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Kalciferum: Demônios, Bruxas e Vagantes - Livro 1


Muitas coisas escapam aos nossos olhos. Algumas delas se aproveitam disso, se esgueirando em vielas escuras, se misturando na multidão, sobrevivendo enquanto continuam ocultadas pelo véu da ignorância. Mas o que aconteceria se este véu fosse repentinamente retirado e por algum motivo inimaginável você pudesse ver realmente aquilo que espreita na escuridão?
Rafael era só mais um, perdido em suas convicções mundanas sobre tudo, até descobrir que seu colega de trabalho era na verdade um demônio fugitivo e que a partir daquele momento, sua vida nunca mais seria a mesma.
Kalciferum é o romance de estreia de Andrei Fernandes, que já teve contos publicados em coletâneas de autores nacionais. Além de escrever, Andrei também é o host do podcast Mundo Freak. Primeiro volume de uma série de fantasia urbana, Kalciferum é o primeiro título de ficção lançado pela Penumbra Livros.
Título: Kalciferum: Demônios, Bruxas e Vagantes - Livro 1
Autor: Andrei Fernandes
Editora: Penumbra
Ano: 2016 / Número de Páginas: 384

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Quem acompanha o blog e as nossas redes sociais provavelmente já conhece Kalciferum, um livro de fantasia urbana viabilizado por meio de uma extraordinária campanha de financiamento coletivo no Catarse há cerca de um ano e que por diversos fatores era muito aguardado tanto pelo Ace quanto por mim. Enfim o livro ficou pronto, teve seu lançamento oficial durante a São Paulo Magicka em Setembro deste ano, e começou a ser entregue aos apoiadores do projeto juntamente com as recompensas adicionais.
Kalciferum, primeiro livro de Andrei Fernandes, é ambientado numa típica metrópole cinza e vai contar a história de Rafael, um jovem que como tantos outros encontra-se atualmente desempregado. Vivendo sozinho no apartamento herdado da mãe que morrera há pouco tempo, Rafael conta apenas com o dinheiro do seguro-desemprego para manter a si e o seu genioso gato de estimação, Bóris. As coisas começam a mudar quando ele conhece Ariane, uma jovem que acaba de se mudar para o apartamento ao lado e numa conversa rápida desperta a curiosidade do nosso protagonista ao ler para ele as cartas do tarô. Mas a vida segue sem grandes contratempos, Rafael continua à procura de um emprego, enviando currículos e marcando entrevistas, obviamente fracassando várias vezes. Contudo, num verdadeiro golpe de sorte do destino, Rafael acaba chamando a atenção de GG, o proprietário da Eletronik, uma grande rede de lojas de departamentos e é contratado. Tudo parece estar se encaminhando, mas logo nos primeiros dias de trabalho, Rafael e Cal, um estagiário bastante folgado do almoxarifado discutem e são obrigados a trabalhar juntos por determinação do próprio GG.
O que Rafael logo descobre é que Cal é um demônio fugitivo do inferno, que se aproveita da burocracia para se esconder. Por uma razão inexplicada, ele agora precisa que Rafael concorde em assinar um contrato com ele para continuar vivendo na Terra, sob o risco de ser descoberto e ter de voltar ao inferno. Rafael reluta, mas tendo sua vida em risco devido ao ataque de um demônio no metrô, acaba assinando o contrato e passa a ser o contratante daquele demônio, que o protegerá e o servirá conforme suas determinações. A partir daí a história se desenrola e vemos Rafael tentando lidar com todo um novo mundo que se descortina diante de seus olhos. Tudo que antes era mito ou lenda passa a ser possível e real e isto evidentemente o colocará em inúmeros perigos. Mas talvez o maior desafio para ambos vá ser aprender a conviver e trabalhar juntos, já que detestam-se mutuamente e não vão querer dar o braço a torcer para o outro. O conflito logo se transforma em curiosidade e Rafael logo se vê imerso em realidades paralelas, descobrindo sociedades secretas, artefatos mágicos, testemunhando pactos e rituais, convivendo com fantasmas, bruxas e claro, demônios.
O livro possui um ótimo acabamento gráfico, em capa-dura com aplicação de cores metalizadas. Internamente ele traz ilustrações dos personagens e cenas marcantes em forma de cartas de tarô, fazendo referência ao baralho que Ariane lê para Rafael lá no início.
Uma das características que mais me agradaram foi o caráter mais descompromissado da trama. Embora trate de temas e assuntos complexos, o livro prefere focar-se mais nas jornadas de seus personagens principais, nada óbvias devo salientar, sem apelar para grandes maquinações políticas envolvendo conspiradores dos altos círculos infernais para fazer a história se desenvolver. Obviamente elas acontecem e estão lá, mas ficam relegadas ao terceiro plano e sinceramente foi um alívio ver que não havia aqui nada parecido com um O Demonologista para exemplificar.
Minha única queixa fica para a sub trama ambientada no bairro oriental, cujo clima me pareceu destoar ligeiramente do restante do livro, ainda que o arco sirva para mostrar as relações entre criaturas sobrenaturais de culturas diferentes dentro deste universo e também como uma espécie de provação para Rafael. Em dado momento, algumas daquelas cenas ficaram tão intrincadas e confusas que precisei reler para entender quem era quem novamente e captar todo o contexto dos personagens e da situação em que se encontravam no desfecho do arco.
Andrei já mencionou que Neil Gaiman é uma de suas grandes influências e que manteve Os Filhos de Anansi em mente enquanto escrevia, e ficou impossível para mim não fazer várias associações entre ambos os livros, seja pela miríade de mitologias abarcadas, pela forma como os personagens adentram um mundo fantástico muito maior do que tudo que já conheciam, pela caracterização do protagonista e dos coadjuvantes e as relações entre eles ou até mesmo pelo bom humor predominante na maior parte do texto.
Como um ouvinte já de longa data do podcast Mundo Freak Confidencial, não pude deixar de notar algumas semelhanças entre ideias e conceitos que já ouvia por lá e alguns dos que aparecem também no livro. Ambos compartilham a mesma temática de mistérios do ocultismo, das teorias da conspiração e o envolvimento com o insólito e o sobrenatural. Tantas similaridades fizeram com que eu até lesse com a voz do autor/host algumas das passagens mais didáticas do livro, que certamente também será muito apreciado pelos fãs do programa.
Kalciferum possui uma linguagem ágil, uma trama bem construída, com boas surpresas ao longo do seu desenvolvimento e consegue entreter, divertir e fazer com que você anseie por mais daquele universo e seus personagens. É um ótimo primeiro livro e abre espaço para ser aprofundado em continuações muito bem vindas e desde já aguardadas. Vejo muito potencial para Rafael, Cal e todos aqueles personagens secundários igualmente cativantes em aventuras futuras e spin-offs. Demônios, bruxas e vagantes são bem mais reais do se imagina, mas a pergunta que fica no ar é o que mais se esconde nas sombras e não vemos ou escolhemos ignorar?