BEM-VINDO VIAJANTE! O QUE BUSCA NO MULTIVERSO?

Foras da lei barulhentos, bolhas raivosas...

O título é de perder o fôlego: "Foras da lei barulhentos, bolhas raivosas e algumas outras coisas que não são tão sinistras, quem sabe, dependendo de como você se sente quanto a lugares que somem, celulares extraviados, seres vindos do espaço, pais que desaparecem no Peru, um homem chamado Lars Farf e outra história que não conseguimos acabar, de modo que talvez você possa quebrar esse galho".
O mesmo vale para a seleção dos autores, alguns dos mais celebrados escritores contemporâneos de língua inglesa, entre os quais Neil Gaiman, Nick Hornby, Jonathan Safran Foer, Jeanne DuPrau e Lemony Snicket. Uma compilação de onze contos, cada um ilustrado por um artista diferente, entre os quais vale destacar Barry Blitt (já criou vinte capas da revista New Yorker), Lane Smith (de A verdadeira história dos três porquinhos, de Jon Scieska), David Heatley (colaborador do jornal The New York Times) e Peter de Sève (criador dos personagens da animação "A era do gelo"). Em comum, as histórias trazem um quê de estranhamento do mundo, com inocência infantil. Os autores, reconhecidos pela qualidade literária de suas obras destinadas aos adultos, não subestimam o jovem leitor. Em tempos de literatura enlatada, isso é, sem dúvida, o que faz deste livro algo tão sinistro.

Título: Foras da lei barulhentos, bolhas raivosas e algumas outras coisas que não são tão sinistras, quem sabe, dependendo de como você se sente quanto a lugares que somem, celulares extraviados, seres vindos do espaço, pais que desaparecem no Peru, um homem chamado Lars Farf e outra história que não conseguimos acabar, de modo que talvez você possa quebrar esse galho
Editora: Cosac Naify
Autores: Lemony Snicket, Clement Freud, George Saunders, Kelly Link, James Kochalka, Jeanne Duprau, Jon Scieszka, Jonathan Safran Foer, Lemony Snicket, Neil Gaiman, Nick Hornby, Richard Kennedy, Sam Swope
Número de páginas: 224


Um livro com um título tão peculiarmente extenso e um design de capa tão chamativo dificilmente passa despercebido por qualquer leitor. “Foras da lei barulhentos…” publicado pela Cosac Naify em 2012 é uma coletânea de onze contos de autores contemporâneos de língua inglesa, alguns bem conhecidos e famosos como Neil Gaiman, Lemony Snicket e Nick Hornby e outros nem tanto, mas a maioria com um forte apelo ao público jovem.
Há sim muitos contos medianos aqui e em alguns você nem nota nada de tão especial, a maioria não tem um grande plot twist sendo mais voltados para o público infanto-juvenil, embora também possam ser apreciadas por adultos. Como toda antologia, ela é ótima para te apresentar novos autores e te faz ter contato com histórias pouco convencionais. Em suas tramas temos personagens inusitados em situações criativas quase sempre remetendo a momentos da infância, embora seja difícil traçar uma linha geral para eles. Entre os contos que mais gostei, destaco:
Monstro de Kelly Link: é ambientado num típico acampamento de verão para crianças.Elas se veem em apuros quando as especulações sobre a existência de um monstro e outras criaturas sobrenaturais nas cercanias do acampamento começam a se mostrar ser mais do que apenas boatos. Além de uma boa ambientação e uma excelente dinâmica entre os garotos, com os típicos grupos que comumente se formam naquela idade, ainda toca de maneira responsável, ainda que leve, na temática do bullying.
Grimble de Clement Freud: Grimble é um garoto com cerca de dez anos que se vê obrigado a se virar sozinho seguindo as instruções deixadas por seus pais (que viajaram para o Peru) em pequenos bilhetes espalhados por toda a casa. É o conto mais longo da coletânea e um dos mais divertidos. Vale ressaltar que ele é ambientado em 1968 e é curioso comparar como seria uma aventura infantil naquela época com a atual.
Pássaro-do-sol de Neil Gaiman: sobre o excêntrico clube Epicurista devotado a provar e documentar todos os sabores do mundo, de pratos comuns e reais aos mais bizarros e imaginários. Seus membros partem numa viagem ao Cairo em busca do exótico pássaro-do-sol, cujo sabor, especula-se, ser maravilhoso! Já conhecia este conto de um dos volumes de Coisas Frágeis, um dos meus favoritos do autor, mas foi ótimo reencontrá-lo aqui acompanhado das ilustrações inéditas de Peter de Sève.
O Sexto Distrito de Jonathan Safran Foer: conta a história de uma pequena ilha, o sexto distrito, que teria existido ao lado de Manhattan, em Nova Iorque, e o que teria acontecido com ele. Entre um dos casos narrados há o do recordista de salto em distância que conseguia pular facilmente de Manhattan ao Sexto Distrito sem tocar na água e a origem do Central Park. É o conto que encerra a coletânea e o que tem um dos finais mais emotivos de todos.
Do ponto de vista gráfico e editorial não há o que comentar! O livro conta com uma boa tradução de Heloisa Jahn, cada conto possui ilustrações próprias com estilos artísticos variados, além de trazer mini biografias dos autores e ilustradores participantes.
Outra coisa que se destaca são as pequenas brincadeiras e jogos engenhosos com o leitor ao longo do livro. Ele possui uma jacket em cuja parte posterior há o início de um conto escrito pelo organizador Lemony Snicket e deixa o convite para que o leitor o termine como bem entender. Na primeira capa uma ilustração com um monstro bizarro traz em relevo os dizeres “Me Abrace”. O extenso e verborrágico título faz um apanhado de características presentes em cada conto e passa a fazer total sentido após a conclusão da leitura dos mesmos. Há uma Dedicatória para a árvore “sacrificada” para a confecção do papel que constitui o livro, juntamente com um pedido ao leitor para que leve isto em conta e que o aproveite ao máximo. Depois temos uma Introdução com muitas pequenas “histórias chatas para um possível leitor que goste de coisas chatas”, algo que o organizador promete não aparecer nos contos que compõe a coletânea que se encerra com um jogo de Palavras-Cruzadas extremamente difíceis inspiradas nos mesmos. E assim sucessivamente...
“Foras da lei barulhentos…” certamente não é um livro para se levar a sério, não pretende ser transformador, nem criar novas tendências, mas promete divertir e entreter seu leitor como poucos com sua atmosfera moderna e despojada. De fato, ele foi pensado para isto e o faz com certo êxito. Recomendo aproveitá-lo no intervalo entre leituras mais densas, ou naqueles dias mais preguiçosos em que buscamos apenas uma leitura leve e despretensiosa para relaxar.