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Review | Rat Queens Vol. 1: Pancadaria & Feitiçaria

Imagem retangular com uma montagem de elementos. Sobreposto sobre uma imagem do céu estrelado em tons de azul, um retângulo com bordas brancas contém: Um recorte de uma imagem de fundo verde-água com as quatro protagonistas de Rat Queens. Da esquerda para direita: A clériga Dee, uma mulher negra de cabeços cacheados volumosos, de braços cruzados faz uma expressão de saco cheio com o rosto. A anã Violet, uma mulher baixa ruiva e corpulenta em armadura brilhante, abre os braços numa expressão provocativa. Betty, uma miúça dreadlock loiros, alegremente segura em seus braços muitos cogumelos alucinógenos. Hannah, uma elfa maga rockabilly de pele clara contrastantes com os cabelos negros, encara o observador com os dedos médios erguidos e cara de quem quer que o mundo se foda. Na parte inferior a iconografia indica que essa é uma resenha de uma história em quadrinhos e o texto diz: Rat Queens - Pancadaria e Feitiçaria.
Fugindo do óbvio e convencional, a Jambô Editora vem aos poucos expandindo a sua linha de quadrinhos e nos brindado com trabalhos excelentes, tanto de autores nacionais já consagrados da casa, quanto HQs estrangeiras, como ICH dos argentinos Luciano Saracino e Ariel Olivetti e mais recentemente a norte-americana Rat Queens da dupla Kurtis J. Wiebe e Roc Upchurch.
Ambientada em um típico universo de fantasia medieval, mas com uma proposta e abordagem ligeiramente mais dinâmica e contemporânea, Rat Queens traz em destaque o protagonismo feminino. Na história, Rat Queens é o nome dum grupo de aventureiros e mercenários arquetípico que poderia tranquilamente fazer parte de qualquer outro mundo de fantasia. Temos nele um clérigo curandeiro, um mago elfo, um gnomo/hobbit/halfling ladino e um guerreiro anão, com o porém de que os seus quatro membros são mulheres. Respectivamente Dee, Hanna, Betty e Violet, quatro amigas que não dispensam uma boa briga na taverna após uma noite inteira de bebedeiras!
Elas residem na cidade de Paliçada, e devido ao seu comportamento e à crescente insatisfação da população local com o mesmo, recebem uma missão do capitão da guarda da cidade, juntamente com outros grupos de mercenários a fim de mantê-los todos ocupados e afastados, pelo menos por algum tempo. Durante a missão as Ratas Rainhas são emboscadas e descobrem que foram vítimas de uma armadilha para matá-las. O que era para ser uma missão simples a princípio, afugentar alguns míseros goblins, se mostra parte de uma ameaça muito maior e caberá a elas descobrir quem está por trás deste plano.
Recorte de um quadro da HQ mostra as Ratas Rainhas com expressão de espanto, nojo e terror cobertas de sangue.Na trama que vai muito além da pancadaria e feitiçaria, as personagens tem a sua individualidade e personalidades trabalhadas e exploradas no roteiro ágil e divertidíssimo de Kurtis J. Wiebe. Cada uma delas possui seus próprios conflitos e dilemas alternados com uma linguagem solta, com direito a um vasto repertório de palavrões. Alguns dos esterótipos típicos dos grupos e raças de fantasia estão presentes, mas apresentam subversões criativas, tais como uma clériga ateia e uma anã que detesta cerveja, mas as Ratas Rainhas estão longe de ser uma simples versão feminina de personagens masculinos famosos. Suas personalidades e passado tem mais nuances do que pode captamos a princípio e o roteirista se vale disto para abordar no subtexto da HQ temas como o uso recreativo de drogas, a liberdade sexual e religiosa e claro, o papel feminino na sociedade.
A arte é outro ponto forte em Rat Queens! Roc Upchurch dá vida a tudo isto com traços agressivos e dinâmicos com muita autenticidade que não poupam o leitor de brutalidade e vísceras expostas. O design adotado para as protagonistas reflete a variedade tanto das raças de fantasia às quais pertencem quanto as suas próprias personalidades. Não há os excessos tão comuns em outras heroínas como os trajes sumários, as curvas irreais e as poses extravagantemente sexualizadas. As cenas de luta empolgam e sobram momentos do mais puro e simples badass!
Recorte de três quadros da HQ. O primeiro à esquerda mostra um grupo de aventureiros liderados por uma elfa loira que provoca: Ei, Hannah, divirtam-se nas cavernas. A gente vai se encher de tesouros enquanto vocês lipam bosta de goblins das botas. Nos quadros seguintes, a maga elfa Hannah responde erguendo o punho fechado: Tizzie, olha só o quanto eu me importo. Para logo após, mostrar o dedo médio erguido dizendo: Oh, conjurei um foda-se só pra você.
Com tradução de Gustavo Brauner, que no que creio ser uma licença poética fez Betty citar o radialista Silvio Luiz, a edição nacional possui acabamento de luxo, com capa-dura e papel couche de alta qualidade. Não notei erros de revisão ou diagramação, mas senti falta de extras. A edição traz apenas as capas das edições originais de banca da Image entre os capítulos e pin-ups de apresentação das personagens no início.
Não é a toa que a HQ ganhou tanto reconhecimento logo em seu lançamento. A série foi indicada em 2014 ao prêmio Eisner como Melhor Série Nova e ganhou o GLAAD Award (premiação que homenageia representações justas da comunidade LGBT) de “Outstanding Comic Book” em 2015. O primeiro volume também foi indicado para Hugo Award  na categoria Melhor História Gráfica.
Aqueles que confundem Rat Queens com uma tentativa oportunista de angariar leitores pelo seu forte tom feminista muito provavelmente vão perder uma excelente série, que ao contrário, tem tudo para agradar aos amantes da verdadeira fantasia, independentemente do gênero.
Seguindo a sequência da primeira imagem, as Ratas Rainhas encaram o leitor após retornar de uma de suas aventuras. Machucadas e equipamentos danificados, Hannah, Violet e Dee posam satisfeitas, apesar dos ferimentos e escoriações. Em cima de um barril, Betty ergue uma caneca de cerveja maior que sua cabeça e sorri.


Faixa azul que separa a postagem e o bloco de informações


Imagem de Capa da Edição mostra o grupo Rat Queens fugindo de um dragão após roubar seu covil.















Elas são um grupo de aventureiras matadoras, beberronas e mercenárias, e seu negócio é trucidar todas as criaturas dos deuses em troca de grana. Conheça Hannah, a elfa maga rockabilly; Violet, a anã guerreira hipster; Dee, a humana clériga ateia; e Betty, a miúça ladra hippie.
Suas aventuras são um épico de estilo moderno, dentro do gênero tradicional de matança violenta de monstros como se Buffy encontrasse Tank Girl em um mundo de RPG Mas pra lá de chapada!
Este álbum de colecionador reúne as edições 1 a 5 de Rat Queens, originalmente publicadas nos Estados Unidos pela Image.

Título: Rat Queens Vol. 1 — Pancadaria & Feitiçaria
Roteiro: Kurtis J. Wiebe | Arte: Roc Upchurch 
Tradutor: Gustavo Brauner
Editora: Jambô Editora | Páginas: 128
Acabamento: 18,5 x 27,5 cm, capa dura, colorido
Compre: AMAZON - JAMBÔ EDITORA

Imagem retangular azul com o nome do responsável pelo post e sua foto. Em letras brancas está escrito Airechu e no lado direito da imagem uma fotografia em preto e branco mostra um rapaz branco jovem olhando pra cima.