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O Curioso Caso de Benjamin Button

Nascer, crescer, envelhecer e morrer são etapas de todo destino e só a ficção permite imaginar outros rumos. F. Scott Fitzgerald (1896-1940) fantasiou a inversão da seta do tempo em O curioso caso de Benjamin Button, a saga de um homem que nasce velho e morre bebê. O autor conquistou fama aos 23 anos com um romance sobre a ascensão de um jovem, como ele, impaciente para conquistar o mundo. Logo encontrou mais de um estímulo para assumir o papel de ícone de uma era, os anos 1920, louca, impulsiva e acelerada. Uma nota em seu diário diz: A felicidade depende do bom desempenho das funções naturais, exceto uma envelhecer. Sua morte, aos 44 anos, exemplifica o lema viva rápido, morra jovem, um modo até hoje eficaz de alcançar a imortalidade. O curioso caso de Benjamin Button, publicado em 1922, combina fantasia e realismo para anunciar a busca por rejuvenescimento que convertemos em obsessão. Não falta, porém, melancolia a esta fábula que inverte a cronologia para concluir que no fim das contas tanto faz ganhar ou perder.
Título: O Curioso Caso de Benjamin Button
Coleção: Folha Grandes Nomes da Literatura # 02
Editora: Folha de S. Paulo
Autor: F. Scott Fitzgerald
Tradução: Rodrigo Breunig
Número de páginas: 56

Quem me acompanha nas redes sociais, pelas postagens e podcasts do Multiverso X já sabe que ando bastante interessado nas obras do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald e tenho empreendido uma pequena maratona para ler todas as que já possuía na coleção. O interesse que começou com a leitura do romance O Grande Gatsby e a sua elite nova-iorquina, passou pela Riviera francesa e o relacionamento problemático dum casal em Suave é a Noite e agora se direciona para um conto curto, mas tão profundo e gratificante quanto os romances, O Curioso Caso de Benjamin Button.
Essencialmente este conto trata da história de vida de Benjamin Button, o protagonista que surpreendentemente nasce com a aparência de um homem de cerca de setenta anos de idade, inclusive já sendo capaz de falar, e ao longo dos anos, ao contrário de todo mundo, vai rejuvenescendo. Nascido no berço de uma rica e privilegiada família da Baltimore de 1860, o jovem Button causa espanto aos médicos e ao seu pai Roger logo no início do conto pela sua aparência. Os problemas aos olhos dos adultos se agravam pois Button insiste em não se comportar como um bebê ou uma criança normal, preferindo a companhia do avô e a leitura duma enciclopédia a brincar com as crianças da sua idade. Ele sofre preconceitos e é vitima de chacotas e fofocas das pessoas normais, mas supera tudo isso conforme vai crescendo e rejuvenescendo e tentando se adequar ao que esperam de sua idade, mas sem deixar de fazer também aquilo que ele mesmo anseia e que mais condiz com sua aparência. Em dado momento ficar mais jovem com o passar do tempo também ocasionará problemas para Button, e em resumo tanto importa se você nasce velho ou jovem, o fato é que o tempo é impiedoso e chega para todos sem distinção.
O conto é narrado em terceira pessoa e difere um pouco dos romances realistas de Fitzgerald pela presença do elemento fantástico, mas ainda carrega características próprias do autor sobretudo a crítica social ao seu tempo. É bastante conciso e fluido e terminamos curiosos querendo saber mais detalhes da vida de Button, ficando impossível não pensar em como ele seria se fosse um romance, ainda que termine de forma muito satisfatória. Além da problemática de vida e a inversão da ordem natural de passagem do tempo e o amadurecimento às avessas, o conto ainda aborda o conflito de gerações, evidenciando pela dificuldade de aceitação por parte daquela sociedade de alguém que é totalmente diferente dos demais.
O Curioso Caso de Benjamin Button foi originalmente publicado na edição de 27 de maio de 1922 da revista semanal Collier’s, sendo posteriormente incluído por Fitzgerald em seu livro de Contos da Era do Jazz. Em dezembro de 2008 foi lançada uma adaptação cinematográfica do conto, dirigida por David Fincher, estrelando entre outros Brad Pitt, Cate Blanchett e Tilda Swinton. A adaptação ganhou três Oscares, nas categorias direção de arte, maquiagem e efeitos especiais, mas não é tão fiel ao conto. A edição que li faz parte da Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura e é brinde na compra do primeiro volume. Ela possui a mesma tradução, feita por Rodrigo Breuning, da edição de bolso de 2010 da L&PM Pocket, mas com um acabamento gráfico superior. O conto também está disponível em “O Curioso Caso de Benjamin Button e outras histórias da era do Jazz” da José Olympio, com tradução de Brenno Silveira.
Sem dúvidas, o que mais me impactou durante essa leitura foi o fato do protagonista passar a maior parte da sua vida como um incompreendido. A sociedade ansiava dele o tempo todo coisas que, pela sua condição particular, ele sequer tinha como entregar. Neste aspecto Button não é tão diferente de nenhum de nós cuja seta do tempo avança normalmente rumo à velhice. Quantas vezes não somos obrigados a nos comportar e agir de maneira totalmente avessa a nossa própria natureza apenas para cumprir protocolos sociais que muito pouco ou nada representam para nós mesmos? De certo modo é um conto melancólico e até depressivo, embora tenha também muitos momentos de humor, leveza e ares nostálgicos para contrabalançar. Button não era um personagem trágico e na maior parte das vezes soube lidar razoavelmente bem com a sua condição, levando uma vida tão completa quanto a de qualquer outra pessoa e convenhamos que isto não é pouca coisa! Por tudo isto, por ser de fácil e rápida leitura e por tocar em temas tão pertinentes e inerentes a qualquer pessoa, não poderia deixar de recomendar a todos mais uma obra-prima de Fitzgerald!