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Review | O Aprendiz de Assassino (A Saga do Assassino vol. 1)

Se tudo o que eu tivesse feito na vida fosse nascer e ser descoberto, ainda assim teria deixado uma marca em toda aquela terra, para todo o sempre. Cresci sem pai nem mãe, em uma corte onde todos me conheciam como um divisor de águas. E um divisor de águas me tornei.” - Fitz Chivalry Farseer 

A Suma nos trouxe uma nova edição desse que é o romance que abre a Saga do Assassino, uma trilogia que figura entre as minhas favoritas. Com tradução de Orlando Moreira, mesmo tradutor da versão da Leya, algumas diferenças são notáveis, e já adianto que me agradaram mais.
O Aprendiz de Assassino é um romance de fantasia medieval com uma peculiaridade que pode ser incrível para uns, e muito chata para outros. Nele acompanhamos o relato de Fitz Chivalry Farseer, um bastardo do príncipe herdeiro dos Seis Ducados, e através da sua própria história, ele nos conta com riqueza de detalhes todos os dramas da corte do Rei e os modos de viver da sociedade que é inserido.
Mas qual é a peculiaridade desse romance, afinal? Bem, como romance de fantasia medieval, ele não nos conta a história de um guerreiro com muita ação, batalhas épicas e coisas que já estamos saturados de ler no gênero, ou pelo menos eu estou. O enredo é sobre um ladino, mais precisamente sobre um garoto que virá a se tornar o assassino do rei.
E o que isso implica na narrativa? Implica que, ao invés de ação, temos drama e suspense como foco principais. Com o narrador em primeira pessoa, sempre contando suas experiências boas, ruins e controversas na corte do Rei Shrewd, seu avô.
E por quê isso pode ser chato para muitos? Porque pela pouca frequência de cenas de ação, alguns leitores podem considerar que nada acontece no livro. Acontece que, a autora aproveita seu espaço para criar e desenvolver personalidades ricas e complexas de seus personagens. Poucos livros que tive contato conseguiram mostrar uma excelência tão grande em apresentar personagens profundos e tridimensionais como a Robin Hobb faz. E, pela baixa frequência das cenas de ação, sempre que nos deparamos com uma, ela é simplesmente de tirar o fôlego.
Uma das coisas que mais me agradam nesse livro é o “sistema de magia”. Aqui, a magia existe mas é rara e muito poderosa. Somos apresentados a dois tipos, a Manha e o Talento, uma é extremamente malvista, a outra é sinônimo de grande respeito e honra.
A Manha é a habilidade de se comunicar telepaticamente com os animais, podendo criar vínculos fortes, sentir suas emoções, utilizar seus sentidos mesmo que a quilômetros de distância. Contudo, ela é extremamente malvista pela sociedade dos Seis Ducados, sendo, inclusive, razão de sentenças de morte, caso um usuário seja descoberto.
Já o Talento é a capacidade de se comunicar telepaticamente com outros seres humanos, bastante semelhante como a Manha, com a diferença que é um dom utilizado praticamente apenas entre a nobreza. Diz-se que apenas os que possuem sangue real em algum grau podem manifestá-lo, e esses servirão o Rei como seu círculo de magia, sendo um artifício muitíssimo poderoso.
Uma coisa que notei lendo as duas edições dos livros, é que a edição da Suma possui umas 40 páginas a menos, não sei se é só efeito de uma diagramação diferente, ou decorrente de uma revisão completa para aparar arestas. Sei que nessa releitura não encontrei as partes que foram arrastadas na primeira leitura. Eu realmente gostei bastante de relê-lo.
Inclusive, um temor que eu tinha era se a manutenção dos nomes dos personagens no idioma original poderia afetar de forma negativa a experiência da leitura. Muitos personagens nessa saga possuem adjetivos como nomes próprios, muitos deles da realeza como o próprio pai do Fitz, o príncipe Cavalaria, seu tio Veracidade, seu avô Sagaz, e é uma experiência interessante acompanhar se esses personagens condizem com seus nomes ou não. Ao manter os nomes como Chivalry, Verity, Shrewd e outros, imaginei que pessoas não fluentes no idioma inglês poderiam perder certas nuances. Fiquei feliz em perceber que não, no decorrer do livro a autora dá indícios do que cada nome significa, tudo em seu tempo. E para aqueles que se esquecem facilmente de algumas palavras, como eu, no final do livro tem um glossário com os nomes e seus significados.
Por fim, O Aprendiz de Assassino é uma obra incrível, que eu gosto demais, a escrita da Robin Hobb é maravilhosa, envolvente, fascinante. Posso estar puxando sardinha pois ela é uma das minhas autoras de fantasia favoritas, mas tenho certeza que, mesmo para aqueles que amam ação, vão encontrar um livro empolgante a sua maneira.

Resenha escrita por Samuel Muca. Siga no twitter: @samuelmuca_  


Título: O Aprendiz de Assassino 
Série: A Saga do Assassino vol. 1 Autor: Robin Hobb
Editora: Suma
Ano: 2019 | Gênero: Fantasia
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