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República de Ladrões

Envenenado e à beira da morte, Locke Lamora segue para o norte com seu parceiro, Jean Tannen, em busca de refúgio e de um alquimista para curá-lo. Porém, a verdade é que ninguém pode salvá-lo. Com a sorte, o dinheiro e a esperança esgotados, os Nobres Vigaristas recebem uma oferta de seus arquirrivais, os Magos-Servidores.
As eleições do conselho dos magos se aproximam e as facções precisam de alguém para fazer o trabalho sujo, manipulando votos. Se Locke aceitar, o veneno será purgado de seu corpo com o uso de magia – mas o processo será tão excruciante que ele vai desejar morrer.
Locke acaba cedendo ao saber que o partido da oposição contará com uma mulher do seu passado: Sabeta Belacoros, a única pessoa capaz de se igualar a ele nas habilidades criminosas e mandar em seu coração. Novamente em uma disputa para ver quem é o mais inteligente, Locke precisa se decidir entre enfrentar Sabeta ou cortejá-la, e a vida dos dois pode depender dessa decisão.
República de ladrões leva o leitor ao início da vida de Locke enquanto flerta com o seu fim, revelando todos os matizes de Sabeta e de seu relacionamento com o líder dos Nobres Vigaristas. Misturando momentos tensos e cômicos do passado e do presente, esta obra é, até agora, a melhor de Scott Lynch.
Título: República de Ladrões
Série: Nobres Vigaristas - Vol. 3
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 544


Por mais que leitores vorazes e exploradores de universos possam dizer que é difícil determinar uma obra/universo favorito entre a infinidade que conhecemos e absorvemos diariamente, existem aqueles que são guardados com grande carinho em nossas memórias. Algumas dessas obras não chegam devagar ou pedindo licença, mas de forma potente como uma avassaladora paixão. Eu estaria mentindo se não desse a série Nobres Vigaristas o devido valor. A cada novo livro a vontade de acompanhar os personagens e suas desventuras apenas se amplifica, e claro que na primeira oportunidade você irá se debruçar sobre o volume posterior dessa jornada. A minha chance é claro veio agora e não foi desperdiçada...
Em três anos a vida dos Nobre Vigaristas se transformou totalmente. Para a azar de nossos heróis essa mudança não foi para melhor. A vida de uma Pessoa-Certa obviamente não é fácil, sempre se há risco em viver de furtos, golpes e outros crimes de diferentes escalas, mas a morte se tornou constante aos discípulos de Correntes.
Em As Mentiras de Locke Lamora os Nobres Vigaristas são colocados no meio de uma trama de vingança cruel e sanguinária que envolvia a alta cúpula do crime e a nobreza Camorri. Em Mares de Sangue, os sobreviventes do encantador grupo de vigaristas tentam se reerguer em um arriscado golpe contra o cassino Agulha do Pecado, mas antigos inimigos surgem irritados e amarram o destino dos heróis em mais uma trama sórdida, dessa vez de natureza política envolvendo o Arconte de Tal Verrar e os piratas das Ilhas dos Ventos Fantasmas. Nas duas ocasiões a morte acompanhou de perto nossos heróis e carregou consigo pessoas queridas, mas nunca desistiu de ter aqueles que sobraram para si...
Aqui começamos a trama na distante terra de Leshane com um Locke Lamora moribundo e um Jean Tannen em desespero atrás de uma cura para o mal que atinge seu melhor amigo. Cada Galeno (médico) consultado garante apenas uma coisa: a alquimia negra que adoeceu no Nobre Vigarista é desconhecida e um antídoto jamais será encontrado. Contudo é de onde menos se espera que a salvação surgem mas ela irá cobrar um preço: Locke e Jean terão que ir até Kertane trabalhar para os Magos-Servidores - definitivamente seus piores inimigos - durante o Jogo dos Cinco Anos. A disputa consiste em ajudar o partido em que seus contratantes apostaram a vencer uma eleição usando toda seu conhecimento em manipulação e golpes, mas sabendo o adversário também terá um "conselheiro" pronto para a tarefa. No entanto, como toda dificuldade é pouca, seus adversários contrataram ninguém menos que Sabeta, o misterioso grande amor de Lamora. Locke terá que jogar para vencer se quiser continuar vivo, mas será que o desejo de reconquistar a mulher dos seus sonhos permitirá que as coisas aconteçam de forma simples? Enquanto tudo acontece isso os Magos Servidores tem seus próprios planos para todos eles...
Em República de Ladrões, Scott Lynch nos carrega de volta para sua agradável e fluida narrativa em terceira pessoa. O ritmo da obra autor permanece ágil apesar da grande quantidade de informações apresentadas na histórias principal e em seus interlúdios, tornando a leitura agradável e veloz mesmo em pela expansão do cenário. A linguagem utilizada pelo Lynch permanece também simples e de fácil entendimento, ainda mais agora longe dos jargões navais que se tornaram necessários no volume anterior.
Se tanto elogiei anteriormente a construção do cenário, dessa vez não poderia ser diferente. Novamente somos levados a novas terras, novas culturas e mistérios, tanto no presente quanto nos interlúdios que exploram o passado. Deixamos Tal Verrar e conhecemos Leshane e Kertane no presente dos personagens, e também voltamos a Camorr e visitamos Espara nos interlúdios ambientados no passado. Com cada vez mais cor e graça, o cenário se mostra ainda mais rico e envolvente; não é só repleto de informação para dar grandeza, é repleto de informação para que os detalhes lhe convençam que por mais diferente que aquela realidade lhe pareça, ainda sim seja plenamente palpável. Das vestes a cultura popular com suas datas, festejos e cultos, das regras e leis aos tratados não escritos, cada elemento te encaminha para uma imersão profunda e encantadora.
Como é de costume, Lynch tenta sempre surpreender o leitor com seus plots, tramas e sub-tramas, e um elemento fundamental para tal nesse livro é Sabeta. Desde o primeiro volume somos tocados pela citação do seu nome e da importância que ela tem para Locke, mas tudo sobre sua figura sempre fora oculto. Todavia aqui já não espaço para esconder, mas sim revelar. A relação dos dois é explorada durante a narrativa principal e também nos interlúdios que nos levam ao passado dos Nobre Vigaristas. É possível dizer que essa relação é quem move a trama no presente, até mais que o mistério sobre a origem de Lamora e a presença aterradora dos Magos-Servidores. O que não significa que não irá refletir no futuro.
Bem como destacado na resenha do volume anterior, os personagens são o foco da história e o que nos faz ficar grudados nas páginas durante a leitura. Lamora e Tannen voltam a nos conquistar com sua lealdade, seus golpes bem arquitetados, e com uma inocência que os coloca várias vezes em risco. Conhecemos enfim Sabeta, capaz de rivalizar Locke em intelecto e desestruturá-lo apenas por existir. Voltamos a ver Correntes e os Gêmos Calo e Galdo - responsáveis pelas partes mais cômicas do livro - durante os interlúdios que nos fazem ter mais saudade da relação familiar que tinha toda aquela gangue. Inclusive ouso dizer que as partes do livro que mais me agradaram foram ambientadas nesse passado dos Nobre Vigaristas em Espara tentando ajudar a Compania Moncraine-Boulidazi a encenar a aclamada peça República de Ladrões. Contudo os personagens mais ocultos também tem seu papel como Paciência e os outros Magos-Servidores.
Como não poderia ser diferente a edição nacional recebeu todo o cuidado com a tradução e adaptação do texto, revisão, diagramação e outros detalhes gráficos, e acertaram em manter a capa original que tanto chama atenção dos leitores e desavisados. 
República de Ladrões é uma história inteligente e envolvente com doses de aventura, romance, drama e amizade, dotada de um ritmo e estilo leve mas também com aquela riqueza de detalhes que agrada aqueles como eu. A cada etapa ouso dizer que a série Nobres Vigaristas se torna mais instigante e apaixonantes, e se começada duvido muito que tenha vontade de parar. Concordo plenamente, dessa vez com as palavras da Publishers Weekly sobre o livro: "Frenético, divertido e impossível de parar de ler... Locke e companhia mantêm-se entre os protagonistas mais cativantes da fantasia e Lynch esgueira-se para uma paródia política incisiva sem nunca exagerar na comédia"