia urbana com vertentes de mitologias antigas e modernas, bebendo de muitos dos temas e conceitos já utilizados pelo autor em suas obras anteriores, sobretudo Sandman. A trama é centralizada na figura de Shadow, que está prestes a sair da prisão após ter cumprido uma pena de três anos. Com a morte de sua esposa num trágico acidente de carro, ele é liberado uma semana antes do esperado e a partir daí sua vida começa a sofrer uma série de estranhos infortúnios que vão desde descobrir que ela o traía com seu melhor amigo, quanto a de que não possui mais um lar, nem uma vaga de emprego com a qual contava para refazer a sua vida.
O palco da história são os Estados Unidos. Gaiman explora a relação desta nação com os muitos deuses trazidos e criados em seu território. Há tanto aqueles que chegaram na bagagem de crenças dos primeiros emigrantes vindos do velho continente e que viam na América uma terra de novas oportunidades, quanto aqueles surgidos a partir do desenvolvimento econômico, tecnológico e social da nação norte-americana ao longo da sua História. Deuses de panteões clássicos, gregos, nórdicos, celtas, dividem espaço com os novatos oriundos da cultura de massa, da mídia, das drogas e da informática.
Um conceito bastante usado quando se quer explicar de onde vêm o poder dos deuses é o de que ele deriva e depende diretamente da fé daqueles que neles acreditam, oram e por eles se sacrificam. Assim, quanto mais fiés um deus tiver, maior será o seu poder e esta é uma das premissas básicas do universo de Deuses Americanos. O dinamismo e as particularidades da sua formação e história, fizeram surgir nos EUA incontáveis deuses que representam os mais diversos aspectos. Como a fé é um recurso limitado, o conflito entre os deuses modernos e os antigos, cujo poder diminui cada vez mais e precisam se virar com migalhas do que um dia foram, é inevitável.
É neste contexto que Shadow e nós conhecemos Wednesday, um destes velhos deuses que está reunindo um exército de aliados para uma guerra épica eminente entre estas duas facções divinas. Ele contrata Shadow como seu guarda-costas particular e a priori sua função é auxiliar Wednesday tanto nas viagens que ele está empreendendo para encontrar os velhos deuses quanto nas abordagens que terá de fazer para convencê-los a ficar do seu lado nesta disputa.
Gaiman tem uma habilidade incrível para criar personagens fascinantes! Além de Shadow e Wednesday, destaco Laura Moon, a namorada de Shadow que descobrimos estar morta logo nas primeiras páginas do livro, mas que por algum motivo se recusa a permanecer assim e acaba tendo um papel decisivo na trama, além de mostrar facetas para mim até então inéditas do além vida. Entre os Deuses, destaco os do panteão egípcio, os senhores Ibis e Jaquel donos de um negócio funerário, Easter, a deusa germânica da madrugada (mas eu sempre pensei que fosse da Páscoa) residente em São Francisco e Bilquis uma deusa cujo apetite insaciável me deixou perplexo! Entre os novos deuses, o garoto gordinho da informática e Media, a deusa das mídias, sobretudo a televisão são os exemplos mais proeminentes. Os humanos comuns também tem seus momentos de brilho! Achei fascinantes os típicos habitantes da pequena Lakeside, onde Shadow permaneceu escondido por algum tempo durante o inverno.
Se há algum ponto negativo, ouso dizer que seja a falta de urgência na trama. Embora sempre tenha algo interessante acontecendo, não há muita linearidade entre os eventos e a trama principal é conduzida de forma vagarosa. A inserção de flashbacks com histórias da chegada dos deuses antigos ao continente americano, e de histórias paralelas de outros deuses no presente, apesar de serem muito interessantes e trazerem alguns dos conceitos que o autor busca trabalhar no arco principal, quebram o ritmo da narrativa. Penso se não seriam melhor apresentados como contos avulsos ao invés de partes integrantes dos capítulos principais. No mais não é necessário entender muito de mitologia para avançar na leitura, embora o livro seja repleto de referências a elas, que o leitor mais atento ou curioso ficará fascinado de descobrir e pesquisar mais, no geral tudo que é preciso para entender o livro, está contido nele.
Shadow nos transporta para este mundo oculto das divindades, é através dele que cruzamos o véu e passamos a enxergar estas criaturas fruto da nossa devoção, sacrifício e crença. Esta é uma característica bastante comum nos livros do Gaiman. Seus protagonistas, quase sempre pessoa comuns e sem nada de especial a não ser eles mesmos, são o meio pelo qual experimentamos a fantasia e o sobrenatural. E é aqui que ele peca, pois há pouco de protagonismo nestes personagens, eles são levados por uma sucessão de eventos mas interferem de forma pouco ativa e os conflitos que experimentam não convencem tanto, talvez pela falta de uma personalidade mais forte. É o mesmo problema que tive com Richard Mayhew protagonista de Lugar Nenhum, ainda que no caso de Shadow a apatia se justifique pelo conturbado momento no qual encontramos o personagem.
O livro foi originalmente publicado em 2001, recebendo em 2011, pela comemoração do décimo aniversário de publicação, uma nova versão com capítulos extras. No Brasil a única edição disponível até então era a original, publicada aqui pela editora Conrad. Contudo, a Intrínseca anunciou que publicará em Outubro uma nova edição, com a versão do texto preferida do autor, trazendo além dos capítulos expandidos, artigos, uma entrevista com Gaiman e um novo texto de introdução. Vale mencionar também que o romance venceu os prêmios Hugo e Nebula na categoria de Melhor Romance em 2002, além de ter recebido comentários muito positivos da crítica na época do seu lançamento e que atualmente se encontra em fase de produção um seriado adaptando-o para a TV.
Costumo dizer que nunca pego um livro do Neil Gaiman para ler com baixas expectativas e com este não foi diferente mas acredito que isso possa ter prejudicado minha experiência de leitura pois esperava mais do romance que é exaltado como a obra prima do autor e sinceramente, queria ter gostado muito mais dele. Mas vale a leitura? Vale! Claro! Só foi um pouco mais arrastada do que eu esperava e do que já conhecia de outros livros dele, mas ainda assim o contato com aquelas mitologias, as aventuras de Shadow tentando se encontrar, as presenças marcantes dos coadjuvantes humanos ou não, a surpresa daquele desfecho e toda a jornada e road trip pelos Estados Unidos e sua cultura me divertiram e entreteram bastante. Além disto destaco a forma como a ideia de que somos os humanos que detemos o poder tanto de criar quanto de destruir deuses foi trabalhada no livro, compondo um sistema de crença extremamente interessante e digno de reflexões mais aprofundadas. Para quem já é fã do autor, Deuses Americanos continua um livro indispensável, para quem ainda não é eu recomendaria outros, mas este também traz alguns dos aspectos que tornaram Gaiman o ícone pop e um dos mais celebrados autores contemporâneos e pode também ser um bom pretexto para conhecê-lo.


Lugar Nenhum






Em 'Lugar Nenhum' Neil Gaiman conta a história de Richard Mayhew, um jovem escocês que vive uma vida normal em Londres. Tem um bom emprego e vai se casar com a mulher ideal. Uma noite, porém, ele encontra na rua uma misteriosa garota ferida e decide socorrê-la. Depois disso, parecer ter se tornado invisível para todas as outras pessoas. As poucas que notam sua presença não conseguem lembrar exatamente quem ele é. Sem emprego, noiva ou apartamento, é como se Richard não existisse mais. Pelo menos não nessa Londres. Sim, porque existe uma outra - a Londres-de-Baixo. Constituída de uma espécie de labirinto subterrâneo, entre canais de esgoto e estações de metrô abandonadas, essa outra Londres é povoada por monstros, monges, assassinos, nobres, párias e decaídos - e é para lá que Richard vai.
Título Original: Neverwhere
Autor: Neil Gaiman
Páginas: 335
Ano: 2010
Editora: Conrad


Neil Gaiman é famosíssimo pela sua capacidade de criar histórias fantásticas, povoadas de personagens e criaturas igualmente interessantes além de sua narrativa dinâmica e por vezes onírica. Em Lugar Nenhum - romance originalmente concebido como roteiro para uma série de televisão - temos exatamente isto!
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Lugar Nenhum conta a história de Richard Mayhew, um escocês prestes a se casar e que leva uma vida relativamente comum morando em Londres. Quando ele salva uma garota de ser assassinada sua vida dá uma guinada: ele é esquecido e fica invisível como um fantasma para todos aqueles que outrora compartilhavam da sua rotina. Richard passa então a vagar por uma outra Londres, um lugar oculto e misterioso e que também é o lar de Door, a garota que salvara. Sem alternativas ele decide ajudá-la a descobrir o mistério que cerca o assassinato da sua família ao mesmo tempo em que tenta encontrar um meio de retornar à sua vida normal, indo cada vez mais fundo nos subterrâneos da Londres de Baixo.
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Narrado em terceira pessoa, é um livro rápido e intenso, alternando as cenas entre um grupo e outro de personagens enquanto exploramos com eles estas duas Londres. É repleto de cenas de ação e perseguição e diálogos inteligentes, além de ter um ótimo clímax e um final inusitado que surpreendeu-me positivamente.
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Contudo, não considero Lugar Nenhum o melhor livro do Neil Gaiman entre os que li. Não consegui me apegar ao protagonista, que na maior parte da história apenas é levado de um lado a outro pelo desenrolar da trama, sem maior destaque até o final. Esperava mais dele. Mas não posso culpá-lo. Quem diante das mesmas situações peculiares também não ficaria tão perplexo e boquiaberto?
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Ao contrário de Richard Mayhew, os coadjuvantes são vívidos e coloridos, roubando a cena a todo instante. Temos uma Door obstinada em descobrir quem teria matado a sua família, Hunter e sua devoção em caçar as melhores presas, um irônico Marquês De Carabas com suas inúmeras trocas de favores, o povo falante de ratês, os macabros e assustadores senhores Vandemar e Croup com seus diálogos elaborados e tantos outros.
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Por fim, não poderia deixar de citar também a cidade palco da história, a Londres de Baixo, que com seu ar fantástico e sobrenatural em certos momentos da narrativa parece ganhar vida própria. Faça-a uma visita e aposto que ficará tentado a viver por lá também.