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Batman: A Piada Mortal


Um dia ruim. É apenas isso que separa um homem são da loucura. Pelo menos segundo o Coringa, um dos maiores e mais conhecidos - se não o maior e mais conhecido - vilão do mundo dos quadrinhos. E ele quer provar o seu ponto de vista enlouquecendo ninguém menos que o principal aliado de seu maior inimigo: o Comissário Gordon. Cabe ao Cavaleiro das Trevas impedir.
O genial roteirista Alan Moore (Watchmen, V de Vingança) e o artista Brian Bolland (Camelot 3000) mergulharam na mente do Palhaço Psicótico e presentearam os fãs da nona arte com uma das melhores histórias já escritas sobre a origem do Coringa, analisando de forma definitiva sua relação com o Cavaleiro das Trevas e Gotham.
Brian Bolland é o astro da edição. Além de escrever o posfácio e nos presentear com uma aventura de oito páginas e esboços, o artista britânico fez questão de recolorir toda a história - que antes tinha cores de John Higgins - trazendo uma nova dimensão à obra e recriando completamente a atmosfera da HQ. Esta edição de luxo traz a íntegra de Batman: A Piada Mortal e ainda republica, como extra, a primeira história do Coringa.
Título: Batman: A Piada Mortal
Autores: Alan Moore e Brian Bolland
Editora: Panini / DC Comics
Ano: 2011 / Número de Páginas: 86


A Piada Mortal é mais uma daquelas histórias em quadrinhos tidas como clássicas e que por isto mesmo chegam cedo aos ouvidos de qualquer leitor minimamente interessado nesta mídia. Sucesso desde o seu lançamento original em 1988, a HQ roteirizada por Alan Moore e ilustrada por Brian Bolland, é peça histórica importante na construção da mitologia que cerca a figura do homem-morcego e o seu grande arquiinimigo, o Coringa.
Na história temos um Coringa ligeiramente mais sádico que o habitual, levando o Batman aos limites da sua paciência e até às últimas consequências para detê-lo. A história se inicia com uma visita de Batman ao Asilo Arkham para tentar dar um basta às sucessivas escaramuças que ele e o palhaço vêm tendo desde sempre. Lá Batman descobre que ele fugiu novamente, deixando um sósia preso em seu seu lugar. Batman então, mais uma vez, parte no encalço do vilão para recapturá-lo. Paralelamente acompanhamos o desenrolar de mais um plano do criminoso que está decidido a provar ao homem morcego que qualquer um pode se tornar um louco, bastando que para isto tenha um dia ruim o suficiente. Decidido a dar ao Batman este dia ruim e munido de sua lógica deturpada pela loucura (ou será que não?), o Coringa escolhe como vítima o comissário Gordon, invadindo a sua casa, ferindo gravemente a sua filha Bárbara com um tiro na coluna e capturando-o para servir de isca em seu parque de diversões macabro…
Mas o que teria tornado o Coringa tão perverso e dado a ele motivações tão vis? A história também traz cenas em flashback que buscam explicar isso. No passado o Coringa foi um comediante fracassado que incapaz de sustentar a si e a esposa grávida, aceitou participar de um assalto a uma indústria química na qual já havia trabalhado antes, mas tudo dá errado e testemunhamos assim a origem do louco e a influência direta que o próprio Batman teve nisto.
A parceria Alan Moore e Brian Bolland produziu uma das mais aclamadas histórias do homem morcego e plantou as bases para muitos dos conceitos que seriam usados tanto em histórias futuras quanto nas adaptações para outras mídias, dos filmes aos games. As tão características páginas de nove quadros de Moore são ricas em diálogos elaborados com fortes questionamentos filosóficos, enquanto trazem a tona a moral cinza dos personagens, a questão da injustiça social e sobretudo o complexo e mortal relacionamento mantido entre Batman e Coringa. Para o relançamento em encadernado, Brian Bolland recoloriu toda a HQ com uma nova paleta de cores mais sóbrias e soturnas casando perfeitamente com o clima aflitivo exigido para a história, algo que não acontecia na primeira versão cuja colorização ficou a cargo de John Higgins.
O encadernado da Panini é curto, mas bem completo, trazendo além da íntegra de A Piada Mortal outras duas histórias adicionais. A primeira, “O Homem Inocente”, escrita e desenhada pelo próprio Brian Bolland traz uma história sombria e moralmente dúbia cujo desenvolvimento me causou arrepios de pavor, e a segunda é a história onde o Coringa aparece pela primeira vez, em Batman 1 de 1940. Além disso a edição é enriquecida com textos de prefácio, posfácio, galeria de esboços e perfis dos autores. Graficamente ela segue o acabamento padrão de luxo da editora, com capa dura fosca e papel couché de alta qualidade e não notei quaisquer erros de revisão durante a leitura.
O desfecho aberto e ambíguo é considerado um dos mais controversos dos quadrinhos e rende acaloradas discussões entre os fãs ainda hoje. Particularmente estava tão absorto com a trama que, apesar de já conhecer de antemão algumas das implicações dele, achei que ele chegou de forma bastante abrupta me deixando sem chão por alguns momentos e me fazendo voltar algumas páginas para checar se havia perdido algo importante... E não! Estava tudo ali, era aquilo! Ou não, já que o espanto e a incerteza continuam presentes ressignificando aquela página final a cada nova leitura. Uma amostra intrigante da genialidade e do brilhantismo do roteiro de Alan Moore.
Desnecessário dizer que A Piada Mortal é item indispensável na estante de qualquer fã de quadrinhos. Para os não tão fãs, ou que não têm familiaridade com esta forma de arte, a HQ também é uma ótima pedida pois é uma história curta e fechada, que não requer maiores informações sobre a cronologia e pode também ajudar a livrar o leitor de quaisquer preconceitos que possa ter sobre histórias de super heróis. Apesar de curta, A Piada Mortal é repleta de simbolismos, com uma alta carga dramática e psicológica, violência incômoda e um dos melhores desfechos que já tive a oportunidade de ler, fazendo jus à fama e merecendo o lugar de destaque que ocupa entre as grandes obras da nona arte.