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O Grande Gatsby

Obra-prima de F. Scott Fitzgerald, este clássico do século XX retrata a alta sociedade de Nova York na década de 1920, com sua riqueza sem precedentes, festas nababescas e o encanto das melindrosas ao som do jazz. O sol em ascensão desse universo cintilante e musical é o enigmático milionário Jay Gatsby, ao redor do qual orbitam três casais glamorosos e desencontrados, numa trama densa, repleta de intrigas, paixões e conflitos que precipitam o trágico eclipse. Recriação soberba de um dos períodos mais prósperos da história dos Estados Unidos, O grande Gatsby é uma crítica mordaz à insensibilidade e imoralidade revestidas de ouro da chamada Era do Jazz, e um dos melhores romances — talvez o melhor — já escritos nesse país.
Título: O Grande Gatsby
Editora: Geração
Autor: F. Scott Fitzgerald
Número de páginas: 204


Há tempos queria ler algo dos autores clássicos da “Geração Perdida” norte-americana. O termo originalmente atribuído à escritora Gertrude Stein e popularizado por Ernest Hermingway designa a geração que viveu durante a infância e adolescência sob o jugo da Primeira Guerra Mundial e chegou à vida adulta durante a euforia econômica dos Loucos Anos Vinte até a Grande Depressão desencadeada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929. Entre os membros mais notórios, que formaram uma espécie de grupo de celebridades literárias americanas, mas que também viveram em Paris e em outras partes da Europa, incluem-se nomes como Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald, Vladimir Nabokov, Sherwood Anderson, Willian Falkner, Waldo Peirce, John Dos Passos, T. S. Eliot e o próprio Ernest Hemingway. Com isso em mente, resolvi começar com aquele que provavelmente é o romance mais popular daquela época e geração, O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald.
O livro é narrado a partir da perspectiva de Nick Carraway, um corretor de ações recém chegado à Long Island e uma figura comum e sem muitas posses, cercado pela alta sociedade. À medida em que escreve o seu livro sobre a história do seu vizinho Jay Gatsby, Nick nos reporta num texto não linear, o que viu acontecer à sua volta enquanto ali residiu, naquele verão de 1922, de forma relativamente neutra e livre de julgamentos. Com ele nos maravilhamos com a grandiosidade e o exagero daquele mundo que aos poucos também vemos desmoronar como um castelo de cartas, expondo a fragilidade, a mesquinhez e o mau caratismo de relações construídas por pura conveniência.
Gatsby, a figura central e trágica deste romance, é um homem extremamente rico, com passado e ofício cercados de mistérios e boatos e, a princípio, só é conhecido por Nick pela sua fama e pelas imensas e luxuosas festas que organiza em sua propriedade, frequentada por boa parte dos expoentes da elite nova-iorquina. A narrativa ganha força e se intensifica quando Gatsby procura Nick motivado pelo interesse amoroso que nutre por sua prima Dayse, casada com o milionário Tom Buchanan. A partir daí começamos a desvendar os mistérios que cercam o passado de Gatsby e as intricadas relações entre todos estes personagens.
Muito do valor desta obra está no retrato fiel que faz da alta sociedade americana na década de 1920, com sua riqueza nababesca e festas suntuosas regadas a jazz, mas sem dispensar uma visão crítica e aprofundada da mesma, ao expor também a insensibilidade, a imoralidade e a crueldade presentes em seu âmago. Após o caos da Primeira Guerra Mundial, a sociedade americana vive um nível de prosperidade econômica sem precedentes. Na mesma época, a proibição da produção e do consumo de bebidas alcoólicas ocasiona um aumento do crime organizado e favorece o surgimento de um grande número de novos milionários que enriquecem à margem da lei.
Por toda a sua fortuna e exageros, Gatsby é a própria personificação do sonho americano, mas também é o perfeito exemplo de um “self made man”, expressão do capitalismo que corresponde ao homem que galgou o sucesso por si mesmo, através de esforço e dedicação próprios. Imerso em aspirações grandiosas, o personagem nos surpreende pela sua paixão obstinada, sendo impossível não se deixar cativar por alguém determinado a construir toda uma outra e nova vida por amor.
Tendo entrado em domínio público recentemente, o clássico gerou um acalorado debate acerca das novas traduções encomendas às vésperas do lançamento da mais recente adaptação para os cinemas. O Grande Gatsby possui cinco adaptações cinematográficas e conta com oito traduções diferentes para o português brasileiro. A edição que li é da Geração Editorial e foi traduzida por Humberto Guedes, também responsável pela edição de 2004 da L&PM, onde é creditado como William Lagos. Além destas, há ainda a de 1953, assinada por Brenno Silveira (Record), a de 2003, por Roberto Muggiati (também pela Record), a de Vanessa Barbara (Penguim Cia das Letras), a de Alice Klesck (Leya), a de Cristina Cupertino (Tordesilhas), e a de Vera Sílvia Camargo Guarnieri (Landmark). A edição da Geração possui capa-dura, um texto de apresentação do autor e jornalista Ruy Castro e ainda traz em seu miolo uma galeria de fotos do casal Fitzgerald e Zelda e dos atores que deram vida aos personagens no cinema.
Por fim, reafirmo que minha primeira experiência com um autor da geração perdida não poderia ter sido mais gratificante! Gatsby é muito mais do que uma simples história de casais riquinhos e adúlteros. Tanto o início quanto o final do livro trazem reflexões marcantes feitas pelo narrador e poucos são tão harmoniosamente bem amarrados e densos em significados em suas minúcias quanto Gatsby. Por meio de um texto brilhante e poético, com sua complexidade disfarçada por uma aparente simplicidade, foi uma leitura capaz de me proporcionar imenso prazer. O Grande Gatsby é uma ótima porta de entrada para a literatura clássica norte-americana, é uma leitura leve e rápida, e prato cheio para quem tem curiosidade para conhecer um pouco mais de uma das épocas mais intensas e efervescentes da História mundial recente.