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O Velho e o Mar

Dando início à renovação da identidade visual das obras de Ernest Hemingway, a Bertrand Brasil relança O velho e o mar, um dos principais livros de sua carreira. Título mais vendido do autor no Brasil, foi agraciado com o Prêmio Pulitzer, em 1954.Depois de anos na profissão, havia 84 dias que o velho pescador Santiago não apanhava um único peixe. Por isso já diziam se tratar de um salão, ou seja, um azarento da pior espécie.
Mas ele possui coragem, acredita em si mesmo, e parte sozinho para alto-mar, munido da certeza de que, desta vez, será bem-sucedido no seu trabalho.Esta é a história de um homem que convive com a solidão, com seus sonhos e pensamentos, sua luta pela sobrevivência e a inabalável confiança na vida.
Com um enredo tenso que prende o leitor na ponta da linha, Hemingway escreveu uma das mais belas obras da literatura contemporânea Uma história dotada de profunda mensagem de fé no homem e em sua capacidade de superar as limitações a que a vida o submete.
Título: O Velho e o Mar
Título Original: The Old Men and the Sea
Autor: Ernest Hemingway
Tradução: Fernando de Castro Ferro
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2013 / Páginas: 126


O Velho e o Mar é provavelmente o romance mais popular de Ernest Hemingway, prestigiado autor norte-americano laureado com o Nobel e um dos integrantes da geração perdida, que inclui F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein e tantos outros. Famoso pela influência que exerceu na literatura contemporânea em prosa e pelo domínio da arte da narrativa, o autor publicou cerca de dez romances, diversos livros de não ficção, além de contos.
Como o próprio título já sugere, O Velho e o Mar fala a respeito da relação de um homem, Santiago, um pescador cubano, com o mar, seu ambiente de trabalho e meio de subsistência. Contudo, talvez o segundo personagem mais importante, mais até do que o próprio mar, seja um peixe, justamente o maior que Santiago já pescara e aquele contra o qual o velho e cansado pescador vai enfrentar o maior desafio de toda a sua vida até então. Após passar 84 dias sem conseguir fisgar nada, numa das maiores ondas de azar da qual se vira vítima, Santiago dispensa Manolin, seu principal ajudante e companheiro, uma criança que o tinha como um mestre na arte de pescar, e parte para o mar mais uma vez, sozinho.
Mera coincidência ou uma tremenda virada de sorte, ele então finalmente fisga um gigantesco peixe, mas isto é apenas o começo. Para capturá-lo é preciso deixar que nada e se canse, arrastando o peso da linha e da embarcação pelo mar, com o incômodo do anzol preso à boca impedindo que se alimente de forma adequada. Para Santiago também pesa a escassez de comida, além do calor de um sol tropical e do esforço físico incessante para segurar a linha antevendo os movimentos do peixe para que ela não arrebente e ele escape. Assim está armado o palco desta trama. Conseguirá o peixe escapar? Santiago resistirá às intempéries do mar? Algum dos dois vai desistir ou esta é uma luta até a morte?
Num livro tão curto o que mais impressiona é a profundidade da história de Hemingway com a grandiosidade dos feitos e reflexões de Santiago. Toda a solidão em alto-mar, todo o autossacrifício para conseguir se provar de novo e mais uma única vez, toda a dor diante de tamanho esforço para alguém já fisicamente debilitado, mas também da compaixão nutrida pelo pecador por sua presa, que em dado momento é equiparada a um irmão. Homem e animal parecem trocar de papéis nessa disputa impiedosa em que um depende do outro para continuar vivendo.
Com tradução de Fernando de Castro Ferro, a edição nacional, publicada pela Bertrand Brasil, traz uma capa com soft touch, um ótimo texto introdutório, assinado pelo escritor Luiz Antônio Aguiar e ilustrações de C. F. Tunnicliffe Raymond Sheppard que ajudam a dar ainda mais vivacidade ao texto.
A prosa de Hemingway é econômica, às vezes me parecia até um tanto rasa pela escassez de floreios e construções às quais estou habituado pela leitura de clássicos, mas paradoxalmente, é justamente nesta aparente simplicidade que reside o seu grande trunfo. Hemingway entrega um texto polido, perfeito e sem excessos que apenas poderiam atrasar e dispersar da história o leitor menos paciente, tanto que ela serve perfeitamente como introdução para quem deseja ler mais obras de autores já consagrados e por algum motivo qualquer sentem receio de tentar. É dito que Hemingway considerava um abuso o uso que se faz dos adjetivos na literatura. Lendo sua obra é fácil entender o porquê. A essência de tudo aquilo que ele quer contar está no texto que em poucas palavras já diz tudo. Basta um pensamento ou uma frase do protagonista, enredado naquele destino agonizante, para você captar o quanto estava em jogo em sua luta com o peixe.
As descrições da luta em si, em raros momentos me pareceram entediantes, o autor soube exatamente onde inserir mais ação ou quando acrescentar um fato novo para logo me tirar qualquer impressão de repetição ou marasmo. Preciso elogiar também a conclusão, impossível não ser tomado da mais terna emoção por ela.
Dentre os clássicos da literatura este se destaca pelo texto acessível e objetivo, mas O Velho e o Mar vai além, evocando em sua curta trama temas que abarcam desde a inesgotável determinação humana para lidar com o eterno conflito entre humanidade e natureza, até reflexões sobre a experiência acumulada de toda uma vida, sobre a iminência da morte na velhice, e sobretudo por falar de esperança e perseverança no mais desesperador dos cenários. Tempos tão árduos pedem histórias assim. Recomendo!