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Garota-Ranho


Do mesmo criador do fenômeno Scott Pilgrim, Garotaranho é uma das séries mais ousadas, engraçadas e espertas dos quadrinhos atuais. Lottie Person é uma blogueira de moda que vive uma vida absolutamente incrível — ou pelo menos é o que ela quer que você acredite. A verdade é que sua alergia está fora de controle, seu nariz não para de escorrer, o namorado a trocou por uma garota mais nova e é possível que ele tenha cometido um homicídio. Este é o primeiro volume do sensacional Garotaranho, de Bryan Lee O'Malley, criador de Scott Pilgrim, e da desenhista Leslie Hung.

Título: Garota-Ranho
Título Original: Snotgirl Vol.1: Green Hair Don’t Care
Autores: Bryan Lee O’Malley, Leslie Hung, Mickey Quinn
Tradução: Érico Assis
Ilustrações: Leslie Hung, Mickey Quinn
Editora: Companhia das Letras / Quadrinhos na Cia
Ano: 2018 / Páginas: 136


Lottie Person é uma garota perfeita! Dona de uma beleza estonteante, de um bom gosto p/ moda e de um estilo impecável ela é uma blogueira famosa, influente e bastante popular na internet. Como uma digital influencer ela vive de divulgar produtos e serviços diversos p/ seu público de sabe-se lá quantos milhões de visitantes únicos mensais. Mas, assim como muitas pessoas, essa boa vida que ela ostenta na rede é uma fachada, apenas o lado positivo cheio de filtros e maquiagem do todo. Tudo em nome dos likes e dos views!
Na realidade Lottie é uma pessoa comum, que enfrenta problemas que prefere esconder de todos, alguns graves e outros nem tanto, mas que servem p/ colocá-la em diversas encrencas pelo fato dela ser uma figura pública. Um deles é a alergia severa que faz com que seu nariz escorra sem parar, outros envolvem todas as complicações duma rotina normal de uma jovem adulta, tais como os relacionamentos com o namorado e as amigas e a agenda lotada de compromissos profissionais. Este é o mote principal de Garota-Ranho, uma série em quadrinhos publicada mensalmente nos EUA, criação de Bryan Lee O’Malley, conhecido pela franquia Scott Pilgrim, e da desenhista Leslie Hung.
Lottie Person atravessa um período complicado da vida. Terminou um longo relacionamento e seu ex-namorado agora está saindo com Charlene, a sua primeira estagiária no blog de moda. Sua médica alergista de costume tirou férias repentinas e desapareceu, deixando todos os pacientes sob responsabilidade do Dr. Rick (Dick? wtf!), um médico pra dizer o mínimo muito suspeito. Ela toma medicação, mas nem sempre ela é suficiente p/ conter o nariz e isto é algo que ela ñ quer ver exposto na internet de jeito nenhum. Lottie se sente só, suas amigas parecem distantes e alheias aos seus problemas, mas ela sabe que isto tbm é um pouco por culpa dela, afinal uma celebridade da moda ñ pode se dar ao luxo de descer do salto né? Uma perspectiva de mudança surge quando ela conhece a misteriosa Caroline, outra blogueira de moda tão popular e bonita quanto ela, e que propõe que elas sejam amigas e passem a sair juntas.
Merece destaque o núcleo de coadjuvantes, essencialmente as amigas de Lottie, cada uma a priori um estereótipo reforçado ainda mais pela mania da blogueira de dar apelidos a todos. Aos poucos vamos percebendo nuances individuais e as verdadeiras pessoas por trás daquela distorcida primeira impressão. Temos a Cuttiegirl que é toda meiguice e fofura, a Normgirl, a garota mais comum de todas e que infelizmente está se metendo num relacionamento com um boy lixo daqueles. Charlene a ex-estagiária de Lottie e atual namorada do ex dela e que tem tudo para ser a arquirrival mais maligna de todas, mas será mesmo? Ainda temos um Delegato, ou melhor, o detetive John Cho do L.A.P.D., com um curioso background que o levou a carreira policial, mas que é fã da alta costura e tbm da nossa protagonista celebridade. Além da própria Caroline, a Coolgirl, cuja presença deixa todo ambiente a sua volta desconcertado… a tal ponto de Lottie ñ saber se ela está morta ou viva, mas se culpar de certa fatalidade desde o dia em que resolveu sair p/ tomar uns drinks a mais com ela. Para complicar ainda mais as coisas, Caroline sabe do problema de Lottie com a alergia e a apelidou de Garota-Ranho. Dá pra imaginar o estrago se isso vaza!?
A vaidade e o culto a beleza nos níveis aristocráticos de Dorian Gray e a vida de fama e glamour como uma fachada tal como a da top model Lilico de Helter Skelter ñ são uma novidade na literatura e nem nos quadrinhos, mas em Garota-Ranho essa crítica adquire um tom menos mordaz e fatalista e mais palatável e bem humorado. Quer queiramos ou ñ, nossa sociedade cultua, se interessa e é influenciada pelas celebridades e obras do tipo são importantes para nos lembrar de que acima de tudo estamos diante de pessoas que sentem, se ressentem e muitas vezes sofrem com a sua própria condição. Com as facilidades da tecnologia e com a sedutora promessa da fama a um clique de distância nas redes sociais ñ é exagero nenhum dizer que é fácil encontrar identificação com Lottie e a blogosfera que a cerca. Estabelecer um diálogo franco acerca disto, sobretudo com um público mais jovem, é talvez um dos maiores méritos deste quadrinho.
A edição nacional tem tradução de Érico Assis e foi publicada pela Companhia das Letras através de seu selo de quadrinhos, Quadrinhos na Cia em maio de 2018 com acabamento em brochura simples, capa em cartão e miolo em papel off-set de alta alvura. Ela reúne as 5 primeiras HQs mensais originais. Um segundo volume com a continuação da história ñ deve tardar já que a publicação em inglês se encontra atualmente em sua décima edição. Como extras este primeiro volume traz esboços diversos dos personagens e uma galeria com as artes de capa alternativas de cada uma das edições originais.
Garota-Ranho foi uma gratificante surpresa! Com um título inusitado e talvez até repulsivo, ela surpreende pelo tom leve, descontraído e nem um pouco asqueroso. A leitura é fluida, divertida e instigante, com todos os seus inúmeros mistérios ñ respondidos e um frescor jovial, seja pela temática pop, pelas referências a cultura digital ou no uso bem feito das gírias de internet. O traço de Leslie Hung, mistura harmoniosa de mangá com cartoon nas cores vibrantes e ousadas de Mickey Quinn é muito agradável de ler e tem uma estética bem própria com bastante personalidade. Recomendo p/ quem consome conteúdo de influencers na internet, ñ apenas de moda, já que boa parte do marketing viral é feito de forma similar, mas tbm p/ quem procura uma boa opção de entretenimento e altas doses de risadas e mistérios! Vc vai ler, se divertir e pedir mais!
Ps: as abreviações usadas nessa resenha foram intencionais, mas não sei falar em internetês tão bem quanto os xóvens descolados! :P