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Cleópatra: Uma Biografia



Nos dois milênios desde a sua morte, Cleópatra fixou sua imagem de vez no imaginário da humanidade, mas por motivos diversos, surgiram versões que pouco condizem com a realidade. Em um dos livros mais elogiados de 2010, a premiada biógrafa Stacy Schiff renova a imagem da última rainha do Egito. Embora tenha sido difícil discernir a verdade em meio a tantas versões fantasiosas como essas, Schiff consegue resgatar a mulher atrás do mito. Em Cleópatra: uma biografia, não encontramos a sedutora insaciável, mas a estadista sofisticada e muitas vezes ardilosa, que governou o Egito durante 22 anos.                                                                                                                                                                                
Título: Cleópatra: Uma Biografia
Editora: Zahar
Autor (a): Stacy Schiff
Número de Páginas: 408


Quais caminhos a humanidade percorreu até que chegássemos aqui? Que ideias e culturas se desenvolveram antes de nós? Como viviam e no que acreditavam as antigas civilizações? Para entendermos o nosso presente é essencial que conheçamos o nosso passado. Algumas respostas para estas e tantas outras perguntas nos são dadas pela História. E não é que vez ou outra algum grande nome emerge dali e se destaca...
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Cleópatra é um destes. A última rainha do Egito foi sem dúvida uma das mulheres mais influentes do todos os tempos. Seu nome foi capaz de transcender o seu tempo e ainda hoje evoca um certo fascínio capaz de despertar instantaneamente a nossa curiosidade. Não há quem nunca tenha ouvido falar ou nem ao menos tenha uma vaga ideia de quem ela foi. Contudo sua figura, já tantas vezes recriada e recontada por tantas pessoas ao longo dos séculos, nos vêm à mente sempre cercada de mistério e envolta num ar que beira o mitológico. Aquela mulher egípcia nos é uma ilustre desconhecida. Quando vi seu nome na lombada de um livro à venda em meio a uma imensa mesa de usados na Bienal Minas ano passado fui imediatamente seduzido e não pude resistir à curiosidade. Comprei, li e me maravilhei! Parafraseando aqui a pichação mais comum nas tumbas do Vale dos Reis naqueles idos dias em que ela reinou suprema.
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Stacy Schiff em Cleópatra: Uma Biografia, procura reconstruir a vida e a personagem histórica, desvelando aos poucos a cortina de névoa que a encobre valendo-se de uma narrativa rica e empolgante fundamentada numa pesquisa bibliográfica extremamente cuidadosa. Recorrendo a fontes que variam de historiadores, filósofos e até Shakespeare ela descreve os feitos de uma mulher inteligente e ousada. Rainha, mãe e amante; todos estes aspectos são fundidos numa figura convincente e extremamente humana ainda mais fascinante e surpreendente do que qualquer noção prévia que se possa ter.
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Cleópatra recebera a melhor educação disponível na época e cresceu em meio a disputas mortais pelo governo na corte ptolomaica, muitas delas banhadas a sangue e veneno. Aos 21 anos, numa audaciosa manobra em meio a uma guerra civil e após obter apoio de Júlio César ela destrona o próprio irmão assumindo o poder e governando o Egito por 22 anos. Suas relações políticas e pessoais com Roma ditam a história a partir daqui. Fica claro ao longo do livro a mulher de intensa força e paixão por trás dos rótulos de estadista notável, ambiciosa e influente (e ela era tudo isto também). Muitos dos mitos atribuídos a sua figura caem por terra. Nada de uma chegada triunfal em frente ao imperador romano em seu primeiro encontro com Júlio César, muito menos de uma mordida de cobra fatal tão amplamente popularizadas pelas representações do cinema.
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Além de Cleópatra, Stacy Schiff discorre com muita propriedade sobre todo o contexto histórico e político pertinente da época. É de realmente impressionar a descrição que é feita da civilização egípcia com seus palácios suntuosos, a extravagância dos eventos públicos, as colheitas abundantes nas margens do Nilo e instalações faraônicas tais como a famosa Biblioteca de Alexandria e seus quase quinhentos mil rolos de pergaminhos acumulados ou o Farol de Alexandria, nada menos que uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Fica difícil acreditar que mesmo com tanto esplendor, aqueles já fossem tempos de acelerada decadência. Mapas, fotos de artefatos arqueológicos, notas explicativas, todas as referências às fontes originais e um índice onomástico para consultas rápidas ainda complementam a biografia.
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Toda esta contextualização talvez possa assustar o leitor à principio mas o texto é acessível e os nove capítulos que compõe a biografia propriamente dita passam rapidamente. Stacy brinca ao demonstrar as escolhas que teve de fazer entre uma fonte ou outra devido às divergências entre as mesmas ou as lacunas que teve de preencher enquanto avança com sua narrativa. Em dado momento, por exemplo, ela trata Cícero, um historiador renomado, com a alcunha de “o maior dos desmancha-prazeres romanos”. Toda essa descontração não torna o livro de modo algum superficial. A autora não poupa comentários sobre suas fontes, expondo os interesses implícitos e a parcialidade nos relatos que eles nos deixaram sobre Cleópatra.
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Cleópatra: Uma Biografia é uma leitura agradável e enriquecedora com uma ótima mescla de pesquisa histórica, tragédia e drama ao passo que proporciona uma ruptura de conceitos prévios. O livro figurou nas listas de Melhores do Ano na imprensa norte-americana e serve de inspiração para um filme, ainda em fase de produção, a ser estrelado por Angelina Jolie. Poderia parar aqui e fazer uma recomendação mais distinta para este ou aquele público mas acredito que você não precisa ser um aficionado por História Antiga, pelo Egito, ou Biografias para, assim como eu, se interessar avidamente por ele e por sua protagonista, não estou certo?