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A Herança Africana no Brasil




A presença de elementos africanos tem enriquecido a sociedade brasileira por séculos. Mas essa é também uma história de trabalho e sofrimento, perseguição e superação. Nesta HQ inédita, conhecemos os princípios da escravidão no Brasil, suas várias etapas, as lutas pela libertação, e a maneira como a influência africana ajudou a formar a cultura, a religiosidade, o cotidiano e o próprio povo brasileiro.



Título: A Herança Africana no Brasil
Roteiro: Daniel Esteves
Arte: Wanderson de Souza - Cores: Wagner de Souza
Editora: Nemo
Número de páginas: 64


Um assunto de tamanha importância, intrínseco a nossa realidade, mas muita vezes deixado de lado pelo julgamento do saber. Em uma época em que a valorização da negritude ainda é possível notar como não enxergamos essa participação na construção do nosso povo, nossa cultura. Obras como essa ainda são necessárias para a cada dia mais nos educarmos e passar essa educação adiante. 
A HQ A Herança Africana no Brasil traz uma narrativa sequencial dividida em quatro partes, cada uma delas dando continuidade ao dialogo entre avó e neta. nos tempos atuais, sobre a sua ancestralidade e E daquele terreiro de Candombé em Salvador, somos levados até uma Angola de 1650. Um Som Distante apresenta Olaitan, um negro retirado de sua terra e separado de sua família para ser traficado pelos portugueses por meio do navio negreiro. Aqui aprendemos mais sobre o inicio de tudo, da intensificação das disputas tribais na Africa, a venda dos "perdedores" para os Portugueses, o transporte, a quebra de identidade, até o trabalho escravo e a vida nas senzalas.
Em Ginga do Ouro, acompanhamos a jornada de Sebastião, escravo levado da Bahia para Minas Gerais no auge da mineração e que não perde a esperança de conseguir comprar sua alforria. Nesse capítulo vemos mais sobre a escravatura e seus níveis - sim, existiam níveis e diferenciações (embora tudo fosse uma merda só) - ainda alguns detalhes de como funcionavam os quilombos ,onde os negros que conseguiam fugir se misturavam aos índios e brancos pobres, e também sobre o surgimento da capoeira.
Sabores Presentes tem como pano de fundo a história de Dadá no período pré-abolição, e aproveita para representar a maneira como os costumes africanos ajudaram a formar a cultura e a religiosidade do povo brasileiro. O candomblé, a umbanda e o catolicismo, o maracatu e o samba, a migração dos negros para as áreas periféricas, morros e cortiços são alguns dos temas presentes no capítulo. Por fim, em Por Onde Passamos, reforça-se no dialogo entre avó e neta a forma como a ancestralidade, a nossa origem, o nosso passado não deve ser esquecido se buscamos entender quem somos e para evitar que grandes erros se repitam.
Embora possua um tom um tanto quanto didático em sua narrativa, o roteiro de Daniel Esteves consegue expressar toda a profundidade necessária para a discussão sem torná-la de difícil acesso para os leitores mais jovens. A arte de Wanderson de Sousa e as cores de Wagner de Souza são fundamentais para manter esse clima lúdico e de ensinamento, mas ao mesmo tempo traduzir em imagens toda a dor e drama ali presente. 
Essa junção garante ao leitor uma passagem por fatos históricos de maneira dinâmica, porém bastante envolvente. Não há aqui uma aula engessada de história, ou uma tentativa de "empurrar discursos de minoria" como alguns podem tentar diminuir, mas uma contextualização da história e situação do negro no Brasil que serve de reflexão para os problemas e debates ainda tão atuais e pertinentes. 
A qualidade do material também é inegável. Mesmo na versão digital a qual tive contato pelo Social Comics todo o detalhamento e zelo por parte da Nemo. A editora fez uma aposta certeira ao criar a série histórica a qual pertence essa a HQ e mostrar mais uma vez que os quadrinhos são uma mídia tão importante quanto a literatura quando se pretende ser informativo.
A Herança Africana no Brasil é uma obra ideal para jovens em idade escolar - e ao meu ver deveria ser introduzida nas escolar - mas que com certeza recomendo para jovens, adultos e todo aquele que não tem vergonha de aprender e crescer.