"Um clássico do terror com mais de 13 milhões de cópias vendidas“. Impossível parar de ler. Poe e Mary Shelley reconheceriam [William Peter Blatty] como mais um integrante do limbo ambíguo entre o natural e o sobrenatural... De arrepiar.” – Life
Uma obra que mudou a cultura pop para sempre, O exorcista é o livro que deu origem ao maior filme de terror do século XX. Quatro décadas após chocar o mundo inteiro, a obra-prima de William Peter Blatty permanece uma metáfora moderna para o combate entre a fé e o profano em forma de um dos romances mais macabros já escritos."
Título: O Exorcista
Título Original: The Exorcist
Editora: Harper Collins Brasil
Autor: William Peter Blatty
Tradução: Carolina Caires Coelho
Ano: 2016 / Número de páginas: 336
Dificilmente você nunca terá ouvido falar sobre O Exorcista antes. O filme é um clássico do cinema de terror, aclamado por muitos como o maior do gênero no século XX e recordista de indicações ao Oscar, algo bem incomum para uma produção deste tipo. Ele é uma adaptação do romance homônimo de Willian Peter Blatty, autor norte-americano que também se encarregou de escrever o roteiro para o filme.
Na trama principal conhecemos Chris MacNeil, uma atriz relativamente bem sucedida e mãe divorciada de Regan, uma garota pré-adolescente que de maneira inexplicável passa a manifestar um comportamento atípico, violento e bizarro. Ela sofre convulsões, fala palavrões e blasfêmias com uma voz que não é a sua e manifesta poderes paranormais como uma força incomum e levitação. Num primeiro momento acompanhamos ambas, mãe e filha, numa série extenuante de exames médicos, alguns bem invasivos, em diversas clínicas com a finalidade de diagnosticar a verdadeira causa dos problemas aparentemente de ordem psicológica da garota.
Com o insucesso da medicina convencional em chegar a um consenso e fornecer respostas e um tratamento adequado, além do consequente agravamento do quadro de Regan e sem ter mais a quem recorrer, Chris opta por tentar um método alternativo, procurando a ajuda de Damien Karras, um padre e psiquiatra para que Regan seja submetida a um ritual de exorcismo. Paralelamente outras tramas vão se somando a esta, entre elas a primeira que apresenta o Padre Merrin, o Exorcista, ainda no epílogo do livro, e a duma investigação policial envolvendo uma série de profanações satânicas numa igreja local e pelo assassinato de um homem em circunstâncias bizarras, ambas conduzidas pelo detetive Kinderman.
O livro é dividido em quatro partes e cada uma delas em capítulos curtos menores narrados em terceira pessoa. A prosa de Willian Peter Blatty é simples, direta e consegue criar uma atmosfera séria e incômoda que desperta a dúvida e a curiosidade do leitor para o problema de Regan prendendo a sua atenção até os instantes finais nos quais a tensão aumenta a um ponto tal que é impossível parar de ler. O Exorcista já teve diversas edições traduzidas para o português por diversas editoras nestes seus mais de quarenta e cinco anos da publicação original, sendo a mais recente a de Carolina Caires Coelho para o grupo Nova Fronteira pelo selo Harper Collins Brasil.
Para além da trama principal o livro nos leva a uma reflexão profunda sobre quão tênues e ambíguos são os limites que separam fé e ciência, o Bem e o Mal, a razão e a insanidade. Não espere por respostas definitivas, aqui o que dita o tom é o conflito e a coexistência dual destes aspectos, evidenciados tanto no comportamento quanto na personalidade contrastante dos personagens. Aliás é preciso ressaltar a ótima construção dos mesmos, sobretudo de Chris e Damien, cujas complexidades psicológicas os tornam fascinantemente densos e humanos. Ela é uma mãe desesperada vivendo um drama dos mais angustiantes que a leva à beira da loucura ao passo que ele se encontra num momento de crise existencial, questionando sua própria fé e agora passando a duvidar também da medicina e da ciência e consequentemente da própria racionalidade.
Pessoas muito sensíveis aos temas ou de estômago fraco talvez não se sintam tão à vontade lendo. As passagens que descrevem os rituais de profanação satânica praticados nos cultos da Missa Negra e as descrições do comportamento assumido por Regan beirando ao gore são absurdamente incômodas e enojantes. A sensação de terror e medo obviamente vai variar conforme o leitor e as suas crenças, mas este é um livro que o faz duvidar de tudo sucessivamente: é um transtorno? é uma doença? é uma farsa? Ou é o próprio demônio?. Pessoalmente, ainda mais pungente do que a manifestação sobrenatural é a dor da mãe desesperada e sem saber a quem mais recorrer pela saúde da filha que tanto ama. Regan tanto é ao mesmo tempo o mal e a sua maior vítima e assim como os personagens nos revoltamos e nos apiedamos de sua condição. Essa sensação de culpa pela impotência diante de uma situação que nos foge totalmente do controle, quando tanto a fé quanto a racionalidade falham em explicar é para mim o mais aterrorizante e permeia o livro o tempo todo.
Pela fama, O Exorcista merece figurar na estante de qualquer fã de cultura pop e do cinema de terror, mas o livro vai além entregando bem mais do que um thriller com altas doses de conflito psicológico envolvendo o sobrenatural. Sua atmosfera tensa e envolta em dilemas filosóficos e existenciais sobre a dualidade antagônica entre Bem e Mal e ciência e religião são um primor estimulante para a mente de qualquer tipo de leitor.