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Skyward - Conquiste as Estrelas

Derrotada, devastada e levada quase à extinção, a raça humana se vê presa em um planeta distante, constantemente atacado por misteriosos combatentes alienígenas. Spensa, uma adolescente, anseia por se tornar piloto e se juntar à resistência. Quando descobre os restos de uma velha nave, um modelo que a garota nunca tinha visto na vida, percebe que esse sonho pode enfim se tornar realidade.
Para isso, no entanto, a garota precisará consertar a grande nave, aprender a pilotá-la e – talvez o mais difícil – convencer a inteligência artificial que controla os restos da embarcação a ajudá-la: essa incrível nave, de alguma forma, parece ter uma alma própria.
Título: Skyward - Conquiste as Estrelas
Autor (a): Brandon Sanderson
Tradutor: 
Marcia Blasques
Editora: Planeta - Minotauro
Número de páginas: 400


Premiado, mundialmente elogiado, amado por seus fãs, Brandon Sander é um com certeza um dos maiores da ficção especulativa da atualidade e escritor com uma vasta produção. No entanto, por alguma razão, apesar de escutar elogios de diversos leitoras e leitores fãs obras como Elantris, Mistborn, Coração de Aço, não havia tido contato com seu trabalho até o momento. Então das estrelas veio Skyward.
A humanidade avançou e partiu para explorar o universo, mas algo aconteceu. Próximos da extinção, os seres humanos lutam uma guerra pela sobrevivência contra os mistérios Krell, vivendo em comunidades isoladas e subterrâneas em um planeta isolado, cercado por detritos. As estrelas que um dia foram o lar da humanidade, são agora um sonho distante.
Mas em alguns esse sonho é mais vivo do que em outros.
Desde criança Spensa Nightshade, ou simplismente Spin, sonha em ser uma piloto e se juntar a FDD na luta contra os Krell, mas a figura de seu pai se torna uma sombra em seu caminho. Apesar de não acreditar no que é dito, todos veem Chase Nightshade como um covarde, uma figura traidora capaz de abandonar seus aliados para morrer e esperam que a garota seja como ele. Aos 17 anos, Spensa tem um objetivo a cumprir e não vai deixar que outros fiquem no seu caminho: ela se tornará piloto de caça espacial.
Em meio ao difícil caminho na academia e a resistência da almirante Ironsides, Spin descobre uma velha nave, totalmente diferente de todos os modelos conhecidos, que pode garantir seu futuro como piloto. Contudo, convencer M-Bot, uma nave com inteligência artificial, a entrar em combate será tão difícil quanto o resto de seu caminho. Spensa Nightshade terá que se espelhar mais uma vez nos heróis das histórias da sua avó e manter em mente seu objetivo: conquistar as estrelas.
Inspirado por obras como Como Treinar o Seu Dragão e Eragon, o autor se propôs a reinterpretar o conceito "um garoto e seu dragão" através um novo olhar. Em vez de um rapaz, uma garota. No lugar de um dragão, um caça espacial inteligente. Uma ideia instigante e atraente, mas que acaba ficando em segundo plano em razão do desenvolvimento da protagonista. Claramente há aqui uma construção de tal relação, mas o início de algo que talvez seja aprofundado com o desenvolver da série. E esse é um ponto importantíssimo para o melhor aproveitamento dessa leitura: Skyward é o primeiro livro de uma série em desenvolvimento. Sua conclusão levanta mais questionamentos do que responde e isso poderia frustar uma parte dos leitores, porém, sabendo que haverá espaço para as respostas adiante, a jornada se mostra ainda mais interessante. Skyward é um livro sobre o desenvolvimento de Spensa.
Sanderson consegue trabalhar muito bem os personagens, especialmente os coadjuvantes da turma de cadetes da FDD, dando-os profundidade ao avançar da trama. É gostoso, acompanhar aqueles jovens pilotos e descobrir mais sobre a sociedade e organização de mundo através das diferenças entre eles. Spensa no entanto, apesar da evolução e aprendizados durante a trama, é uma personagem bastante imatura para a idade e vida difícil que leva, e por vezes bem irritante. Isso torna mais fácil se conectar com um(a) outro(a) piloto do que a protagonista da história até a parte final da história. Em compensação, M-Bot é um personagem que rouba a cena com seu carisma em todas as suas aparições, e nos momentos em que estão juntos os personagens funcionam em sua plenitude.
O cenário criado pelo autor, apesar de apresentar situações e características similares a tantas outras, é bastante interessante e gera diversas perguntas no leitor, que podem ou não serem respondidas futuramente, e abrem espaço para especulações e outras tramas em outros contextos. A hierarquia social, as diferenças entre os povos e suas cidades-cavernas, a estrutura político-militar, o passado da humanidade abordo de naves estelares e o próprio planeta Detritus, prendem a nossa atenção mesmo nas leves pinceladas que recebem. 
A parte gráfica do livro é muito bem trabalhada e merece elogios, mas a capa recebe o destaque. A ilustradora Charlie Bowater fez um excelente trabalho ao dar vida a protagonista na capa original, mas optar pela versão da Orion Publishing foi uma decisão acertada. A arte de Sam Green transmite perfeitamente o clima de desolação da humanidade em Detritus e a esperança da protagonista de encontrar nas estrelas algo para seguir.
Apesar dos entraves causados por sua protagonista, e uma leve sensação de repetição causada pelas aulas da academia,  Brandon Sanderson consegue entregar em Skyward um livro dinâmico, ágil, com uma linguagem simples e narrativa envolvente. Um início de uma série que promete ser instigante e divertida, que certamente acompanharei com prazer.