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Zero Eterno




Título: Zero Eterno
Autor: Naoki Hyakuta (história original) e Souichi Sumoto (desenhos)
Editora: JBC - Volumes: Cinco
Lançamento: 2015 - Classificação etária: 14 anos
Periodicidade: mensal  - Distribuição: livrarias e lojas especializadas
Número de Páginas: Cerca de 200


Indiscutivelmente os conflitos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial em meados do século passado promoveram mudanças contundentes em âmbito global e nos revelaram pela primeira vez na História a capacidade destrutiva e a letalidade de nossas armas numa escala antes inimaginável. Seus ecos ainda hoje, cerca de 70 anos do seu fim, se fazem presentes em nossa sociedade e suscitam tanto curiosidade quanto apreensão.
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Coleções de documentos, diários de vítimas e soldados, ensaios de intelectuais, estudos acadêmicos e diversas obras ficcionais nos mais variados campos da arte compõe um vasto acervo sobre uma das maiores catástrofes já orquestradas pela humanidade. 
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Confesso que a Segunda Guerra Mundial é um tema que constantemente prende a minha atenção embora meus conhecimentos sobre ela não sejam muito aprofundados. E dois aspectos em Zero Eterno logo me fizeram atentar para esta obra: a primeira é a possibilidade de ter uma perspectiva da ideologia japonesa neste conflito e a segunda é visualizar na narrativa um dos principais palcos desta guerra mas que quase sempre fica obscuro em outras obras, as batalhas no oceano Pacífico e nas suas ilhas durante o que ficaria conhecido como a Guerra do Pacífico. Zero Eterno é uma adaptação em mangá de um romance homônimo de Naoki Hyakuta publicado em 2006 no Japão. O livro é sucesso de crítica e público e também recebeu adaptações para o cinema e a TV.
Após um bem sucedido ataque à base militar de Pearl Harbor em dezembro de 1941, os japoneses forçaram os Estados Unidos a se envolverem de forma definitiva e decisiva no conflito vindo a compor com a Inglaterra e a Rússia o grupo dos Aliados em oposição ao Eixo formado por Alemanha, Itália e Japão. Os embates subsequentes à Pearl Harbor culminariam com o bombardeio atômico em Hiroshima e Nagazaki ao fim do conflito em 1945.
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A primeira vista pode parecer que o enredo de Zero Eterno irá se passar nesta época, mas não. Cronologicamente ela se situa nos dias atuais em que os jovens Kentaro e Keiko Saeki descobrem que tiveram um avô que serviu como piloto dos caças Mitsubishi A6M Zero da Marinha Imperial do Japão durante a Segunda Guerra e morreu numa missão do Tokkotai, uma espécie de esquadra formada por pilotos suicidas.
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Kentaro Saeki é o retrato de uma juventude sem grandes perspectivas de futuro. Recentemente reprovado no Exame Nacional de Advocacia ele não pode exercer a profissão que escolhera e atualmente está desempregado e totalmente desmotivado. Essa situação começa a mudar quando sua irmã, Keiko, o encarrega de ajudá-la numa pesquisa cujo objetivo é descobrir quem fora Kyuzo Miyabe, o avô e piloto que eles desconheciam completamente até bem pouco tempo. 
Para tanto eles partem em busca de veteranos sobreviventes que conheceram Kyuzo naquela época, lutando e servindo ao lado dele a fim de colher relatos e testemunhos que possam contar uma importante parte da história de um de seus antepassados. É por meio desses relatos que são construídas as cenas em flashback com as batalhas, a ação nos céus, o heroísmo e os horrores da guerra.
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Conforme a pesquisa e as páginas avançam fica evidente a audácia e a determinação suicida dos pilotos kamikazes que sacrificavam a própria vida pelo imperador Hirohito e pelo ideal da nação japonesa. Talvez algo impensável nos dias de hoje e que não teria lugar em nossa cultura Ocidental mas que foi extremamente almejado e encorajado naquela época. Miyabe parecia ser uma corajosa excessão à regra no seu tempo. Descobrir mais sobre ele se mostra uma experiência fascinante por ele não se curvar nem à ideologia dominante e nem ao senso comum que normalmente temos destes pilotos.
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A arte de Souichi Sumoto tem a predominância de traços leves e se mostra muito competente transmitindo com riqueza de detalhes toda a grandiosidade dos aparatos bélicos da época (porta aviões, caças etc). As sequências de ação dos combates aéreos são de tirar o fôlego com quadros ágeis e dinâmicos e os momentos mais dramáticos dos relatos narrados pelos veteranos são carregados de expressividade e suscitam com êxito nossa empatia e emoção.
Com uma trama adulta e que suscita no leitor profundos questionamentos enquanto confronta-o com o drama e a tragédia vividos na guerra, Zero Eterno é um verdadeiro bálsamo num nicho que facilmente se rende a clichês despretensiosos. É um mangá que possibilita várias leituras e interpretações em diversas camadas. Você ora pode se identificar com os jovens que buscam inspiração no passado de seu avô para seguir adiante com suas próprias vidas. Ou pode encará-lo como um estudo de uma parte pouco conhecida da guerra (há toda uma pesquisa histórica muito rica de detalhes em suas páginas). Ou ainda perceber um cunho mais moral e filosófico, um alerta de até onde somos capazes de ir em nome de ideais dúbios e ambições desmedidas. Quaisquer que sejam suas escolhas, é certo que você não será mais o mesmo após conhecer Kyuzo Miyabe e sua história.
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Zero Eterno faz parte de uma linha de produtos diferenciados da editora JBC. Especialmente pensados para livrarias, eles contam com um acabamento de luxo e características especiais como papel off-set, orelhas e capa em papel cartão com laminação fosca, além de um glossário extremamente útil para a compreensão de vários termos técnicos presentes na história. O mangá é publicado mensalmente e terá um total de 5 volumes sendo distribuído exclusivamente em livrarias e lojas especializadas. O quarto volume é esperado para Agosto e volume final para Setembro.