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Crítica | Dungeons & Dragons - Honra entre Rebeldes

Muito próximo de completar 50 anos de existência, Dungeons & Dragons é uma marca consolidada que vai além do RPG. Desde sua origem, o jogo inspira produtos de diversas mídias, e também traz diversas linhas produtos próprios ou parcerias, como quadrinhos, brinquedos, jogos de tabuleiro, animações e cinema.
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No Brasil, o produto audiovisual de maior sucesso certamente é Caverna do Dragão (Dungeons & Dragons no original), mas no início dos anos 2000 tivemos algumas tentativas fracassadas de investidas cinematográficas com a marca. Dungeons & Dragons - Honra entre Rebeldes chega aos cinemas com um desafio a superar: deixar para trás os fracassos anteriores e causar uma boa impressão para abrir caminho para uma possível franquia de fantasia nos cinemas.

No centro da trama temos o bardo Edgin (Chris Pine), e sua fiel companheira Holga (Michelle Rodriguez), detidos ao buscar meios ilícitos para ganhar riqueza e conseguir uma relíquia mágica, capaz de ressuscitar sua esposa e recuperar a confiança de sua filha Kira (Chloe Coleman). Ao retornar ao mundo fora das muralhas da prisão no Vale do Vento Gélido a dupla descobre que tudo que deixaram para trás não é mais seu: Forge (Hugh Grant), antigo companheiro de grupo, ascendeu a lorde de Nevenunca e, além de manter parceria com a inescrupulosa feiticeira Sofina (Daisy Head), e envenena a mente de Kira contra o pai.
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Disposto a recuperar sua filha e provar-se um bom pai, Edgin arma um plano para roubar o cofre de Forge onde a relíquia de ressurreição se encontra, mas para isso precisará — junto a Holga — reunir um grupo com habilidades trasordinárias. Ao lado da druida Doric (Sophia Lillis), do paladino Xenk (Regé-Jean Page) e o feiticeiro Simon (Justice Smith), se envolvem em uma louca aventura que a cada novo passo se mostrar algo maior do que o esperado e a honra do grupo de rebeldes é colocada a prova quando o mal ameaça o mundo.
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Apostando em uma aventura simples, leve, divertida e construída em torno de uma relação familiar criada a partir de um grupo desajustado, o roteiro e direção de Honra entre Rebeldes executa de maneira satisfatória o seu intento. O que a primeira vista pode parecer uma tentativa de estabelecer o seu Guardiões da Galáxia, na verdade, muito se deve ao fato do roteiro captar muito bem a essência de uma a mesa de RPG. Embora os jogadores tentem construir algo épico se baseando em clássicos da fantasia, muitas vezes o que encontramos nessas mesas são situações cômicas não intencionais, momentos confusos de planejamento onde ninguém se entende e relações que parecem vir do nada, mas se tornam sólidas e memoráveis. É esse tipo de coisa que encontramos em tela: algo divertido e fácil de relacionar, mesmo para quem nunca participou de uma sessão de jogo.
Justamente por se apoiar na relação entre seus personagens é que o destaque do filme fica por conta da sinergia entre os atores e personagens. Mesmo inspirado por jogos com papéis e poderes muito bem definidos, o roteiro renuncia a um grande leque de possibilidades para cada um ter a sua função e momento. Cada um deles tem características muito específicas, e a forma como lidam consigo mesmos e com o mundo, é o que gera identificação e também abre espaço para as situações cômicas. Especialmente Regé-Jean Page e seu paladino incapaz de entender sutilezas, ironias ou qualquer coisa fora da ordem e retidão.
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Para não dizer que tudo são flores, a restrição orçamentária é visível nas escolhas tomadas para algumas cenas, na pouca presença de seres de raças diferenciadas, e gritante em outras onde os efeitos visuais quebram um pouco a imersão. Contudo, boa parte dessas questões são facilmente contornadas criativamente, como a presença de animatrônicos e outros efeitos práticos, e com o roteiro ágil não atrapalhando de forma alguma a experiência.
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Dungeons & Dragons - Honra entre Rebeldes não é um filme indefectível ou brilhante, mas é competente e entrega uma perfeita representação do caos presente em uma mesa de RPG, conseguindo ser divertido e agradável para o público geral. Por seu caráter contido, o filme não se perde em megalomania em dar passos forçados para além dele mesmo, mas constrói algo interessante o suficiente para uma franquia vir a se estabelecer, quebrando a maldição de seus anterior. Ao menos ficamos na torcida para mais acertos críticos como esse.

Título: Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes
Título Original: Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves
Lançamento/Duração: 2023 - 2h 14 min
Gênero: Ação/Aventura/Comédia
Direção: Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Michael Gilio
Roteiro: Jonathan Goldstein, John Francis Daley