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Cosmos

Escrito por um dos maiores divulgadores de ciência do século XX, Cosmos retraça 14 bilhões de anos de evolução cósmica, explorando tópicos como a origem da vida, o cérebro humano, hieróglifos egípcios, missões espaciais, a morte do sol, a evolução das galáxias e as forças e indivíduos que ajudaram a moldar a ciência moderna. Numa prosa transparente, Carl Sagan revela os segredos do planeta azul habitado por uma forma de vida que apenas começa a descobrir sua própria identidade e a se aventurar no vasto oceano do espaço sideral. Aqui, o tratamento dos temas científicos está sempre imbricado com outros campos de estudo tradicionais, como história, antropologia, arte e filosofia. Publicado pela primeira vez em 1980, Cosmos reúne alguns dos conhecimentos mais avançados da época sobre a natureza, a vida e o Universo — e se mantém até hoje como uma das mais importantes obras de divulgação científica da história. Embora diversas descobertas fascinantes tenham ocorrido nos últimos quarenta anos, o tema central deste livro nunca estará desatualizado: nosso fascínio pelo conhecimento e a prática da ciência como atividade cultural.
Título: Cosmos
Autor: Carl Sagan
Editora: Companhia das Letras
Tradutor: Paulo Geiger
Ano de Publicação: 2017 / Páginas: 487


Traduzir as mais complexas e avançadas teorias científicas de sua linguagem técnica tornando-as acessíveis para um grande público leigo não é uma tarefa fácil, mas esta é a principal missão dos divulgadores científicos. Um dos mais carismáticos e precursor de nomes como Stephen Hawking, Marcelo Gleiser, Neil deGrasse Tyson, Brian Greene, Richard Dawkins, Michio Kako e tantas outras celebridades capazes fazer academia e sociedade dialogarem tão bem, sem dúvida, foi Carl Sagan.
Astrônomo e autor de autor de centenas de publicações científicas e de mais de 20 livros de ciência e ficção científica, Sagan trabalhou como membro e pesquisador das equipes científicas de diversas missões espaciais da NASA, foi colaborador do Instituto SETI e um dos membros fundadores da Planetary Society. Mas Sagan é conhecido sobretudo pela forma carismática e entusiasmada com que apresentou a série televisiva Cosmos: Uma Viagem Pessoal, exibida pela TV pública norte-americana no início da década de 1980 e exportada para todo o mundo pouco depois. A série escrita por Sagan e sua esposa Ann Druyan é considerada um dos mais formidáveis exemplos da amplitude e eficácia que a divulgação científica pode atingir através do audiovisual e deu origem a um livro homônimo, escrito concomitantemente com os roteiros dos episódios e que ainda hoje figura como um dos mais vendidos da história dentro desta temática.
O livro é dividido em 13 capítulos cujos títulos e temas são os mesmos dos 13 episódios da série de TV e ambos são complementares em profundidade e em imagética embora possam também ser apreciados sem prejuízo de forma independente. Se você já assistiu Cosmos vai se lembrar facilmente de algumas passagens, cenas e frases memoráveis de Carl durante a leitura.
Com um didatismo claro e apaixonadamente bem próprios, Sagan discorre com habilidade sobre inúmeros temas não ficando restrito à Astronomia, indo muito além daquilo que se espera dum livro de divulgação da ciência, demonstrando com exemplos simples como é gostoso aprender, descobrir, questionar e alimentar nossa curiosidade insaciável. Tudo isto com exercícios de imaginação que nos levam a lugares maravilhosos no espaço e no tempo, desde as minúsculas partículas que compõem os átomos e a matéria, passando pelo DNA, o tijolo básicos da vida na Terra, até a vastidão incomensurável das estrelas e galáxias.
Particularmente interessantes e inquietantes são as explanações de como o conhecimento adquirido e construído ao longo de anos de árduo trabalho pode sofrer reveses da própria sociedade, que em dados momentos de sua História preferiu optar pelo obscurantismo e o misticismo em detrimento do saber científico atrasando por séculos o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Um dos exemplos mais recorrentes no livro é o da destruição da Biblioteca de Alexandria, uma verdadeira instituição de fomento a pesquisa e o maior receptáculo do saber humano da Antiguidade, agora perdido para sempre.
Merecem destaques também os capítulos em que Sagan fala de forma entusiasmada de seu trabalho com as missões espaciais da NASA, sobretudo as sondas Viking que pousaram em Marte na década de 1970 e as sondas gêmeas Voyager 1 e 2 que atualmente rumam para fora do Sistema Solar após terem explorado por décadas os quatro planetas gasosos, suas luas e anéis. Bem como os capítulos sobre a origem e a evolução da vida na Terra, a busca por inteligências extraterrestres, bem como os capítulos biográficos que discutem os trabalhos de Newton, Kepler, Einstein, Hipátia, dos jônicos e tantas outras pessoas que contribuíram com o que se sabe hoje sobre o universo e o pálido ponto azul em que habitamos.
Republicado pela Companhia das Letras após anos fora de catálogo no Brasil, o livro conta com prefácios da própria Ann Druyan e de Neil deGrasse Tyson, que estrelou uma versão moderna e repaginada da série Cosmos em 2014. Novas notas técnicas atualizam o conteúdo do texto original com as mais recentes descobertas científicas, embora impressione o quanto muitas das ideias de Sagan são dotadas de uma atemporalidade intrínseca. O enfoque dado na história e desenvolvimento da ciência e do pensamento científico, bem como numa visão humanista e plural pautada no ceticismo contribuem enormemente para isto.
Às vésperas de completar os 40 anos de sua publicação original, Cosmos ainda impressiona, inspira e emociona e é leitura indispensável para todos. Quão atuais ainda são os seus questionamentos e sua crítica! Como alguns antigos problemas humanos continuam presentes e até se intensificaram nos últimos anos, sobretudo com o acirramento das tensões entre EUA e Coreia do Norte e o crescimento de alas conservadoras em todo o mundo e o quão perigoso isto é para toda a humanidade! Cosmos ressoa como uma voz poderosa diante do obscurantismo científico e da irresponsabilidade, sobretudo dos governantes para com o planeta Terra e o destino da humanidade como um todo. Mas longe de trazer uma mensagem pura e simplesmente alarmista, o que fica após sua leitura é o quanto fizemos e ainda podemos fazer como espécie num universo de dimensões inimagináveis que mal começamos a descobrir e a explorar cientificamente em nossa jornada por compreensão e auto-descoberta.
O grande (e não único) mérito de Cosmos, tanto série quanto livro, foi o de inspirar gerações inteiras de pessoas a seguir carreira científica e de mostrar como é recompensadora a nossa busca por respostas e conhecimento. Mesmo sabendo de nossa pequenez e insignificância no teatro cósmico, mas tendo consciência de que estamos e podemos desvendar alguns de seus mistérios, tendo a ciência e o pensamento lógico, além de nossa curiosidade natural como ferramentas é algo que não apenas engrandece a alma, mas é capaz de nos levar às mesmas estrelas, de onde um dia veio a matéria que forma o nosso corpo e o nosso mundo.